Igreja Paroquial de Monsanto / Igreja de São Salvador

IPA.00009312
Portugal, Castelo Branco, Idanha-a-Nova, União das freguesias de Monsanto e Idanha-a-Velha
 
Igreja paroquial que segue o esquema quinhentista aplicado pelo programa nacional de construção de igrejas paroquiais pelas Ordens Militares administradas diretamente pela Coroa, neste caso específico a Ordem de Cristo, com decoração setecentista e obras de remodelação no séc. 20. É de planta retangular, composta por três naves escalonadas e três tramos definidos por arcos formeiros de volta perfeita assentes em colunas graníticas, com capela-mor mais estreita e sacristia adossada à fachada lateral esquerda, com coberturas internas diferenciadas, de madeira, em falsa abóbada de berço abatido e de um pano nas naves e de berço na capela-mor, sendo escassamente iluminado por frestas em capialço rasgadas nas fachadas laterais. Fachada principal rematada em empena com vãos rasgados em eixo composto por portal em arco de volta perfeita com alfiz, encimado por rosácea. Fachadas rematadas em cornija, a lateral direita rasgada por porta travessa em arco de volta perfeita. Interior com coro-alto, pia batismal no sub-coro, púlpito no lado do Evangelho e retábulos de talha policromada, nas capelas laterais, colaterais e mor, de épocas diferentes, do barroco nacional e rococó. Os retábulos colaterais são encimados por baldaquino em cantaria, formando uma estrutura clássica, com colunas toscanas, frisos e cúpula, que terão sido construídos no séc. 16. Na nave, surgem cinco sepulturas, três delas armoriadas e, na capela-mor, em arcosólio de volta perfeita, o túmulo do prior do Monsanto, que terá contribuído para a construção da igreja. O retábulo-mor apresenta estrutura maneirista, de três eixos, com as colunas profusamente decoradas e onde se destacam os plintos com relevos a representar santos franciscanos, a predela pintada e o sacrário, em forma de templete de dois andares, o superior com contrafortes volutados, tendo as faces decoradas com relevos a representar anjos com os instrumentos da Paixão; os elementos decorativos apontam para uma proveniência franciscana *1.
Número IPA Antigo: PT020505080073
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta retangular composta por três naves, apenas visíveis no interior, capela-mor e sacristia adossada à fachada lateral esquerda, de volumes articulados de disposição na horizontal com cobertura homogénea em telhado de duas águas, prolongando-se em aba sobre a sacristia. Fachadas em cantaria de granito aparente, com aparelho isódomo, parcialmente percorridas por socos de cantaria e rematadas em frisos e cornijas. Fachada principal virada a ocidente, rematada em empena, elevada relativamente às coberturas, com cruz no vértice e pináculos sobre os cunhais; é rasgada por portal em arco de volta perfeita com moldura formada pelas aduelas, assente em pilastras de fuste almofadado e enquadrado por alfiz, rematado por cornija simples, com duas flores estilizadas nos seguintes. Sobre este, rosácea com moldura saliente e preenchida por vidros martelados coloridos. Fachada lateral esquerda rasgada por quatro janelas no corpo da nave, um em capialço, sendo marcada por corpo ligeiramente saliente da sacristia, com uma janela e porta de verga reta, a que se acede por escada. Fachada lateral direita com porta travessa em arco de volta perfeita com moldura na zona superior formada pelas aduelas e com pedra de fecho volutada, protegida por porta de duas folhas de madeira com bandeira; no corpo da capela-mor, rasgam-se duas janelas, uma delas em capialço, sob as quais é visível um pequeno corpo avançado, correspondente a um arcosólio. Fachada posterior de dois panos definidos por pilastras, em empena cega no da esquerda, correspondente ao corpo da capela-mor, e em meia-empena rasgada por duas janelas sobrepostas no da sacristia. INTERIOR com três naves escalonadas, de três tramos definidos por três arcos formeiros de volta perfeita, sustentados por colunas de granito de fuste liso e com capitéis volutados, com paredes em cantaria de granito aparente, em aparelho isódomo e coberturas de madeira, em falsa abóbada de berço abatido na central, com tirantes metálicos e de um pano nas laterais, e pavimento em soalho nas laterais e em lajeado de granito na central. Coro-alto em madeira, suportado por colunas do mesmo material, com plinto em granito, e guarda balaustrada do mesmo material e acesso por escadas no lado da Epístola. O portal axial está protegido por guarda-vento de madeira e a porta travessa está ladeada por pia de água benta, em cantaria de granito, embutida no muro e formando concha. No sub-coro, no lado do Evangelho, pia batismal em cantaria de granito, surgindo, no lado oposto, confessionário de madeira. Confrontantes, surgem dois confessionários embutidos na parede, de verga reta e com moldura saliente. No lado do Evangelho, púlpito quadrangular com bacia em cantaria, suportada por consola, tendo guarda plena de madeira pintada de bege, marcada por pilastras nos ângulos e decoração fitomórfica nas faces; tem acesso por escadas em cantaria no lado direito. Confrontantes, as capelas laterais, integradas em amplo vão de volta perfeita assente em pilastras toscanas e com pedra de fecho saliente, dedicadas a Nossa Senhora das Dores (Evangelho) e às Almas (Epístola). As capelas colaterais são protegidas por baldaquino em cantaria com estrutura arquitetónica clássica, assente em duas colunas toscanas na zona frontal, encimadas por friso almofadado e cornija, com pináculos nos ângulos e cobertura em falsa cúpula contracurva, dedicadas a Nossa Senhora do Rosário (Evangelho) e ao Sagrado Coração de Jesus (Epístola). Arco triunfal de volta perfeita com dupla moldura e assente em impostas salientes, junto ao qual surgem cinco sepulturas, três delas com pedra de armas e duas ostentando as réguas metálicas da primitiva teia. Capela-mor, elevada por três degraus, tendo paredes em cantaria de granito aparente, cobertura em falsa abóbada de berço de madeira assente em cornija e pavimento em lajeado de granito. No lado do Evangelho, porta em arco abatido de acesso à sacristia, encimada por tribuna de cantaria, em arco abatido assente em pilastras toscanas e com pedra de fecho saliente, tendo pequena sacada com guarda balaustrada; o vão é protegido por grades metálicas douradas. No lado da Epístola, arcosólio de volta perfeita, contendo o túmulo de Giraldo Vaz, com jacente e pedra de armas na frontaleira. Sobre supedâneo de cantaria com degraus centrais, o retábulo-mor de talha dourada, de corpo reto e três eixos, definidos por quatro colunas, firmadas por pináculos, com o fuste decorado por espiras, tendo grotescos e querubins no terço inferior e capitéis coríntios, as centrais assentes em consolas e as laterais em plintos paralelepipédicos com imagens de santos, em relevo. Ao centro, ampla tribuna em arco de volta perfeita, envolvida por molduras geométricas e com fecho volutado, integrando trono de quatro degraus e com os fundos apainelados pintados de azul e branco; é encimado por dois frontões semicirculares assentes em pilastras, surgindo, entre eles, cartela envolvida por seis asas. Cada um dos eixos laterais tem dois nichos em arco de volta perfeita assentes em pilastras e encimados por pequeno frontão de lanços, friso de querubins, cornija e painéis pintados, ladeados por moldura enrolada em forma de cartela, rematada por friso e frontão interrompido por volutas; os painéis têm a representação de anjos. Altar em forma de urna, com cartela ostentando um Agnus Dei, encimado por sacrário em forma de templete de dois andares, o inferior com três faces definidas por pilastras, ostentando figuras de anjos em relevo a sustenta instrumentos da Paixão; o segundo possui contrafortes volutados, sendo o conjunto encimado pela imagem do Crucificado. A predela tem pinturas com dois anjos músicos, São Francisco e Santo António com o Menino. A zona visível da parede testeira tem pâmpanos pintados.

Acessos

Monsanto, Avenida Fernando Ramos Rocha; Rua da Igreja

Protecção

Incluído na Zona Especial de Proteção do Castelo e Muralhas de Monsanto (v. IPA.00003930)

Enquadramento

Urbano, isolado, implantado a meia encosta, numa zona de pendor inclinado com as fachadas viradas a sudoeste, nordeste e noroeste sobre embasamento proeminente, que se implanta, em algumas zonas, sobre afloramento granítico. Na fachada principal, o embasamento configura um pequeno adro murado e elevado relativamente aos arruamentos envolventes. Próximo, localiza-se a Pousada de Monsanto, a Casa da Família Melo (v. IPA.00009313), o Solar dos Priores de Monsanto (v. IPA.00009316), o Solar da Família Pinheiro (v. IPA.00009315).

Descrição Complementar

Sobre o PORTAL AXIAL, uma inscrição identificativa do orago "SAM SALVADOR". O RETÁBULO LATERAL DO EVANGELHO é de talha pintada de bege com apontamentos dourados, de corpo côncavo e três eixos definidos por duas meias pilastras e duas colunas de fuste liso com a zona central marcada e decorada por acantos assentes em consolas com anjos atlantes e capitéis coríntios. Ao centro, nicho pouco profundo em arco de volta perfeita, rodeado por moldura fitomórfica e, nos laterais, mísulas encimadas por baldaquinos decorados por concheados e lambrequins. A estrutura remata em espaldar, envolvido por tímpano que se adapta ao perfil do arco, decorado por fragmentos de frontão, de cornija, acantos e querubim, tendo cartela vazia na moldura exterior. Altar em forma de urna com decoração de concheados dourados. O RETÁBULO LATERAL DA EPÍSTOLA é de talha pintada de bege e dourado, de corpo reto e um eixo definido por quatro pilastras com fustes decorados por acantos e assentes em plintos paralelepipédicos, e por duas colunas torsas, envolvidas por pâmpanos, que se prolongam em três arquivoltas, as internas torsas e com aduelas no sentido do arco, que centram tímpano ornado por açafate de flores e acantos, formando o remate. Ao centro, painel pintado a representar as Almas do Purgatório, encimadas por corte celestial. Altar em forma de urna, com cartela dourada. O RETÁBULO COLATERAL DO EVANGELHO é de talha pintada de bege e dourado, de corpo côncavo e um eixo definido por duas pilastras e quatro colunas torsas decoradas por pâmpanos, que se prolongam em três arquivoltas, as interiores torsas, unidas no sentido do raio, formando o remate. Ao centro, nicho de volta perfeita, com plinto decorado por querubins a sustentar a imagem do orago. Altar em forma de urna, decorado por ampla cartela de acantos e enrolamentos dourados. O RETÁBULO COLATERAL DA EPÍSTOLA é de talha pintada de bege, pontuado por elementos dourados, de corpo reto e um eixo definido por duas estípides com fuste almofadado interrompido por festão dourado, e firmadas por urnas, ladeada por grande acanto. Ao centro, nicho de volta perfeita com a imagem do orago, ladeado por duas mísulas em forma de campânula invertida. A estrutura remate em acrotério e cornija, encimada por elemento fitomórfico vazado. Altar em forma de urna com cartela ovalada e percorrido por torso de louro, encimado por sacrário embutido. Sobre o TÚMULO DA CAPELA-MOR, a inscrição "S(epultura) DE GIRALDO VAZ PRIOR DESTAS IGR(ej)a / E SEVS HERDEIROS CO(m) CAPEL(l)a PER / PETVA DE 50 MISAS FVNDADA NAS / CASAS E FAZENDA AVICVLADA A FELIPE / BOTELHO E S(ua) M(ulher) ISABEL DE GOV(?) DO VA / LE E DECENDENTE M(ai) CHEGADO A(nno) 1613"

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Portalegre - Castelo Branco - Arciprestado de Castelo Branco)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

CANTEIRO: João Cartola (séc. 20).

Cronologia

1260, 16 julho - no documento que divide as paróquias entre o bispado da Guarda e o Cabido da Egitânea, a igreja surge como pertencendo ao Bispado; 1320, 23 maio - bula do Papa João XXII concedendo a D. Dinis, por três anos, para subsídio de guerra contra os mouros, a décima de todas as rendas eclesiásticas do reino, sendo a igreja taxada em 200 libras; integra o termo de Monsanto e o bispado da Guarda; séc. 16 - data da reedificação da Igreja; 1509 - num desenho, surge a igreja composta por nave e capela-mor, com a fachada principal rasgada por portal de volta perfeita, sobrepujada por óculo quadrifoliado; na fachada lateral direita, três janelas estreitas e, na capela-mor, vão retilíneo; campanário no lado esquerdo, junto À fachada principal com duas ventanas de dois sinos; 1535 - a paróquia de São Salvador é doada pela Câmara ao Conde do Monsanto, D. Luís de Castro, com as igrejas de São Miguel, Medelim e Salvador da Aldeia; 1587 - primeiro registo de óbito; 1588 - primeiro registo de casamento; 1593 - primeiro registo de óbito; 1613 - falecimento de Geraldo Vaz, prior do Monsanto, que se faz sepultar na capela-mor, deixando, para tal fim, bens administrados por Filipe Botelho, com a obrigação de 50 missas; séc. 17 - feitura do retábulo-mor; séc. 18 - execução do retábulo colateral do Evangelho e o lateral da Epístola, em talha dourada; 1758, 20 maio - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo padre Aires Francisco de Proença e Silva, surge referido que a igreja tinha quatro altares, o mor, o de Santo Cristo, com uma imagem bastante grande, semelhante ao Senhor de Matosinhos, "trazida àquele sítio por uma mula haverá duzentos anos para trezentos anos e posta em uma silveira que tinha rebento na parede, donde se chamou o Senhor da Silveira, pelo que mudou para aí a paróquia, que então era a igreja que hoje serve de Misericórdia." (SILVA, p. 41); no lado do Evangelho, a imagem de Nossa Senhora do Rosário, de pedra e com cinco palmos de altura; no lado da Epístola, metido na parede, a Capela das Almas, tendo, fronteiro, o do Sagrado Coração de Jesus, que se encontrava em execução; no retábulo-mor, as imagens de São Pedro e São José; a igreja tinha cinco irmandades, a do Santíssimo Sacramento, a de Nossa Senhora do Rosário, desde o ano de 1743, visto anteriormente serem confrarias, a de São Pedro, de Nossa Senhora do Castelo e a do Santo Cristo, de leigos; o pároco era apresentado pelos Condes do Monsanto, com 700$000; séc. 20 - feitura da rosácea da fachada principal e da tribuna da capela-mor pelo canteiro João Cartola.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura, cornija, cruz, modinaturas, pináculos, pavimentos, pia batismal, pia de água benta, colunas, arcosólio, tribunas e sepulturas em cantaria de granito; coberturas, portadas, retábulos, coro-alto e confessionário em madeira; caixilhos em ferro forjado; coberturas em telha cerâmica, lusa; rosácea com vidro martelado colorido e janelas com vidros simples.

Bibliografia

CATANA, António Silveiro - Artistas da nossa terra. Idanha-a-Nova: Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, 2003, vol. II; FARIA, Daniela Carvalho e GRILO, Eduardo - 50 maneiras de conhecer o Concelho de Idanha-a-Nova. Idanha-a-Nova: 2000; GRAÇA, Eduardo e SANTO, Manuela Espírito - Aldeias Históricas de Portugal - Idanha-a-Velha e Monsanto, Lisboa: INATEL, 2000, n.º 6; HORMIGO, José Joaquim M. - Visitações da Ordem de Cristo em 1505 e 1537. Amadora: 1981; «Inaugura amanhã obras nas igrejas de S. Salvador e Misericórdia», in Vida Ribatejana, 14 Agosto 2002; Inventário Colectivo dos Registos Paroquiais. Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, 1993, vol. I; MARCELO, M. Lopes - Beira Baixa: a memória e o olhar. Lisboa: Presença, 1993; NEVES, Vítor Manuel Leal Pereira - As aldeias de Monsanto, Idanha-a-Velha e Castelo Novo. Lisboa: s.n., 1996; SILVA, Pedro Miguel Canitos Rego da - Concelho de Idanha-a-Nova - Memórias Paroquiais - Transcrições. Castelo Branco: Ediraia, 2003, pp. 40-45.

Documentação Gráfica

CMIdanha-a-Nova

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1995 - obras de conservação geral; 2001 - restauro da tela do Altar das Almas; 2001 / 2002 - restauro da igreja, com tratamento de rebocos e pinturas, das coberturas e restauro das estruturas retabulares.

Observações

*1 - esta hipótese foi confirmada pela informação do pároco de Monsanto, Vítor Vaz, de que o retábulo-mor teria vindo de uma igreja de um convento franciscano da Chamusca.

Autor e Data

Luís Castro 2001

Actualização

 
 
 
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