Rota dos Moinhos de Água das Ribeiras da Raia, de Tera e da Seda

Primavera / Público em geral /
 

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A bacia hidrográfica da Ribeira da Raia, que engloba a Ribeira de Seda, a Ribeira de Tera e a Ribeira de Almada, é particularmente rica em património molinológico. Apresenta-se aqui uma amostragem constituída por alguns moinhos de água, de roda horizontal, que testemunham os primitivos ou antigos sistemas de moagem que se encontram na região. São compostos por unidades de moagem, sistemas de captação, adução e controle da água (açudes, levadas, comportas) e por estruturas de apoio (casas do moleiro, fornos, estábulos, choças). A maioria destas antigas estações moageiras localiza-se no Concelho de Mora, nas freguesias de Brotas, Cabeção e Pavia, com magnífica inserção na paisagem envolvente com a qual se harmonizam plenamente, encontram-se quase todas desactivadas e ao abandono.

 
 

Descrição

Funcionalmente distribuídos em duas tipologias, moinhos de roda horizontal (vulgo de rodízio) e moinhos de roda vertical (vulgo azenhas), os moinhos de água, movidos a energia hidráulica, permanecem como um importante legado patrimonial a preservar enquanto parte integrante da nossa memoria coletiva.

Os moinhos hidráulicos recorrem à energia potencial do movimento de massas de água, gerada através de um desnível ou queda de água, ou pelo aproveitamento das marés, que é convertida em energia mecânica através de rodízios ou rodetes.

Os moinhosde roda horizontal possuem eixo vertical podendo ser de dois tipos:

A - de rodízio, funcionando por jato de água (este batendo nas penas do rodízio fá-lo girar acionando o mecanismo de rotação) podendo este ser fixo ou móvel (menos comum); dentro desta tipologia encontram-se também os moinhos de maré, que utilizam a energia cinética das correntes devido às marés ou a energia potencial pela diferença de nível das águas entre a maré-baixa e a maré-alta, gerando energia maremotriz.

B - de rodete, funcionando por turbinação; o rodete trabalha submerso num poço de pedra, ou numa dorna ou pipa de madeira, de diâmetro ligeiramente superior (ao receber o impulso da água o rodete adquire um movimento contínuo de rotação acionando o mecanismo.

Os moinhos deroda vertical possuem eixo horizontal e podem ter um sistema de propulsão superior, anterior ou posterior, ou de propulsão inferior, nivelada ou desnivelada.

O moinho pode ter um ou mais caboucos, correspondendo normalmente ao número de aferidos, ou seja de casais de mós; o cabouco, situado ao nível inferior do moinho, é o local onde funciona o mecanismo de captação de energia hídrica, ou seja onde se encontram os rodízios ou rodetes. A água era levada até estes mecanismos através de túneis inclinados, de pedra ou madeira, designados de cales ou cubos, que tinham origem na parede oposta àquela onde se encontravam os caboucos e que atravessavam a parte inferior do moinho. A água era conduzida até às cales através de um sistema de adução, captação e controle da água no qual se incluem açudes, represas, levadas, comportas, enxogadouro, etc..

O conjunto de construções compreendendo o moinho propriamente dito, os sistemas sistema de adução, captação e controle da água, as armadilhas para apanha de peixe, a habitação do moleiro, os abrigos para o gado, o forno, etc., é designado por Estação de Moagem.

Os primeiros moinhos movidos a energia hidráulica são referidos pela primeira vez no Séc. I a. C.; sensivelmente meio século mais tarde Vitrúvio menciona os moinhos de roda vertical, daqui derivando uma sua outra designação, moinhos romanos. Pela abundância de referências documentais, constata-se que entre os Séculos III – XII os moinhos de água se difundem por toda a Europa, tendo aparentemente sido introduzidos na Península Ibérica pelos romanos.Em Portugal as primeiras existências remontam pelo menos ao Séc. X, supondo-se que os de rodízio terão sido divulgados pelos romanos e as azenhas pelos árabes.

Os moinhos de roda vertical necessitam de um caudal maior de água para o seu funcionamento; apesar da sua instalação ser mais dispendiosa, são mais rentáveis relativamente aos moinhos de roda horizontal; isto não só porque a velocidade da mó andadeira é bastante superior, como pelo facto da roda vertical poder acionar mais do que um casal de mós o que não é possível com os moinhos de roda horizontal. Ao invés do verificado no resto da Europa, em que o moinho de roda vertical acabará por suplantar, a partir do Séc. XVII, com vista ao aumento de produção, o de roda horizontal, em Portugal, sobretudo no Sul, no contexto da economia de subsistência que caracterizou esta região, prevaleceu o moinho de rodízio que perdurou até meados do Séc. XX (na década de 1960 contavam-se c. de 7 mil moinhos hidráulicos em atividade dos quais c. de 5 mil eram de rodízio). Muitos destes moinhos eram de submersão, isto é, tipológica e estruturalmente, concebidos para poderem ficar imersos pelas águas nas épocas de maior volume do caudal dos cursos de água; alguns outros eram de laboração temporária, estival, sendo apenas as infraestruturas estáveis e as moendas instaladas no piso superior em construções que se removiam ou abandonavam, durante o inverno.

É difícil uma datação precisa dos moinhos desta Rota devendo remontar pelo menos ao Séc. XVIII. Conhece-se vária legislação oitocentista relativa aos moinhos de água do concelho, nomeadamente a proibição de moer trigo nas pedras barroqueiras (próprias para centeio) ou de moer grão fora do concelho, bem como a obrigação de todos os moleiros "de pé de mó, como os maquilões (os moços que levavam a farinha ao domicílio) ou carregadores", de prestarem fiança por todo o mês de janeiro e a obrigação dos forneiros de fornos públicos de cozerem o pão e "mais artigos precisos a toda e qualquer pessoa". Alguns destes moinhos encontram-se assinalados na Carta Geográfica redigida e gravada em 1872 pela Direção de Trabalhos Geográficos, Topográficos, Hidrográficos e Geológicos do reino, sob a direção de Felipe Folque.

Estas estações de moagem localizam-se em locais isolados, normalmente integrados em montes ou herdades seculares, algumas partilhando o mesmo leito do rio ou ribeira, distanciando entre si poucas centenas de metros. Outras são isoladas e relativamente afastadas de outras estações. As estruturas de apoio, quando existentes, situam-se a escassas centenas de metros das casas do moinho. Os moinhos e os sistemas de captação, adução e controle da água, encontram-se pouco adulterados, com aqueles em relativo bom estado de conservação: são construções sólidas, uma vez que na maioria dos casos se destinavam a ficar, total ou parcialmente, submersas durante parte do ano; assemelham-se a pequenas fortificações, em aparelho de pedra ou de alvenaria de pedra insonsa, por vezes rebocados e caiados. Já as estruturas de apoio se encontram, na maioria dos casos, em avançado estado de degradação, dado que são construções, por regra, de alvenaria, mista de tijolo e pedra, argamassada, com telhados assentes sobre vigamentos de madeira apodrecidos ou parcialmente derrocados. Pontualmente sobrevivem ainda alguns dos mecanismos para triturar os cereais, nomeadamente mós e respetivos pousos, tendo já desaparecido os rodízios.

O Concelho de Mora situa-se em local privilegiado, na extremidade N. do distrito de Évora, a NE. de Estremoz, a SO. de Portalegre e a E. de Santarém, ponto de encontro do Alentejo com o Ribatejo; vizinhos ficam os concelhos de Avis, Coruche, Montemor-o-Novo e Arraiolos. O acesso aos moinhos é maioritariamente feito a pé, com distâncias que variam de 500m a 2Km a partir de um acesso viário, principal ou secundário (exceto o Moinho da Courela, sito na freguesia de Brotas a c. de 6km do acesso viário), mas não exigindo o recurso a viaturas de tracção às 4 rodas. Algumas unidades de moagem encontram-se completamente envolvidas pela vegetação não permitindo o acesso ao interior do moinho ou, por vezes nem sequer, ao seu exterior. Principais pontos de partida: Monte das Águias em Brotas, Cabeção e Pavia.

A maioria destas estações de moagem localizam-se em zona de planalto, levemente ondulado, de relevo por vezes sinuoso e acidentado, na qual a Ribeira da Seda constitui considerável vale. A região conjuga a paisagem típica alentejana, o montado alentejano, com a paisagem ribatejana. A área possui uma elevada diversidade de habitats, com predomínio para o montado de sobro e azinho, com utilização do sub-coberto para pastorícia e algumas culturas agrícolas e forrageiras, dispersos pinhais, pinheiros isolados, pequenos eucaliptais, clareiras desarborizadas ou de arvoredo pouco denso; a vegetação arbustiva é característica do clima mediterrânico, com maior incidência para a Esteva (Cistus ladanifer) e o Rododendro (Rhododendron) estando presente também a Figueira-da-Índia (Opuntia ficus-indica). Parte do território pertence ao "Sítio Cabeção", integrado na Rede Natura 2000. A nível da fauna encontramos, entre outros, o Javali (Sus scrofa), a Raposa (Vulpes vulpes), o Rato-de-cabrera (Microtus cabrerae), o Texugo (Meles meles), a Lontra (Lutra lutra); nas linhas de água vários anfíbios e répteis como a Rã-verde (Rana perezi), a Rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi), o Sapo-parteiro (Alytes obstetricans) e a Cobra-de-água-viperina (Natrix maura), bem como várias espécies aquícolas salientando-se o Barbo (Barbus) e o Pimpão (Carassius auratus); no campo da avifauna, destaque para a comunidade de rapinas, com populações numerosas de Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo) e de Águia-calçada (Hieraetus pennatus), marcando presença também, na primavera, a Águia-cobreira (Circaetus gallicus), o Bútio-vespeiro (Pernis apivorus) e a Ógea (Falco subbuteo); vários passeriformes, com destaque para os Chapins, Toutinegras, o Rouxinol (Luscinia megarhychos), o Rabirruivo-de-testa-branca (Phoenicurus phoenicurus), e ainda o Pica-pau-malhado (Dendrocopos major) e o Pica-pau-galego (Dendrocopos minor) entre outros.

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