Igreja e Hospital da Santa Casa da Misericórdia do Cabeção

IPA.00009092
Portugal, Évora, Mora, Cabeção
 
Igreja e hospital de misericórdia construída em finais do séc. 16, e reformada no séc. 18. A igreja tem estrutura maneirista, composta por nave e capela-mor, mais baixa e estreita, interiormente pouco iluminada, pelo óculo axial e cobertura em falsa abóbada de berço. A fachada principal termina em empena e é rasgada por portal de verga reta, com moldura de cantaria, encimado por friso inscrito com data da reforma setecentista, cornija e tabela, com nicho, rematada em frontão triangular, tudo em massa. A fachada lateral direita é cega. No interior, as paredes laterais da nave apresentam pinturas murais, com duas campanhas sobrepostas, mas com a mesma temática, dedicada a José do Egito, a primeira de início do séc. 17 e a segunda do séc. 19, altura em que se pintou também a cobertura da nave e as paredes da capela-mor. A parede fundeira da nave tem a representação incomum nas Misericórdias da Árvore da Ordem de São Francisco de Assis e uma Árvore de Jessé, mas a parede testeira tem temática típica das Misericórdias, como as figuras da Justiça e Misericórdia, as teológicas da Fé e da Esperança e uma Pietá, as últimas enquadrando o arco triunfal. No lado do Evangelho possui púlpito, de bacia hexagonal sobre coluna balaústre, acedido a partir do hospital, por porta de verga reta, e, no lado oposto cadeiral dos mesários, de finais do séc. 18, cuja colocação levou ao fecho da porta travessa da igreja. Na capela-mor, dispõe-se retábulo-mor maneirista, tipo edícula, com três eixos, e a cobertura tem pinturas murais com representação de quatro obras de Misericórdia Corporais. A decoração da sacristia é da segunda metade do séc. 18. O edifício do hospital, disposto à esquerda, é de pequenas dimensões e foi bastante reformado no séc. 20, tendo a fachada principal terminada em platibanda plena encimada por sineira central, e rasgada por dois eixos de vãos, em arco, correspondendo no segundo piso a janelas de sacada.
Número IPA Antigo: PT040707020009
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Edifício de Confraria / Irmandade  Edifício, igreja e hospital  Misericórdia

Descrição

Complexo de planta retangular formado por igreja, disposta à direita, e sacristia, casa do despacho e hospital, à esquerda, de volumes articulados, com coberturas diferenciadas em telhados de uma ou duas águas, na igreja rematadas em beirada simples. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, a principal virada a sul. IGREJA de planta retangular composta por nave e capela-mor, mais baixa e estreita. Fachada principal com falsas pilastras nos cunhais, coroadas por pináculos piramidais sobre acrotérios, e terminada em empena com cornija de massa, coroada por cruz latina em ferro. É rasgada por portal de verga reta, com moldura em cantaria, rematada em cornija, encimado por friso inscrito e cornija de massa, sobre a qual se desenvolve tabela retangular, definida por falsas pilastras, suportando frontão triangular, contendo pequeno nicho, em arco de volta perfeita sobre pilastras, de perfil curvo, com imagem pétrea de Cristo Redentor. Superiormente, abre-se óculo circular. Fachada lateral direita terminada em cornija de massa e a posterior, cega, termina em empena. INTERIOR: com pavimento cerâmico, paredes com rodapé de madeira e pinturas murais, formando dois registos, o inferior pintado de bege ou formando enxaquetado, e o superior com painéis figurativos, representando cenas da vida de José, todos legendados. Cobertura em falsa abóbada de berço, de estuque, com pinturas murais formando apainelados, pintados de rosa, percorridos por fino friso fitomórfico e molduras igualmente em friso fitomórfico e florões nos encontros; apresenta ainda tirantes de ferro. A parede fundeira da nave apresenta pinturas murais, adaptadas ao perfil da cobertura, representando, no lado esquerdo, a Árvore da Ordem de São Francisco de Assis, e, no da direita, uma Árvore de Jessé. O portal axial é ladeado, no lado da Epístola, por pia de água benta, hemisférica e remate em botão. No lado do Evangelho dispõe-se púlpito, de bacia hexagonal, assente em coluna balaústre, com guarda plena de madeira facetada, acedido por porta de verga reta, encimada por painel pintado com a pomba do Espírito Santo. No lado oposto, assentando diretamente no pavimento, surge o cadeiral dos mesários, com espaldar e guarda secionada em doze painéis, os do espaldar com apainelados separados por falsas pilastras, coroadas por motivo vegetalista, e remate recortado, com cornija, encimada por volutados; o lugar do provedor é mais largo, mais alto e com remate decorativamente mais rico. Arco triunfal, de volta perfeita sobre pilastras, pintadas e marmoreados fingidos, com chave saliente, encimado por pinturas murais representando uma Pietá, em que a Virgem surge junto à haste da cruz, com Cristo no regaço, ladeada por São João e Maria Madalena, enquadrada por dois anjos e, mais abaixo, pelas figuras da Justiça e Misericórdia; ladeando as pilastras, surgem ainda apainelados com as figuras teológicas da Fé e da Esperança. Capela-mor com as paredes laterais pintadas de rosa, faixa inferior e friso superior pintado a marmoreados fingidos e, sobre cornija pintada a marmoreados fingidos rosa e branco, cobertura em falsa abóbada de berço, com pinturas murais. Estas formam quatro painéis seccionados por um quinto, central e ovalado, separados por molduras a marmoreados fingidos, percorridas por friso fitomórfico e laçarias; os quatro painéis figuram obras de Misericórdia Corporais: "Dar de comer a quem tem fome" e "Vestir os nus" (Evangelho) e "Dar de beber a quem tem sede" e "Remir os cativos" (Epístola), este último com representação de visita a quem está preso, suprindo-os de alimentos e água; cada um dos painéis integra, em cada ângulo, a representação de Cristo a abençoar. No painel central surge Cristo com o cordeiro. Sobre supedâneo de dois degraus, dispõe-se o retábulo-mor, de talha dourada e apontamentos policromos, de corpo reto e três eixos, definidos por quatro colunas jónicas, de terço inferior marcado, assentes em plintos paralelepipédicos, com almofada frontal pintada com apontamento fitomórfico, as quais suportam o remate da estrutura, em entablamento de friso denticulado. Cada um dos eixos possui painel pintado, sobre tábua, o central (1,15x0,68m) representando a Visitação e os laterais (1,15x0,64m) a Adoração dos Pastores (Evangelho) e Anunciação (Epístola). Sotobanco com predela de três painéis pintados (35x56cm): Santo António, a meio, Santa Apolónia, no lado do Evangelho, e Santa Bárbara, no da Epístola. Altar tipo urna, em mármore, com frontal decorado por concheados, ladeado por dois plintos paralelepipédicos. Na parede do lado do Evangelho abre-se porta de verga reta de ligação às dependências do hospital, sala da confraria e sacristia, e janela retangular gradeada. Sacristia com as paredes rebocadas e pintadas de branco e teto plano com sanca percorrida por friso pintado a marmoreados fingidos, decorado nos ângulos, recortados, por cartelas de concheados relevados; ao centro do teto, pintado de rosa, surgem as armas de Portugal, em estuque relevado e policromo, envolvidas por conchedos. Lavabo de mármore, com espaldar retangular, disposto na horizontal, com bica inserida em florão, e remate em aletas coroadas por cruz latina; em frente possui bacia retangular quase plana. HOSPITAL: fachada principal de dois pisos, terminada em platibanda plena, rematada por ameias decorativas, sobrepujada ao centro por sineira, em arco de volta perfeita, sobre pilares, albergando sino. No piso térreo rasgam-se vãos de verga abatida, correspondendo, à esquerda, a portal, procedido por escada de dois braços com guarda em ferro, e a janela de peitoril, ambas com caixilharia de duas folhas e bandeira. No segundo piso abrem-se duas janelas de sacada, em arco de volta perfeita, sublinhado por moldura de massa, com caixilharia igualmente tendo bandeira e guarda em ferro decorada com motivos lanceolados e fitomórficos.

Acessos

Cabeção, Praça do Município; Rua da Misericórdia; Rua Alexandre Herculano. WGS84 (graus decimais): 38,951846; - 8,081800

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, adossado, integrado no centro histórico da vila, disposto de gaveto junto às vias estruturadoras da mesma. Implanta-se adaptado ao declive suave do terreno, com a frontaria virada à Praça do Município, desenvolvida do outro lado da estrada, com pavimentado a paralelos e guias de cantaria, formando motivos geométricos, ao centro da qual se ergue o Pelourinho de Cabeção (v. IPA.00001226); em frente ergue-se o edifício da antiga Câmara Municipal, atual Junta de Freguesia.

Descrição Complementar

Sobre o portal axial da igreja surge friso inscrito com a data "MDCCLII". Na nave, as paredes apresentam pinturas murais, revelando duas campanhas artísticas sobrepostas. As pinturas murais formam dois registos, o inferior pintado de bege ou formando enxaquetado, e o superior com painéis representando cenas da vida de José, todos legendados, as do lado do Evangelho envolvidos por frisos de acantos enrolados e o oposto liso. Os painéis pintados representam, do lado do Evangelho, ladeando o portal e no sentido dos ponteiros do relógio: 1) José fugindo ao assédio da esposa Potifar, que surge numa cama, com dossel (inscrição "JOZÉ É PERSEGUIDO POR PUTIPHAR"); 2) José preso, surgindo com dois outros homens, atrás das grades, a ser visitado por dois homens (inscrição: "PREZO JOZÉ PELO..."); 3) José, ajoelhado, interpreta o sonho de faraó, que surge sentado num trono (inscrição: "DE .......DECLARA JOZÉ HO SONHO A FARAO"); 4) inspeção aos sacos dos irmãos de José (inscrição: "ACHAM AQUOPA NO FARDO DE BENJAMIM"); 6) prisão de Benjamim (inscrição: "PREZO BËNAMINO POR MDODO VIZO REI SEV IRMÃO"); 6) José recebe os seus irmãos (inscrição: "ADORADO JOZÉ DE SEUS IRMÃOS SENDO VIZO REI A FÉ"). No lado da Epístola os painéis representam: 1) os filhos de Jacó apresentam ao pai a túnica ensanguentada de José; 2) venda de José aos Ismaelitas; 3) os irmãos tiram José da cisterna; 4) os irmãos de José prendem-no e tiram-lhe a túnica exterior; 5) Jacó pede a José para ir ver se os seus irmãos estavam bem; 6) sonho de José, representação quase impercetível (inscrição: "ESPERANÇAS de SONHOS").

Utilização Inicial

Religiosa: edifício de confraria / irmandade

Utilização Actual

Educativa: jardim de infância / Devoluto

Propriedade

Privada: confraria / irmandade (Misericórdia)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

RESTAURADOR DAS PINTURAS: Manuel Durieu Gomes de Avellar (1996).

Cronologia

1597 - 1599 - instituição da Confraria da Santa Casa da Misericórdia de Cabeção e construção da igreja, subsidiada pelo primeiro provedor e mordomos e por esmolas da população; 1600 - sagração da igreja com licença do Arcebispo de Évora, D. Teotónio de Bragança; a Câmara Eclesiástica, presidida pelo padre António Coelho, declina o tributo do Regimento Metropolitano, do marco de prata de 2$600, que é distribuído pelos pobres da vila, na celebração da primeira missa rezada; 1602 - data do Tombo mais antigo da Misericórdia; por esta data são realizadas as pinturas murais e o retábulo-mor; 1640 - edição impressa do Compromisso da Misericórdia (que segue o de Lisboa), por António Álvares, em Lisboa; séc. 18, meados - a Misericórdia tem de rendimento anual 200$000; 1752 - data inscrita sobre o portal da igreja; 1755, 01 novembro - terramoto provoca alguns estragos na igreja; 1758, 18 maio - nas Memórias Paroquiais da freguesia, assinadas por Domingos de Oliveira Botelho, refere-se que a povoação tem 254 vizinhos e 772 pessoas de confissão, a vila é da Ordem de São Bento de Avis e pertence ao arcebispado de Évora; tem casa da misericórdia, fundada em 1597 pelos moradores da vila, com Irmandade governada pelo Compromisso da Misericórdia de Lisboa; tem de renda 200$000; tem um hospital dotado de tudo o que é necessário e só serve para nele dormirem alguns peregrinos; séc. 18, segunda metade - colocação do altar-mor em mármore e feitura da decoração da sanca e teto da sacristia; séc. 18, último terço - feitura e colocação da tribuna com cadeiral dos mesários na nave, com fecho da porta travessa da igreja; séc. 19 - época provável da segunda campanha de pinturas da nave e da faixa e friso, com pinturas a marmoreado fingido, da capela-mor; 1897, cerca - segundo Costa Goodolphim, a Misericórdia tem de receita 300$000, de capital nominal 3:500$00 e mutuado 115$000; séc. 20, meados - demolição do adro espaçoso da igreja e escada de acesso ao portal, para facilitar a circulação automóvel na praça; 2002, 17 setembro - proposta de classificação por parte da Santa Casa da Misericórdia de Cabeção; 2011, 10 abril - requerimento de classificação por parte da Santa Casa da Misericórdia de Cabeção; 2011, 10 maio - proposta da DRCAlentejo no sentido da não-abertura do processo de instrução, por não ter valor nacional; 2011, 23 maio - Despacho de arquivamento da classificação pelo Diretor do IGESPAR.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura rebocada e pintada; molduras exteriores e interiores em cantaria ou de massa; portas e caixilharia de madeira; vidros simples; cadeiral dos mesários e guarda do púlpito em madeira de casquinha do Norte; pavimento cerâmico e de madeira; guardas em ferro; pinturas murais; retábulo de talha dourada e policroma; coluna balaústre do púlpito e altar em mármore; estuques relevados no teto da sacristia; cobertura de telha.

Bibliografia

ESPANCA, Túlio - Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Évora. Lisboa: SNBA, 1975, vol. 8; GOODOLPHIM, Costa - As Misericórdias. Lisboa: Livros Horizonte, 1998 (1º ed. 1897); Relatório da intervenção efectuada na pintura da nave, no lado do Evangelho, Cacém, Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra, 1996.

Documentação Gráfica

DGEMN:DSID; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra

Documentação Fotográfica

DGEMN:DSID; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra

Documentação Administrativa

IAN/TT: Ministério do Reino, 1ª Direcção, 2ª Repartição; Arquivo Distrital de Évora: Biblioteca da Manisola, Cod. 61, fl. 89 - 90; Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1755 - depois do terramoto sofre algumas reparações; 1876 - a Misericórdia pede as madeiras necessárias para consertar o hospital da vila; 1960 - restauro e colocação de novo estofo na cadeira do Provedor e "retoque" do lavabo da sacristia; ESCOLA PROFISSIONAL DE RECUPERAÇÃO DO PATRIMÓNIO DE SINTRA: 1996 - intervenção nas pinturas murais da nave do lado do Evangelho, efetuada por Manuel Durieu Gomes de Avellar, e que incluíram o levantamento de repintes, limpeza da camada cromática, aplicação de argamassas e reintegração cromática; PROPRIETÁRIO: 2000 - obras de reparação e substituição da cobertura exterior.

Observações

O hospital tinha a designação de Santa Cruz.

Autor e Data

Paula Noé 2015

Actualização

 
 
 
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