Engenho de Cana-de-Açucar no Sítio das Casas Próximas / Fábrica de Aguardente da Companhia dos Engenhos do Norte

IPA.00008325
Portugal, Ilha da Madeira (Madeira), Machico, Porto da Cruz
 
Engenho de cana de açucar, construído no séc. 19 e a laborar ainda no início do sé. 21, com estrutura sóbria e leve, e fenestração essencialmene na fachada principal, a qual, por ser insuficiente para a devida iluminação e ventilação interior, levou à abertura, mais recentemente, de vários vãos na cobertura. Possui planta retangular, com fachadas rebocadas e pintadas, a principal terminada em empena, com três ordens de vãos, em arco de volta perfeita, revelando a divisão interior em dois pisos, tendo no primeiro porta entre duas janelas, e no segundo quatro janelas dispostas escalonadamente e, no topo, óculo. A fachada lateral esquerda tem amplo portão de verga reta, encimada por inscrição, e janela. À fachada posterior, adossa-se forno, com grande chaminé de tijolo, de cor vermelha (cereja clara), com paralelo apenas na Fábrica do Torreão, no Funchal. No interior, de vários tramos, dispõem-se, no primeiro piso, o núcleo fabril, com engenho a vapor de prensar a cana, seguindo a garupa para o alambique sem separação física, e no segundo, com estrutura construída em madeira de casquinha, de excelente efeito estético, à semelhança do que acontece no engenho de Santa Cruz, localizam-se os escritórios e outras instalações de apoio (quartos e cozinha). O modelo do alambique utilizado é igual ao do engenho de Machico, mas mais simples. A casa da báscula (para pesagem da cana de açucar) está instalada num pequeno corpo, construído separadamente ao edifício principal. Constitui o único engenho de açucar ainda a laborar na zona norte da ilha e, tal como o da Calheta, ainda labora segundo a tecnologia original do séc. 19, constituindo, por isso, um núcleo museológico de grande importância.
Número IPA Antigo: PT062204040021
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Extração, produção e transformação  Fábrica    

Descrição

Planta retangular, de massa simples com cobertura em telhado de duas águas, em telha de marselha de cor cinzenta e folhas de chapa de zinco. Fachadas construídas por blocos de cimento preenchidas com pedra e areia, rebocadas e pintadas de branco, com faixa vermelha. Fachada principal virada a norte, terminada em empena reta, rematada em cornija de cimento, rasgada, no primeiro piso, por uma porta alta, em arco de volta perfeita entre duas janelas de peitoril igualmente altas em arco de volta perfeita, e, no Segundo piso, por quatro janelas de peitoril, altas, em arco de volta perfeita, com bandeira, sendo as dos extremos mais pequenas; no topo, no alinhamento do portal, abre-se óculo circular; todas as molduras dos vãos são em cimento, as do primeiro piso pintadas de vermelho. Na fachada nascente, com aba corrida apoiada em traves de madeira, abre-se ao centro ampla porta de verga reta, com moldura relevada, encimada pela inscrição de letras relevadas "COMPANHIA DOS ENGENHOS DO NORTE", pintadas de vermelho; para a esquerda, abre-se ainda uma janela de peitoril retangular, com moldura relevada, ambas pintadas de vermelho. A fachada poente é cega e na virada a sul, abre-se no topo óculo circular; a esta, adossa-se forno retangular com chaminé de corpo cilíndrico, estrangulado e superiormente com três anéis, tudo em tijolos de cor vermelha cereja clara. Frente à fachada nascente, ergue-se pequena construção, a casa da báscula, em blocos de cimento, superiormente com amplos vãos de verga recta, e coberta de telhado de zinco, e em frente da fachada poente, foi construído um pequeno edifício para servir de armazém. INTERIOR de paredes rebocadas e pintadas de branco, com pavimento de cimento e cobertura de telha assente em estrutura de madeira, com os frechais e pendurais a descarregarem em pilares quadrangulares de betão, interligados por traves do mesmo material, que acabam por seccionar o espaço em vários tramos; os pilares e traves de betão são pintados de branco e, inferiormente, de vermelho. O sistema de moagem distribui-se no primeiro piso, dividido em três unidades distintas: na 1ª unidade, procede-se ao descarregamento dos molhos da cana de açucar que, através de um tapete rolante, é conduzida à prensa, composta por grandes rodízios e depois, através de bomba a vapor, o suco da cana é conduzido à 2ª unidade, formada por três tanques de garapa, seguidos por quatro tanques de mistura onde se processa a diluição do sumo da cana para um determinado grau. Finda a operação, a garapa é cozida ou aquecida nos clarificadores de garapo e posteriormente vertida nas tachas ou evaporadores, onde é purificada. O suco é depurado na 3ª unidade designada "casa do alambique", localizada na zona sul do edifício. No topo sul fica ainda o forno, com porta em ferro. O segundo piso desenvolve-se apenas na parte norte sobre as traves de betão, possuindo estrutura de madeira de casquinha, acedida por escada com guarda do mesmo material; ali ficam os escritórios, a antiga pagadoria, três dormitórios e uma cozinha.

Acessos

Porto da Cruz, Sítio das Casas Próximas

Protecção

Categoria: VCL - Valor Cultural Local, Resolução do Presidente do Governo Regional n.º 79/95, JORAM, 1.ª série, n.º 25 de 03 fevereiro 1995

Enquadramento

Peri-urbano, adossado, construído a sul da vila, na berma da estrada que dá acesso ao cais, no sopé de iminência rochosa de forma piramidal truncada, de altitude máxima de 580 m., designada por Penha de Águia, o ex-libris da freguesia, e no topo da qual se localiza o Fortim do Porto da Cruz (v. IPA.00008354). As fachadas laterais e a posterior separam-se dos terrenos por alto muro de betão.

Descrição Complementar

Para além do equipamento necessário à destilação da aguardente, também existe o necessário ao fabrico e destilação do mel. Desse, fazem parte quatro cubas de mel de retém, um alambique pequeno para mel, onde os restos das borras são destilados; a caldeira de vácuo, cujos vapores libertados vão ajudar no processo de destilação; os clarificadores de garapa, em alúminio, nos quais ocorre a pré-cozedura da garapa, utilizada tanto no fabrico do mel como da aguardente; e três tachas ou evaporadores, também de alumínio que receberão a garapa já decantada ou purificada. Algumas máquinas do engenho são antigas, algumas de 1906, movidas a vapor; destaca-se, a título de exemplo, o alambique de mel, o alambique de aguardente, raramente utilizado, ou a caldeira inglesa com forno de alimentação.

Utilização Inicial

Extração, produção e transformação: fábrica

Utilização Actual

Extração, produção e transformação: fábrica

Propriedade

Privada: Sociedade

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Porta do forno fundida no Arsenal de Santiago, no Funchal.

Cronologia

1846 - 1852 - Destruição dos vinhedos na ilha da Madeira levando ao ressurgimento quase imediato do fabrico de açucar e da aguardente; 1858 - fundação da fábrica por João Leal e Valentim Leal; 1863 - segundo Informações de Estatística Industrial do Districto do Funchal, o capital empregado no estabelecimento era de 2:000$000 e o empregado no edifício 9:000$000, pagando de foro $300 por ano; o pessoal era constituido por um mestre, pago a $700 diários, um alambiqueiro a $600 diários, cinco homens maiores de 46 anos a $240 e dois menores de 16 anos a $100 diários, que trabalhavam de sol a sol, durante oito meses no ano; utilizava como matéria prima 397 toneladas métricas de cana de açucar, que se podiam comprar a 10$000 a tonelada, procedentes de diversas freguesias do concelho; o preço dos carretos para a fábrica era pago a $025 por cada 20 kg, quer fosse por conta dos donos da matéria prima, quer fosse por conta dos donos da fábrica; a produção anual era de 366 hectolitros de aguardente de 22º a 25º resultantes de 2:249 hectolitros de guarapa, vendendo-se a aguardente pelos preços de 12$800 a 14$285 cada hectolitro; os preços dos carretos dos produtos para o local de venda eram pagos pelos donos da matéria prima e variavam consoante as diferentes distâncias a vencer; na fábrica utilizava-se de combustível 18 centos de achas de pinho e faia, a 1$400 o cento mais o retraço que fica da palha da cana, de força motriz uma junta de bois e tinha as seguintes máquinas: moinho de cilindros de ferro, horizontais, alambique de destilação e bomba aspirante; 1865 - existiam duas oficinas para laboração de açucar na freguesia de Porto da Cruz, a de Valentim Leal e a outra de Cândido Velosa de Castelo Branco; posteriormente - a fábrica passa para a posse do Dr. João Francisco Baptista Leal, pressupondo certa continuidade nos negócios; 1911 - Brito Camacho num relatório sobre a ilha, designa-a de "ilha da aguardente", devido ao consumo desusado dessa bebida, abundantemente produzida, provocando graves problemas sanitários na Região; 11 março - procurando travar esta situação, publica-se decreto determinando a expropriação das fábricas de aguardente não matriculadas; todavia, a quebra dos compromissos deste decreto levou a que as fábricas se mantivessem; 1927 - existiam 49 fábricas de aguardente que destilavam 1.200.000 litros de aguardente, correspondente a 18.000 toneladas de cana em 50.000 do total da produção; 1928, 01 novembro - criação da Campanhia da Aguardente da Madeira, que deteve o contrato exclusivo de produção de aguardente por 25 anos, até 30 outubro de 1953, mediante a renda de 4:212.000$00 para uma produção fixa de 500.000 lts de aguardente; 1939 - deixam de laborar em toda a ilha 48 fábricas, ficando apenas 3 a laborar para aguardente, em regime de concentração (sociedade de quotas) até 1967; eram elas: a Sociedade de Engenhos da Calheta, Ldª, a Companhia de Engenhos de Machico, Ldª, e a Companhia de Engenhos do Norte, Ldª, do Porto da Cruz; os fabricantes que se agregaram a esta última fábrica foram os herdeiros de João Sousa Freitas, os quais, uma vez não autorizados ao fabrico de aguardente, eram obrigados, anualmente, a entregar as suas quotas de destilação ao Engenho de Porto da Cruz recebendo em troca uma percentagem dos lucros relativamente ao seu rateio; década de 20, finais - década de 30 - fusão industrial de quatro engenhos no Sítio das Casas Próximas; 1945, 20 julho - ata lavrada na Conservatória do Registo Predial do Concelho de Machico, pela Conservadora Ana Maria Araújo, da aquisição de algumas quotas das famílias João Marcelo de Brito Figueiroa e esposa Maria Evangelista Sardinha de Brito Figueiroa, de Benjamim Teixeira de Aguiar Júnior e esposa Maria Paula Jardim Spínola Aguiar, de João Jardim Spínola e esposa Lucinda Margarida Castanha Spínola e de Maria das Mercês Jardim Spínola, a favor da Companhia dos Engenhos do Norte, Ldª; 1946 - a partir desta data dá-se a provável construção do armazém a poente da fábrica; 1954, depois - substituição da Companhia da Aguardente da Madeira pela Junta Nacional do Vinho no Funchal; 1978 - aquisição do engenho de Porto da Cruz por Luís Alberto Andrade Canning Clode.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura de blocos de cimento, preenchidos com pedra e areia, rebocados e pintados; travejamento de betão; molduras dos vãos em cimento; caixilharia de Madeira; vidro simples; estrutura interior do segundo piso e escada de acesso em madeira de casquinha; pavimento de cimento; cobertura de telha de marselha e chapas de zinco assente em travejamento de madeira.

Bibliografia

MESTRE, Victor - Arquitectura Popular da Madeira. Lisboa: 2002; OLIVEIRA, Maria João - «O Engenho de Cana-de-Açucar do Porto da Cruz». In Xaramba. Funchal: 1993, nº 4, pp. 26 - 34; PEREIRA, Eduardo C. N. - Ilhas de Zarco. Funchal: 1967, vol. 1; RIBEIRO, João Adriano - A cana-de-açucar na Madeira: séc. XVIII - XIX. Calheta: 1992; SILVA, Fernando Augusto da - «Engenho». In Elucidário Madeirense. Funchal: 1978, vol. 2; VIEIRA, Alberto, CLODE, Francisco - A Rota do Açucar na Madeira. Funchal: 1996.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DRAC; DGPC: DSID

Documentação Administrativa

Conservatória do Registo Predial do Concelho de Machico: Descrições - Averbamentos - Anotações (n.º 5840, Fls. 34/B cot. G-1 [Ap. 01/200745]; idem, cot. F-2 [Ap. 01/220889]

Intervenção Realizada

2001, depois - obras de restauro e conservação.

Observações

As canas doces utilizadas no engenho vêm da costa S. (Ribeira Brava, Ponta do Sol e Calheta) e da costa Leste da Madeira (Faial, Porto da Cruz, Machico, Água de Pena e Santa Cruz). Utilizam-se habitualmente dois tipos de cana: a primeira designada Uba ou Ubia, popularmente conhecida como Canica ou Cana Branca e provém da zona Norte; a segunda é designada de Cana Roxa e provém do Sul.

Autor e Data

Dina Jardim e Eduarda Gomes 2001 / Paula Noé 2003

Actualização

 
 
 
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