Hotel Monte Palace

IPA.00008255
Portugal, Ilha da Madeira (Madeira), Funchal, Monte
 
Palacete inspirado nas construções do Norte da Europa, com planta rectangular e quatro pisos, alpendre avançado no piso térreo com terraço protegido por balaustrada de ferro fundido e cobertura por altos telhados rematados por agulhas.
Número IPA Antigo: PT062203020043
 
Registo visualizado 540 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palacete  

Descrição

Planta rectangular composta, assente em grande plataforma sobrelevada; massa de volumes articulados verticais definidos por telhados diferenciados em três águas-furtadas, sendo os laterais decorados por altas e esguias chaminés e pináculos nas empenas. Fachada S. de quatro pisos, sendo o último de águas-furtadas, e três panos, com corpo ligeiramente recuado para O. de dois panos, rematado por terraço ao nível do terceiro piso; piso térreo com alpendre avançado, assente em pilastras e a envolver a fachada E., com acesso por escadarias a envolver o corpo avançado rematado por balaustradas de ferro fundido; corpo avançado com três janelas para S. e, lateralmente, uma janela e uma porta com bandeiras elevadas em meia-laranja e tapa-sóis, o mesmo acontecendo no corpo O.; filetes relevados a demarcarem toda a fachada nas divisões dos pisos e no parapeito e lintel das aberturas; segundo piso com duas portas geminadas sobre o terraço, duas laterais e mais duas nos panos laterais, com relevados a marcarem o avental; cornija em alvenaria no corpo central a servir de sacada à varanda da porta central, rematada por lintel curvo e inscrita em água-furtada e janelas dos panos laterais idênticas, sem marcação de água-furtada; remates por cimalha, atravessadas nos panos laterais pelos pináculos com relevado na alvenaria da fachada abaixo da mesma. Fachada O. com três janelas por piso com igual tratamento e água-furtada idêntica à da fachada S. a dar acesso ao terraço superior. Fachada E. com idêntico tratamento, mais simplificada, com o alpendre da fachada S. a prolongar-se ao nível do solo e corpo avançado alpendrado, assente em colunas de ferro pintadas e empena aguda ao nível do piso superior. Fachada N. também com idêntico tratamento ao da S. e, dado o desnível do terreno, somente com dois pisos aparentes e sem a água-furtada central. O desnível do terreno permite a criação de um anexo para O., onde se expõe a colecção de porcelanas da Fundação. INTERIOR com acesso pela fachada O., com soalhos de parquet de madeiras exóticas, balaustradas de madeira aparente e tectos de estuque com decoração relevada. O parque possui miradouro para S., e escadaria a O., a articular-se com acesso em empedrado e casa de recepção de dois pisos e dois corpos para O. com portão gradeado apoiado em pilastras rematadas por pinhas em cerâmica vidrada e lago para NE., com torreão de planta circular rasgado por duas filas de canhoeiras, de onde saem pequenos canhões e ilhas artificiais. A NO. apresenta um edifício integrado na paisagem, de três pisos. Encontra-se bem ajardinado e percorrido por alamedas, decoradas com colecções várias de pormenores arquitectónicos de diferentes épocas, esculturas e painéis de azulejos, desde o séc. 16 ao 20. Para além das lagoas com colecções de peixes Koi, o parque apresenta uma importante colecção de cicas africanas, algumas delas centenárias, um orquidário e outras curiosidades, como um painel dedicado à aventura dos portugueses no Japão e a mais alta garra do mundo registada pelo "Guiness".

Acessos

Caminho do Monte, n.º 174; Caminho das Barbosas, n.º 4

Protecção

Enquadramento

Peri-urbano, com edifício central e outros três de apoio, nos extremos, tudo integrado num amplo parque ajardinado com espécimes exóticas e autóctones, povoado de aves de jardim, elementos arquitectónicos, estatuária, painéis de azulejos e lagos com peixes orientais, confrontando a N. por muro com o Colégio do Infante (v. PT062203020099) e o Caminho das Barbosas, a E. com o do Desterro, a S. com paredão com fonte e a O. com o do Monte, parcialmente gradeado.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Política e administrativa: sede de fundação

Propriedade

Privada: fundação

Afectação

Época Construção

Séc. 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Arquitectura e decoração: Mário Rodrigues; águas e canalizações: José de Abreu; apoio florestal e da jardinagem: Eng. Rocha da Silva; Miguel Afonso; Remígio Barreto; apoio noutros sectores: GR; CMF; calcetamento: Jaime Abreu, herdeiros; cantarias: José Manuel Vieira Barradas; carpintaria: Alberto & Alexandre; concepção e arranjo paisagístico: José Eleutério Ascenção Soares; construção civil: Álvaro Encarnação Baptista; José Nascimento dos Ramos; consultadoria sobre azulejos: Manuel Leitão; embutidos: Reginaldo José F. Gonçalves; estuques: Armando José; flora madeirense: Dr. Raimundo Quintal; instalações de água e aquecimento: Termo Atlântica; instalações eléctricas e electrónicas: Indutora; pedras semi-preciosas: Culian, de São Paulo, Brasil, com António e Ilídeo Leite; pintura: Eurico João Andrade Xavier; transplante das cicas, urzes e azálias: Steve van Blumenstein.

Cronologia

1671, 14 Dezembro - falecimento do padre Miguel Pereira de Almeida, que fundara a capela de São Miguel na igreja dos jesuítas do Funchal, dotando-a com uma propriedade no Monte; 1682, 16 Junho - transladação dos ossos do fundador para a Capela de São Miguel; 1750, 16 Janeiro - tratado de limites do Brasil entre Portugal e Castela e início do confronto com a Companhia de Jesus iniciado pela guerras das Missões; 1759, 29 Maio - cerco das instalações jesuítas, que ficam incomunicáveis e confisco de todos os seus bens; 1760, 16 Junho - embarque para o continente dos jesuítas do Colégio do Funchal; 1762 - confirmação das servidões e prorrogativas das antigas propriedades dos jesuítas; 1767, 28 Agosto - devassa organizada pelo corregedor Francisco Moreira de Matos aos bens das confrarias dos jesuítas; 1770 - compra por Francisco Theodor da propriedade do Monte que pertencera à capela de São Miguel do Colégio dos Jesuítas, "com casa de telha", sobradada, "vinhas, árvores de fruto e inhames", tendo construído nela uma casa de recreio" "num local aprazível e fresco", "com oficinas, tanques, alamedas, passeios, jardins e outras obras"; 1773 - compra pelo cônsul Carlos Murray, através do seu procurador Thomas Logman, de várias parcelas e propriedades no Monte, entre as quais as que pertenceram à capela de São Miguel dos jesuítas; 1796 - saída de Carlos Murray da Madeira; 1798 - venda das quintas do Monte de ex-cônsul inglês ao coronel Luís Vicente de Carvalhal Esmeraldo (Vasconcelos Bettencourt Sá Machado de Atouguia e Câmara) por 30 contos de réis; 10 Novembro - falecimento no Funchal do coronel Luís Vicente de Carvalhal, sem geração; 1803 - escritura de partilhas das quintas do Monte do coronel Carvalhal, cabendo a Quinta de baixo à sua viúva, D. Ana Inácia de Freitas Correia, que casa em segundas núpcias com Nuno Freitas da Silva; 1805 - venda por Nuno Freitas da Silva da já então Quinta do Prazer, "com outras demais terras fora das amuradas" à firma "Pheps, Page & Cª" por 15 contos de réis; 1818 - registo de Robert Page como usufruário da Quinta do Prazer, avaliada em 22 contos e a pagar 1$945 réis de finto; 1847 - venda por Guilherme Pheps da Quinta do Prazer, adquirida por dissolução da firma de que era também sócio seu pai, com uma área de 132 alqueires em semeadura, bem como outros 60 pertencentes a outras terras, a Joaquim Roque Silva, comerciante do Funchal; 1884 - testamento de Joaquim Roque Silva a favor dos seus sobrinhos, filho de Geraldo da Conceição e Silva, da Quinta do Prazer avaliada em 6 contos, que por morte de dois dos irmãos e por compra a outro, passaria a D. Francisca Rosa da Silva Sousa, casada com Cristóvão de Sousa; 1886 - estudo da viabilidade económica do Caminho de Ferro do Monte pelo Engº Raúl Mesnier Ponsard; 1891 - falecimento de Cristóvão de Sousa e passando os seus bens para os filhos, Joaquim Augusto e João Baptista de Sousa; 1893, 16 Junho - inauguração do troço de caminho de ferro entre o Pombal e a Levada de Santa Luzia; 1894, 5 Agosto - inauguração da linha até ao Atalhinho; 1897 - venda da Quinta do Prazer a Alfredo Guilherme Rodrigues (1862 - 1942) por três contos, que requereu à Câmara do Funchal, de imediato obras; 1899 - captação de água na área da quinta que passa a abastecer a fonte do Desterro; 1900 - depois de efectuadas as obras, Alfredo Rodrigues passa a viver na quinta; 1904, 21 Março - a quinta passa a denominar-se Monte Palace Hotele a ser procurado por nacionais e estrangeiros; 1905, 21 Março - o primeiro aniversário do Hotel foi festejado pela escola laical "O Vintém" da qual Alfredo Rodrigues era proprietário e com um almoço oferecido pelo presidente da Câmara, conselheiro Manuel José Vieira ao general Sousa Gomes; 1908 - inscrição de uma parcela da propriedade na Conservatória do Registo Predial em nome da mulher, D. Filomena Lopes Rodrigues, com reserva de usufruto para o marido, no valor de vinte contos, sendo toda avaliada em cem contos; 8 Abril - almoço no Hotel do príncipe Alberto da Bélgica e da sua comitiva; 28 Julho a 6 Agosto - estadia da condessa de Rethi, depois rainha Isabel da Bélgica, pelo seu casamento com o príncipe Alberto; 1925 - passagem pelo Monte Palace Hotel do Prof. António de Oliveira Salazar; 1931 - revogação da cláusula anterior; 1938, 13 Julho - visita ao Hotel do general Óscar Fragoso Carmona e comitiva; 1939 - por morte de D. Filomena, metade da propriedade é registada em nome dos seus sobrinhos; 1940, Julho - chegada do primeiro contigente de gibraltinos, alguns dos quais vêm visitar o Hotel, tornando-o centro de convívio obrigatório para os refugiados; 1942, 26 Maio - falecimento do proprietário Alfredo Guilherme Rodrigues e consequente encerramento do Hotel; 30 Maio - é anúnciado no Diário de Notícias: "Monte Palace Hotel - Vende-se ou arrenda-se metade da propriedade e do recheio. Recebem-se as propostas à R. dos Ferreiros, nº 56 a 58"; 1943 - por morte de Alfredo Rodrigues, a sua parcela é inscrita nos herdeiros do mesmo; 1944 - por acção interposta por uma parte dos herdeiros, a propriedade foi à hasta pública sendo adquirida pela Companhia de Seguros Garantia, com sede no Porto, que a registou com um valor de 1 343 761$00; 1957 - a propriedade foi adquirida pela "Companhia de Caminho de Ferro do Monte", por acção do seu administrador e accionista maioritário, José de Góis Ferreira, por 1 800 000$00; 1982 - constitui-se na Madeira a firma "Indústria Atlântico Hoteleira, SARL", que veio a adquirir o Hotel, através de uma hipoteca que fez à Caixa Económica do Funchal; 1987 - compra por José Manuel Berardo ao BANIF, herdeiro da Caixa Económica do Funchal, do Monte Palace Hotel; 1988, 12 Novembro - instituição da Fundação José Berardo, "instituição privada de solidariedade social", à qual o mesmo doou o antigo Hotel; 1991, 5 Outubro - apresentação ao Governo Regional e ao público do Monte Palace restaurado, como sede da Fundação Berardo e dotado de um jardim tropical.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes e estrutura mista.

Materiais

Cantaria mole e rígida regional aparente, alvenaria de cantaria regional rebocada e pintada, madeira (exóticas, carvalho, nogueira e outras), amarrações mistas de tirantes de madeira e de ferro, grades de ferro e de madeira pintada, azulejos, pintura sobre tela, porcelanas e faiança, madeira e estuque, vidra e telha de meia canudo.

Bibliografia

FRUTUOSO, Gaspar, Saudades da Terra, Livro II, anotado por Álvaro Rodrigues de Azevedo, Funchal, 1873; NORONHA, Henrique Henriques de, Memórias Seculares e Eclesiásticas ...1722, Funchal 1997; RIDDELL, Maria, Voyages to the Madeira and Leeward Caribbean Isles, Edimburgo, 1792; CANE, Ellen e Florence du, The Flowers and Gardens of Madeira, Londres, 1909; SILVA, Padre Fernando Augusto da, Elucidário Madeirense, 3 vols., Funchal, 1945; PIO, Manuel Ferreira, O Monte; Santuário votivo da Madeira (resenho histórica), Funchal, 1978; VIEIRA, Rui e PESSOA, Fernando, Inquérito aos espaços verdes e exemplares botânicos notáveis do Funchal, Nov. 1966 e 1984 (nº 186); CORREIA, Henrique, Comissão de Inquérito sul-africana tenta saber na Madeira a verdade acerca das cicas trazidas pelo emigrante Joe Berardo, Diário de Notícias, Funchal, 11 Setembro 1989; O "Caso da cicas" Membros da Comissão de Inquérito só entrarão em Portugal devidamente autorizados, esclarecem fontes diplomáticas sul-africanas, Diário de Noticas, 12 Setembro 1989; Caso das cicas "aquece". Serviço Nacional de Parques interroga G. R. sobre as licenças, Diário de Notícias, 14 Setembro 1989; Perry Vidal desconhece: serviço Nacional não solicitou as licenças de importação das cicas, Diário de Notícias, 15 setembro 1989; FERNANDES, Caetano, Joe Berardo esclarece "caso das cicas": Todas as plantas viajaram com certificados e licenças passadas pelo Governo Sul-africano, Diário de Notícias, 20 Setembro 1989; RIBEIRO, João Adriano, Monte, breve resenha histórica da freguesia..., Funchal, 1991; FLORENÇA, Teresa, Residência particular recupera esplendor do velho "Monte Palace", Diário de Notícias, 5 Abril 1991; ROCHA, Luís, Inauguração congrega autoridades regionais: Quinta Monte Palace é sede da Fundação Berardo, Diário de Notícias, 7 Outubro 1989; NÓBREGA, Tolentino de, Visitada por Valente de Oliveira. Fundação Joé Berardo transfere colecções para o Terreiro da Luta, Diário de Notícias, 9 Julho 1992; FERNANDEZ, Juan, Ministério Pública vai melhor os Estatutos. Fundação Berardo sob investigação, Diário de Notícias, 10 Setembro 1992; CALISTO, Luís, Ministério Público requereu ontem dissolução, Diário de Notícias, 19 Setembro 1992; J. S., Da Fundação Berardo. Painéis barrocos a caminho de Washington, Diário de Notícias, 5 Setembro 1993; L. C., Sentença foi ontem. Tribunal julga improcedente processo contra Fundação Berardo, Diário de Notícias, 10 Novembro 1994; VERÍSSIMO, Nelson e TRUEVA, José Manuel de Sainz, Inventário das Esculturas da Região Autónoma da Madeira, Funchal, 1996, p. 27; MARTINS, Rosário, Ministério Público perde recursos. Supremo dá razão à Fundação Berardo, Diário de Notícias, 10 Novembro 1996; Monte Palace. Um Jardim Tropical, Funchal, 2000; BENTO, Emanuel, Em lançamento de livro na Quinta da Vigia Jardim elogia sucesso de Joe Berardo, Diário de Notícias, 3 Fevereiro 2000.

Documentação Gráfica

Casa-Museu Dr. Frederico de Freitas (aguarela de 1809)

Documentação Fotográfica

Museu Vicentes Photographos; DRAC

Documentação Administrativa

ARM; CMF; RN; GC

Intervenção Realizada

Fundação Berardo: 1988 / 1989 / 1990 / 1991 - Restauro dos edifícios e reabilitação geral do parque.

Observações

A introdução de uma grande quantidade de espécies exóticas, como o caso das inúmeras cicas, mais de 700 exemplares, pode vir a criar problemas futuros de complexa amplitude, desconhecendo-se em absoluto o impacto ambiental que tal pode vir a criar.

Autor e Data

Rui Carita 2000

Actualização

 
 
 
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