Igreja Paroquial de Câmara de Lobos / Igreja de São Sebastião

IPA.00008246
Portugal, Ilha da Madeira (Madeira), Câmara de Lobos, Câmara de Lobos
 
Arquitectura religiosa, maneirista, barroca e revivalista. Igreja de planta longitudinal composta por uma nave, transformada em três em meados do séc. 20, e capela-mor mais baixa e estreita, com fachada principal terminada em empena e rasgada por portal de arco de volta perfeita sobre pilastras toscanas encimado por friso e cornija e sobrepujado por janela. No interior, com silhar de azulejos seiscentistas de padrão policromo camélia ou massaroca, coro-alto de madeira, capelas laterais profundas com retábulos de talha policroma e dourada, arco triunfal de volta perfeita encimado por cornija ladeado por dois retábulos colaterais revivalistas; capela-mor com painéis de azulejos barrocos, monócromos azuis sobre fundo branco, nas paredes laterais e retábulo-mor barroco, de estilo nacional, de planta recta e três eixos.
Número IPA Antigo: PT062202010002
 
Registo visualizado 372 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal composta por três naves, com quatro capelas laterais, e capela-mor rectangular mais baixa e estreita, tendo adossado a S., no topo da nave, torre sineira quadrada e sacristia, e a N. as instalações das antigas confrarias e serviços paroquiais. Volumes escalonados com coberturas diferenciadas em telhados de duas e uma água e torre sineira coroada por coruchéu piramidal revestido a azulejos azuis e branco. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, terminadas em beirais simples de telha de canudo assentes em cornijas de alvenaria. Fachada principal virada a E., com embasamento em cantaria aparente e terminada em empena de cornija de alvenaria coroada por cruz de cantaria; portal de cantaria cinzenda de arco de volta perfeita, com chave relevada, assente em pilastras toscanas, com seguintes salientes em ponta de diamante, suportando friso e cornija; encima-o janela rectangular de moldura simples. Fachada lateral N. ligeiramente enviesada, com idêntico embasamento, rasgada por portal de verga recta moldurado a cantaria entre duas janelas gradeadas, e, superiormente, por três janelas; segue-se-lhe um outro corpo, correspondente aos serviços paroquiais, com duas janelas de peitoril com bandeira. A torre possui, em cada uma das faces, sineira de arco de volta perfeita encimado por relógio circular. No INTERIOR, coro-alto sobre pilares quadrados de madeira pintada, com balaustrada de madeira, a ocupar a nave central, e dois cadeirais das antigas confrarias em madeira, a meia altura, a enquadrar a entrada. Naves com soalho de madeira e silhares de azulejos policromos, de padrão "massaroca", que se prolongam até à sacristia e serviços paroquiais, separados por dois importantes pares de arcos de cantaria colorida do Cabo Girão e dois de alvenaria, de acesso às capelas laterais, confrontantes; estas, têm retábulos de planta recta e um eixo, um em talha branca e policroma e outra em talha dourada e policroma, sendo cobertas por falsa abóbada de berço assente em cornija ou com cobertura de masseira em madeira. No lado do Evangelho, junto à entrada dispõe-se o baptistério e no lado oposto, escada de acesso ao coro; ao centro da nave, surge o púlpito, quadrado, com guarda em madeira e com baldaquino de bambinela entalhada. Arco triunfal em cantaria colorida, de volta perfeita assente em pilastras toscanas, com seguintes salientes em ponta de diamante, sendo encimado por friso e cornija; é enquadrado por dois retábulos colaterais, postos de ângulo, de talha branca e dourada, dedicados ao Sagrado Coração de Jesus, no lado do Evangelho, e da Nossa Senhora de Fátima, no oposto, sendo sobrepujados por drapeados pintados. Capela-mor com paredes laterais percorridas por silhar de azulejos policromos, de padrão camélia, e rasgados por portais, em cantaria cinzenta, de acesso à sacristia e aos serviços paroquiais, de verga recta, com chave volutada e moldura recortada lateralmente; superiormente, surgem painéis monocromos azuis sobre fundo branco, com alegorias à sagrada eucaristia, com molduras de madeira pintada de branco e dourado. Sobre supedâneo acedido por três degraus frontais, assenta o retábulo-mor, em talha policroma e dourada, de planta recta e três eixos, delimitadas por três colunas torsas, decoradas por pâmpanos e fénices, sobre consolas, de capitel coríntio, prolongando-se em arquivoltas torsas, unidas no sentido do raio; no eixo central, abre-se tribuna de arco de volta perfeita decorado por elementos fitomórficos sobre quarteirões, albergando imagem do crucificado; nos eixos laterais dispõem-se três apainelados de acantos, possuindo um outro no sotobanco, encimados na zona do ático por elementos fitomórficos. Altar paralelepipédico ornado por parras e, ao centro, por resplendor sobre glória de nuvens; sacrário em forma de templete, de três registos escalonados, com painéis decorados por várias cenas da vida de Cristo e na porta a representação de Cristo redentor.

Acessos

Largo de São Sebastião. VWGS84 (graus decimais) lat.: 32,648712; long.: -16,978064

Protecção

Enquadramento

Urbano, tendo adossado outros prédios, enquadrando-se na base do ilhéu de Câmara de Lobos, de que se separa por corredor fechado por grade de ferro a E.. Fronteiro possui pequeno adro empedrado, com a data de 1430 e as armas de Câmara de Lobos a pedra branca, com banco de cantaria e com cabeceira virada ao largo da cidade.

Descrição Complementar

A capela lateral de Santo António possui retábulo de talha branca, dourada e policroma, de planta recta e um eixo, delimitado por colunas de fuste liso e capitel coríntio, assentes em plintos galbados, suportando pináculos; ático formado por cornija interrompida por escudo nacional coroado; ao centro, painel com moldura de arco de volta perfeita, ladeado por pequeno friso de acantos dourado, possuindo tela pintada com uma glória de nuvens e resplendor, enquadrando a imagem do orago assente em mísula; sotobanco com apainelados de madeira pintados; altar paralelepipédico, com frontal ornado por "Agnus Dei" e elementos fitomórficos. Na capela do Santíssimo Sacramento, possuindo do antigo silhar de azulejos monócromos azuis sobre fundo branco, com representação de alegorias, apenas dois painéis, retábulo de talha policroma e dourada, de planta recta e um eixo delimitado por duplas colunas torsas, decoradas por rosetões, assentes em consolas, e com capitel coríntio, suportando arquitrave com friso ornado de acantos, e frontão curvo interrompido por cartela circular, com enrolamentos laterais e com representação do Espírito Santo ao centro; no tímpano enrolamentos vegetalistas; ao centro, abre-se nicho pouco profundo de arco de volta perfeita, enquadrado por seis rosetões de talha dourada, e com o fundo pintado enquadrando grupo escultórico; sotobanco decorado de acantos e resplendor. Retábulos colaterais de estrutura idêntica, de planta côncava e um eixo, delimitado por pilastras, assentes em plintos decorados por elementos fitomórficos, e colunas pseudo-salomónicas, com o terço inferior palmiforme, assentes em consolas, ambas decoradas por rosetões e com capitéis coríntios, prolongando-se as colunas numa arquivolta torsa segmentada; ao centro, abre-se nicho, de arco de volta perfeita sobre quarteirões, com o fundo e abóbada de meia laranja ornado de rosetões, com querubins no fecho e seguintes, sendo encimado por resplendor que surge já no tímpano. Ático composto por tabela rectangular, ornada, por elementos fitomórficos e sagrado coração de Jesus, no do Evangelho e cartela oval com AM no da Epístola, delimitada por pilastras estriadas, rematadas por entablamento com pináculos laterais e volutas com querubim ao centro; a tabela é enquadrada por aletas no alinhamento das pilastras. Sotobanco decorado por apainelados de acantos.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ENGENHEIRO E MESTRE DE OBRAS REAIS: Diogo Filipe Garcês (1719 - 1739); João António Vila Vicêncio (1790). ENTALHADORES: Manuel Pereira de Almeida; Julião Fernandes Ferreira (1719 - 1739); Estêvão Teixeira de Nóbrega (1790). OURIVES: Marcos Agostinho (atr., 1589). PEDREIRO: Manuel Francisco.

Cronologia

1560, 12 Fevereiro - Alvará de acrescentamento a cada um dos dois primeiros beneficiados de Câmara de Lobos, sobre os 4$000 réis que tinham de sua primeira criação, para ficarem com o ordenado anual de 8$000 réis; alvará régia de acrescentamento de 4$000 réis ao tesoureiro da colegiada, sobre os 6$000 que tinha de sua primeira criação para ter 10$000; 1565,10 Junho - alvará régio de criação de um terceiro beneficiado com um ordenado anual de 104$000 réis e mais 2$000 para ter ao todo 12$000 réis; 1572, 18 Junho - alvará régio do ordenado anual de 12$000 réis a cada um dos beneficiados; 1574, 12 Março - alvará régio da mercê anual de 6$000 à fábrica de São Sebastião; 1576, 5 Setembro - alvará régio facultando ao bispo D. Jerónimo Barreto a criação de um cura coadjutor do vigário de Câmara de Lobos, para o ajudar na administração dos Sacramentos, missas e ofícios divinos com o ordenado anual de 18$000 réis; 1577, 26 Fevereiro - alvará régio para o cura de Câmara de Lobos ser removível e não confirmado, por ser assim conveniente ao serviço de Deus; 1589 - feitura de uma naveta em prata, atribuível ao ourives Marcos Agostinho; 1591, 8 Maio - alvará régio de acrescentamento ao vigário de Câmara de Lobos, sobre os 3$300 réis, quatro moios de trigo e duas pipas de vinho; alvará de acrescentamento de um moio de trigo e uma pipa de vinho a cada um dos três beneficiados, sobre os 12$000 que cada um tinha; 1593, 24 Outubro - alvará de acrescentamento de 30 alqueires de trigo e 1/4 de vinho ao tesoureiro da colegiada para daí em diante ter 10$000 em dinheiro, 30 alqueires de trigo e 1/4 de vinho; 1598, 15 Julho - alvará régio de acrescentamento de 2$000 à fábrica de São Sebastião para ficar com 8$000 anuais; 1597, 24 - alvará régio para no caso do cura ser beneficiado não tivesse mais ordenado do que os 18$000 réis, sendo 12$000 de beneficiado e 6$000 de coadjutor; 1612, 20 Outubro - alvará régio em consequência da visita do bispo D. Frei Lourenço de Távora, da criação do púlpito de Câmara de Lobos, com o ordenado anual de 15$000 réis, sendo pregadores os guardiães do Convento de São Bernanrdino, com a obrigação de pregarem no Advento e na Quaresma; 1650, cerca - alvará régio do acrescentamento de um moio de trigo ao cura coadjutor de tanger o órgão, sobre os 18$000 que tinha, cujo acrescentamento seria limitado aos curas quando fossem organistas na dita igreja; 1660 - data provável dos azulejos de oficina de Lisboa que decoram as capelas e que recentemente se encontraram na nave; 1673, 4 Março - ordem do Conselho da Fazenda para arrematar a obra da torre da igreja; 21 Maio - ordem do Conselho da Fazenda para o pagamento de 259$000 porque foi arrematada a obra da torre da Igreja pelo mestre pedreiro Manuel Francisco; 1676 - extinção dos lugares dos beneficiados de Câmara de Lobos para custear a vigararia da Serra de Água, e curatos do Estreito de Câmara de Lobos e do Arco da calheta; 1682, 27 Fevereiro - ordem do Conselho da Fazenda para o provedor Ambrósio Vieira de Andrade mandar pôr a lanços a obra da igreja e arrematar-se pelo menor lanço; 1698 - o visitador Dr. Cristóvão de Lira e Sousa manda azulejar o coruchéu da torre sineira; 1699 - benção da capela de Santo António, altura em que se deverá ter substituído o silhar de azulejos pelo padrão actualmente existente; 9 Junho - alvará régio do mesmo ordenado que tinham cada um dos beneficiados de Câmara de Lobos, de 12$000 em dinheiro, um moio de trigo e uma pipa de vinho; 1702, 20 Janeiro - ordem do Conselho da Fazenda para a remessa da quantia de 537$410 para ornamentos e para se fazer a obra da capela-mor; 1707, 13 Maio - ordem do Conselho da Fazenda para se fazerem os necessários consertos na Igreja e para a remessa de 61$000 para o pagamento dos livros necessários para o coro; 1719, 17 e 22 Março - projecto de reconstrução da matriz pelos mestres das obras reais Diogo Filipe Garcês; 1737, 30 Junho - registo no Funchal do projecto de reconstrução da matriz do mestre das obras reais Diogo Filipe Garcês; 1740, cerca - provável execução, segundo Santos Simões, dos azulejos da capela lateral da Epístola, dedicada ao Santíssimo Sacramento; 1746, 21 Fevereiro - ordem do Conselho da Fazenda para a reedificação da torre e remessa de 291$000 para um sino de 24 arrobas e dos dois sinos quebrados para se fundirem de novo; 1747, 15 Maio - ordem do Conselho da Fazenda para a remessa de 620$700 para ornamentos; 1749, 3 Dezembro - alvará régio de comutação dos 12$000 em dinheiro, um moio de trigo e uma pipa de vinho dos três beneficiados, para daqui em diante terem dois moios de trigo e duas pipas de vinho; séc. 18, meados - obras na igreja, durante as quais parece que desapareceram os azulejos de figura avulsa que existiam na capela de Santo António; 2ª metade - data dos painéis que decoram a metade superior da capela-mor e a capela lateral do lado da Epístola; 1834 - extinção da colegiada; séc. 20, meados - campanha de obras com a reconstrução da torre, dos anexos e adaptação do corpo a três naves; 1997 - apeamento da nave central de um importante conjunto de painéis de azulejos do séc. 17 e sua substituição por cópias actuais.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Cantaria mole e rígida regional aparente, alvenaria de cantaria regional rebocada, madeira (carvalho, nogueira e outras), amarrações mistas de tirantes de madeira e de ferro, silhar de azulejos, retábulos de talha dourada e pintada, pintura sobre tela, madeira e estuque, vidro e cobertura exterior em telha de meio canudo.

Bibliografia

CARITA, Rui, História da Madeira, vol. 1 e 5, Funchal, 1989 e 1999; CARITA, Rui - «Navetas Maneiristas a aproximação ao mar» in Invenire Revista de Bens Culturais da Igreja. Lisboa: Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, janeiro - junho 2013, n.º 6, pp. 20-26; CLODE, Engº Luís Peter, Lampadários, 1949; FLORENÇA, Teresa, Igreja Matriz de Câmara de Lobos. Azulejos originais substituídos por cópias, Diário de Notícias, Funchal, 24 Fevereiro 1997; FRUTUOSO, Gaspar, Saudades da Terra, Livro II, anotado por Álvaro Rodrigues de Azevedo, Funchal, 1873; NORONHA, Henrique Henriques de, Genealogia...Ilha da Madeira, ano de 1700, São Paulo, Brasil, 1948; Memórias Seculares e Eclesiásticas...1722, Funchal, 1997; SILVA, Padre Fernando Augusto da, Elucidário Madeirense, 3 vols., Funchal, 1945; SIMÕES, J. M. dos, Azulejaria Portuguesa nos Açores e na Madeira, Lisboa, 1963;

Documentação Gráfica

GR / Equipamento Social; DRAC; Câmara Municipal de Câmara de Lobos

Documentação Fotográfica

Museu Vicentes Photographos; DRAC

Documentação Administrativa

AN/TT: Junta da Antiga Provedoria da Alfândega do Funchal; ARM, CMF, CMCL, RN, GC; Paróquia de São Sebastião de Câmara de Lobos

Intervenção Realizada

Fábrica da Igreja Paroquial: 1943 - obras de restauro; 1997 - substituição dos azulejos originais da nave por cópias.

Observações

Autor e Data

Rui Carita 2000 / Paula Noé 2004

Actualização

 
 
 
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