Edifício e Igreja da Santa Casa da Misericórdia do Porto Santo

IPA.00008048
Portugal, Ilha de Porto Santo (Madeira), Porto Santo, Porto Santo
 
Capela da Misericórdia construída em meados do séc. 16 e reformada no sé. 18, de pequena escala e integrada nas gramáticas decorativas regionais, o que, aliado à posição sobranceira à cidade, confere ao conjunto uma certa qualidade arquitetónica e paisagística. Apresenta planta composta por nave e capela-mor, mais estreita e baixa, interiormente com iluminação axial e unilateral. A fachada principal, em empena, é rasgada por eixo de vãos, formado por portal, em arco de volta perfeita com friso e cornija, e janela, de provável feitura posterior, sobreposta pelas armas reais. A estrutura do portal axial e do arco triunfal no interior são semelhantes, ainda que o primeiro seja decorativamente mais rico, com pilastras e arco moldurado e seguintes esculpidos em leque. O do arco triunfal possui, no entanto, curiosa pedra de fecho com os instrumentos da Paixão esculpidos. A janela da capela-mor é também de feitura mais tardia. Possui retábulo-mor rococó com marmoreados, de corpo reto e um eixo. À esquerda tem pequeno edifício de dois pisos, onde teria funcionado a Misericórdia, com pequena sineira.
Número IPA Antigo: PT062207010003
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Edifício de Confraria / Irmandade  Edifício, igreja e hospital  Misericórdia

Descrição

Planta rectangular irregular composta pela capela a S., de nave e capela-mor rectangulares, e pequeno pátio e edifício da antiga Misericórdia, a N.. Volumes articulados horizontais, com evidência para a capela, ligeiramente alteada. Coberturas de 4, 3 e 2 águas em telha de canudo na capela e marselha no edifício N., com beiral simples de telha de canudo. Capela com fachada principal orientada a O., com embasamento ressalvado e tratado a respigado de cimento, pintado a cinza, que se estende às restantes fachadas, terminada em empena. Portal de volta perfeita sobre degrau, com pilastras de cantaria, aneletes, capitéis e chave ressalvados, seguintes esculpidos, cornija e filete intermédio ressalvado; bom par de portadas com almofadas de madeira pintadas a vermelho escuro. Encima-o janelão rectangular simples e armas nacionais coroadas. Segue-se para N. muro com porta de verga recta de acesso ao pátio interior, com porta de moldura de cantaria encimada por campanário, com idêntica moldura, arco de volta perfeita e incluído em empena abaixo da empena da capela. Fachada S. com fresta de forte capialço na nave e janelão na capela-mor; fachada E. com a empena aguda da capela-mor cega e corpo do edifício N. no mesmo alinhamento, de 2 pisos, com pequena janela gradeada no piso térreo, com rebaixo na moldura e vestígios de ter tido portadas e janela no piso superior, ambas com molduras de cantaria; cano de descarga de algeroz na marcação da diferenciação das águas. Pátio interior empedrado a calhau rolado, organizado por faixas formando espinha, com escadaria de 2 lanços, com degraus, patamares e corrimão de cantaria, encostada à parede da nave e de acesso ao piso superior do edifício da Misericórdia, com porta no piso térreo e janela e porta no piso superior, todas com moldura simples de cantaria. INTERIOR da capela com chão de cimento, a aguardar soalho de madeira e paredes nuas; pia de água benta em cantaria do Porto Santo à entrada, do lado do Evangelho, semiesférica e com ligeira decoração ressalvada no bordo; tecto de masseira em caixotões largos de madeira pintada a branco assente em cornija também de madeira pintada com marmoreado. Arco triunfal em cantaria do Porto Santo, sobre degrau, em volta perfeita, sobre pilastras com estilóbatos, bases, aneletes, capitéis e chave ressalvados; cornija com balanço e decoração relevada no intradorso da chave com instrumentos da Paixão. Capela-mor assoalhada em madeira com retábulo de talha, dourado e marmoreado assente em supedâneo de cantaria com 3 degraus centrais; enquadra o retábulo panejamentos drapeados pintados. Porta de moldura chanfrada de cantaria, dá acesso à sacristia, de tecto de madeira de perfil curvo, pintado de branco, assente em cornija de madeira pintada a marmoreado. O edifício da Misericórdia tem no piso térreo sacristia, onde subsiste pequeno lava-mãos de cantaria com base ressalvada e cornija de balanço.

Acessos

Porto Santo, Rua Cristóvão Colombo

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, isolado e implantado em alta plataforma gradeada que envolve quase todo o conjunto. O amplo adro empedrado a calhau rolado, com tapete central decorado com semicírculos e os panos laterais com enxadrezado, tem palmeira a S., entrada a O. e a residência episcopal de Verão a N..

Descrição Complementar

Retábulo recortado sobre parede testeira pintada a azul, demarcada superiormente por drapeados vermelhos pintados em trompe l'oeil, com predela onde assentam 2 pares de colunas com fuste pintado a vermelho e marmoreado, assentando em estilóbatos entalhados, que demarcam no espaço central 3 medalhões entalhados e marmoreados e, nos laterais, um em cada, enquadrando superiormente 2 falsos nichos apontados por mísulas, molduras e baldaquinos entalhados; nicho central com portas de madeira, que encobrem o camarim e aguardam tela em restauro; entablamento com pilastras, ladeadas exteriormente por aletas entalhadas e douradas, enquadrando medalhão em forma de coração, entalhado e também marmoreado e encimado por cornija curva.

Utilização Inicial

Religiosa: edifício de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja / Cultural e recreativa: associação cultural e recreativa

Propriedade

Privada: misericórdia

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ENTALHADOR: Estêvão Teixeira de Nóbrega (1780-1790 - atr.), Max Romer (1946). MESTRE: Domingos Rodrigues Martins (1774).

Cronologia

Séc. 16, meados - fundação da Misericórdia do Porto Santo; 1575 - testamento de Manuel Jorge, escravo forro, deixando por sua morte o escravo António forro, na condição de seu salário dos dois primeiros anos seguintes fosse entregue na mesa da Misericórdia, para lhe mandarem dizer missas; 1591 - testamento de Guiomar de Castro deixando 3 cruzados à Irmandade da Misericórdia; 1600 - testamento de Damião de Barros mandando entregar 2000 réis à Misericórdia e um foro que tinha na Igreja à sua filha que, caso a mesma morresse sem descendência, reverteria também para a Misericórdia; 1605 - referência à celebração de actos vários na capela dado se encontrar em obras a Matriz; 1617 - ataque argelino ao Porto Santo, em que foi danificada a Misericórdia; 1628 - referência ao aforamente de um terreno no Farrobo, por António Ruas Lomelino, que pagava 825 réis à Misericórdia; 1640 - referência a ser provedor Francisco Ferreira Coelho; 1642 - mandado de Manuel Fernandes Ruivo de 10 tostões para a telha da Misericórdia; 1650 - legado de Francisco Ferreira Coelho de uma casinha, na Vila, quando era provedor o capitão Manuel Vasconcelos Viveiros; 1655 - testamento de Maria das Flores referindo a sua terça, no lugar das Marinhas, que pagava um tostão de foro à Misericórdia; 1657 - testamento do capitão Manuel Vasconcelos Viveiros, que fora provedor da Misericórdia, determinando "deixo a minha terça a minha mulher Maria de Viveiros e, por sua morte, ficará metade dos seus rendimentos à Santa Casa para que se reparta pelos pobres mais necessitados", declarando ainda ter mandado buscar um sino, que vindo, fosse pago dos seus bens; 1658 - referência a ser provedor o escrivão Diogo Teixeira de Carvalho; 1659 - referência a ser provedor António Teixeira Mourato; 1660 - referência a ser provedor o capitão Luís Mendes Calaça; 1670 - referência a ser provedor o governador do Porto Santo Diogo de Bettencourt Perestrelo; 1732 - inventário da Misericórdia onde constam 2 crucifixos, 2 retábulos, cálice de prata com patena, 4 bandeiras, 6 castiçais prateados, 6 pintados e 2 oleados, um frontal novo pintado, uma grade, uma toalha da cruz, outra usada e outra incapaz, frontais da credência de damasco branco e suas toalhas, 2 cortinas brancas com sua sanefa, uma almofadinha de damasco, um véu roxo e outro branco, uns cordões de retrós, 4 lanternas, 12 tocheiras, uma matraca, uma campainha, um sino, uma lâmpada e um vidro, uma estante, 4 tarjas prateadas, 3 cruzes, 2 andas com seus panos, 4 arquibancas, uma cadeira, uma mesa, uma caixa, um armário, 11 capuzes da Irmandade, 13 libras de cera e vários livros manuscritos; 1767, 23 fevereiro - pedido para a Confraria se reger pelo compromisso da do Funchal; 8 Abr. - alvará régio de aprovação do novo compromisso; 1771 - deslocação do governador João António de Sá Pereira ao Porto Santo com o engenheiro Francisco Salustiano da Costa e constatação da necessidade de reconstrução da capela; 1774 - deslocação do mestre das obras reais Domingos Rodrigues Martins ao Porto Santo e reconstrução da capela; 1778 - referência a que o capitão Sebastião Pestana pagava 160 réis de foro de uma longueirinha, no Cinzeiro; 1780 - 1790 - data provável do retábulo atribuível à oficina de Estêvão de Nóbrega; 1782 - referência no testamento de José Calaça Soares, de que era irmão da Confraria; 1793 - inventário das propriedades da Misericórdia; 1877 - referência ao estado deplorável dos documentos e bens da Misericórdia; 1897 - inventário dos poucos bens da Misericórdia; 1946 - execução de nova pintura para o camarim por Max Romer.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria regional clara, do Porto Santo, aparente e pintada, alvenaria de cantaria regional rebocada, madeira, vidro, ferro, talha dourada, amarrações mistas, telha de canudo e marselha e empedrado em calhau rolado.

Bibliografia

CARITA, Rui - História da Madeira. Funchal: 1989, 1º vol., pp. 284-285 e 5º vol., 1996, pp. 179-180; COSTA, António Pereira da, Misericórdia do Porto Santo, in AHM, vol. XIV, 1964 - 1966, pp. 240-256; PEREIRA, padre Eduardo Nunes - Misericórdia do Porto Santo. AHM, vol. X, pp. 249; RIBEIRO, João Adriano - O Porto Santo nos séculos XVII-XVIII. Dissertação de doutoramento. Lisboa: texto policopiado, 1995, pp. 345-349; SILVA, Padre Fernando Augusto da - Elucidário Madeirense. Funchal: 1945, 3 vols.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

Museu Vicentes Photographos; antiga Junta Geral; DRAC, Funchal, DGPC: SIPA

Documentação Administrativa

ARM: CMPS; antiga Junta Geral; DRAC, Funchal

Intervenção Realizada

Paróquia do Porto Santo: 1998 / 1999 - reabilitação geral da capela.

Observações

Comparando as fotografias que tirámos em 1982 e 1983, deparamos com o desaparecimento do púlpito e respectiva porta de acesso, frontal pintado provavelmente do Séc. 18 e tela de Max Romer, datada de 1946, que pensamos e esperamos encontrarem-se em restauro.

Autor e Data

Rui Carita 2000

Actualização

Paula Figueiredo 2001
 
 
 
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