Edifício na Rua dos Navegantes / Casa dos Açores

IPA.00007795
Portugal, Lisboa, Lisboa, Estrela
 
Casa unifamiliar eclética com 4 pisos. Constitui uma referência na introdução da arquitectura moderna em Portugal pela concretização de um projecto onde se explora a obtenção de efeitos decorativos através da modelação de massas e volumes.
Número IPA Antigo: PT031106170468
 
Registo visualizado 263 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa    

Descrição

Planta triangular com 4 pisos (cave, r/c, 1 e 2º andares) e cobertura em terraço. Dispunha incialmente de logradouro, depois ocupado com a ampliação da cave. O edifício possui uma frontaria pouco usual, concebida a partir de uma frente com duas orientações: a mais extensa volta-se a N. e a mais estreita a NO., ambas viradas no entanto à R. dos Navegantes. Os alçados laterais são cegos e a fachada posterior, incomparavelmente mais estreita, apresenta três panos distintos, sendo um mais avançado e o terceiro transversal ao que fica recuado, formando-se assim um pequeno recanto. Em termos de composição, o investimento recai na fachada principal, sendo despojada e regular a solução encontrada para a posterior. Com efeito, o alçado tardoz resume-se a uma fenestração moldurada simétrica e repetida, de verga recta (2+1+1 por cada pano), assinalando-se apenas a zona do r/c (devido ao desnível do terreno corresponde quase a um primeiro andar) com uma moldura lisa. Pelo contrário, a frontaria apresenta-se imaginativa, com uma decoração conseguida a partir da modelação de massas e volumes. No entanto, sob este fundo comum, as formas originadas raramente se repetem e antes atingem combinações múltiplas numa linguagem que recusa a regularidade e antes aposta na heterogeneidade a acentuar de alguma forma a leitura da espacialidade interna do imóvel. Quase podemos dizer não existir um vão igual e todavia a verga dominante é curva e o lintel sempre recto.

Acessos

Rua dos Navegantes, n.º 17 a 21

Protecção

Categoria: IIM - Imóvel de Interesse Municipal, Edital n.º 7/2012 da Câmara Municipal de Lisboa, Boletim Municipal n.º 936 de 26 janeiro 2012 / Incluído na Zona Especial de Proteção da Basílica da Estrela (v. IPA.00010613)

Enquadramento

Urbano, adossado a edifícios de cércea inferior. Habitação unifamiliar representativa da arquitectura moderna portuguesa edificada numa zona urbana de traçado antigo que foi conhecendo pontualmente renovação arquitectónica ao longo do séc. 20, entre as construções pré-existentes, conservadas ou modificadas. Definida no PDM como Área Histórica Habitacional, esta zona conjuga no essencial a habitação unifamiliar e colectiva abastada, de raiz oitocentista, com exemplares anteriores e posteriores, além dos núcleos de habitação popular. O imóvel em análise, devido ao traçado da artéria, à configuração do terreno e à solução arquitectónica encontrada, destaca-se entre as construções envolventes, permitindo mesmo dele ter uma visão globalizante a quem desce a R. dos Navegantes, vindo da Estrela (v. PT03110617006) e depois de cruzar a R. Buenos Aires. Esta possibilidade resulta da inflexão da artéria, sendo o edifício levantado quase neste ângulo e num terreno triangular, desnivelado e de gaveto, com o alçado que "torneja" muito estreito e avançado face ao alinhamento do quarteirão fronteiro. A poucos metros localiza-se a Ermida do Sr. Jesus dos Navegantes (v. PT031106170424).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Cultural e recreativa: associação cultural e recreativa

Propriedade

Afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Miguel Nogueira Júnior (1921).

Cronologia

1921 - destinado a morada do seu proprietário, José Manuel Perestrello d'Orey, o arquitecto Miguel Nogueira Júnior (1883-1953) desenha o projecto de um edifício a construir na Lapa, em obediência "ao programa de casa de habitação para uma família numerosa, família de tratamento" e tendo por opção estética evitar "ornamentações e detalhes custosos", antes se centrando em "obter o máximo efeito dentro das linhas mais simples", "procurando apenas efeitos de claro escuro pelo emprego de uma justa distribuição de grandes massas bem formadas" (in Memória descritiva); 1922 - em Março é requerida alteração ao projecto inicialmente aprovado, obedecendo a este novo traçado a construção concluída em Agosto. As alterações entretanto introduzidas comportam inovações significativas tanto de carácter formal como funcional. Na fachada é visível o desinvestimento decorativo, parece que por sugestão do proprietário (FERNANDES, 1993, p.82): simplificação do desenho dos caixilhos das janelas, eliminação das guardas em ferro dos vãos, supressão das quatro sacadas dos 1º e 2º pisos, localizadas sobre a entrada principal aberta no gaveto do edifício, e redução da fenestração da sala de jantar (r/c), no corpo oposto. No interior as transformações relacionam-se com uma outra organização do espaço doméstico, quiça resultante igualmente do afeiçoamento da casa às exigências habitacionais da família, constituindo alteração mais substancial a eliminação de uma escada interior secundária, assim promovendo-se uma rearrumação do espaço habitacional: dota-se a casa com instalações sanitárias no lugar antes ocupado pela escada, embora se mantenha a ligação da cave ao r/c, abre-se um escritório numa divisão contígua e central da casa, antes ocupada por uma casa de banho, e suprimem-se as divisões localizadas no ângulo do gaveto para possibilitar a abertura de umas segundas escadas, de acesso directo ao terraço e marginalizadas em relação ao núcleo vivencial da casa; por fim, esta reformulação do espaço interior conduziu à supressão de uma construção no exterior e respectivo terraço, levantados no 1º piso da fachada posterior, e assentes em dois altos pilares, zona destinada a uma instalação sanitária; 1932 - pertenceu a Norte Júnior o projecto destinado a introduzir algumas adaptações interiores no imóvel, então propriedade de Jorge de Mendonça, obras que implicavam a construção da primitiva escada de serviço desenhada por Nogueira Júnior em 1921, na continução do lanço da cave para o r/c, bem como a instalação de um ascensor, obra não realizada; 1964 - a eventual mudança de propriedade, pois surge a requerer licença para obras Maria Antónia de Sousa Coutinho Telles da Silva, parece ter conduzido a novo projecto de adaptação do imóvel a habitação, agora assinado por Luís Benavente; 1965 - sujeito a apreciação da Direcção Geral do Ensino Superior e com despacho ministerial, por se encontrar o imóvel na ZEP da Basílica desde 1955, o projecto é deferido; 1970 - aquele organismo do Estado indaga junto da Câmara porque se não realizou ainda a obra, projecto não concretizado; 1980 - o edifício da Rua dos Navegantes surge já como propriedade da Casa dos Açores; 1983 - esta instituição solicita a utilização da cave para fins comerciais, obrigando-se, dada a existência de comunicação interna, a separar a loja da habitação; com projecto de Manuel Rocha de Carvalho e para um orçamento de cerca de 10 mil contos, são iniciadas as obras que convertem a cave da antiga habitação unifamiliar em agência do Banco Comercial dos Açores, obras que implicam demolições interiores, ocupação do logradouro e uma intervenção mínima na fachada principal (substituição da porta da "garagem", colocação de um cofre e letras identificadoras do Banco); 1986 - obras de ampliação na parte ocupada pela Casa dos Açores, não se reflectindo estas na fachada principal (ampliação da cozinha e abertura de uma sala no terraço a tardoz, cobertura da agência bancária estendida para o logradouro com as obras de 1980).

Dados Técnicos

Materiais

Alvenaria, cantaria e madeira. Tijolo burro, vigamento de ferro e betonilha de cimento para o terraço.

Bibliografia

Guia Urbanístico e Arquitectónico de Lisboa, Lisboa, AAP, 1987; FRANÇA, José-Augusto, A Arte em Portugal no Século XIX, Lisboa, Bertrand, 1990 (3ª ed.), 1990; FERNANDES, José Manuel, Arquitectura Modernista em Portugal, Lisboa, Gradiva, 1993; Plano Director Municipal, Lisboa, CML, 1995; Portugal. Arquitectura do Século XX (Catálogo da Exposição Portugal-Frankfurt 97), Lisboa, 1997

Documentação Gráfica

CML: Arquivo de Obras; DGA/TT: Espólio de Luís Benavente

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; CML: Arquivo Fotográfico

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras

Intervenção Realizada

1983 - adaptação da cave a agência bancária, com ampliação para o logradouro e sem adulteração da fachada principal; 1986 - ampliação da cozinha (r/c), estendendo-se para o exterior do edifício, na fachada posterior.

Observações

Autor e Data

Filomena Bandeira 1999

Actualização

 
 
 
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