Hospício da Princesa Dona Amélia

IPA.00006986
Portugal, Ilha da Madeira (Madeira), Funchal, Funchal (Sé)
 
Sanatório constuído no séc. 19, em estilo neoclássico, de grande escala e impacto na massa urbana, com planta retangular formada por vários corpos, os centrais sucessivamente mais recuados e os dos extremos mais salientes, resultante num certo dinamismo, conferido pelos sucessivos recuos dos corpos intermédios e o avanço dos extremos e do central, sobre o qual se ergue torre. Tem as fachadas sensivelmente simétricas, com regularidade de fenestração e simetria de vãos, sublinhados pelos emolduramentos de cantaria, almofadados ou denteados, o qual se repete nos cunhais e cornija. Revela certa influência inglesa, mas utilizando materiais insulares e as gramáticas decorativas regionais, o que, aliado ao excepcional estado de conservação em que se encontra, ao parque com um acervo arbóreo centenário que rodeia o edifício principal, lhe conferem uma qualidade arquitectónica e paisagística ímpares. Destacam-se ainda os pormenores da sua fundação, ligada às casas imperais e reais do Brasil, da Alemanha e da Suécia, e ao falecimento da princesa do Brasil no Funchal, tudo contribuindo para tornar o conjunto um dos símbolos do Romantismo dos meados do séc. 19.
Número IPA Antigo: PT062203100085
 
Registo visualizado 1374 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Saúde  Hospital  Sanatório  

Descrição

Planta composta, rectangular irregular com orientação sensivelmente E. / O. formado por 3 corpos centrais e 2 laterais, com ligeiro avanço. Volumes longitudinais articulados pelo corpo central sobrelevado e com torre central; coberturas diferenciadas de 4, 3 e 2 águas de telha de canudo assente em cornija de cantaria com cachorrada. Fachadas marcadas com embasamento de cantaria aparelhada rasgado por frestas, indicativas de cave, 2 pisos em todo o edifício, com mais 2 no corpo central, demarcados por friso de cantaria, que se repetem nos parapeitos das janelas e nas marcações superiores das bandeiras e alhetas nos cunhais. Fachada principal virada a S. de 7 corpos com pequenos avanços sucessivos nos centrais. No piso térreo do corpo central, embasamento de cantaria almofadada a subir até ao nível da bandeira da portas; porta central de arco de volta perfeita com a chave relevada a subir ao piso superior e ladeada por 2 frestas; portadas de madeira aparente almofadadas e bandeira em leque envidraçada; 3 janelas de guilhotinas triplas por corpo com lintéis curvos e chaves relevadas em cantaria e tapa-sóis de madeira fasquiados pintados a vermelho, nos corpos laterais; nos corpos extremos são geminadas e transformadas em portas, protegidas por alpendres quadrangulares assentes em 8 pilastras e terraço superior com balaustrada, tudo em cantaria. Piso superior a relevar igualmente o corpo central, encimado por frontão triangular rematado por cruz e as armas reais da Suécia no tímpano, sob o qual se encontra escrito "Hospício da Princeza Donna Maria Amélia"; é rasgado por ampla janela idêntica à porta inferior, mas mais elaborada; janelas idênticas às do piso inferior, mas geminadas, com frestas laterais e com o lintel das janelas centrais a subir até à cachorrada nos 4 corpos avançados e transformadas em portas de acesso aos terraços nos laterais. Fachadas laterais mais simples, com 3 janelas e também com as centrais com o lintel a subir até à cachorrada. Fachada posterior a repetir praticamente todo o mesmo esquema da anterior, com escadaria de acesso à porta central e às dos corpos salientes laterais. Interiormente o Hospício possui amplo pé-direito com apontamentos de estuque nos tectos e, no piso superior, interessante capela dedicada a Nossa Senhora das Dores.

Acessos

Funchal (Sé), Avenida do Infante, n.º 12

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público / ZEP, Portaria n.º 97/2005, JORAM, 1.ª série, n.º 107, de 24 agosto 2005

Enquadramento

Urbano, isolado e implantado em plataforma rematada por balaustrada de cantaria cinzenta a S. e a E., com acesso por 3 amplos lanços de escadaria. Integrado em parque com boas espécies arbóreas e com acesso gradeado pela Av. do Infante, com portão de ferro apoiado em pilastras octogonais de cantaria e com lanço de escadas ladeadas por painéis de azulejos com as armas republicanas do Brasil e da rainha Josefina da Suécia; empedrado a calhau rolado miúdo e desenhos eruditos a pedra branca e a enquadrarem as armas da rainha. Confrontando com o parque de Santa Catarina, o parque do Hospício dá continuidade àquele.

Descrição Complementar

O Hospício possui edifício construído para O., dedicado a externato, que aproveitou outros edifícios mais antigos, que constituíam o chamado "Asilo de Mendicidade".

Utilização Inicial

Saúde: sanatório

Utilização Actual

Educativa: colégio de ensino regular

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Época Construção

Séc. 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETOS: E. L. Lamb; Odoardo Van Del Null (1859). ENGENHEIRO: João de Figueirôa de Freitas e Albuquerque. FÁBRICA DE CERÂMICA: Cerâmica Lusitana. PINTORES: Augusta Aherlof, Carlo Blaas (1859), F. Durck (1849), Jorge Colaço.

Cronologia

1812 - nascimento em Munique da princesa D. Amélia de Napoleão Beauharnais Leuchtenberg, futura imperatriz do Brasil; 1829, 02 agosto - 2º casamento do imperador D. Pedro de Portugal e do Brasil, com a princesa D. Amélia; 1831, 01 dezembro - nascimento em Paris da princesa D. Maria Amélia, filha do imperador D. Pedro e da imperatriz D. Amélia Leuchtenberg de Bragança; 1849 - pintura do retrato da princesa, pelo pintor E. L. Lamb; 1852, 28 agosto - chegada ao Funchal da imperatriz e da princesa D. Maria Amélia do Brasil, gravemente doente; 1853, 04 fevereiro - falecimento no Funchal, na antiga Quinta das Angústias da princesa D. Maria Amélia; 13 abril - carta da Imperatriz para D. Maria II apresentando a intenção de fundar no Funchal um hospício; 06 maio - saída do Funchal da Imperatriz com o esquife da filha para Lisboa; 04 julho - carta de lei autorizando a fundação do Hospício; 10 julho - abertura na Rua do Castanheiro em instalações provisórias, alugadas ao morgado António Caetano Moniz de Aragão, do Hospício Princesa D. Maria Amélia (atual Aparthotel do Castanheiro); 1856, 04 fevereiro - assentamento da 1ª pedra do Hospício, com projeto do arquiteto inglês E. L. Lamb; 1859 - final das obras do Hospício; 1862, 04 fevereiro - entrada dos primeiros doentes; junho - inauguração do edifício do Hospício na futura Av. do Infante; julho - encerramento provisório do Hospício pela saída das Irmãs de Caridade (Vicentinas) para França; 1859 - projeto de uma capela neobizantina para o Hospício da autoria do arquiteto Odoardo Van Del Null e pintor Carlo Blaas; oferta da imagem de Nossa Senhora das Dores à capela do Hospício pelo imperador do México, Fernando Maximiliano de Habsburgo; 1867, 23 janeiro - falecimento no Hospício da 1ª regente D. Amália Cândida Teixeira, após o surto de cólera-mórbus; 1871, novembro - reabertura do edifício com as irmãs vicentinas; 1873, 26 janeiro - falecimento nas Janelas Verdes, em Lisboa, da imperatriz viúva do Brasil deixando a administração do Hospício a sua irmã, a rainha Josefina da Suécia; 1876, 05 junho - disposições testamentárias da rainha da Suécia em relação ao Hospício do Funchal; 1877 - disposições administrativas do rei Óscar da Suécia sobre o Hospício do Funchal em relação à organização da administração e da base económica de apoio, assente em ações da companhia de caminhos de ferro da Suécia; 1878, maio - construção de um anexo do Hospício com escola para crianças, de início, órfãs, na área do denominado "Asilo de Mendicidade"; séc. 19 - a cópia do retrato da rainha da Suécia é da autoria da pintora Augusta Aherlof; os azulejos do edifício foram pintados por Jorge Colaço e executados pela Cerâmica Lusitana; 1986, 03 outubro - visita ao Hospício da rainha Sílvia Sommerlath da Suécia, de origem brasileira.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria rígida regional aparente, alvenaria de cantaria regional rebocada, madeira (carvalho e outras), azulejo, estuque, amarrações mistas, telha de meio canudo e calhau rolado miúdo.

Bibliografia

ALVES, Anastácio - «Vicente de Paulo: preferir os pobres». In Diário de Notícias. Funchal: 27 setembro 1997; CANE, Ellen e Florence du - The Flowers and Gardens of Madeira. Londres: 1904 e 1909; Centenário do Hospício da Princesa Dona Maria Amélia. Funchal, 1862 - 1962. Lisboa: 1962; GUERRA, Jorge Valdemar - «A Quinta de Nossa Senhora das Angústias, em torno dos seus proprietários». In Islenha. janeiro - junho 1994, n.º 14, pp. 122 e 134; NÓBREGA, Januário Justiniano de - Visita de Sua Majestade A Imperatriz do Brasil, Viúva, Duquesa de Bragança, à Ilha da Madeira e fundação do Hospício da Sereníssima Princesa D. Maria Amélia. Funchal: 1867; SILVA, Padre Fernando Augusto da - Elucidário Madeirense. Funchal: 1945, 3 vols.; TRUEVA, José Manuel de Sainz - Viagens na Madeira Romântica. Catálogo de exposição. Funchal: dezembro 1988; TRUEVA, José Manuel de Sainz - «Brasões de armas na Ilha da Madeira» In Islenha. Funchal: janeiro - junho 1996, n.º 18, p. 120; VIEIRA, Rui e PESSOA, Fernando - Inquérito aos espaços verdes e exemplares botânicos notáveis do Funchal. Novembro de 1966 e 1984 (nº 5).

Documentação Gráfica

Litografia de Serrano, sobre fotografia de João E. Camacho, ed. em Lisboa, 1867, pela Lit. de D. F. Lopes, R. Nova dos Mártires, nº 2; planta do Funchal do Eng. A. Trigo, 1890; GR / Equipamento Social; DRAC, Funchal

Documentação Fotográfica

Museu Vicentes Photographos; antiga Junta Geral; DRAC, Funchal

Documentação Administrativa

Antiga Junta Geral; DRAC, Funchal; Administração do Hospício, Lisboa

Intervenção Realizada

Observações

Comparando a litografia de 1867, verificamos não existirem os alpendres de cantaria dos corpos laterais. No entanto, deverão ser bastante antigos, dado a sua comunicação às enfermarias e estarem assim ligados à inicial função terapêutica do Hospício. Na colecção do Sr. Agostinho de Vasconcelos, Funchal, existe o projecto de um retábulo neobizantino para a capela do Hospício, encomendado pelo Imperador Fernando Maximiliano, em Viena, mas que não foi executado, pois o actual foi adquirido em Munique, por 100 libras.

Autor e Data

Rui Carita 1999

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login