Igreja e Recolhimento do Bom Jesus

IPA.00006600
Portugal, Ilha da Madeira (Madeira), Funchal, Funchal (Santa Luzia)
 
Arquitectura religiosa, barroca. Recolhimento feminino com igreja de planta longitudinal de nave única, com coro e sub-coro, pátio junto aos mesmos, pequeno claustro com alpendres de madeira e conjunto de edifícios de 2 e 3 pisos.
Número IPA Antigo: PT062203030023
 
Registo visualizado 440 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Recolhimento feminino  

Descrição

Planta rectangular irregular composta por igreja longitudinal a E. com capela-mor a E., nave, coro, um pátio e um pequeno claustro para O. correndo entre 2 corpos longitudinais a S., ao longo da R. do Bom Jesus e quase na mesma linha da igreja, a que se liga por muro, e a N., desde a R. da Conceição até ao corpo transversal intermédio; 2 corpos transversais, um separando o pátio do pequeno claustro e outro rematando o conjunto a O.. Grande massa de volumes horizontais, onde se destacam a torre sineira da igreja a E., encimada por coruchéu piramidal caiado e, entre o pátio e os pequenos claustros, uma outra torre, habitacional, de 4 pisos; telhados de 4, 3, 2 e uma água. Fachada principal a S., com embasamento pintado a cinza forte e beiral duplo de telha portuguesa. Organiza-se em edifício de 2 corpos e 2 pisos, tendo a O., empena aguda, um vão e cornija de telha e o outro com porta a E. encimada por cruz de azulejos policromos e 8 janelas com molduras de cantaria e alvenaria pintadas a cinza, algumas com molduras chanfradas e boleadas, duas de guilhotina e as restantes de portadas envidraçadas, de diferentes tamanhos, denunciando várias campanhas de obras. Muro cego, com pequeno avanço, liga-se ao corpo da igreja, ligeiramente enviesado. Na fachada da nave, alto portal de cantaria do Porto Santo, com arco pleno encimado por lintel de balanço e frontão ondulado e recuado, encimado por mísula com bola e cruz; superiormente 4 janelas gradeadas com molduras da mesma cantaria. Fachada da capela-mor ligeiramente recuada com idêntico tratamento, uma porta e 2 janelas. Fachada E. dominada pela empena aguda das traseiras da capela-mor, com cornija de cantaria com balanço encimada por cruz de Cristo e com 2 gárgulas de cantaria em forma de canhão; fresta central gradeada e encimada por registo de azulejos. Corpos seguintes ao mesmo nível de fachada, com o intermédio correspondente à sacristia com porta, fresta intermédia e janela superior de guilhotina e o N., correspondente ao recolhimento, com janelão gradeado e 2 janelas semelhantes às anteriores; beirais duplos de telha de canudo; descarga de águas por algeroz em folha de Flandres, parcialmente embutidos na parede. No INTERIOR da igreja, coro-alto e coro-baixo gradeados à igreja e fasquiados a madeira interiormente; nave com soalho de madeira e tecto de caixotões de madeira com pintura central, sobre cornija de cantaria pintada; púlpito do lado do Evangelho, ladeado por porta de acesso à sacristia, encimada por pintura sobre tela; retábulos laterais de ângulo e espaço demarcado por degrau de madeira com grade de balaustrada de madeira. Grande arco triunfal de cantaria do Porto Santo encimado por painel de azulejos com um calvário. Retábulo-mor de talha pintada e dourada com bom sacrário de talha montado sobre degrau alto de cantaria. Recolhimento com edifícios de 2 e 3 pisos, com alpendre de telha marselha no piso térreo do corpo transversal virado ao pátio e, sobre colunas quadradas de cantaria pintada, no piso superior dos edifícios sobre o claustro, com varandim simples de madeira, correndo ao longo do edifício a S. e do corpo transversal; janelas com dimensões e molduras de cantaria vária, indicativas de diferentes campanhas de obras.

Acessos

Funchal (Santa Luzia), Rua do Bom Jesus; Rua da Conceição

Protecção

Categoria: VCR - Valor Cultural Regional, Resolução do Presidente do Governo Regional n.º 1006/90, JORAM, 1.ª série, n.º 169 de 04 outubro 1990

Enquadramento

Urbano, integrado e adossado num quarteirão do centro histórico do Funchal, erguendo-se sobre as R. do Bom Jesus e da Conceição.

Descrição Complementar

A igreja apresenta do lado do Evangelho púlpito quadrangular de madeira pintada a marmoreado com pequenos apontamentos de talha, sobre mísula e com baldaquino com sanefa entalhada; da lado da Epístola, junto à entrada, interessante pia de água benta em mármore continental assente sobre leão esculpido. O arco triunfal de cantaria do Porto Santo é de volta perfeita com incisões longitudinais decorativas, entablamento complexo e lintel de balanço, encimado por painel de azulejos azuis e brancos de uma oficina de Lisboa; retábulos laterais simples de ângulo pintados a branco e com apontamentos a ouro, constituídos por um par de colunas assentes em estilóbatos, com amplo frontão quebrado e curvo, e nicho central com baldaquino. Capela-mor com alisar de cantaria e altar sobre degrau alto com acesso central por 3 degraus; altar recortado sobre parede pintada com panejamentos em "trompe l'oeil" e constituído por 2 pares de colunas enquadrando imagens sobre mísulas e com baldaquinos e um fundo camarim central, tudo em madeira pintada a branco com apontamentos dourados; trono de talha dourada montado no camarim; importante sacrário de talha dourada de 3 andares, com pares de colunas finamente entalhadas com querubins e festões, e com porta com pintura a óleo sobre cobre com "Ecce Homo". Sacristia com lava-mãos esculpido e datado de cantaria regional. O Recolhimento ainda possui "roda" para a Rua da Conceição.

Utilização Inicial

Religiosa: recolhimento feminino

Utilização Actual

Religiosa: recolhimento feminino

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ENTALHADOR: Estêvão Teixeira de Nóbrega (atr.); Manuel Pereira (atr.). MESTRE DAS OBRAS REAIS: Bartolomeu João de Abreu (1679). ORGANEIRO: Lenadro José da Cunha (1781). PINTOR DE AZULEJOS: Nicolau de Freitas (1744). PRATEIRO: Manuel Francisco Gramacho (1687).

Cronologia

1600-1620 - feitura de uma naveta em prata, que acabou por ser doada ao Recolhimento; 1654 - primeiras escrituras de doação dos terrenos pelo arcediago Simão Gonçalves Cidrão; 1658, 12 Fevereiro - primeira vistoria pelo deão Dr. Pedro Moreira; 1666, 20 Dezembro - doação pelo arcediago das suas casas e de todos os seus bens ao Recolhimento; 1668, 24 Julho - autorização de funcionamento do Recolhimento pelo deão Dr. Pedro Moreira; 14 Agosto - igual despacho do Chantre; 19 Outubro - doação de património pelo padre Pascoal Fernandes; 1672 - aquisição de uma custódia de prata; 1673, 9 Outubro - novas doações de Gonçalves Cidrão para o Recolhimento; 19 Outubro - confirmação em testamento das doações; 1679 - pagamento ao mestre das obras Bartolomeu (João de Abreu); 1687 - aquisição de uma caldeirinha ao prateiro Manuel Francisco Gramacho; 1697, 8 Julho - mandato do Conselho da Fazenda para se darem 200$000 réis por uma só vez à Regente e mais recolhidas para as obras do Recolhimento; 1721, 12 Abril - provisão do Desembargo do Paço a favor da Regente para o Provedor da Fazenda ser ministro-executor das suas dívidas, foros e rendas, fazendo-os cobrar executivamente como Fazenda Real; 1744 - data do registo de azulejos: "Nossa Senhora do Monte Carmo / Nicolau de Freytas pintou Em Lxª. Anno / de 1744"; 1754, 8 Fevereiro - alvará de D. José I a favor da Regente da mercê anual de 40$000 réis para pagamento do ordenado do confessor do Recolhimento; 1764 - data de construção do lava-mãos da sacristia; 1781 - construção do órgão positivo por Leandro José da Cunha, de Lisboa.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Cantaria mole e rígida regional aparente, alvenaria de cantaria regional rebocada, madeira (carvalho e outras), amarrações mistas de tirantes de madeira e de ferro, talha dourada e pintada, pintura sobre tela e cobre, azulejos, vidro, prataria e ourivesaria, e telha de meio canudo.

Bibliografia

BERNARDES, Lília, Recolhimento do Bom Jesus. Uma casa chamada Solidão, DN, Revista, 31 Mar. 1991; CARITA, Rui, Os conventos da Madeira no século XVII. O recolhimento do Bom Jesus, Diário de Notícias, Funchal, 21 Jul. 1991; IDEM, História da Madeira, 3º vol., Funchal, 1993; IBIDEM, As Dinastias dos Habsburgos e dos Braganças, Funchal, 1992; CARITA, Rui - «Navetas Maneiristas a aproximação ao mar» in Invenire Revista de Bens Culturais da Igreja. Lisboa: Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, janeiro - junho 2013, n.º 6, pp. 20-26; GONÇALVES, Luísa, Igreja do Bom Jesus da Ribeira. Restauro devolve-lhe originalidade, Jornal da Madeira, 1 Dez. 1996; M. L., Aprovado. Novo edifício comercial "nasce" no Bom Jesus, Diário de Notícias, Funchal, 15 Fev. 1994; MELIM, Eker, Recolhimento do Bom Jesus vai sofrer uma recuperação, Diário de Notícias, Funchal, 4 Jun. 1992; NORONHA, Henrique Henriques de, Memórias Seculares e Eclesiásticas...1722, Funchal, 1997; SILVA, Padre Fernando Augusto da, Elucidário Madeirense, 3 vols., Funchal, 1945; VALENÇA, Manuel, A Arte Organística em Portugal, vol. II, Braga, 1990.

Documentação Gráfica

Mapoteca do IGC (planta do Funchal de Reinaldo Oudinot, 1804), Lisboa; GR / Equipamento Social; DRAC, Funchal; IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

Museu Vicentes Photographos; antiga Junta Geral; DRAC, Funchal; IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

ARM; CMF; Juízo dos Resíduos e Capelas; Arquivo Eclesiástico do Paço Episcopal, Funchal

Intervenção Realizada

DRAC e DR Assistência Social: 1985 - recuperação das coberturas e dos rebocos de parede; Diocese: 1995 - restauro da área da Igreja.

Observações

Nos meados da década de 1940 foram retirados do Recolhimento algumas pinturas flamengas, em princípio, provenientes do convento da Encarnação e hoje patentes no Museu Diocesano de Arte Sacra; e nos finais da década de 1960 foram vendidos alguns móveis e imagens do Recolhimento ainda na posse de comerciantes de antiguidades da cidade. Em 1991 foi iniciado levantamento sumário de inventário do recheio pela DRAC, que pensamos ainda em curso. O equilíbrio entre as várias instituições que tutelam, ou pretendem tutelar o Recolhimento não tem permitido encontrar soluções convenientes para a salvaguarda do seu recheio.

Autor e Data

Rui Carita 1999

Actualização

 
 
 
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