Capela de Nossa Senhora do Socorro / Santuário de Nossa Senhora do Socorro

IPA.00006385
Portugal, Lisboa, Mafra, União das freguesias de Enxara do Bispo, Gradil e Vila Franca do Rosário
 
Capela rural de pequena dimensão e feição rustica, construída no topo da serra do Socorro, sobre vestígios de povoado fortificado da Idade do Ferro. O templo, de feição manuelina e barroca, é de planta poligonal, composta por nave, capela-mor quadrada e sacristia adossada ao lado direito, construídas no séc. 16, estando completamente rodeada por ampla galilé, talvez de execução seiscentista, como se depreende do tipo de cobertura que ostenta, em caixotões, e fechada durante as obras de remodelação do início do séc. 19, dando origem ao aparecimento de vários anexos, criando salas de apoio a um culto em crescimento, certamente relacionado com o fim das invasões francesas e a presença defensiva britânica, que muito afetaram a zona. No interior, é possível observar vestígios da antiga construção manuelina, na porta travessa e nas coberturas em abóbadas polinervadas na nave e de nervuras simples na capela-mor e sacristia, todas com bocetes decorados e assentes em mísulas, na nave em duas colunas com altas bases, típicas deste estilo. Foi remodelado no séc. 17, com a ampliação do arco triunfal e colocação de nova modinatura no mesmo, correspondendo às normas tridentinas, destacando-se o facto do arco se encontrar inscrito numa moldura composta por pilastras ornadas por brutesco e rematadas por entablamento. A capela-mor é alvo de intervenção decorativa no séc. 18, com a aplicação de azulejos azul e branco, do estilo barroco joanino, do denominado Ciclo dos Mestres. O terramoto e as guerras napoleónicas terão provocado danos no recinto, pelo que em 1820 foi alvo de remodelação, com a construção de nova fachada, com portal em arco abatido, e feitura do coro-alto e enorme púlpito com guarda plena galbada.
Número IPA Antigo: PT031109050024
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Conjnto de planta retangular, parcialmente fechado por muro de alvenaria, rebocada e pintada de branco, com acesso por portais ladeados por pilares encimados por pináculos tronco-piramidais, que acedem a um adro pavimentado a terra batida, e tendo, em cada ângulo virado a ocidente, um corpo de planta retangular, sendo o do lado esquerdo a antiga albergaria, utilizado como Centro Interpretativo da Serra do Socorro. O conjunto é de planta retangular composta por igreja e vários corpos adossados, com coberturas diferenciadas em telhados de uma e duas águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, rematadas em frisos e cornijas. O CORPO DA IGREJA E ANEXOS formam um complexo de planta poligonal irregular, criando uma mole não identificável exteriormente, composta por nave, antecedida por amplo endo-nártex, capela-mor, sacristia adossada ao lado esquerdo e vários anexos, formando salas de apoio, um quarto, cozinha, arrecadações e um forno a lenha. Fachada principal virada a ocidente, marcada por dois contrafortes e por vários bailéus adossados, rasgada, ao centro, por portal de verga reta, de acesso ao nártex. Está encimado por pequeno espaldar contracurvo com cruz latina sobre plinto de cantaria no topo; por detrás deste, aparece a antiga empena da fachada principal, com remate em cornija. Sobre o lado esquerdo do nártex, surge uma sineira de volta perfeita com impostas e fecho salientes. No extremo esquerdo, uma porta de verga reta acede a uma sala anexa. Fachada lateral esquerda com uma pequena porta de verga reta e janela, a primeira de acesso à cozinha e a segunda a iluminar um quarto que lhe fica anexo. No corpo da capela-mor, surge pequena fresta jacente. Fachada lateral direita rasgada por duas portas, a central ligando à porta travessa do templo e aos corpos anexos, e a do lado direito de acesso a uma sala de apoio, esta com escadas de ligação ao segundo piso; no corpo desta sala, surge uma pequena janela retilínea, surgindo uma segunda no da sacristia. Fachada posterior em empena cega, sendo visível a empena do arco triunfal, rasgada por pequeno óculo circular e encimada por marco geodésico sobre amplo plinto; no lado esquerdo, no corpo da sacristia, surge pequena janela jacente. INTERIOR do nártex com cobertura em abóbada de berço com caixotões, dando acesso à igreja e aos corpos anexos por portas retangulares, o da igreja ladeado por dois postigos protegidos por grades em ferro. No lado esquerdo e abrindo diretamente para ele, situa-se uma sala de um piso, com acesso por porta de verga reta. A ladear a porta, pia de água benta embutida no muro, em cantaria e de bordo boleado. Interior da nave definido por dois tramos, separados por colunas laterais, sobre altas bases, tendo as paredes rebocadas e pintadas de apainelados de marmoreados fingidos, envolvidos por molduras com decoração fitomórfica, e a cobertura em abóbadas polinervadas, assentes em mísulas laterais e com bocetes dourados, formando florões; pavimento em lajeado. As paredes laterais são percorridas por bancos em alvenaria, capeados a madeira. A ladear o portal axial, surge uma pia de água benta em pedra assente num colunelo. No lado do Evangelho, púlpito quadrangular, com bacia em cantaria e guarda plena galbada, de talha pintada de marmoreados fingidos, formando apainelados recortados. No lado oposto, a antiga porta travessa, de verga recortada e lavrada, formando um arco de carena assente em colunelos e envolvido por dupla moldura ornada por esferas. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas e fecho saliente, com as arquivoltas ornadas por marmoreados fingidos, com seguintes almofadados, estando flanqueado por duas pilastras ornadas por brutesco, rematando em entablamento; está protegido por teia de balaústres em cantaria de calcário. Capela-mor com planta quadrangular, de ângulos chanfrados, tendo cobertura em abóbada de arestas, ornadas por motivos fitomórficos, e pavimento em lajeado formando axadrezado rosa e branco, com as paredes revestidas a azulejo figurativo azul e branco. Os ângulos possuem silhares de azulejo semelhante, encimados por nichos com decoração fitomórfica. A parede testeira é rasgada por nicho de volta perfeita, assente em pilastras toscanas, contendo o retábulo, encimado por painel circular com as iniciais "AM" e coroa fechada. O retábulo é de talha policroma de branco, azul, vermelho e dourado, de planta reta e três eixos definidos por quatro colunas torsas, assentes em consolas. Ao centro, nicho de volta perfeita com abóbada em quarto de esfera e fundo pintado. Os eixos laterais são compostos por mísulas volutadas, enquadradas por falsos drapeados a abrir em boca de cena, que pendem de baldaquinos em forma de domo com lambrequins. A estrutura remata em entablamento e fragmentos de frontão com anjos de vulto encarnados, que centram cartela recortada e ornada por querubins. Altar paralelepipédico com frontal tripartido e decorado por flores, tendo banqueta ornada por acantos, encimada por sacrário embutido, decorado por aletas e espaldar recortado por acantos e cruz; a porta está decorada por resplendor. A sacristia tem cobertura em abóbada de nervuras, assentando sobre mísulas, tendo no bocete central uma cruz envolvida por corda, em relevo. Possui um lavabo em cantaria composto por espaldar almofadado, rematado em friso e cornijas, tendo, ao centro, bica em forma de florão, que verte para taça retilínea e de bordo saliente. CENTRO INTERPRETATIVO de planta retangular simples e cobertura em telhado de duas águas, rasgado, na face sul, por três portas de verga reta. No lado oposto, edifício de planta retangular e evoluindo em dois pisos, rasgado por vãos retilíneos.

Acessos

Serra do Socorro

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 26-A/92, DR, 1.ª série-B, n.º 126 de 01 junho 1992

Enquadramento

Rural, isolado, implantado no topo da Serra do Socorro, a cerca de 395 metros de altitude. A Serra constitui uma chaminé basáltica rodeada por rochas sedimentares da era secundária ou mesozoica, sendo um local árido, extremamente ventoso, oferece um domínio visual de grande alcance sobre todos os quadrantes, dado ser o local topograficamente mais elevado, avistando-se grande extensão dos concelhos de Mafra e de Torres Vedras. No local, a vegetação existente resume-se a arbustos de pequeno porte e a herbáceas que revestem o solo entre a grande densidade de afloramentos rochosos. A envolver o recinto do templo, surge o Castro ou Povoado da Serra do Socorro, com implantação oval (c. 200m de eixo maior e c. 100m de eixo menor), delimitado por um amuralhado constituído por blocos de basalto, tendo à volta construções anexas. O muro é rasgado por duas aberturas principais, uma delas com bom lajeamento de acesso, e é complementado pela excelente defesa proporcionada pelas íngremes ladeiras do cabeço. Menos percetíveis são os contornos circulares de algumas habitações, por se encontrarem quase totalmente soterrados. Nas imediações, surge a réplica do poste do Telégrafo da Serra do Socorro, erguido no âmbito da linha de defesa contra as invasões francesas (v. IPA.00006356).

Descrição Complementar

Na verga da porta principal encontra-se a inscrição: "Regina virginum / ora pro nobis / A.D. / MDCCCXX". Os PAINÉIS DE AZULEJO da capela-mor formam quatro painéis com molduras recortadas internamente, formando volutas, que inscrevem peanha a sustentar os Evangelistas, acompanhados pelos seus atributos. Nos silhares sob os nichos, surgem figuras de eremitas, enquadradas por elementos arquitetónicos mais simples.

Utilização Inicial

Religiosa: capela

Utilização Actual

Religiosa: santuário

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Lisboa)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Idade Ferro - construção de um castro no local; séc. 16 - construção da capela e da sacristia, envolvidas por uma galilé aberta *1; séc. 17 - remodelação e provável ampliação do arco triunfal; feitura do lavabo na sacristia e pintura de uma tela para a capela-mor; 1707 - segundo Frei Agostinho de Santa Maria, a imagem terá aparecido numa rocha situada na serra, mas as pessoas mais antigas da povoação não sabiam dizer quando fora descoberta ou em que época fora feito o templo *2; séc. 18, meados - renovação decorativa do interior da capela-mor, com aplicação dos painéis de azulejo e feitura do retábulo-mor; execução da teia da capela-mor; 1755, 01 novembro - o terramoto terá provocado danos no edifício, nomeadamente na estrutura da abóbada; 1758 - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco Tomás Gomes do Avelar, é referida a ermida, na Serra do Socorro, de pequenas dimensões, com uma nave abobadada e o retábulo com as imagens de Nossa Senhora, Santa Ana e São Joaquim, tendo uma festa importante no dia 05 de agosto; 1810 - 1811 - durante a terceira Invasão Francesa, no âmbito da estratégia concebida pelo duque de Wellington para as Linhas de Torres, foi implantado um telégrafo junto à capela; 1820 - remodelação da fachada principal com a construção de um novo portal, ladeado por dois postigos; a galilé, então aberta ao exterior, é fechada, tornando-se num amplo endo-nártex, surgindo vários corpos anexos; construção do coro-alto, pintura das paredes e feitura do púlpito; séc. 20, meados - construção de um depósito de água numa dependência anexa; 1996, 19 março - um incêndio na casa das velas destrói parte das coberturas dos anexos, o coro-alto e esfuma todo o interior da Igreja; 2000 - a igreja foi assaltada, tendo sido roubadas as imagens de Santa Ana e São Joaquim; 2008, 22 novembro - inauguração do Centro Interpretativo da Serra do Socorro, que inclui uma réplica do telégrafo à escala real, um observatório de paisagem e a musealização do buraco do poste original de sinais, descoberto durante as escavações arqueológicas levadas a cabo no local.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria mista e cantaria de calcário, rebocada; modinaturas, pavimentos, abóbadas, colunas, capitéis, plintos, arco triunfal, lavabo em cantaria de calcário; nave com pinturas decorativas em marmoreados fingidos; retábulo-mor e púlpito em talha; painéis e silhares da nave em azulejo; portas de madeira; coberturas exteriores em telha cerâmica.

Bibliografia

C. A. - «Castro da Serra do Socorro. Expedição Arqueológica da Escola Técnica» in Badaladas. Torres Vedras: Paróquias de Santa Maria e São Pedro de Torres Vedras, Ano 28, n.º 1014, 14 junho 1975, pp. 1 e 5; CORDEIRO, Roberto - «Mafra: Memorial do Concelho» in Diário de Notícias. Lisboa: 08 agosto 1983; FERNANDES, Paulo Almeida e VILAR, Maria do Carmo - Carta do Património do Concelho de Mafra. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, 2009; LUCENA, Armando de - Monografia de Mafra. Mafra: Comissão Municipal de Turismo, 1987; MARIA, Frei Agostinho de Santa - Santuário Mariano... Lisboa: Officina de Antonio Pedrozo Galrão, 1707, vol. 2; Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa - Torres Vedras, Lourinhã, Sobral de Monte Agraço. Lisboa: Junta Distrital de Lisboa, 1963, tomo IV; SILVEIRA, Ângelo Costa - «Capela de Nossa Senhora do Socorro - Enxara do Bispo. De entre culturas, a devoção» in Monumentos. Lisboa: Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, 1999, n.º 11, pp. 62-65; TRINDADE, Leonel - «A Serra do Socorro» in Badaladas. Torres Vedras: Paróquias de Santa Maria e São Pedro de Torres Vedras, Ano 26, n.º 909, 26 maio 1973, pp. 1 e 4; «Vária» in Monumentos. Lisboa: Direção-Geral dos Monumentos Nacionais, n.º 9 - 12, 17 e 20, 1998-2000, 2002, 2004.

Documentação Gráfica

DGPC: PT DGEMN/DRMLisboa

Documentação Fotográfica

DGPC: PT DGEMN/DSID; PT DGEMN/DRMLisboa; Universidade Évora

Documentação Administrativa

DGPC: PT DGEMN/DRMLisboa; DGLAB: PT AN/TT, Memórias Paroquiais, vol. 13, n.º 25, fls. 211-220

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1993 - limpeza e pintura do interior da ermida; DGEMN / CMMafra / PROPRIETÁRIO: 1998 - recuperação das coberturas, reboco e caiação de todas as fachadas exteriores; tratamento dos rebocos e pinturas e reparação dos caixilhos; 1998 / 1999 - recuperação da sacristia e anexos; 1999 - recuperação das salas interiores, com tratamento de rebocos, pavimentos, tetos, instalação elétrica, caixilharias e gradeamentos; remoção do depósito de água para o exterior; 1999 / 2000 - beneficiação dos interiores; instalação elétrica; 2002 / 2003 / 2004 - restauro das pinturas decorativas da nave e capela-mor; restauro do retábulo-mor; valorização dos elementos manuelinos do imóvel; 2004 - conclusão da recuperação e restauro do revestimento da policromia da nave, capela-mor e retábulo.

Observações

*1 - segundo alguns autores a ermida terá uma construção medieval, tendo surgido, ainda segundo outros, sobre uma antiga mesquita. Consta, também, que o fundador terá sido o mesmo indivíduo que mandou fazer a matriz, em 1225, o senhor da povoação D. Vasco Salvador. Como o lugar de Enxara se começasse a povoar e ele desejasse viver sozinho, ter-se -ia mudado para este local, acabando sepultado num sarcófago de pedra que terá existido até ao século 18, adossado à parede da matriz. *2 - as lendas em torno da sacralização deste local são muito variadas. Uma delas conta a história de uma princesa moura que, por muito gostar deste sítio, pediu a um mágico para a encantar no sítio da Serra do Socorro, juntamente com o seu ouro, jóias e pedrarias. Diz ainda a lenda que quem sair de uma das sete fontes da serra à meia-noite do dia de São João e correr todas as fontes, quebrará o encanto da bela princesa, casará com ela e ficará com as suas riquezas. Uma segunda lenda narra a existência de dois pastores, ainda crianças, que foram atacadas por um lobo, tendo pedido auxílio à Virgem que as terá livrado do perigo. A terceira lenda diz que o templo terá nascido por um voto da população local, caso o vulcão ainda ativo naquele local, nada destruísse. Uma quarta lenda narra a história de um pescador apanhado por uma tempestade violenta, tendo sido salvo pela Virgem, em honra da qual mandou construir a capela.

Autor e Data

Paula Figueiredo 2014 (no âmbito da parceria IHRU / Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja)

Actualização

Ângelo Silveira 2000, Paula Tereno 2018
 
 
 
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