Igreja Paroquial de Aldeia Galega da Merceana / Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres

IPA.00006249
Portugal, Lisboa, Alenquer, União das freguesias de Aldeia Galega da Merceana e Aldeia Gavinha
 
Arquitectura religiosa, manuelina, barroca e rococó. Igreja de tipo rural de nave única com exterior de grande simplicidade, procurando certo enriquecimento pelo uso da cor azul nos cunhais e embasamento, típica da arquitectura rural do distrito. Portal manuelino em arco pleno emoldurado por conopial torso, sobre capitéis vegetalistas. O enquadramento por colunas torsas encontra-se igualmente nos portais da capela de S. Miguel de Coimbra, igreja Matriz da Golegã, igreja da Luz de Tavira e Sé da Guarda. Capela lateral com cobertura em abóbada estrelada rebaixada sobre mísulas vegetalistas. Decoração interior predominantemente barroca: azulejos da capela-mor joaninos com composições de carácter teatral e ilusionista e cercaduras com anjos; os da nave são rococó, da 2ª fase (pombalinos), associando elementos do estilo Regência, a asa de morcego, a policromia na separação e enquadramento das composições e os anjos típicos do joanino; os azulejos da capela lateral são também pombalinos, mais simples, com composições em azul separadas por azulejos marmoreados roxos e amarelos, que envolvem igualmente o rodapé almofadado. A talha é joanina. Pinturas do tecto barrocas, conjugando representações do orago em medalhões com florões e grinaldas. Alpendrada adossada à fachada N. Formal e decorativamente as colunas e o arco conopial torso, de toros enroscados, que envolve o vão a pleno centro do portal principal, sugere uma inspiração em arcos festivos efémeros fabricados com troncos e ramos. De assinalar a inclusão de 2 rostos humanos esculpidos no arranque do arco conopial e de um relevo com composição de grutesco no tímpano, ornamento divulgado por gravuras, tal como os motivos decorativos da pia baptismal.
Número IPA Antigo: PT031101020017
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal, composta por nave única e capela-mor rectangulares, precedida de galilé quadrangular e flanqueada por duas torres, uma alpendrada e outras dependências mais baixas.Volumetria escalonada de massa horizontalista. Cobertura diferenciada de telhados a 1, 2 e 3 águas e de domo na torre S. Frontispício orientado, com embasamento e terminado em empena com janela alta; galilé com cunhais de aparelho almofadado aberta por 3 vãos de arco pleno sobre pilastras. Pórtico de arco pleno sobreposto por arco conopial ladeado por colunas torsas com capitéis vegetalistas e máscaras nas impostas, terminando em pináculos com florões. Torre S. com 4 sineiras de arco a pleno centro e cúpula vazada por olhos de boi entre pináculos. Torre N. de registo único, inacabada *1 e sem sineiras; junto à mesma corre alpendre de 2 colunas toscanas sobre murete, dando acesso a portal lateral, de verga recta. Ao lado, corpo da capela lateral encimado por sineira e Sacristia, sobre os quais se visualizam as 3 janelas rectangulares que vazam a caixa murária da igreja. Fachada posterior cega. Na fachada S pano saliente que corresponde a dependência anexa, com 3 janelas e uma porta rectangulares; no pano da ábside rasga-se janela rectangular. INTERIOR: Nave única revestida com painéis de azulejos azuis e brancos, figurativos, com cenas bíblicas, compondo silhar. A O, coro-alto ondulante em talha branca e dourada sobre colunas de mármore rosa, onde se encontra maquineta com Crucifixo, um cadeiral com 2 filas de assentos e um órgão de caixa. A meio da nave 2 púlpitos quadrangulares, de talha, com dossel e, para lá da teia, de madeira com socos de mármore, 2 altares colaterais também de talha. Janelas e portas com sanefas de talha, 2 telas ovais e 4 lobuladas, com cenas da vida da Virgem, emolduradas a talha. Capela baptismal sob a torre N., com silhar de azulejos reaproveitados, tela com "Baptismo de Cristo" e pia baptismal octogonal com motivos vegetalistas e inscrição numa das faces. Do lado do Evangelho, capela quadrada com abóbada polinervada sobre mísulas, silhar de azulejos numa parede, retábulo de talha com frontal de azulejos hispano-árabes e lápide sepulcral no chão com pedra de armas. Cobertura em tecto curvo de madeira pintado com festões, vasos e medalhão central com "Ascensão da Virgem" ladeado por outros 2 com símbolos marianos. Arco triunfal pleno sobre pilastras pintadas com cartelas e flores. Capela-mor com silhar de azulejos, portas e janelas com sanefas e telas lobuladas com molduras de talha; retábulo também de talha e tecto pintado com Evangelistas e, ao centro, medalhão com Cristo e a Virgem. Na Sacristia pequeno lavabo de mármore rosa e janela conversadeira com portadas chapeadas.

Acessos

Largo da Igreja. WGS84: 39º04'52.09''N., 9º06'44.36''O. (2010)

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 45 327, DG, I Série, n.º 251 de 25 outubro 1963

Enquadramento

Urbano. Ergue-se numa colina, no ponto mais alto da povoação. Isolada, circundada por adro murado, muito estreito junto ao frontispício, mas bastante espaçoso a N. onde, num plano mais baixo, existe lg. com chafariz central e pequena capela.

Descrição Complementar

Do primitivo templo manuelino subsistem o portal principal, a capela lateral e a pia baptismal. O portal é constituído por arco de volta perfeita sobreposto por conopial, sendo o 1º de 2 arquivoltas sustentadas nos pés-direitos por 2 pares de finos colunelos lisos, assentes em bases facetadas côncavas, com anéis, e encimados por capitéis vegetalistas. Ladeiam-no 2 colunas torsas de 3 toros sobre bases altas, cilíndricas, facetadas e estreladas, interpenetradas por anéis. Os fustes helicoidais prolongam-se acima dos capitéis decorados com folhas enroladas e entrelaçadas, e rematam-se em pináculo igualmente torso que se apoia em anel com meias-esferas. Dos capitéis das colunas arranca igualmente o arco conopial, torso, que envolve o anterior, tendo, lateralmente, nas impostas 2 mísulas esculpidas com rostos humanos, o da esq. com toucado vegetalista. O extradorso é preenchido com cogulhos de acanto e termina em florão no vértice. No tímpano, sobre arco pleno, em composição simétrica do tipo grutesco, uma taça com 2 pássaros pousados, de asas abertas, debicando flores e encimados por pedra de armas com as 5 chagas de Cristo. Do lado do Evangelho pequena capela denominadado Senhor da Cruz Nova, possui planta quadrangular e é coberta com abóbada polinervada estrelada, de perfil rebaixado, assente sobre mísulas cantonais decoradas com motivos vegetalistas. Os bocetes no encontro das nervuras são vegetalistas, exceptundo o do fecho que ostenta pedra de armas com uma vieira *2. Vestígio do período manuelino é igualmente o frontal do altar que é revestido de azulejos hispano-árabes com motivos geométricos, que aplicam a técnica de "cuenca". Na capela baptismal existe uma pia octogonal decorada com grutescos (maioritariamente elementos vegetalistas estilizados) nas faces e assente sobre pedestal polilobado, facetado, interpenetrado por anéis num jogo volumétrico de côncavos e convexos. AZULEJARIA: Os painéis que revestem as paredes laterais da nave representam: A Apanha do Maná, Abraão e os Anjos, A Terra Prometida, Ester e Assuero, Bodas de Canã, A Multiplicação dos Pães, Sacrifício de Melquisedeque, Sacrifício de Isaac, Elias e o Anjo, David e Abigail, Milagre da Piscina de Betsaida, Entrada de Jesus em Jerusalém. INSCRIÇÕES: Inscição de posse e funerária, gravada, no terço inferior, numa tampa de sepultura em campo epigráfico rebaixado, a simular uma cartela. Na parte superior insculpido, em relevo, um brasão. Descrição heráldica: escudo redondo posto à valona, com seis vieiras, postas 2, 2 e 2 (Vieira); com diferença (brica carregada com um A); ornatos exteriores: elmo, paquife e correias; timbre: dois bordões passados em aspa encimados por vieira. Calcário. Tipo de letra: capital quadrada. Leitura modernizada: ESTA CAPELA E SEPULTURA É DE AFONSO VIEIRA QUE FALECEU DIA DE NOSSA SENHORA DAS NEVES CINCO DIAS DE AGOSTO DE 1556 ANOS.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Lisboa)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTOR: António Pimenta Rolim (atr., 1747).

Cronologia

Séc. 16 - época provável da sua construção; 1556 - Data inscrita na lápide sepulcral de António Vieira, fundador da capela lateral; 1610 ou 1616 - data apontada pelos autores para a sua reedificação; c. 1640 - concerto do campanário, do coro, da arca do coro, das portas da igreja e do telhado; 1732 - assentamento dos azulejos da capela-mor, por 38$065; 1747, cerca - pintura do teto da nave, atribuível a António Pimenta Rolim; 1755, 01 Novembro - o terramoto destruiu parcialmente a igreja, que foi posteriormente reerguida; séc. 18, 2.ª metade - remodelações estruturais e decorativas: revestimentos azulejares, púlpitos de talha, altares e telas; 1953 - o telhado da igreja está em ruínas; 1959 - o pároco pede autorização para restaurar obras de pintura.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Alvenaria mista rebocada, cantarias de calcário, betão, revestimentos de mármore, e azulejos, talha, madeira, cobertura exterior de telha.

Bibliografia

ALMEIDA, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Porto, 1988; AZEVEDO, Carlos de, FERRÃO, Julieta, GUSMÃO, Adriano de, Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Lisboa, 1963; AZEVEDO, José Correia, Inventário Artístico Ilustrado de Portugal - Estremadura, Lisboa, s.d.; HENRIQUES, Guilherme João Carlos, Alenquer e seu Concelho, Lisboa, 1873; LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho, Portugal Antigo e Moderno, Lisboa, 1873; LIMA, Baptista de, Terras Portuguesas, Arquivo Histórico-Corográfico, Póvoa do Varzim, 1932, pp. 83 - 86; MECO, José, Azulejaria Portuguesa, Lisboa, 1985; MECO, José, O Azulejo em Portugal, Lisboa, 1989; MELO, António de Oliveira, GUAPO, António Rodrigues, MARTINS, José Eduardo, O Concelho de Alenquer. Subsídios para um Roteiro de Arte e Etnologia, vol. 1, Alenquer, 1989; Monumentos, n.º 9 e n.º 12 a n.º 13, n.º 17, n.º 19, Lisboa, DGEMN, 1998 e 2000, 2002-2003;O Concelho de Alenquer, Alenquer, 1984; REIS, Vítor Manuel Guerra dos - O Rapto do Observador: invenção, representação e percepção do espaço celestial na pintura de tectos em Portugal no século XVIII. Lisboa: s.n., 2006. Texto policopiado. Dissertação de Doutoramento apresentada à Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, 2 vols.; SIMÕES, J. M. dos Santos, Azulejaria em Portugal no Século XVIII, Lisboa, 1979; SMITH, Robert C., A Talha em Portugal, Lisboa, 1963; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74188 [consultado em 8 agosto 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1969 - obras na igreja e dependências com donativos, reconstruindo-se a escadaria, que estava impraticável; DGEMN: 1994 / 1995 - obras de beneficiação em pavimentos, rebocos exteriores, caiações e coberturas; 1996 - Execução de novos rebocos interiores e respectiva caiação; novo pavimento em madeira no coro; abertura de vão de janela entaipado na nave central; demolição de laje de betão no anexo; execução de caixilho no janelão da fachada principal; pavimento em tijoleira e tecto em masseira na sacristia; abertura de porta entre a sacristia e anexo; abertura no anexo, de entrada para o púlpito, que se encontrava entaipada; execução de nova estrutura, forro e cobertura no alpendre lateral; pintura geral de caixilharias em madeira e grades de ferro em vãos de portas e janelas; pintura a óxido de ferro do guarda-vento; revisão geral das coberturas; execução de nova instalação eléctrica; 1997 / 1998 - Conservação e restauro das pinturas decorativas do tecto da nave central e capela-mor; restauro integral das talhas em altares, púlpito, teia, balaustrada e maquineta, com limpeza, fixação, preenchimento de lacunas e tratamento; 1999 / 2000 - conservação das coberturas; 2002 / 2003 - restauro das telas da nave e respectivas molduras de talha e da tela do Baptistério; 2005 - conservação e restauro integral das coberturas; (paróquia) pintura das fachadas.

Observações

*1 Desconhece-se a razão da torre N. estar inacabada, mas é possível ter caído com o terramoto de 1755 e, posteriormente, não ter sido completamente reedificada, explicando-se assim a actual inexistência de embasamento em cantaria no lado N. *2 A bibliografia consultada repete sem questionar que a capela lateral pertenceu aos Condes de Ericeira (Meneses). A análise heráldica permite-nos constatar que ela foi mandada construir por um membro da família Vieira, muito possivelmente por António Vieira referido na lápide sepulcral. Falta averiguar se, na realidade, a capela pertenceu posteriormente aos Condes de Ericeira. Esta e outras dúvidas poderão ser esclarecidas com a leitura do valioso acervo documental que a igreja possui, onde se incluem os livros de receitas e despesas da fábrica da igreja e se descriminam as obras feitas desde meados do séc. 16 até finais do 19.

Autor e Data

Paula Noé 1992 / 1993 / Lina Marques 2001/ Filipa Avellar 2005

Actualização

Ana Rosa 2005
 
 
 
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