Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Mesão Frio
| IPA.00005713 |
Portugal, Vila Real, Mesão Frio, Mesão Frio (Santo André) |
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Arquitectura de saúde, tardo-barroca. Hospital da Misericórdia de planta rectangular simples, e fachadas de dois pisos, com cunhais apilastradados e regularmente rasgadas. Fachada principal terminada em friso e cornija, alteada ao centro, formando falso frontão contracurvado, ocupado por brasão com as armas do reino entre concheados; ao centro, abre-se portal de verga recortada e moldura recortada, interligada a janela de sacada, de perfil contracurvado, verga abatida, com moldura recortada, encimada por friso e cornija e de fecho saliente. É ladeado por janelas de peitoril, de verga abatida, moldura com cornija, de avental e brincos e caixilharia de guilhotina. Interiormente, o espaço organiza-se, em relação à fachada principal, com um eixo longitudinal no primeiro piso, onde tem vestíbulo central, e um transversal no segundo, ambos com consultórios de ambos os lados. Hospital de província de pequenas dimensões, integrado na arquitectura urbana tardo-barroca, com fachada principal apresentando eixo central de nítida verticalidade, conferida pela sobreposição e interligação do portal, janela de sacada e brasão sob o falso frontão que interrompe a horizontalidade da cobertura. Destaque para o recorte e decoração das molduras do eixo central e das próprias janelas laterais que, apesar de terem brincos e aventais em ambos os pisos, são mais elaborados no segundo. |
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Número IPA Antigo: PT011704050005 |
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Registo visualizado 316 vezes desde 27 Julho de 2011 |
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Edifício e estrutura Edifício Saúde Hospital Hospital de Confraria / Irmandade Misericórdia
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Descrição
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Planta rectangular composta por dois corpos rectangulares, um setecentista, e um outro mais recente e recuado relativamente ao primeiro. Volumes articulados e coberturas diferenciadas, em telhados de quatro águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco. Corpo setecentista com fachada principal de pilastras toscanas nos cunhais, coroados por elegantes fogaréus, decorados com caneluras e motivos fitomórficos, percorrida por embasamento de cantaria almofadada, e terminada em duplo friso e cornija, sobreposta por beirada simples, alteada ao centro, onde forma falso frontão contracurvado. É rasgada regularmente por cinco eixos de vãos; no eixo central, abre-se, no piso térreo, portal de verga recortada, com moldura também recortada e decorada, percorrida com filete saliente, e fecho fitomórfico, superiormente interligada à janela de sacada do segundo piso por cornija convexa com cartela fitomórfica contendo a inscrição HOSPITAL DA MISERICORDIA; a janela tem verga abatida, com moldura formando ligeiro recorte lateral, encimada por friso e cornija, do mesmo perfil, fecho saliente e sacada contracurvada com guarda em ferro de motivos lanceolados; é sobreposta por amplo brasão com as armas de Portugal, com coroa, envolvido por concheados e enquadrada por ornato com gotas. Lateralmente, rasgam-se, de cada lado, duas janelas de peitoril, de verga abatida e moldura terminada em pequena cornija com fecho fitomórfico, saliente, com aventais terminados em pingente central, e brincos, com caixilharia de guilhotina e gradeamento de ferro. Ao nível do segundo piso, as janelas são semelhantes, mas possuem pingente e brincos mais elaborados, a cornija do remate é de lanços e não têm gradeamento. O corpo adossado a SO. tem fachada de dois pisos, mas simples, abrindo-se, no primeiro, portal central de verga recta e, no segundo, duas janelas de peitoril longilíneas, com caixilharia de guilhotina. Na fachada lateral esquerda rasgam-se, ao nível do segundo piso, duas janelas de peitoril iguais às da fachada principal, e, ao centro, um óculo oval de moldura simples, que ilumina o topo do corredor central do piso. A fachada posterior, voltada para um quintal rectangular disposto a todo o comprimento do Hospital, resulta de um acrescento que encobriu a estrutura barroca. Apresenta ao nível do piso térreo uma arcada aberta composta por três arcos plenos, em alvenaria, e duas janelas de cada lado. No piso superior uma arcada do mesmo tipo forma uma varanda com gradeamento metálico e três portas de ligação às antigas enfermarias e quartos. De um lado e do outro da arcada, surgem duas janelas pequenas, que iluminavam os quartos de banho das enfermarias. A SO. desta fachada, em plano recuado, correspondente ao do edifício setecentista subsiste uma janela de moldura simples, no segundo piso. Duas outras janelas, estreitas e altas, iluminam o segundo piso do corpo acrescentado, do lado SO.. INTERIOR com paredes rebocadas e pintadas de branco. Vestíbulo rectangular central, com pavimento de lajes e tecto de madeira, a partir do qual se acede, através de seis portas, de verga recta e moldura simples, às várias divisões do piso térreo. Frontalmente, desenvolve-se escada de pedra de ligação ao segundo piso. |
Acessos
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Mesão Frio (Santo André), Rua de Sampaio Moreira, nº 144-160 |
Protecção
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Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 735/74, DG, 1.ª série, n.º 297 de 21 dezembro 1974 |
Enquadramento
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Urbano. Ergue-se frente ao adro da Igreja de São Nicolau (v. PT01170405041) com frontispício à face da rua, flanqueado de um lado por um quintal murado e por uma casa adossada do outro. A fachada principal do corpo adossado a SO., apresenta-se recuada, tendo à frente, alinhado pela frontaria do edifício principal, um muro baixo gradeado, com um portão metálico central enquadrado por duas pilastras. |
Descrição Complementar
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No piso térreo, ao fundo dov estíbulo existe porta larga, encimada por um óculo recortado, de ligação ao quintal das traseiras. À direita situam-se o consultório de enfermagem e o consultório dentário, conservando os respectivos equipamentos. À esquerda, situam-se a secretaria e sala de beneméritos, a maternidade e as escadas de cantaria de acesso ao piso superior. Este organiza-se em duas alas de compartimentos que se abrem para um corredor longitudinal central. Do lado da fachada principal alinham-se a Enfermaria Sampaio Moreira, a sala de visitas, a farmácia, um quarto para doentes particulares, o antigo quarto da directora e o refeitório das Irmãs. Na ala oposta, e no mesmo sentido, a capela, as enfermarias de homens e de mulheres comunicando para a varanda das traseiras e os blocos de sanitários, uma copa e a cozinha. Em todos os compartimentos se conserva o respectivo equipamento. |
Utilização Inicial
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Saúde: hospital de confraria / irmandade |
Utilização Actual
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Saúde: unidade de cuidados continuados |
Propriedade
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Privada: Misericórdia |
Afectação
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Sem afectação |
Época Construção
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Séc. 18 / 19 / 20 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Desconhecido. |
Cronologia
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1560 - André da Fonseca e sua mulher Verónica de Mesquita, casados em segundas núpcias e moradores no Fundo da Vila, fundaram a Misericórdia de Mesão Frio;passou a reger-se pelo Compromisso da Misericórdia de Lisboa; 1577, 4 Junho - alvará de D. Sebastião autorizando a Misericórdia a reger-se pelo Compromisso da de Lisboa; 1621, 2 Abril - alvará régio designa o Provedor da Comarca de Lamego a desempenhar o cargo de Juiz Conservador Perpétuo de todas as causas da Misericórdia; 1630 - passou a ter Compromisso próprio; 1646, 5 Fevereiro - alvará régio autorizando a notificação dos devedores para pagarem as dívidas sob pena de cobrança coersiva; 1689, 7 Junho - data do livro do Tombo do Hospital; este era composto por três edifícios, designados por Hospital, Casa do Pregador da Quaresma e Casa que servia de corte; possuía uma enfermaria para ambos os sexos, capela bem ornada e paramentada, para ali se administrar o sagrado viático aos enfermos, albergaria para os peregrinos e vagabundos em trânsito, e sala do despacho, onde tinham o arquivo; 1693, 17 Junho / 1703, 23 Maio - interrupção do tombo da Misericórdia; 1705, 14 Junho - alvará régio confirmando o usufruto dos mesmos privilégios da Misericórdia de Lisboa; 1734 / 1753 - a Misericórdia dispôs de mamposteiras nos concelhos de Baião, Mesão Frio, Pêso da Régua e Santa Marta de Penaguião, para recolherem donativos e servirem de procuradores da Mesa; 1773 / 1780, entre - construção do actual edifício do hospital, substituindo o primitivo, existente no mesmo local; 1806, 18 Outubro - Decreto determinando todas as Misericórdias do reino a regeram-se pelo Compromisso da de Lisboa, entretanto reformado; 1807, 18 Julho - Mesa decide não aceitar no hospital doentes que não fossem do concelho, pagando-se as cartas das guias a todos os outros para o hospital do seu domicílio, para o que se aplicariam metade das rendas anuais da casa; 1809, 11 Maio - tropas napoleónicas, durante a 2ª Invasão Francesa, incendiaram e saquearam a vila, destruindo parcialmente o hospital; a sua reedificação foi promovida pelo provedor António Botelho Camelo de Castro e Almeida; 1814 - Mesa faz petição para que o livro do tombo de 1689 substituísse os títulos destruídos, isto porque aquele livro escapara do incêndio provocado pelos franceses, por estar na altura em casa do Pe José d’Azevedo; ao incêndio escaparam também os "trastes" pertencentes à Botica, por estarem em casa de António Teixeira de Carvalho, da vila, e os pertencentes à Capela do Menino Jesus e dos Inocentes, instituída na Paroquial, e administrada pela Misericórdia; 1815, 6 Junho - Mesa administrativa delibera a demolição parcial da igreja devido à ruína causada pela invasão francesa; actualização do tumbado, passando os moradores da vila a pagarem 4$800 e os de fora da vila 6$000; 1817, 1 Setembro - ponderava-se que, para concluir naquele ano as obras do hospital, era necessário avisar os devedores para entregarem o dinheiro; 1820, 15 Agosto - a capela ainda não fora benzida e o hospital não estava satisfatoriamente apetrechado; 15 Setembro - Misericórdia determina que se fizesse um cemitério no adro da Santa Casa, fronteira ao hospital, para nele se enterrarem os defuntos que nele falecessem; 1871 - data dos Estatutos da Misericórdia; 1872 - volta-se a decidir não aceitar no hospital doentes que não fossem residentes ou naturais do concelho, bem como doentes com doenças crónicas que não tivessem cura; 1874 - proibia-se o ingresso de quaisquer doentes com sífilis, não só por ir ao encontro do regulamento da casa, mas também pela falta de enfermarias próprias para esse tipo de doenças; apesar destas proibições, a assistência a doentes em regime fechado ultrapassava a capacidade de atendimento; 1879, cerca - Álvaro Maria de Fornelos para invalidar o livro do tombo, roubou-lhe as folhas que continham os termos de abertura e encerramento; 1882, 12 Janeiro - os moradores de Mesão Frio apresentam queixa a D. João VI contra a actualização do tumbado, por a acharem pesada e arbitrária; 1898, 21 Setembro - instalação de água da rede pública; séc. 19, final / séc. 20, início - obras de remodelação e ampliação do hospital, para as quais Francisco Sampaio Moreira deu 3 contos de reis; 1909 - decide-se mudar a designação da enfermaria dos homens para Enfermaria Sampaio Moreira e colocar na mesma um retrato do benfeitor; 1910, 1 Outubro - Mesa delibera embelezar, transformar e arborizar o terreno pertencente à Santa Casa que ficava em frente do edifício do hospital e contíguo ao adro da Igreja de São Nicolau, de modo a que ficasse com este no mesmo plano e alinhamento; 1914 - criação de um Banco no hospital para consulta médica e oferta de remédios gratuitos aos pobres, visto a Santa Casa não poder recolher todos os que o procuravam; 1916 - até esta data, o funcionamento do hospital estava confiado a uma hospitaleira e, a partir dela, passou a assistir no hospital as religiosas da Ordem das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras de Imaculada Conceição; 2 Março - delibera-se proceder à sua electrificação; 1917, 2 Agosto - Mesa delibera comprar a D. Rita Gomes a casa e quintal contíguos ao edifício, de modo a construir um pavilhão de isolamento para doenças contagiosas; a transacção nunca chegou a realizar-se; 1918, 4 Julho - Mesa decide alargar o quintal e retira do edifício do hospital o depósito de lenha e palha para a casa comprada, bem como adaptar as lojas, então ocupadas como depósito, a enfermarias; 1918, final - transformação do cemitério em casa mortuária, devido ao mesmo ter deixado de ser usado; 1946, 20 Abril - publicação da Lei n.º 2011, que definiu o Plano de Construções Hospitalares; 30 Abril - por Decreto n.º 35621 é criada a Comissão de Construções Hospitalares, para execução do Plano de Construções Hospitalares; 1961, 1 Junho - data do regulamento do hospital; o hospital passou a dispor de "home care", de serviço de clínica geral, de cirurgia e da especialidade de otorrinolaringologia, oftalmologia e estomatologia; 1976, finais - nacionalização do hospital; 1981, 20 Junho - entronização do Santíssimo Sacramento na capela; celebração de missa por alma de Francisco Sampaio Moreira Júnior, filho do benemérito Francisco Sampaio Moreira que custeou as obras de remodelação e ampliação; 1987, 6 Janeiro - aprovação dos Estatutos pelos quais se rege actualmente a Misericórdia; 1990, década - depois de devolvidos os bens do hospital, a Misericórdia decidiu transformá-lo em "hospital de retaguarda"; 1992, 18 Fevereiro - reforma das armas da Misericórdia; 19 Julho - encerramento do hospital pelo Estado; saída das irmãs Franciscanas Hospitaleiras tendo-se fechado o hospital; |
Dados Técnicos
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Sistema estrutural de paredes portantes. |
Materiais
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Estrutura de granito, rebocada e pintada; molduras dos vãos, frisos e cornijas, pilastras, fogaréus, escadas e pavimento do vestíbulo em cantaria de granito; caixilharia e portas pintadas; pavimentos em oalho de madeira, tijoleira; tectos de madeira ou estuque; silhares de azulejos; cobertura de telha. |
Bibliografia
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Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1952, Lisboa, 1953; NORONHA, Remo de, Misericórdia de Mesão Frio. Alguns subsídios para a sua história, 1560 - 1958, Lisboa, 1959; AZEVEDO, Correia de, Património Artístico da Região Duriense, Porto, 1972, p. 20; Fundação Calouste Gulbenkian, Guia de Portugal, Lisboa, 1987, vol. 5, Tomo I, p. 291; IPPAR, Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado, vol. 3, Lisboa, 1993; DIAS, António Gonçalves, Monografia Simplificada da Misericórdia de Mesão Frio, Mesão Frio, 1993; DIAS, António Dias, Fastos de Mesão Frio, Porto, 1999; Manuel Silva GONÇALVES, GUIMARÃES, Paulo Mesquita, Cinco séculos de Misericórdia no Distrito de Vila Real, in Estudos Transmontanos e Durienses, vol. 8, Vila Real, 1999, pp. 115-140. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID |
Documentação Administrativa
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IHRU: DGEMN/DSID |
Intervenção Realizada
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DGEMN: 1928, 27 Abril / 1953, 27 Abril - Obras de remodelação e ampliação, pela Comissão de Construções Hospitalares. |
Observações
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Para a realização dos funerais existiam duas tumbas, uma de veludo e brocado, e outra de pau limpo com um pano de gorgorão preto, com xabasto de brocatel, para o enterro dos pobres. Pela utilização da tumba e pela presença da Irmandade nos funerais, a família do falecido pagava o chamado "tumbado da Santa Casa", espécie de contribuição para os cofres da Misericórdia. Estavam isentos apenas os irmãos de primeira condição e os meninos que não eram de sacramento. Os irmãos mesários estavam isentos de conduzir a tumba. |
Autor e Data
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Isabel Sereno e Ricardo Teixeira 1994 / Paula Noé 2008 |
Actualização
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