Ermida de Nossa Senhora de Entre-Águas / Santuário de Nossa Senhora de Entre-Águas

IPA.00004563
Portugal, Portalegre, Avis, União das freguesias de Benavila e Valongo
 
Igreja de peregrinação implantada em zona privilegiada, na confluência de duas ribeiras, unidas, desde o séc. 20, na albufeira da barragem do Maranhão, rodeada por água e constituindo uma excelente zona para desportos náuticos e de lazer. A zona, particularmente fértil, possui vários vestígios da presença romana na região, como a antiga ponte, submersa pelas obras da barragem, mas destacando-se particularmente o cipo romano que integra a estrutura da capela, com inscrição funerária, interpretada erroneamente por alguns autores como uma alusão à divindade local Lobesa, relacionada com o culto da água e da fertilidade da terra. Esta persistência, reutilizada na fachada posterior da capela-mor, revela a existência de uma área de sepultamento no local. Aliás terá existido o reaproveitamento de materiais existentes no local, pois as paredes da capela são parcialmente construídas com silharia de granito de dimensões consideráveis, tipicamente romanas, nada usuais neste zona, onde abunda o xisto. O templo tem uma construção medieval, de que subsistem as três naves com arcos apontados a dividi-las, exceto no topo fundeiro, em arco de volta perfeita, e revelando talvez uma ampliação, os amplos pilares das naves, o campanário duplo e de remate angular, muito utilizado ao longo dos sécs. 15 e 16, e os vãos de arestas biseladas. O campanário encontra-se implantado perpendicularmente à fachada principal do templo, obstruindo, na atualidade, parte da galilé, edificada em período posterior, no final do séc. 17, como surge documentado numa lápide. Contudo, esta solução de envolvência do templo por uma galilé é medieva, revelando uma persistência de gosto e correspondendo à necessidade de albergar os peregrinos no local. As obras do séc. 17 foram várias, com a construção de vãos que iluminassem o interior da capela-mor e a introdução de óculos circulares no topo das empenas. Ainda desta data, será o púlpito em alvenaria e com guarda plena. No final do séc. 18, o edifício recebe uma campanha decorativa, com a feitura das três estruturas retabulares, em alvenaria pintada de marmoreados fingidos, com decoração rococó, com concheados e asas de morcego e remates em espaldares de perfis recortados, apresentando apontamentos decorativos dourados. No pavimento, mantêm-se sepulturas com inscrições legíveis. Adossada a um pilar junto ao portal axial, surge uma pia de água benta bastante antiga, ornada por pequena carranca.
Número IPA Antigo: PT041203040002
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta poligonal composta por três naves apenas com marcação interior, antecedidas por galilé, por capela-mor, sacristia e campanário, de volumes articulados e escalonados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas sobre a nave, capela-mor, sacristia e galilé a O., e de uma água sobre a galilé a S.. Fachadas em alvenaria rebocada e pintada de branco, com os elementos arquitetónicos, socos e molduras pintados a amarelo. Fachada principal virada a O., marcada pelo corpo da galilé, sobre o qual é visível a empena da fachada do templo, rematado em empena com cornija na zona central e cruz latina sobre dado no vértice; é rasgada por um arco central, de volta perfeita, assente em impostas salientes, de acesso ao espaço, ladeado por inscrições e por quatro, também de volta perfeita, mais pequenos, assentes em pilares, o do lado direito em cantaria e de arestas biseladas, sobre muretes. O interior da galilé tem cobertura em vigamento de madeira e pavimento em tijoleira, prolongando-se pela fachada S., rasgada por seis arcos de volta perfeita, os cinco primeiros separados por pilares e assentes sobre um murete e o sexto mais elevado, de acesso ao espaço; no lado N., a galilé é rasgada por um arco de volta perfeita sobre murete. O portal axial é em arco abatido com molduras chanfradas pela colocação de sucessivos rebocos, encimado por óculo circular, sobre a cobertura da galilé, permitindo a iluminação direta do interior, e tendo, no lado esquerdo, lápide com inscrição. No espaço da galilé, surge, perpendicular à fachada do templo, a parede do campanário, com acesso por escadas de alvenaria, rematada em empena e com duas sineiras de volta perfeita. No lado direito, abre para a galilé uma porta travessa de verga reta e uma segunda que liga ao corpo adossado da sacristia; o espaço é ocupado por bailéu em alvenaria. A fachada lateral esquerda tem adossada uma habitação, a antiga casa do ermitão, rasgada por vãos retilíneos; no corpo da capela-mor, uma janela retilínea. Fachada lateral direita marcada pelo corpo adossado, cego. Fachada posterior de dois panos, o da capela-mor em empena cega e, o do lado esquerdo, mais baixo, é rematado em empena reta e rasgado por pequena janela retilínea. INTERIOR com as naves separadas por quatro arcos, o primeiro, de volta perfeita, descarrega sobre a parede fundeira e sobre um pilar de secção quadrada, os restantes, apontados, assentes sobre pilares em granito, de secção quadrada, chanfrados. As paredes são rebocadas e pintadas de branco, com tetos em vigamentos de madeira, reforçado por tirantes do mesmo material, e pavimento cerâmico, integrando cinco sepulturas. No primeiro pilar do lado da Epístola, surge uma pia de água benta assente sobre uma coluna caiada, marcada por uma carranca ao centro e bacia circular; no terceiro pilar do mesmo lado, púlpito em alvenaria pintada de branco e cantaria de granito, semicircular e com guardas plena em alvenaria, de bordo saliente. A porta travessa possui perfil em arco, ladeada por banco em alvenaria e tijoleira e, do lado oposto, uma pia de água benta, em forma de concha, sobre um colunelo adossado à parede. Arco triunfal de volta perfeita, assente sobre pilastras toscanas, pintadas de marmoreados fingidos, com cartela saliente encimada por cruz latina; sobre este, óculo circular. Está ladeado por dois arcos de volta perfeita, contendo as capelas colaterais, dedicadas a Santa Catarina (Evangelho) e Nossa Senhora da Encarnação (Epístola). Capela-mor sobrelevada, com paredes rebocadas e pintadas de branco e sanca em estuque com molduras pintadas de amarelo, de onde arranca a cobertura em falsa abóbada de berço, rebocada e pintada de branco; pavimento em lajeado de granito. Sobre supedâneo de um degrau, o retábulo-mor, em alvenaria policroma, com marmoreados fingidos e dourado, de planta convexa e três eixos definidos por quatro colunas de fustes lisos marmoreados e capitéis coríntios dourados, assentes em dados. Ao centro, nicho de volta perfeita com múltiplas molduras e contendo a imagem da Senhora. Os eixos laterais formam apainelados com marmoreados e dourados, formando motivos fitomórficos. A estrutura remata em entablamento, interrompido na zona central por espaldar ladeado por quarteirões, contendo amplo painel com moldura de acantos e rocalhas, rematando em cornija contracurva, de perfil abatido. Altar em forma de urna . No lado da Epístola, a porta de verga reta, de acesso à sacristia, de planta retangular, com cobertura de uma água com vigas de madeira e pavimento de tijoleira.

Acessos

EN 370, no sentido Benavila - Seda, do lado esquerdo, no topo N. da ponte sobre a Ribeira de Sarrazola

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG, 1.ª série, n.º 136 de 23 junho 1910 (Lápide da Igreja)

Enquadramento

Isolado, implantado numa ligeira elevação junto à EN 370, entre as ribeiras de Seda e Sarrazola que se aqui se juntam, na albufeira da Barragem do Maranhão (v. IPA.00028382), dando o nome à padroeira, da Senhora de Entre Águas. Está em local privilegiado do ponto de vista paisagístico, com ótima vista sobre a albufeira e com grandes potencialidades em termos de desportos náuticos e de pesca desportiva. Está envolvido por um pequeno terreiro arborizado, pontuado por bancos destinados a piqueniques, onde se inscreve um pequeno adro protegido por muretes em alvenaria, rebocada e pintada de branco, pontuado por árvores de médio porte. Junto à cabeceira, foram encontrados vestígios de algumas sepulturas. A galilé encontra-se envolvida por canteiros de flores.

Descrição Complementar

No exterior, surge um CIPO romano com a inscrição: "LOBESA. LOVES. IF . NA . L . HS . EST . ST . TL" (KEIL, 1943) Tradução [Lobesa filha de Lovésio, de cinquenta anos está aqui sepultada. Que a terra te seja leve]. A ladear o ACESSO À GALILÉ, surgem duas lápides, a do lado esquerdo delida e, a do lado oposto, a inscrição: "ESTA ObRA MAN / DOU . FAZER . O . R(everen)DO / P(adr)E. IOAM. . FORTIO. A / CUSTA . DA . S(enho)Ra . HE / [...] DEVOTOS . NO / ANNO. DE . 1696". Sobre o arco de acesso, a inscrição: "20-12-1962". No lado esquerdo do PORTAL, a inscrição: "NO ANO DE 1963 / FOI ESTA IGREJA / RESTAURADA NO PAVIMENTO / TELHADOS R ALTARES / POR GENEROSA OFERTA / DE UM FILHO DESTA TERRA / ANTONIO PRATES PINA". No PAVIMENTO DA NAVE, sepulturas com as inscrições: "S(epultura) DE FERNÃO DAº / DA RIBRª DA GÁV / EIA Q AIA GLO / RIA CAVALLRº DELL / REI NOSSO SÕR / EM DOBRIGAÇÃO SEIS MISAS NAS S / ESTAS FR AS DE CO / RESMA DE CADA / ANO CÕ REPÔSO / CÃTADO E AS MIS / AS DA PAIXÃO"; uma delida com a inscrição: S(epultura) DO". Surge a terceira: "S(epultura) DO DOUTOR P(edr)O GAR / CIA PENOVO PREVE / DOR E CORREGEDOR / QUE FOI DE SUA MA / G(esta)DE E DE SUA MO(lher) DO / NA GIOMAR DE PA / S E DE S(eus) ERD(eir)OS";"S(epultura) DE ANT(Oni)O MORATO";"S(epultura) DE PEDRO F(e)R(nande)Z CAPITÃO / E DE SEUS ERD(eir)OS"; "AQUI IAZ FER / NÃO RO(dr)I(gue)Z BROTO / CÕ MISA / COTIDIANA PERA SEMPRE". Os RETÁBULOS COLATERAIS são semelhantes, em alvenaria pintada de marmoreados fingidos e dourados, de planta convexa e um eixo definido por duas colunas de fustes lisos e marmoreados e capitéis coríntios dourados, assentes em dados. Ao centro, nicho de perfil contracurvo, com florão no fecho. A estrutura remata em cornija de perfil curvo, encimada por espaldar curvo e encimado por cornija, ornada por acantos e enrolamentos, formando falsa cartela. Altar em forma de urna, com cartela central ornada por elementos fitomórficos.

Utilização Inicial

Religiosa: ermida

Utilização Actual

Religiosa: santuário

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Évora)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 15 / 17 / 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

370 - segundo a tradição, provavelmente baseada na inscrição patente no cipo romano encastrado na parede do templo, ocorre a construção de um primeiro templo paleocristão; séc. 15 - 16 - construção da ermida, segundo alguns para funcionar como igreja paroquial; 1696 - remodelação da fachada e construção da galilé; 1708 - segundo o Padre Carvalho da Costa, a vila de Benavila tem as capelas de São Domingos, de São Pedro e de Nossa Senhora de Entre as Águas, com imagem milagrosa e com grande romagem; 1718 - segundo Frei Agostinho de Santa Maria, a imagem é de vulto, pintada a óleo, e com vestido adornado por estrelas douradas e cingido por correia larga; tem o Menino que segura na mão uma pombinha; a festa ocorre no dia da Santíssima Trindade; 1758, 08 maio - nas Memórias Paroquiais é referida a imagem como sendo milagrosa, havendo romarias e festas na primeira sexta-feira de março, no dia da Encarnação e no domingo da Trindade, a que se obrigavam a ir os oficiais da vila; tem um ermitão e missas todos os sábados; séc. 18, final - obras de renovação estética, com a colocação dos retábulos; 1958 - construção da Barragem do Maranhão, obra pensada desde o séc. 19, conforme projeto do arquiteto Chorão Ramalho, sendo as estruturas do engenheiro Edgar Cardoso; 2013 - projeto de qualificação da zona envolvente da capela, com arranjo da zona de piqueniques, pavimentação do adro, construção de uma plataforma de acesso à albufeira e de uma zona de estacionamento, que será financiado pela paróquia e pela Fundação Abreu Callado.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria rebocada e pintada; pilares da nave e da galilé, pavimento da capela-mor, lápides sepulcrais, pia de água benta em cantaria de granito; tetos, portas, mobiliário de madeira; pavimento da nave e sacristia em tijoleira; coberturas exteriores revestidas a telha.

Bibliografia

COSTA, Padre António Carvalho da - Corografia Portugueza... Lisboa: Valentim da Costa Deslandes, 1708; KEIL, Luís - Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Portalegre. Lisboa: Academia Nacional de Belas-Artes, 1943; LOURO, Henrique da Silva, Freguesias e capelas curadas da Arquidiocese de Évora (séc. XIV - XX). Évora: s.n., 1974; MARIA, Frei Agostinho de Santa - Santuário Mariano... Lisboa: Antonio Pedrozo Galram, 1718.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMS

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, SIPA; Associação de Reitores dos Santuários de Portugal / Paulinas

Documentação Administrativa

DGLAB/TT: Memórias Paroquiais, vol. 7, n.º 2, fls. 723-728

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1963 - restauro do pavimento, telhados e altares por oferta de António Prates Pina, natural de Benavila.

Observações

Autor e Data

Rosário Gordalina 1992 / Domingos Bucho 1998 / Helena Mantas e Marta Gama 2002

Actualização

 
 
 
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