Solar da Quinta das Canas

IPA.00004239
Portugal, Coimbra, Coimbra, União das freguesias de Santa Clara e Castelo Viegas
 
Arquitectura civil, vernácula. Habitação de planta em U, alçados de grande simplicidade e vãos rectangulares com janelas de guilhotina; possui alameda até ao portão e fachada posterior virada ao rio, e frondoso parque em plano inferior com escadarias proporcionando efeito cenográfico.
Número IPA Antigo: PT020603160046
 
Registo visualizado 93 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  Tipo planta em U

Descrição

Planta composta, em U, com entrada principal através do corpo central a O., e fachada com escadaria sobre o parque e rio, a E.. Volumes articulados em função do corpo principal e da alameda que lhe fica em frente; massas dispostas na horizontal; cobertura diferenciada em telhado de 3 e 4 águas com mansarda, nas alas laterais e no corpo central, respectivamente. Acesso principal a O. com porta de arco redondo sob alpendre de murete e entrada axial com 4 colunas toscanas, as centrais sobre pedestal de pedra, as laterais sobre o murete; a cada lado do alpendre uma porta como as restantes; no telhado abrem-se 2 janelas de mansarda acima daquelas portas. Casa rodeada por áreas ajardinadas. A O., situa-se alameda com relva, plátanos e fonte esculpida ao centro, a Fonte da Primavera. À direita do portão, pelo lado de dentro, existe o largo e fonte António Feliciano de Castilho; do lado contrário da primitiva entrada, encontram-se várias construções, destacando-se o antigo pombal, de corpo cilíndrico, em 2 registos e vãos de arco redondo. Após a entrada actual, desenvolve-se a área arranjada e ajardinada pela Guarda Fiscal. No muro de resguardo e suporte do terreno, com 2 bancos adossados, revestidos a azulejo, de costas para a cidade, sobre plintos, erguem-se 3 estátuas representando a Arquitectura, o Inverno e a Ásia. Ao lado da fachada N. da casa, em direcção ao rio, sobre plataforma com vista para a propriedade rústica, Santa Clara e cidade de Coimbra, uma pérgula de construção recente.

Acessos

EN 110-2, nas Lages, a cerca de 2 km de Coimbra

Protecção

Enquadramento

Rural. Na margem esquerda do Mondego, assente em plataforma natural a dominar visualmente o território da quinta, o Mondego e a cidade de Coimbra, Santa Clara e povoação das Lages, da qual a quinta é separada por muro junto à estrada. Acesso à Quinta por ampla passagem, recentemente feita pela Guarda Fiscal, no muro, ao lado da antiga entrada. Sobre aquela o brasão dos primeiros proprietários da Quinta, os Sás Pessoas *1, entre a verga e frontão curvo interrompido, ladeado por dois fogaréus. Entre a margem esquerda do Mondego e a casa implanta-se o jardim de aniversário de casamento dos Condes, a Lapa dos Esteios e o ancoradouro privativo (v. IPA.00010366).

Descrição Complementar

As fachadas das alas laterais, articulam-se segundo 2 corpos escalonados, sendo o médio mais baixo que o principal; entrada principal sob alpendre com duas colunas no corpo médio de um lado e de outro. Fachada S., dividida em 3 secções de parede e 2 registos, o inferior com porta e 2 janelas rectangulares e o superior com 8 janelas rectangulares. Na fachada N., os registos variam consoante os corpos, que definem áreas de parede; 2 registos no pano correspondente ao corpo principal, com porta rectangular e 3 janelas com grades de ferro, em baixo, 3 janelas em cima; acima destas, para o lado do ângulo, 2 mansardas com varandim em ferro; 2 registos no corpo seguinte, com porta rectangular com acesso por escadaria de 2 lanços ladeada por 2 janelas em baixo e 3 janelas em cima; no telhado janela de mansarda; secção seguinte num registo com 6 vãos rectangulares, sendo dois, portas com acesso por escadaria. Fachada E., ou fachada posterior, virada ao rio, com 8 vãos rectangulares, 2 dos quais portas na parte central; no telhado, 2 janelas de mansarda; na parte inferior a N. das portas, 3 postigos rectangulares de ventilação às caves; descendo por escadaria com patamar e 2 lanços laterais, protegida por grade de ferro, acede-se a pequeno jardim geométrico e para o parque romântico, a Lapa dos Esteios, por outra escadaria idêntica à primeira; debaixo do patamar da primeira escadaria, ao centro, uma pequena gruta artificial com pia para segurar as águas. Interior adaptado às instalações da Guarda Fiscal; o acesso principal do edifício ao salão nobre; à esquerda porta de acesso à capela privativa, de planta rectangular (c. de 10 m2) com altar e retábulo de talha dourada policromada e tela pintada ao centro. FONTE DA PRIMAVERA: no centro da alameda fronteira à casa, tem como elemento principal a escultura da Primavera, figura feminina que segura sobre a cabeça um jarro de flores assente sobre pedestal com 4 figuras de meninos; uma bacia quadrilobada com 4 gárgulas antropomórficas deixa escorrer água para tanque também quadrilobado com decoração em relevo do qual sai uma coluna formada por 4 colunelos cilíndricos, encostados entre si, que serve de base de apoio do conjunto. FONTE DE CASTILHO: adossada ao muro da vedação, logo ao lado do portão principal, exibe efígie esculpida em relevo e inscrição AO CANTOR DA PRIMAVERA, A. F. DE CASTILHO, dentro de medalhão de pedra, acima da bica da fonte que centrada num coração que despeja água para bacia semicircular e desta para tanque de configuração idêntica, com decoração em relevo; o coroamento do medalhão e da efígie é feito por um frontão interrompido com um busto de anjo inscrito; no largo em frente à fonte, encontram-se 4 esculturas sobre plintos: a Fé, a Esperança, a Caridade e um santo com um cilício. LAPA DOS ESTEIOS: área ajardinada repleta de inscrições lapidares junto ao rio; acesso pelas traseiras da casa através de escadaria, ou pelo muro da vedação à direita do antigo portão principal passando pela fonte de Castilho; a vegetação desenvolvem-se em larga escala junto ao rio; nas rochas estão fixadas lápides com inscrições evocativas ou poéticas. No jardim do vigésimo aniversá rio do casamento dos Condes vê-se placa de pedras com letras pintadas a negro onde se lê: OS CONDES DA QUINTA DAS CANAS / A DEUS AGRADECIDOS, / MANDARAM LAVRAR ESTA MEMORIA / COMEMORANDO O DIA 17 DE JUNHO / DO ANNO DE 1875, VIGÉSIMO / ANIVERSARIO DO SEU CONSORCIO CONTRAIDO EM IGUAL DIA E MES DO ANNO DE 1855. Por carreiros entre árvores e arbustos, à beira do rio, deixando para trás recantos com bancos revestidos de azulejos, chega-se ao Lg. da Palmeira, lugar de convívio em dias de festa, com grande árvore ao centro e bancos; próximo, atravessando porta, chega-se à plataforma do porto privativo, cavada na rocha e com inscrição: AQUI CELEBROU A. F. DE CASTILHO / COM OS SEUS AMIGOS / A FESTA DA PRIMAVERA: / DONDE AO SITIO SE MUDOU O NOME / DE LAPA DOS ESTEIOS NO DE LAPA DOS / POETAS. / AQUI VOLTOU / AO QUADRAGESIMO ANNIVERSARIO DA FESTA / DE MAIO / NA DO MESMO MEZ DO ANNO DE 1862. / ESTA MEMORIA, / PARA CONVITE E INCENTIVO PERPETUO / AOS CISNES DE COIMBRA, / A MANDARAM AQUI POR / NO SUPRA CITADO ANNO / DR. JOSÉ MARIA DE VASCONCELOS AZEVEDO SILVA CARVAJAL / E / GONÇALO TELLO DE MAGALHAES COLLAÇO. A Lapa dos Esteios é uma grande rocha saliente que abriga pequeno largo, com banco corrido por debaixo da rocha e bancos revestidos com azulejo; uma das inscrições evocativas que ali se encontram: NO DIA 4 DE MARÇO DO ANNO DE 1872 / FOI ESTA LAPA DOS POETAS HONRADA COM A VESITA / DE S. M. I. O SR. D. PEDRO II DO BRAZIL / QUE DAQUI LEVOU ALGUMAS FOLHAS DE HERA / PARA MEMORIA. / ESTE PADRAO MANDARAM AQUI POR / OS CONDES DAS CANNAS / 15 D' ABRIL DE 1872. Num recanto a seguir, ornamentado com bancos e bacia de água, pregada no muro da cerca, uma placa relembra nomes e momento em que 6 poetas e redactores do Trovador recordaram os 22 anos passados desde que Feliciano de Castilho e jovens poetas do grupo ali evocaram as musas inspiradoras: JOÃO DE LEMOS _ NAS AZAS DA POESIA / A. M. COUTO MONTEIRO _ AQUI NOS TROUXE A AMIZADE / J. FREIRE DE SERPA _ CANTAMOS NAS LYRAS D'OIRO / L. DA COSTA PEREIRA _ ESPRANÇAS DA MOCIDADE / A. X. R. CORDEIRO _ E AOS BARDOS DA PRIMAVERA / AUGUSTO LIMA _ MANDAMOS UMA SAUDADE / 24 DE JUNHO DE 1844.

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Segurança: posto da Guarda Nacional Republicana (GNR)

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Ministério da Administração Interna

Época Construção

Séc. 17 (conjectural)

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

1623 - Eloy de Sotto Mayor canta e exalta em Ribeiras do Mondego a Lapa dos Esteios; pelos vestígios encontrados, do final do séc. 17, nomeadamente as esculturas do largo de Castilho e da Fonte da Primavera, é possível afirmar que a casa seja daquela época; 1820 (década) - a Quinta passa a ser propriedade da família Melo Freire de Bulhões, por extinção da linhagem dos primeiros nobres proprietários, os Sás Pessoas, em 1809; 1822 - no início da Primavera e 1º de Maio, António Feliciano de Castilho, celebrou com 11 companheiros, poetas e escritores, as festas de Primavera e de Maio, o que haveria de ligar à Academia e aos estudantes de Coimbra, a Lapa dos Esteios ou dos Poetas; 1844, 24 de Junho - ali comemoraram Castilho e a festa da Primavera, 6 poetas, redactores do Trovador; 1855, 11 de Julho - D. Maria Isabel de Melo Freire de Bulhões, a Condessa das Canas, casa com D. José Maria de Vasconcelos Azevedo e Silva Carvajal, na capela da casa; 1862, 1 de Maio - Castilho volta à Lapa para comemorar 40ºaniversário do 1º de Maio; 1872, 4 de Março - D. Pedro II, do Brasil, visita a Quinta e Lapa dos Esteios; 1879, 15 de Maio - morre D. José Maria de Carvajal; 22 de Agosto - falecia D. Maria Isabel; segundo testamento da Condessa, a Quinta passa para a família Mancelos Ferraz, o Dr. Luís Augusto de Mancelos Ferraz, primo de D. Maria Isabel; 1883, 23 de Janeiro - Quinta vendida a Francisco Barreto Chichorro e sua mulher, D. Maria Isabel Gonzaga de Carvalho e Brito; 1899, 6 de Novembro - vendem-na ao Conselheiro José Dias Ferreira; 1902, 27 de Junho - a Quinta passou para o Dr. Augusto Dias Ferreira, casado com D. Luciana Croft de Moura, e suas irmãs, Eugénia Dias Ferreira, casada com António Maria Bartolomeu Ferreira e Amélia Albertina Dias Ferreira, casada com Manuel Croft de Moura; 1908, 10 de Abril - os Croft de Moura passaram a Quinta a D. Carlota de Serpa Pinto Santos Moreira, casada com Eduardo dos Santos Moreira de Sousa Pinto, moradores em Lisboa; 1919, 30 de Janeiro - estes vendem a Quinta a D. Angelina Alves de Melo, de Tourais - Seia, que a lega a D. Margarida Pereira Rosa Lizardo Alves de Melo e a D. Helena Costa Alves de Melo, sobrinhas; 1979, 22 de Novembro - em ruínas, acrescida e alterada com mais um prédio, a Quinta é vendida à Guarda Fiscal, que a recuperou totalmente; 1980, 1 de Março - começam obras de recuperação e adptação da Quinta para instalação do 4.º Batalhão da Guarda Fiscal; 1993, Junho - extinta a Guarda Fiscal, as instalações mudam para Brigada Fiscal da GNR.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Alvenaria de pedra rebocada (paredes exteriores); telha cerâmica de canudo e estrutura de madeira (cobertura geral); pedra calcária colunas (vãos e escadas exteriores); ferro (guardas das varandas); madeira envernizada (caixilharias fachada principal); alumínio lacado (caixilharias fachadas); alvenaria revestida a azulejo de padrão (bancos do jardim da Lapa).

Bibliografia

SOTTO MAYOR, Eloy de Sá, Ribeiras do Mondego, Coimbra, 1932 1ª ed. 1623); LEAL, Augusto Soares de Azevedo Pinho, Portugal Antigo e Moderno, vol.5, Lisboa, 1875; Ibidem, vol.8, Lisboa, 1878; PEREIRA, Esteves e RODRIGUES, Guilherme, Portugal, vol.3, Lisboa, 1907; Ibidem, vol.6, Lisboa, 1912; DIONÍSIO, SantÁna e outros, Guia de Portugal. Beira Litoral, vol.3, tomo 1, Lisboa, 1944 (2ªed., Lisboa, 1984); CORREIA, Vergílio e GONÇALVES, Nogueira, Inventário Artístico de Portugal. Cidade de Coimbra, Lisboa, 1947; AZEVEDO, Carlos, Solares Portugueses, Lisboa, 1969; NUNES, Mário, e FRANÇA, Pedro, A Lapa dos Esteios. Subsídios para a sua História, Munda, nº25, Maio de 1993.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

GF (Guarda Fiscal): 1980 - recuperação e adaptação do imóvel e anexos para novos usos da GF.

Observações

*: Proposta de delimitação da Zona Especial de Protecção da Lapa dos Esteios, jardim com os objectos nele integrados, aprovada por despacho de 2007.07.12 da Exmª. Senhora Subdirectora do IGESPAR, I.P.; *1 - Composição do Brasão: Escudo partido: 1, Pessoas (azul com 6 crescentes de ouro, 2, 2 e 2; bordadura de negro, bordada interiormente a ouro e carregada de 8 estrelas de 5 raios de prata); 2, Sás (xadrezado de prata e de azul, de 6 peças em faixa e 5 em pala). Possui coronel de nobreza supostamente de Conde, bastante deteriorado, não deixa ver timbre. Os Sás Pessoas descendem de D. Madalena de Sá Pessoa, do vínculo dos Pessoas de Montemor-o-Velho, administradora da Capela de Santa Catarina, na igreja de São Martinho, na vila, e marido João Vaz da Cunha, senhor da Honra de Antanhol e tronco dos futuros Viscondes de Maiorca. A filha D. Isabel Sá Pessoa e bisnetos, não deixaram descendentes nem contraíram aliança a mencionar. D. Isabel Maria Pessoa de Sá Figueiredo e Cunha, último possuidor faleceu a 23 Abril 1809. Melos Freires de Bulhões: oriunda de Arganil aparece na Quinta por volta dos anos 1820. Família dominante de Arganil, com casa nobre de origem e capela privativa e perpétua na Igreja Matriz da Vila (NUNES e FRANÇA, 1990).

Autor e Data

Francisco de Jesus 1998

Actualização

 
 
 
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