Igreja Paroquial da Cumieira / Igreja de Santa Eulália

IPA.00004151
Portugal, Vila Real, Santa Marta de Penaguião, Cumieira
 
Arquitectura religiosa, barroca e rococó. Igreja paroquial de planta longitudinal composta de nave e capela-mor, mais baixa e estreita, interiormente bem iluminada por janelas laterais e axiais e com tectos de perfil curvo, tendo sacristia adossada à fachada lateral esquerda. Fachadas com cunhais apilastrados, coroados por pináculos e terminadas em duplo friso e cornija; a principal termina em frontão triangular e é rasgada por portal de verga recta, entre pilastras de capitéis jónicos suportando duplo entablamento e nicho com imagem do orago, entre aletas e pilastras, ladeado por duas janelas de molduras almofadadas. Torre sineira recuada de três registos. Fachadas laterais rasgadas por porta travessa de verga recta encimada por frontão triangular e janelas de capialço, na nave e na capela-mor, e a posterior cega terminada em empena. No interior possui coro-alto de madeira, duas capelas laterais com retábulos de talha dourada nacional, de planta recta e corpo côncavo de um eixo, dois púlpitos confrontantes, de bacia rectangular sobre mísula e guarda em talha dourada rococó, duas capelas retabulares revestidas e albergando retábulos de talha dourada de transição do joanino para o rococó, e duas capelas colaterais, também de transição, que evoluem em apainelados de talha enquadrando o arco triunfal, sobre pilastras almofadadas, de intradorso pintado. Na capela-mor, separada da nave por teia em madeira exótica rococó, o retábulo-mor, em talha dourada joanina, tem planta côncava e três eixos.
Número IPA Antigo: PT011711020004
 
Registo visualizado 419 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal composta por nave única e capela-mor e corpo para albergar a tribuna do retábulo, sucessivamente mais baixos e estreitos, tendo adossada à fachada lateral esquerda torre sineira quadrada e sacristia rectangular. Volumes escalonados com coberturas em telhados de duas águas na igreja, de três na sacristia e em coruchéu piramidal, rebocado e pintado de branco, na torre sineira. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com embasamento de cantaria, pilastras nos cunhais, na igreja coroados por pináculos galbados gomeados com bola, sobre plintos paralelepipédicos, e terminadas em duplo friso e cornija, sobreposta por beirada simples. Fachada principal virada a O., com as pilastras almofadadas e de capitel dórico, terminada em frontão triangular de remate horizontal e sobrelevado, coroado por cruz latina de cantaria entre pináculos galbados com bola sobre plintos paralelepipédicos. É rasgada por portal de verga recta, entre pilastras almofadadas com capitéis de inspiração jónica ao nível do entablamento, que é sobreposto, ao centro, por cartela inscrita com 1729, envolta por elementos volutados e concheados; é encimado por duplo jogo de friso e cornija recta, o primeiro friso ornado de florões e flores-de-liz e o segundo por losangos relevados em almofadas, sobreposto por nicho albergando imagem pétrea do orago; o nicho tem arco de volta perfeita sobre pilastras almofadadas, interiormente concheado, e ladeado de aletas que evoluem superiormente e se ramificam em elementos fitomórficos, interrompendo a cornija do frontão da fachada, e pilastras, também almofadadas. Ladeando o nicho, abrem-se duas janelas rectangulares, com molduras almofadadas. À esquerda, dispõe-se a torre sineira, recuada, com três registos separados por duplo friso ou apenas friso e cornija, com as pilastras coroadas por bolas e tendo nos cunhais gárgulas de canhão; é rasgada, no primeiro registo, a O., por janelo rectangular, moldurado, e, a E., por porta de verga recta e moldura simples, e no segundo registo, a N., por um outro janelo mais pequeno; em cada uma das faces tem sineira, em arco de volta perfeita sobre pilastras, albergando sino. Nas fachadas laterais abrem-se, na nave, porta travessa de verga recta, encimada por frontão triangular, com almofadas da porta ornadas de florões entalhados, e duas janelas de capialço, na capela-mor uma janela igual, e no corpo da tribuna uma fresta; na lateral esquerda, a nave possui ainda portal sobrelevado, de acesso ao púlpito, precedido por escada de pedra adossada, sem guarda; a sacristia, terminada em cornija e beirada simples, é rasgada a O. por porta de verga recta sem moldura, a N. por quatro frestas e a E. por janelo, todos gradeados. Fachada posterior da capela-mor cega e terminada em empena, coroada por cruz latina de braços rectangulares terminados em botão, sobre plinto paralelepipédico. INTERIOR com paredes rebocadas e pintadas de branco, pavimento em lajes de cantaria e tectos de madeira, de perfil curvo, assentes em friso e cornija de cantaria, pintada a marmoreados fingidos; os vãos laterais, púlpitos e retábulos são encimados por sanefas de talha dourada, com espaldar recortado, ornado de concheados, terminado em cornija e com remate em lambrequim. Nave com coro-alto de madeira, guarda em balaustrada, acedido por porta de verga recta, no lado do Evangelho, através da torre sineira. No sub-coro, o portal, protegido com guarda-vento de madeira envidraçada, é ladeado por duas pias de água benta cilíndricas e exteriormente gomeadas. No lado do Evangelho dispõe-se pia baptismal cilíndrica, decorada exteriormente por gomos largos e, sob o vão do antigo fecho, por flor-de-liz, sobre pé canelado, assente em soco quadrado. No início da nave, parcialmente sob o coro, abrem-se duas capelas laterais, confrontantes, com arco de volta perfeita sobre pilastras toscanas, ambos almofadados, integrando retábulos de talha dourada, de planta recta e um eixo, ladeados por pequeno nicho de alfaias, de perfil curvo. Junto às portas travessas, ladeadas por pias de água benta gomeadas, dispõem-se dois púlpitos confrontantes, de bacia rectangular, sobre mísula, pintada a marmoreados fingidos a rosa, com guarda plena em talha dourada, decorada com pilastras laterais com florões e elementos fitomórficos, e almofada central inferiormente recortada e ornada de querubim, elementos fitomórficos e concheados; o do lado do Evangelho é acedido por porta de verga recta, com moldura simples, e o oposto tem moldura e porta fingida, pintada com almofadas de acantos. Seguem-se duas capelas laterais, em arco de volta perfeita, revestidas a talha dourada, e contendo estrutura retabular, também em talha dourada. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras almofadadas, de intradorso apresentando vestígios de pintura mural composta por elementos fitomórficos dispostos verticalmente e florões. É ladeado por dois retábulos colaterais, de talha dourada, de um eixo, os quais se prolongam sobre o arco triunfal, em apainelados de talha dourada com fragmentos de cornijas volutadas, mísulas sustentando anjos de vulto, concheados e outros elementos fitomórficos. A nave separa-se da capela-mor por teia em madeira exótica, de balaústres galbados decorados de acantos e outros com volutas, sendo encimado por confessionário volante, da mesma madeira, de moldura composta de concheados e elementos volutados. Capela-mor com janelas laterais encimadas por sanefa e possuindo guarda em talha dourada, em balaustrada, com remate fitomórfico relevado nos ângulos; no lado do Evangelho abre-se porta de verga recta de ligação à sacristia. Sobre supedâneo de três degraus, surge o retábulo-mor de talha dourada, de planta côncava e três eixos, definidos por colunas torsas, de fuste ornado com espira fitomórfica e de terço inferior liso, decorado de acantos e outros elementos, assentes em plintos paralelepipédicos com motivos vegetalistas e consolas, e de capitéis coríntios; ao centro abre-se tribuna, de perfil curvo e boca definida por elementos vegetalistas volutados, possuindo no topo sanefa sob o qual surgem drapeados a abrir em boca de cena; interiormente é decorada de apainelados de acantos, a cobertura em caixotões com florões, e alberga trono expositivo de vários degraus com decoração vegetalista diversa, encimado por grande resplendor de talha com glória de querubins, entre dois anjos tocheiros; nos eixos laterais surgem altas mísulas, ornadas de acantos, sustentando imaginária sob baldaquinos com lambrequins e drapeados e interiormente concheados; ático adaptado ao perfil da cobertura com apainelado decorado de encanastrado, cartela central, elementos vegetalistas e anjos de vulto. Altar paralelepipédico de frontal seccionado em três painéis com concheados e motivos fitomórficos, e sanefa marcada por várias cartelas recortadas e concheadas. Sotobanco ornado de acantos integrando ao centro sacrário tipo templete, terminado em cornija recortada e volutada, com festões laterais e querubim e tendo na porta custódia e resplendor sobre cálice. Igreja com planimetria de tradição maneirista, reformada no final do séc. 18, conforme denota a própria decoração e a data inscrita no portal axial. Fachada principal de maior riqueza decorativa, marcada por um eixo central definido, não só pelo remate, onde o frontão é truncado e sobrelevado e depois coroado por cruz e pináculos, mas também pela colocação dos vários elementos decorativos, com frisos e cornijas sobrepostos e decoração vegetalista desenvolvida sobre o nicho, interrompendo a cornija do frontão. Recurso ao jogo alternativo das várias ordens, dórica nas pilastras dos cunhais e flanqueando o nicho, e jónica no portal. Os portais conservam as portas barrocas, com almofadas de florões relevados. A porta de acesso ao púlpito na fachada lateral esquerda é de feitura posterior. Contraste entre a estrutura da igreja e a da sacristia, muito mais modesta e tosca. Os retábulos laterais das primeiras capelas integram-se na segunda fase do nacional, possuindo base do nicho muito alta e integrando sacrário enquadrado por atlantes. As capelas retabulares têm talha de transição do joanino para o rococó e denotam influência da Escola de Braga, tal como as sanefas que encimam todos os vãos e as capelas e os retábulos colaterais. Estes têm talha mais erudita, seguindo cópia de gravuras europeias que circulavam e que influenciavam as escolas de talha, nomeadamente de talha Lisboeta. O retábulo-mor é joanino, mas possui já alguns elementos de transição para o rococó, ainda que mais contidos que a dos restantes retábulos. Refira-se ainda as guardas de balaústres, em talha dourada de transição, subsistentes nas janelas da capela-mor e a teia e confessionário volante à entrada da mesma capela, em talha a branco, já rococó. As paredes e os tectos da igreja apresentavam pinturas murais, tradicionalmente atribuídas a Nicolau Nazoni, devido à inscrição existente sobre o portal axial, e as quais estiveram na origem da classificação da própria igreja. Armando Palavras, no entanto, põe em causa esta atribuição, pois, segundo ele, se os telhados estavam por rebocar em 1782, em 1739 não estavam preparadas para receber a suposta pintura. O autor julga mesmo que à data inscrita se juntou a restante inscrição. Seja como for, o seu desaparecimento levou à alteração profunda da leitura e compreensão de um espaço eminentemente barroco, profusamente ornado.

Acessos

Cumieira, Lugar do Assento, Rua da Igreja

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 8/83, DR, 1.ª série, n.º 19 de 24 janeiro 1983

Enquadramento

Rural, isolado, no interior da povoação, no bairro do Assento entre as casas de habitação e campos cultivados com vinha, desenvolvidos a S.. Ergue-se numa plataforma niveladora do declive acentuado do terreno a S., formando adro, pavimentado a paralelos de granito e parcialmente protegido por muro. Actualmente o adro é apertado devido à construção de várias casas em 1979, possuindo a N. portão de acesso, entre as habitações; ladeia o portão, à esquerda, a antiga pia baptismal, cilíndrica, exteriormente de gomos pouco relevados, devido à erosão, sobre pé de meio redondo côncavo. Junto existe ainda cruzeiro de braços rectangulares, o frontal percorrido por sulco, inferiormente de recorte curvo, sobre plinto tronco-piramidal. Junto à fachada posterior existe anexo de apoio, com instalações sanitárias, possuindo embutido na parede lápide sepulcral com inscrição já muito delida.

Descrição Complementar

No cunhal esquerdo da fachada principal da igreja existe lápide de mármore com a seguinte inscrição, em 9 regras, avivada a preto: COM A PRESENÇA DE SUAS EXCELENCIAS REVERENDÍSSIMAS OS SENHORES D. ANTÓNIO CARDOSO CUNHA E D. ANTÓNIO VALENTE DA FONSECA, VENERANDOS BISPOS DA DIOCESE E VIGÁRIO GERAL, FOI PRESTADA CALOROSA HOMENAGEM AO SACERDOTE EILUSTRE PADRE EDUARDO AUGUSTO TEIXEIRA SARMENTO, PELA SUA ACÇÃO APOSTÓLICA NA FREGUESIA E DE JUBILO, PELA DIGNIDADE DE PRELADO-HONORÁRIO DE SUA SANTIDADE O PAPA QUE LHE FOI CONFERIDA PELO SUMO PONTÍFICE PAULO VI CUMIEIRA, 20-4-1969. No mesmo cunhal, mas agora virado a N. existe uma outra lápide, com a inscrição, em 6 regras e também avivada a preto: HOMENAGEM DA PARÓQUIA DA CUMIEIRA AO SEU PÁROCO PE. ANTÓNIO ESTEVES FERREIRA, NO CINQUENTENÁRIO DA SUA ORDENAÇÃO SACERDOTAL. CUMIEIRA 7-7-1996. No interior, a parte inferior da verga do portal principal tem a inscrição pintada NOVA IERUSALEM (Apocalipse, III, 12) e entre a verga e o tecto do coro-alto, existe a inscrição pintada: NICOLAO NASONIO SENENSIS PINGEBAT ANNO 1739; a tradução desta é: Nicolau Nasoni Senense (ou natural de Sena) pintava no ano de 1770. Retábulos laterais de estrutura semelhante, de planta recta e corpo côncavo e um eixo, definido por duas pilastras, decoradas com acantos relevados assentes em plintos paralelepipédicos, igualmente com acantos, e por duas colunas torsas, ornadas de anjos, aves e pâmpanos, sobre plintos com anjos músicos, e de capitéis coríntios, as quais se prolongam em duas arquivoltas, com o mesmo tipo de decoração, a arquivolta torsa unida no sentido do raio e a plana com cartela recortada no fecho; ao centro possui nicho em arco de volta perfeita com boca de acantos recortados, o do lado do Evangelho de fundo pintado e o do lado da Epístola possuindo resplendor relevado, oval, em talha dourada, ambos albergando imaginária; sotobanco de talha integrando sacrário, com porta curva com elementos fitomórficos e aves na moldura, ladeado inferiormente por cartelas circulares com Santos relevados (no retábulo do Evangelho um representa Santa Luzia e num do oposto representa São Lourenço), e, superiormente, por atlantes encarnados, acantos enrolados e fénices. Altares paralelepipédicos de frontal em talha dourada, possuindo três painéis centrais envolvidos por frisos de acantos enrolados. As capelas retabulares a meio da nave têm pilastras e arco de volta perfeita revestidas a talha dourada, decorada com acantos e concheados relevados e interiormente com cobertura em abóbada de berço de caixotões com florões; no topo têm retábulo em talha dourada, profusamente decorado com elementos vegetalistas e enrolamentos, volutas e outros elementos, com mísula central, ornada de volutados e querubim, sustentando a imagem do orago, encimada por falso baldaquino em concha; sobre esta, corre friso, sustentado por figuras híbridas atlantes e frontão interrompido com espaldar curvo, ornada de ampla cartela; sobre o frontão surgem anjos de vulto segurando festão que descarrega da cornija de remate do espaldar; ao nível da mísula corre um friso, sustentado por consolas com querubins, sob o qual se desenvolve decoração de encanastrados, enrolamentos e putti, sobre um outro friso e putti; nas ilhargas da capela surgem duas mísulas gomeadas sustentando imaginária, encimados por baldaquino com lambrequim e drapeados a abrir em boca de cena, sustentado por anjo de vulto. O retábulo do Evangelho possui altar expositivo com esquife e o da Epístola altar paralelepipédico com frontal em talha dourada, decorado de cartelas recortadas, elementos fitomórficos e volutados. Ladeando o arco triunfal surgem dois retábulos colaterais, compostos de painel de madeira pintado com decoração em talha dourada relevada, constituída por elementos volutados e fitomórficos, anjos de vulto e festões, formando a modinatura que enquadra mísula sustentando imaginária; o do lado do Evangelho possui sob a mísula, de dois degraus galbados e ornados de acantos, cornija corrida sobreposta por dois anjos tocheiros laterais e, ao centro, cartela volutada, com querubim, e meia-lua e estrela relevada. O retábulo da Epístola tem o sotobanco interrompido, conservando apenas os anjos tocheiros laterais enquadrando imagem encimada. Os retábulos são encimados por sanefas com lambrequins e terminadas em fragmentos de cornija.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Vila Real)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Nicolau Nasoni (1739 - atri.). FIRMA: Augusto de Oliveira Ferreira & Cª (1991 / 1992). RELOJOEIRO: Jerónimo (séc. 20).

Cronologia

1139 - referência à povoação na doação que D. Afonso Henriques fez ao mosteiro da Ermida do couto que instituíra sobre o rio corgo, em terras de Panóias, frente a Lobrigos; 1258 - referência à paróquia nas Inquirições com o nome Santa Eovaye D' Anduji, no julgado de Penaguião; 1320 / 1321 - é referida na relação das igrejas taxadas por D. Dinis como pertencente à Terra de Panóias e ao arcebispado de Braga; 1509 - data do Tombo da Igreja; 1624 - data da instituição do Morgadio da Cumieira por Diogo Alvares Mourão; 1729 - data inscrita no portal principal da igreja; 1739 - data pintada numa inscrição existente entre a verga do portal principal e o tecto do coro-alto; as obras na igreja foram apoiadas pelo mecenas Conde de Mateus, à altura Senhor da Cumieira; séc. 18, 2ª metade - feitura dos retábulos das capelas do meio da nave e da guarda dos púlpitos e sanefas; 1758 - segundo o abade Manuel de S. José Justiano nas Memórias Paroquiais, a freguesia é do arcebispado de Braga, da comarca de Vila Real, na jurisdição eclesiástica e no secular do concelho de Penaguião, sendo donatário na época D. Ana de Lorena, por mercê Régia ao falecido Marquês de Abrantes; a freguesia tinha 208 velhinhos, 715 maiores e 55 menores; a igreja, com orado de Santa Eulália, fica no meio do lugar, designado Assento, tem uma só nave e sete altares: o maior, no lado do Evangelho tem três, o primeiro que é colateral dedicado a Nossa Senhora do Rosário, o segundo de São José, e o terceiro, que tem uma imagem do Senhor Crucificado, serve para depósito da pia baptismal, e no lado da Epístola outros três, o primeiro colateral do Senhor das Necessidades, o segundo de São Sebastião e o terceiro de São Gonçalo; tem uma Irmandade do Santo Nome de Jesus; o pároco tem o título de abade, e esta abadia é das da oitava regra da chancelaria, pelo que os párocos podem renunciar "tocies quoties", obtida primeira licença e atestado do Ordinário; tem de renda mais de 990$000; 1775, 2 Maio - Bula de Pio VI unindo as rendas da Igreja ao Real Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, por instância d' Rei D. José I; a igreja era excelente, ampla, bem feita, muito bem conservada e ornada; a sacristia não era correspondente, mas mais medíocre, não parecendo fazer parte do todo, ainda que não estivesse indecente; as casas da residência estavam caindo e a Junta já tinha expedido as ordens para se fazerem de novo, tendo-se arrematado a obra, mas com tanta lesão da Universidade ou do Colégio das Artes a quem pertenciam os dízimos da Igreja que o mesmo a mandou pôr pela segunda vez a lanços, tendo sido arrematada a obra (com apontamentos e risco fornecido) por 5 mil cruzados; o Passal não era nem grande nem muito rentável, não dando mais de 40 alqueires de pão, porém era obra de boa qualidade, com água de rega e muitas frutas de toda a casta; a Igreja era então uma rendosa Abadia reduzida a vigairaria, ficando contudo a apresentação pertencendo aos arcebispos Primazes de quem sempre foi; daí que ao Real Colégio apenas competia cobrar os dízimos da freguesia; a Universidade tinha a obrigação de dar ao pároco anualmente $120, como determinava a mesma bula e sentença, o rendimento incerto chamado pé de altar e tudo o que o Passal produzisse, cujas duas parcelas de rendimento, além da côngrua vinham lotadas na mesma sentença em 70$000 e por consequência toda a renda da vigairaria em 200$000; sabendo o encomendado de então esta lotação, abateu muito os usos da Igreja quando nela entraram para examiná-la; como na Igreja não havia fábrica alguma certa ou incerta, era da obrigação de quem recebia os dízimos dar os paramentos necessários e reparar ou reedificar a capela-mor e sacristia e casas de residência, pertencendo ao povo o corpo da Igreja; tinha celeiro, com dois armazéns para vinho, ainda que tivesse falta de vasilhas necessárias e umas casas de que se serviam os rendeiros e nelas, incomodamente, se recolhia o pão e o azeite, ainda que estes fossem poucos; as casas eram velhas e prometiam pouca duração; 1782, 28 Outubro - o visitador da Igreja da Cumieira encontrou algumas imperfeições e faltas: as sanefas da capela-mor, em frente do retábulo dourado, estavam por dourar e os telhados da mesma capela precisavam ser rebocados e "dealbados" por fora; 1784 - visitador recomenda aos juízes da igreja seis meses para o término das obras, sob pena de 4$000 de multa; 1828 - data do primeiro registo de baptismos documentado; 1850 - data do primeiro registo de casamentos documentado; séc. 19, meados - o pároco tinha de rendimento 20 alqueires de pão, 10 de feijão, 10 cântaros de vinho, 16 arrobas de presuntos, todos os passais e o pé de altar; a igreja passou para a diocese de Lamego; 1853 - data do primeiro registo de óbitos documentado; 1922, 22 Abril - integrada na diocese de Vila Real, após a sua criação; 1943, 13 Novembro - data inscrita na Cruz da Santa Missão; 1945 - fotografia de Diogo Seixas, fotógrafo da aldeia, documenta a igreja com tecto figurando a "Jerusalém Celeste", entretanto desaparecido; 1976, Setembro - visita a igreja a Brigada Móvel de Pintura Mural do Instituto José Figueiredo, referindo que as pinturas dos tectos foram totalmente destruídas e as das paredes laterais estão quase totalmente sob grossas camadas de cal; na ocasião a igreja iria ser novamente caiada, mas o fotógrafo Diogo Seixas residente na Cumieira impediu-o; 14 Outubro - relatório de um técnico da DGEMN após ter vistoriado a igreja refere que, nas paredes interiores, são visíveis, em vários pontos, vestígios de pintura mural, que se admitia preencherem completamente todos os panos da parede da nave e capela-mor; o aspecto da policromia dos vestígios em vários trechos em zonas onde foi removida a caiação, leva o técnico a admitir que toda a pintura se encontrava em bom estado de conservação; 1977, Maio - dois ofícios da Direcção-Geral do Património Cultural comunicam à DGEMN ter sido determinado a classificação como Imóvel de Interesse Público a Igreja da Cumieira e toda a pintura existente no seu interior; 1978, 30 Junho - ofício nº 9499 do mesmo serviço informa do despacho do Secretário de Estado da Cultura determinando a classificação da Igreja da Cumieira como Valor Concelhio; 1979, Outubro - construção de casas na zona de protecção da igreja, sem autorização superior; 15 Outubro - o Arquitecto Director de Serviços, Elísio Summavielle, solicita a clarificação da classificação da igreja; 5 Novembro - ofício da Direcção-Geral do Património Cultural informando que, verificado o lapso, foram os dois processos remetidos à Comissão Organizadora a 18 de Dezembro de 1978, onde ainda se encontravam, a fim de ser esclarecido o assunto; 14 Dezembro - determina-se manter a classificação como Imóvel de Interesse Público; 1985 - acabou-se por proceder à aquisição de um novo sino, pago pelos paroquianos; 1989, 30 Maio - brigada de inspecção do Instituto José Figueiredo à Igreja com sondagens nas paredes; verificou-se que apenas na parede do sub-coro, de ambos os lados do portal, assim como em aproximadamente metade da parede do lado esquerdo, junto àquela, existem restos de pintura mural, parcialmente recuperável; as restantes superfícies apresentam alguns vestígios de pouco interesse; a uma cota de 80-100 cm do chão, e possivelmente devido a infiltrações, em quase todo o perímetro da nave, os rebocos apresentam-se degradados; Julho - temporal na região, levantou parte do revestimento das coberturas da capela-mor e vertente S. da nave, com queda sobre o telhado da sacristia, que ficou praticamente destruído; 13 Outubro - envio do projecto de electricidade ao pároco da Cumieira.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura rebocada e pintada; embasamento, frisos, cornijas, pilastras, cruz, pináculos, molduras dos vãos, supedâneo, pias de água-benta, pias baptismais e bacias dos púlpitos em cantaria de granito; portas de madeira; vãos com vidros policromos; grades em ferro; retábulos, altares, sanefas guarda dos púlpitos em talha dourada; teia e confessionário volante em madeira exótica; coro-alto e guarda em madeira; tectos de madeira; pavimento de lajes de cantaria na igreja e cerâmico na sacristia; cobertura de telha.

Bibliografia

BRANDÃO, D. de Pinho, Nicolau Nasoni, Pintor da Igreja da Cumieira, Sep. da Revista MVSEV, 2ª série, nº 7, Porto, 1964; ALMEIDA, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1988; MOURÃO, Dr. Manuel, BARBOSA, Padre Edgar, LUÍS, Padre António, Centenário da Restauração do Concelho de Santa Marta de Penaguião 1898 - 1998. Iconografia da Virgem Maria - Arte Sacra das Terras de Penaguião, Vila Real, 1998; AZEVEDO, José Correia de, Inventário Artístico Ilustrado de Portugal, Lisboa, 1991; IPPAR, Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado, vol. II, Lisboa 1993; PALAVRAS, Armando, Os Tectos de Penaguião e a Gloriosa Virgem Maria de Oliveira, Sep. de Estudos Transmontanos, vol. 10, s.l., s.d., pp. 75-100; PALAVRAS, Armando Manuel Gomes, Anjos de Penaguião. Dissertação de Mestrado em História da Arte, Universidade Lusíada, Fevereiro 2001; MONTEIRO, J. Gonçalves, Penaguião "Terra e Gente", Coimbra, 2004; CAPELA, José Viriato, BORRALHEIRO, Rogério, MATOS, Henrique, As Freguesias do Distrito de Vila Real nas Memórias Paroquiais de 1758. Memórias, História e Património, Braga, 2006.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DREMN

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN, SIPA

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DREMN, DGEMN/DSARH, MI; Universidade de Coimbra: Igrejas da Universidade de Coimbra, Tomo II, Cota - Depósito 14, Secção 8. E, Estante 5, Tabela 9, Nº. 560

Intervenção Realizada

Direcção de Urbanização de Vila Real: 1949 / 1950 / 1951 - obras de beneficiação: renovação total do revestimento das coberturas por telha cerâmica de canal e coberta rectangular; reparação parcial dos rebocos das fachadas com caiação geral; substituição dos tectos da nave e capela-mor, que eram em abóbada de estuque sobre fasquio, por revestimento, da mesma forma, em madeira de castanho encerada; renovação de grande quantidade dos rebocos interiores com pintura mural, destruindo quase completamente as pinturas atribuídas a Nasoni;reparação do coro-alto; Paróquia: 1980, início da década - obras de reconstrução do muro de suporte do adro, que se encontrava em ruína, por cerca de 2.000 contos, custo suportado por vários organismos e paroquianos; 1985 - restauro do sino grande que rachara, por cerca de 900 contos, solicitando o presidente da Junta de Freguesia em Março subsídio ao Instituto Português do Património Cultural; 1986 - o pároco solicita estudo para a concessão de autorização das seguintes obras que a igreja carecia: reparação geral ou substituição do telhado; remodelação da instalação eléctrica; substituição dos rebocos das paredes interiores e pintura; arranjo do tecto e soalho da sacristia; considera-se mais urgente a renovação de toda a rede eléctrica, orçada em cerca de 1.200 contos, mas alertava-se para o facto das tubagens poderem danificar as poucas áreas ainda com pinturas; Comissão Fabriqueira: 1989, Setembro / Outubro - renovação total da cobertura, com colocação de talha canal e coberta (1.800 contos); 1991 - obras de conservação no interior na capela-mor, nave e sacristia: renovação de rebocos de paredes interiores, rede eléctrica e sonora, pavimento de soalho na capela-mor, tecto de madeira e pavimento de tijoleira prensada na sacristia (2.000 contos); DGEMN: obras de beneficiação exteriores - 1ª fase: renovação total de rebocos e pintura das fachadas principal e S., adjudicadas à firma Augusto de Oliveira Ferreira & Cª (1.600 contos); 1992 - obras de beneficiação e outras, adjudicadas à firma Augusto de Oliveira Ferreira & Cª (2.818.937$00): recuperação de rebocos, lavagem de superfícies, limpeza de cantarias e pintura; execução de 12 bancos com genuflexório.

Observações

Segundo o fotógrafo local Diogo Seixas, o tecto da nave e parte inferior do coro possuíam pinturas murais de cores diferentes; no tecto da nave havia numerosos dísticos e o do coro tinha seis caixotões, um deles representando a Tentação de Eva no paraíso, outro Adão a cavar a terra e a Eva com um menino ao colo. Antes das obras de 1951, o mesmo fotógrafo fez duas fotografias do tecto da capela-mor, cuja decoração consistia em quadraturas compostas por colunas, varandas em arco abatido com guarda em balaustrada, grinaldas de folhas e flores, elementos volutados, cartelas laterais com representação do Espírito Santo entre anjos e, ao centro, amplo resplendor com Espírito Santo envolvido por glória de querubins. As fotografias revelam zonas em mau estado, onde o estuque já havia caído.

Autor e Data

Isabel Sereno 1994 / Paula Noé 1996 / 2009

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login