Igreja Paroquial de Ferreira de Aves / Igreja de Santo André

IPA.00003728
Portugal, Viseu, Sátão, Ferreira de Aves
 
Igreja filiada numa tipologia com forte implantação local, nomeadamente na solução da estrutura da fachada principal e campanário, destacando-se o facto desta igreja ter a particularidade de ter sofrido constantes renovações, com fundação românica, de que restam alguns elementos, nomeadamente as cachorradas e o portal da fachada lateral direita, com capitéis e ábacos decorados e tímpano ostentando animal fantástico. É de planta retangular composta por três naves de cinco tramos e coro-alto, capela-mor, sacristia, capela lateral e campanário adossados ao lado esquerdo. Fachada principal maneirista, em empena com vãos rasgados em eixo composto por portal de verga recta e janela quadrangular, solução semelhante às igrejas de Mioma (Sátão), Sarzeda (v. PT011818150012) e do Seixo, em Sernancelhe. Campanário maneirista, adossado à fachada, dividido em dois registos, o primeiro cego e o superior com duas sineiras de volta perfeita. Fachadas laterais rasgadas por janelas em capialço maneiristas, mas mantendo elementos românicos, como as cachorradas na zona da nave e o portal da fachada lateral direita, com capitéis de inspiração fitomórfica e fantástica, com ábacos com elementos vegetalistas estilizados e tímpano decorado. Sala de arrumos na fachada posterior encobre o volume da capela-mor. Alguns silhares possuem siglas e surgem incisas cruzes que compõem uma Via Sacra. As colunas que dividem as naves ostentam fuste liso, mas têm capitéis e bases jónicas, de cariz maneirista, estilo também subjacente à pia baptismal, esta protegida por teia de madeira torneada, do séc. 17. Mantém vestígios de um tecto de alfarje, mudéjar, bem como dos arcos que vazavam as paredes que falqueiam o arco triunfal, nos quais se inseriam estruturas retabulares e actualmente entaipados. Janelas da capela-mor apresentam decoração de acantos pintados directamente na cantaria. Retábulo-mor de estilo rococó, com notável gramática decorativa, reflectindo a assimilação das gravuras que circulavam na época. Capela lateral adossada, dedicada a São Miguel e Almas, cujo retábulo possui a particularidade de ser decorado por mascarões nos raios do ático.
Número IPA Antigo: PT021817040009
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta longitudinal composta pelos dois rectângulos das três naves e capela-mor, por capela lateral, sacristia de planta rectangular adossada à nave e campanário adossado à fachada principal, ambos no lado esquerdo; um anexo adossa-se à fachada posterior. Disposição horizontalista das massas, de volumes articulados e coberturas diferenciadas em telhados a duas águas no corpo da igreja e na cabeceira e a uma água sobre os anexos. Fachadas em cantaria aparente, de aparelho isódomo, com cunhais firmados por pináculos e remates em cornija. Fachada principal com portal de verga recta, com lintel e cimalha, sendo as arestas da moldura boleadas, sobrepujado por pequeno nicho de arco de volta perfeita e por outro de proporções semelhantes, vazado. Existem incisas cruzes da Via Sacra, siglas e inscrição. Remate em empena truncada por cruz latina sobre base. No lado direito campanário, cego no primeiro registo e com duas sineiras no segundo, encimado por cornija e pequena sineira de menores dimensões, ladeada por pináculos de bola. Fachada N. com duas fenestrações rectangulares e porta no corpo da nave, que ostenta remate em cachorrada simples. Capela lateral saliente com janela rectangular virada a O. e muros laterais cegos. O volume da sacristia é rasgado por três janelas rectangulares de diferentes dimensões e colocadas em diferentes planos, por porta de acesso para o exterior e outra para divisão de arrumos. Fachada S. tem, no corpo da capela-mor, porta de acesso a sala de arrumos, e, na nave, três fenestrações rectangulares de igual dimensão. Portal lateral de arco de volta perfeita, com duas arquivoltas assentes em capitéis e ábacos, com a exterior decorada com bolas e tímpano com figura central constituída por uma espécie de dragão a morder a cauda. Frestas rectangulares, de esbarro, entaipadas e a nave remata em cachorrada. Fachada posterior com duas fenestrações rectangulares de dimensões e planos diferenciados, com remate em empena com cruz no vértice e pináculos nos cunhais. INTERIOR com as naves separadas por colunas de alvenaria aparelhada com bases e capitéis dóricos, formando quatro tramos, que suportam a cobertura em travejamento de madeira, com algumas molduras cruzadas em arabesco, constituintes do primitivo alfarje. Coro-alto de madeira com guarda balaustrada e acesso por dois lanços de escadas no lado da Epístola. Púlpito quadrangular, de madeira, adossado à terceira coluna do lado do Evangelho, com escadas de acesso em cantaria e guarda de ferro. No lado do Evangelho, pia baptismal com taça hemisférica, tendo a zona inferior atravessada por cordame torço e base com os ângulos decorados; encontra-se protegida por teia de madeira. Capela lateral de arco a pleno centro com retábulo de talha dourada, dedicado às Almas. Dois altares ladeiam o arco triunfal de acesso à capela-mor, dedicados aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria. No pano murário deste, é visível a marca de arcos mais pequenos que o flanqueavam. Sobre supedâneo o retábulo-mor de talha policromada com marmoreados fingidos e apontamentos dourados, de planta recta e um eixo constituído por ampla tribuna, com trono, fundo com resplendor e cobertura apainelada, onde desponta baldaquino, ladeado por duas mísulas protegidas por baldaquinos e dois pares de colunas de fuste liso e com decoração concheada, assentes em consolas; remate acompanha a estrutura da tribuna e da cobertura, com fragmentos de frontão e espaldar profusamente decorado e encimado por cornija. Cobertura em falsa abóbada de berço abatido com 42 caixotões de madeira, com representações hagiográficas. No lado do Evangelho, porta de acesso à sacristia; as janelas ostentam, no intradorso, decoração com acantos, pintados directamente na cantaria.

Acessos

EN 229, no sentido Sátão - Aguiar da Beria, virar à saída de Sátão para a povoação de Castelo, a 13 Km de distância

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 44 075, DG, 1.ª série, n.º 281 de 05 dezembro 1961

Enquadramento

Rural, situado numa planície, isolado, em posição dominante, com um adro delimitado por muro, rodeado por casas de habitação incaracterísticas e campos de cultivo. No adro, surgem duas oliveiras.

Descrição Complementar

Portal lateral com capitéis decorados, o interior do lado esquerdo coríntio e o exterior formado por dois animais afrontados; os do lado direito possuem: o interior folhas de acanto dominadas por uma cabeça de águia que sustém no bico uma serpente entre dois caulículos enrolados em espiral e o exterior, mais desgastado, é preenchido por dois ramos de hastes entrelaçadas, de folhagem espalmada em ambas as faces, e parecendo repetir a cabeça de águia do anterior. Os ábacos apresentam folhas lanceoladas e, num deles, surge um cordão formando laçaria. Retábulo dedicado a São Miguel de planta recta e um eixo constituído por painel representando o orago a pesar as Almas, ladeado por duas pilastras e quatro colunas torsas, decoradas com pâmpanos, que se prolongam em arquivoltas unidas no sentido do raio, com mascarões desenhados, formando o ático, enquadrado por alfiz. Altar paralelepipédico, com frontal apainelado pintado com fundo azul e ramagens. Retábulos colaterais são semelhantes, de planta recta e um eixo circunscrito por colunas torsas, que se prolongam em arquivoltas, formando o ático; os fundos apresentam forte decoração de folhagem estilizada, formando desenhos distintos. Neles, integram-se as imagens novecentistas dos respectivos oragos. Altares paralelepipédicos com pintura semelhante ao retábulo das Almas. Retábulo-mor ostenta a inscrição "Facta 1754". Nos caixotões, do lado do Evangelho para a Epístola, as imagens pintadas de: São Tiago Menor, São João Evangelista, São Marcos, Santa Maria Madalena, Santo António, Nossa Senhora do Doce Coro, São Judas Tadeu, São Felipe, Santo Ambrósio, São Giraldo, Santa Rita, Santa Apolónia, São Simão, São Pedro, Santo Agostinho, Nossa Senhora do Carmo, Santa Senhorinha, São Gonçalo, São Paulo, São José, Nossa Senhora da Conceição, São Joaquim, Santa Ana, Salvador, São Tomé, São Gregório, São Brás, São Luís, São Sebastião, São Matias, São Tiago Maior, São Jerónimo, São Francisco, Santa Quitéria, São Bartolomeu, São Mateus, São Lucas, São Bento, São Domingos e Santa Teresa.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Viseu)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 12 / 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1126 - D. Teresa e D. Afonso Henriques mandam povoar Ferreira de Aves e concedem foral à povoação, posteriormente dada a um fidalgo leonês, Fernão Jeremias, que viera para o Condado Portucalense com o conde D. Henrique; 1156 - a povoação passa para a posse dos Templários; séc. 12 - provável construção do imóvel, aproveitando-se a pedra do castelo (SOUSA, A.M. de, p. 56); séc. 13 - Fernão Rodrigues Pacheco toma para si e para a sua casa o padroado da igreja matriz que pertencia, até à data, aos paroquianos; 1331, 30 Dezembro - D. Lopo Fernandes Pacheco e a mulher, Maria Gomes Taveira, instituíram a Colegiada de Santo André de Ferreira; séc. 13 / 14 - com o estabelecimento dos Templários em Soure, os cavaleiros da Ordem de Malta fixam-se na região; séc. 14 - D. Egas, bispo de Viseu, e D. Lopo Fernandes Pacheco, senhor de Ferreira, constituem a Colegiada de Santo André, que principia com cinco raçoeiros sujeitos ao abade; 1514 - D. Manuel I concede novo foral à povoação; 1527 - segundo o cadastro desse ano, a paróquia possuía apenas duzentos e onze fogos, uma densidade populacional desproporcional ao espaço da igreja na altura; 1573 - o visitador exige a reedificação da capela-mor, devendo ser de cantaria por fora e alvenaria por dentro, já que ao povo cabia a responsabilidade de construir e conservar a parte das naves; é elaborada uma planta geral, onde são registadas as dimensões do corpo da nave e da capela-mor, do arco cruzeiro, das portas principal e laterais e das frestas; a igreja deveria possuir um aporta axial e duas portas travessas fronteiras, duas janelas de cada lado, um arco cruzeiro ladeado de dois menores, destinados a receber retábulos, e dois arcos mais pequenos nos flancos, para a mesma finalidade; deveria ter uma capela-mor rectangular com duas frestas à esquerda e duas sacristias à direita; demolição da Capela de Santiago, situada junto ao imóvel, por ordem de D. Jorge Ataíde, duque de Viseu; 1576 - o visitador manda acabar a capela-mor; litígio com os paroquianos sobre a obrigação de custear as despesas do corpo da igreja, que se encontrava em perigo de ruir; 1580 - notícia da igreja ter pouco espaço para os pouplares; 1584 - na capela-mor falta a colocação do forro; 1591 - as obras no corpo da igreja acham-se quase concluídas; 1591 - falta rematar o telhado das naves; 1607 - preceitos sobre o lajeado da nave; 1652 - execução do lavabo da sacristia; séc. 17, 2.ª metade - construção do campanário e do retábulo das Almas, bem como os colaterais; séc. 18 - obra de ampliação na capela-mor e feitura dos caixotões; 1754 - execução do retábulo-mor; 1762 - douramento e pintura do retábulo-mor; séc. 19 - o padroado da igreja deixa de pertencer aos Senhores de Ferreira; séc. 20 - restauro do imóvel por iniciativa de Nuno Osório Gama Amador, com esmolas dos paroquianos e emigrantes; 1959, Fevereiro - na sequência da visita de um técnico da DGEMN, considera-se que o imóvel se apresenta bastante alterado no seu traçado original, mas mantendo bastantes elementos de grande interesse artístico e arqueológico, pelo que se justifica plenamente a sua classificação como IIP; Maio - organização do processo para proposta de classificação; refere-se que o tecto de caixotões estava muito deteriorado; 1970, Agosto - o pároco escreve uma carta à DGEMN alertando para o estado deplorável do templo, em virtude das infiltrações, ameaçando as talhas e os caixotões; formação de uma Comissão para angariar fundos para as obras; 1973 - informação de que a telha colocada dois anos antes não impedia a entrada de chuva; Junho - a DRCMN realça a necessidade de empreender obras de conservação, reparação do tecto e telhado, colocação de novas portas e vedações no campanário; 1977, Julho - a Câmara Municipal pede à DGEMN autorização para remodelar o adro; Agosto - resposta favorável, desde que se respeitem as características do terreno, como afloramentos rochosos junto à cabeceira e manter a passagem subterrânea de água; aconselha-se a utilização de calçada granítica e a supressão de postes de electricidade.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Granito; madeira.

Bibliografia

LEAL, Augusto Barbosa de Azevedo Pinho, Portugal Antigo e Moderno, vol. III, Lisboa, 1874; VALE, A. de Lucena e, A porta românica de Ferreira de Aves, in Beira Alta. Terra e gente, Viseu, 1958, pp. 151-170; GONÇALVES, A. Nogueira, A Igreja de Ferreira de Aves e os seus elementos românicos, Separata de Ocidente, vol. LXX, Lisboa, 1966; ALMEIDA, José António Ferreira de [dir.], Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1976; ALVES, Alexandre, Os senhores do Paço de Lamas (Ferreira de Aves - Sátão), in Beira Alta, vol. XLIX, fasc. 3 e 4, Viseu, Assembleia Distrital de Viseu, 1990, pp. 383-418; Ferreira de Aves, in Guia de Portugal. Beira Baixa, vol. III, tomo II, 2.ª ed., Lisboa, 1994, p. 980; SOUSA, Albano Martins de, Terras do Concelho de Sátão - Documentos para a História do Concelho de Sátão, Sátão, 1991; LOPES, Flávio [coord.], Património arquitectónico e arqueológico classificado. Distrito de Viseu, Lisboa, 1993; DIAS, Pedro, Arquitectura Mudéjar Portuguesa: Tentativa de sistematização, Mare Liberum, nº 8, Dezembro de 1994; SILVA, Isabel [dir.], Ferreira de Aves, in Dicionário Enciclopédico das Freguesias, 2.º vol., Matosinhos, 1997, pp. 660-661.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DSARH

Intervenção Realizada

Séc. 20, inícios - restauro do imóvel; 1971 - colocação de telhado; DGEMN: 1974 - trabalhos de beneficiação, como substituição de vitrais; Fábrica da Igreja Paroquial: 1971, Agosto - colocação de telha nova na igreja, com vista à reparação da sua cobertura, segundo orientação dos serviços da DGEMN; 1992, antes de - obras na cobertura exterior, com colocação de novo telhado.

Observações

Autor e Data

Madeira Portugal 1992 / João Carvalho 1996 / Marisa Costa 2001

Actualização

 
 
 
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