Igreja Paroquial de Nossa Senhora dos Remédios / Catedral de Luanda / Sé de Luanda

IPA.00032123
Angola, Luanda, Luanda, Luanda
 
Igreja paroquial de construção seiscentista reconstruída no final do séc. 19, com linhas mais simples e despojadas, planta retangular composta por nave e capela-mor, interiormente com coberturas de madeira e estuque e iluminação axial e bilateral indireta, e tendo adossado de ambos os lados torres sineiras e corpos retangulares, elevada a Sé. Fachada principal harmónica, tal como a igreja seiscentista, mas com a igreja terminada em empena curva com aletas, e rasgada por vãos em arco, de volta perfeita, correspondendo a três portais e duas janelas de varandim e óculo circular central, flanqueada por torres sineiras, com vãos semelhantes, terminadas em cornija e cobertas por lanternim em ferro com tambor alto, de sabor revivalista. As fachadas laterais terminam em lambrequim em ferro decorado e são rasgadas por vãos de igual modinatura. No interior possui dois púlpitos laterais confrontantes e longas tribunas superiores, de perfil curvo ao centro, acedidas por vãos em arco, todos com guardas em ferro. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras, em silharia fendida encimada pelas armas de Portugal em estuque, e ladeada por capelas colaterais com estruturas retabulares recentes. A capela-mor, de pequenas dimensões e com vãos laterais e na parede testeira, é coberta por abóbada de berço com decoração em estuques relevados, neo-barrocos, com Evangelistas e símbolos eucarísticos. O retábulo-mor, de talha neo-gótica, tem corpo retangular com corpo torreado central integrando sacrário, nicho e templete, coroado por coruchéu.
Número IPA Antigo: AO911103000041
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta retangular composta por nave e capela-mor, tendo adossado de ambos os lados torres sineiras quadrangulares, dois corpos retangulares seguidos de dois outros. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na nave, de três na capela-mor, de uma nos corpos laterais e de quatro nos anexos, rematadas em beirada simples. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com soco de cantaria e cunhais sublinhados a ocre. Fachada principal virada a N., terminada em empena curva definida de aletas, coroada por cruz em ferro sobre acrotério de cantaria, ornada de acantos. É rasgada por três portais em arco de volta perfeita, com moldura de cantaria, o central mais largo, duas janelas de varandim superiores, com a mesma modinatura e guarda em ferro e óculo circular, também com moldura de cantaria, e espelho em ferro. Lateralmente, as torres sineiras são rasgadas por dois vãos em arco de volta perfeita e moldura de cantaria, correspondendo o inferior a janela com vidros policromos e o superior a sineira, albergando sino; na torre esquerda, entre os vãos, surge ainda relógio circular, com moldura pintada de ocre. Nas outras faces as torres são rasgadas por vãos em arco, mas sem moldura. Rematam em cornija e são coroadas por lanternim metálico sobre tambor, do mesmo material, circular, rasgado por arcos apontados sobre colunas, com vidros policromos, encimados por óculos circulares. À volta do tambor existe varandim com guarda em ferro e a cobertura em domo é coroada por pináculo com cata-vento. As fachadas laterais têm os corpos adossados de dois pisos, terminados em lambrequim de ferro, decorado com motivos curvos rendilhados, e rasgados por vãos em arco, os do segundo piso num ritmo apertado, com molduras pintadas de ocre e com guarda e grades em ferro. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco, pavimento cerâmico e cobertura em falsa abóbada de berço abatido sobre cornija de cantaria. Lateralmente dispõem-se dois púlpitos confrontantes, com bacia retangular de cantaria e guarda em ferro, e, superiormente, correm duas tribunas em ferro, de perfil curvo ao centro, assente em mísulas equidistantes do mesmo material, e com guarda formando pequena quadrícula, para onde se abrem cinco amplos vãos, em arco de volta perfeita, com moldura de cantaria, percorridas por filetes. No topo da nave abrem-se ainda, de cada lado, dois arcos de volta perfeita, sobre pilastras, o primeiro maior e mais alto, de comunicação com os corpos laterais. Arco triunfal de volta perfeita, em silharia fendida, sobre pilastras iguais, encimado por brasão, em estuque, com as armas de Portugal, envolvidas por elementos vegetalistas. É ladeado por duas capelas colaterais, em arco de volta perfeita sobre pilastras, com estrutura retabular em talha, pintada de branco e elementos dourados, com nicho de perfil curvo, albergando imaginária. Altares tipo urna de cantaria. Capela-mor coberta por falsa abóbada de berço, pintada de amarelo, lateralmente percorridas por várias almofadas e cartelas recortadas contendo os Evangelistas e símbolos eucarísticos e tendo ao centro ampla cartela com custódia, tudo em estuques relevados e policromos. É rasgada lateralmente por vãos longilíneos em arco de volta perfeita e na parede testeira por dois outros, mais pequenos e com vidros policromos. Afastado da parede, surge o retábulo-mor, de talha policroma, de corpo retangular, rematado em entablamento com elementos recortados, coroado lateralmente por dois anjos músicos. Ao centro possui corpo torreado, com sacrário, encimado por nicho, em arco apontado, sobre colunas, rematado em empena, sobreposto por alpendre semelhante e coroado por coruchéu e cruz latina.

Acessos

Avenida da Rainha Ginga; Rua da Missão; C. do Pelourinho

Protecção

Classificado, Estado Português, Portaria n.º 6718, Boletim Oficial n.º 21, de 25 maio 1945

Enquadramento

Urbano, isolado. Implanta-se num quarteirão delimitado pelas Rua Rainha Ginga, para onde se volta a sua fachada principal, Rua da Missão e C. do Pelourinho, no qual se situa igualmente o edifício Polo Norte (v. IPA.00032120). Frontalmente forma adro, vedado por gradeamento em ferro, sobre murete, ritmado por pilaretes decorados por almofadas quadrangulares e cruz de Cristo, possuindo canteiros ajardinados, pontuados de palmeiras. Nas imediações situa-se o edifício-sede da Sonangol, a Livraria Lello (v. IPA.00032116) e o Prédio Totobola (v. IPA.00034670).

Descrição Complementar

No topo da nave, perto do arco triunfal existe lápide sepulcral com a inscrição: "S.ª DO SARG.TOMOR. FRA / N.CO BAROZO. CAVALEIRO / PROFEÇO. DA ORD'. DO CO / MVENTO. DE TOMAR. PRI / MEIRO. FUNDADOR. DESTA / IGREJA. DO REMEDIOS. E DE / SVA MVLHER. D.M. DE GO / WEA. E DE SEVS. ERDEIROS / ANNO. DE 1682" *1. A lápide tem ainda brasão com as armas dos Barrosos: cinco leões de prata em campo vermelho: cada um dos leões com duas faixas xadrezadas de ouro em vermelho, postas em santor; o timbre é um dos leões do escudo. Em frente do altar de Santo António existe lápide com a inscrição: "Jas nesta sepultura Maria Fernandes Lopes filha legitima de Joaquim Fernandes Lopes e de Luiza da Fonseca Negrão a qual fica pertencendo aos descendentes ou ascendentes dela e de seu marido Luís Gomes Ribeiro cuja mulher faleceu a XV de julho MDCCCXXI". À entrada da sacristia do cabido existe uma outra lápide tumular, parcialmente visível, do sargento-mor Mello Castebranco, falecido em 1760.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: catedral

Propriedade

Igreja Católica (Diocese de Luanda)

Afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 17, 1ª metade - bispo D. Francisco do Soveral (1627-1642) cria uma nova paróquia em Luanda, sob a invocação do Corpo Santo, apesar de alguma oposição do Pe. Bento Ferraz, pároco da Conceição; é instalada numa ermida junto ao mar, com invocação do Espírito Santo, onde se faz o serviço religioso até 1669/1670; 1640 - no relatório para a visita "ad sacra limina", D. Francisco de Távora afirma que a ermida do Espírito Santo está completamente arruinada até aos fundamentos; posteriormente é reparada e reaberta ao culto, com o título de Corpo Santo, mas a paróquia seria depois estabelecida na nova igreja de Nossa Senhora dos Remédios; 1655 - data provável para o início da construção da igreja de Nossa Senhora dos Remédios; enquanto não foi benzida, o serviço religioso fazia-se numa casa particular, muito pequena, por não haver outra igreja na Baixa; 1656 - Câmara de Luanda escreve a D. João IV informando que o povo "está fabricando um grande templo para Sé, com pretexto e esperança de que Vossa Majestade lhes faça mercê passar a do Congo para esta cidade e também esperam que [...] ajude os moradores para conseguir seu desejo e bom ânimo e zelo que têm sendo que só com este se acham, por lhes faltar o cabedal e é certo que importará este templo muitos cruzados"; a Fazenda Real dá 300$00, por não poder dar mais; 1679, 29 julho - bênção da igreja de Nossa Senhora dos Remédios pelo bispo D. Fr. Manuel da Natividade; 06 agosto - celebração da primeira festa com toda a solenidade, ainda que a igreja não esteja concluída; Cadornega descreve a igreja como edifício sumptuoso, de boa fábrica, com confraria e Irmandade do Corpo de Deus e a invocação de Nossa Senhora dos Remédios, "a que servem os cidadãos e moradores, com muito dispêndio de suas fazendas, havendo capelas do Bom Jesus, das Almas e de S. Lourenço, a que tudo assistem, celebrando suas festividades"; 1684 - Irmandade do Santíssimo faz longa exposição a D. Pedro II informando ainda ser preciso 15 mil cruzados para se acabarem as obras e se comprarem os ornamentos indispensáveis para o templo; não podendo o povo, nem a Fazenda Real dar mais e a Irmandade estar empenhada, pede, por isso, licença ao rei para comprar um patacho que levasse 500 escravos para o Brasil, revertendo o lucro líquido a favor da igreja, por um prazo de 10 anos; o Conselho Ultramarino informa favoravelmente, mas reduz o privilégio para 6 anos, despachando depois o rei apenas por um prazo de 4 anos; como a provisão não é executada em Angola, as obras param e só posteriormente se concluem; séc. 18, 1ª metade - o Pe. Luís Baines, natural de Luanda e pároco dos Remédios, deixa em testamento os fundos necessários para se instituir um coro privativo na igreja; o coro é composto pelo pároco, como residente, e quatro capelães, todos com obrigação de uma missa em cada semana do ano; posteriormente, o coro é aumentado com novas capelas, instituídas pela viúva D. Lourença Raposo Pimentel e D. Rosaura Vieira Lima, com os rendimentos provenientes de dois prédios legados pelas mesmas; 1799 - relatório do deão Dr. Dantas Lima refere que, "sendo ela a paróquia dos comerciantes, se acha bem paramentada e rica para os dias de solenidades, mas esses homens que são pródigos quando se trata de fazer uma festa ou procissão em que eles brilhem e adquiram o título de magníficos e liberais, passam a ser avaros quando se lhes pede uma esmola para uma casula ou frontal quotidiano. Por isso, esta igreja, [...] é miserável nos dias semanários e em todo o curso do ano necessita das coisas mais precisas e, para dizer tudo [...]. Parece logo indispensável assinalar-se alguma côngrua à sua fábrica e darem-se-lhe alguns paramentos, assim como se dão à catedral"; 1818 - a igreja matriz da Conceição que vinha funcionando como Sé desde o séc. 17, ameaça ruína iminente, tendo de ser encerrada ao culto; a Sé é então transferida para a igreja do Convento de São José, da Ordem de São Francisco; 1826 - data da morte do bispo Póvoas, que deixa a Sé vaga; 1828 - devido à igreja do convento ameaçar ruína, o Cabido, em sessão capitular a que preside o deão Leonardo Vilela, decide transferir a Sé do Bispado para a igreja paroquial dos Remédios, até resolução do real padroeiro; 05 junho - transferência da Sé para a Igreja dos Remédios, no dia do Corpo de Deus; o vigário capitular Leonardo Vilela dá ao coro dos Remédios, que é fundido num só, novos estatutos; com a transferência da Sé para a igreja, a mesma recebe muitas pratas e alfaias do cabido, o qual, por sua vez, havia recebido muitas delas, da extinta igreja dos Jesuítas; 1830 - cónego Patrício Correia, então vigário capitular, sugere ao Ministro da Marinha a transferência da Sé para a Igreja de São João, que o bispo Póvoas havia cedido aos militares, ou, se decidisse pela Cidade Baixa, que se fixasse definitivamente nos Remédios; 1836 - só nesta data o Governo de Lisboa confirma a mudança da Sé para a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios; 1873, cerca - início das obras de reconstrução da igreja, executadas pela Obras Públicas; 1876 - a igreja dos Remédios é encerrada ao culto devido ao mau estado, tendo, pouco depois, abatido o teto; a paróquia e Sé são transferidas temporariamente para a Igreja do Carmo; 1878 / 1879 - 1892 / 1893 - a Sé funciona na Igreja do Corpo Santo enquanto decorrem obras na do Carmo; 1881 - Governo autoriza a venda de dois prédios na Baixa, pertencentes à paróquia dos Remédios; 1882, janeiro - restrito apostólico autoriza a venda dos dois prédios; Cabido vende também alguns objetos de ouro e prata que, juntamente com os dois prédios, são avaliados em 4.909$000, com vista às despesas da reconstrução da igreja; 1880 - data de uma gravura de Luanda que reproduz a igreja ainda sem teto; 1897, 01 julho - auto de vistoria afirma que os trabalhos de reconstrução se vinham realizando há 24 anos; o auto refere que falta apenas a colocação do relógio, dos vidros das torres, a conclusão do adro e outros pequenos trabalhos; 08 agosto - bênção da igreja pelo cónego Joaquim Gericota, vigário geral e governador do bispado, na ausência do bispo Dias Ferreira, então em Portugal; 15 agosto - abertura solene da igreja ao culto, no dia da Assunção de Nossa Senhora, com missa cantada em honra de Nossa Senhora da Assunção e em ação de graças da Restauração de Angola em 1648; à cerimónia assiste o Governador-Geral, Conselheiro Ramada Curto, o Secretário-Geral, o presidente da Câmara, clero, funcionários e muito povo; 1907 - por ocasião da visita a Angola do Príncipe D. Luís Filipe, é aqui cantado um "Te Deum"; 1940 - bula "Sollemnibus Conventionibus" fixa oficialmente a Sé da Arquidiocese de Luanda na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, como já vinha sendo Sé da antiga diocese de Angola e Congo, mas sem confirmação pontifícia; é-lhe dado por contitular São Salvador, com festa a 6 de agosto, em memória da primitiva Sé do Congo; 1954 - visita oficial do Presidente da República General Craveiro Lopes.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria rebocada e pintada; soco e molduras de alguns vãos em cantaria; lanternins, lambrequins, tubos de descarga, guardas, tribunas e grades em ferro; caixilharia e portas de madeira; vidros simples e policromos; retábulos de talha pintada; decoração em estuques relevados; pavimento cerâmico; coberturas de madeira e estuque; cobertura de telha.

Bibliografia

GABRIEL, Manuel Nunes - Padrões da Fé. As Igrejas antigas de Angola. Braga: Arquidiocese de Luanda, 1981.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA; Arquivo Histórico Ultramarino: Agência Geral do Ultramar

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

EM ESTUDO. *1 - A 10 de março de 1679 é passado a favor de Francisco Barroso três alvarás para poder tomar o hábito de Cristo de qualquer dignidade eclesiástica, para ser armado cavaleiro e para poder fazer a profissão, apesar de não ser fidalgo nem nobre. Apesar do que diz a inscrição, Francisco Barroso não deve ter sido o primeiro fundador da Igreja dos Remédios, pois ela já estava em obras em 1655 e ele só chega a Luanda cinco anos depois. Como tal, a expressão primeiro fundador pode ser interpretado como grande impulsionador ou subscritor em dinheiro.

Autor e Data

Paula Noé 2014

Actualização

 
 
 
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