Núcleo urbano da cidade de Trancoso / Zona Histórica da Vila de Trancoso

IPA.00002996
Portugal, Guarda, Trancoso, União das freguesias de Trancoso (São Pedro e Santa Maria) e Souto Maior
 
Núcleo urbano sede municipal. Cidade situada em planalto. Vila medieval de jurisdição régia com castelo e cerca urbana. fortificado medieval; perímetro de traçado irregular, conjugando morfologia oval e quadrangular. Composto por dois núcleos (a Vila Velha integrando o Castelo e a Vila Nova) separados pelo traçado curvo da R. Direita, registo da primeira cerca. Segundo núcleo caracterizado pela articulação entre as zonas de influência das quatro paróquias cristãs intramuros e do bairro judeu. Hierarquia viária regulada pelas quatro portas da muralha, mostrando esquema de filiação clássica: a Pç. do Pelourinho implantada no centro do aglomerado, no cruzamento dos eixos principais. Tecido construído muito diversificado. Base topográfica regular. Cerca muralhada hoje desprovida de construções adossadas no exterior. Articulação de duas ruas direitas. Organização de largos na proximidade das portas urbanas sem comunicação directa com estas. Hierarquia viária actual derivada da demolição da muralha em diversos pontos. Presença de vários espaços e estruturas destinadas ao mercado. União visual de espaços diferenciados pela demolição do quarteirão do convento.
Número IPA Antigo: PT020913170015
 
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Registo

 
Conjunto urbano  Aglomerado urbano  Cidade  Vila medieval  Vila fortificada  Régia (D. Sancho I)

Descrição

A unidade do conjunto é conferida pelo perímetro muralhado de traçado irregular tendencialmente quadrangular a S. e oval a N., interrompido por quatro portas, três postigos e outras aberturas. Distinguem-se dois núcleos designados por Vila Velha e Vila Nova. O primeiro núcleo detém configuração perimetral muito irregular, apesar da forte tendência oval definida pela curvatura da R. dos Cavaleiros. Inclui a NE. o Castelo e no lado oposto, onde se erguia o templo matricial, o Lg. do Castelo marca a transição para a área urbana. Conjuga quarteirões irregulares de pequena dimensão com outros muito extensos, resultado da apropriação de espaços públicos. Tomando como referência a linha da primeira cerca muralhada, depois R. Direita (R. Cavaleiros) ligando as Portas do Carvalho (N.) e de São João (S.), observa-se que a área classificável como Vila Nova deriva da gradual expansão extra-muros, muito heterogénea e composta por diferentes unidades: as quatro paróquias cristãs e o bairro judeu. Se o primeiro núcleo e a R. Direita acusam os maiores desníveis topográficos (cerca de 10 metros), a Vila Nova apresenta uma base topográfica muito regular. A partir da R. Direita lê-se um anel de crescimento que agregou dois dos espaços mais significativos, organizados em função das Igrejas de Santa Maria e de S. Pedro, com uma implantação semelhante, originando os respectivos adros, o Lg. de Santa Maria (com tília centenária) e a Praça do Pelourinho. Entre estas duas zonas ou paróquias rasga-se o eixo apartir das Portas do Prado (ligação ao Campo da Vila), a denominada Avenida (antes área ocupada pelo Convento das Freiras) e o troço da R. dos Cavaleiros que liga às Portas de São João (ligação às paróquias extra-muros, em especial a São João Extra). Este eixo fundamental é cruzado pela R. da Corredoura, uma segunda R. Direita que liga a Praça do Pelourinho às Portas d' El Rei (ligação ao Campo da Feira) e que separa a Vila Nova do Bairro Judeu. Este último, bem delimitado entre o terreiro formado pelo alargamento da R. Cavaleiros, junto à antiga Casa da Câmara, as Portas de São João, a cerca e a Corredoura, abrangem uma área extensa, onde as principais ligações confluem no Lg. da Roseira e respectivo poço *1. Apresenta quarteirões com dimensão e parcelamento mais homogéneos. O lado oposto da Corredoura (com área equivalente ao Bairro Judeu) corresponde à zona de influência das antigas paróquias de São João da Vila Nova e de Santiago, evidenciando consolidação mais recente e malha mais regular. Junto às Portas d'El Rei abre-se o antigo Terreiro de São João (igreja substituída pelos Paços do Concelho), enquanto na proximidade do Postigo do Boeirinho o espaço do antigo Lg. de Santiago é hoje ocupado por árvores de grande porte. A coesão entre as várias zonas é assegurada pela hierarquia viária, subordinada às quatro portas (orientadas aproximadamente segundo os pontos cardeais) em cujo cruzamento se organiza a Praça aberta quase no centro geométrico da área urbana, marcada pelo Pelourinho. Considerada de modo restrito, configura um espaço quadrangular, delimitado a E. pela Igreja de S. Pedro, a O. pela Avenida ampla, a N. pelos alpendres de mercado e a S. pela Misericórdia. Porém, valorizando uma leitura mais fluida, destaca-se à ilharga do templo a Casa dos Arcos e no lado oposto a Casa da Câmara e Cadeia, que serve de referência ao terreiro contíguo, vocacionado para as Portas de São João. Também na proximidade da Praça identifica-se o antigo Terreiro das Freiras (Lg. Eduardo Cabral), espaço trapezoidal, acoplado ao Lg. de Santa Maria e hoje unido à Avenida, onde se erguem algumas casas nobres, mas cuja forma, dimensão e função estão relacionadas com a vizinhança das Portas do Prado e com o desaparecido edifício conventual. O tecido construído apresenta diversidade tipológica, e grupo significativo de edifícios notáveis (Castelo, Igrejas, Solares). Predominam as casas rebocadas, com dois ou três pisos, mostrando composição regular com vãos de lintel recto e moldura lisa. Mais localizadas (primeiro núcleo urbano, bairro judeu) surgem as casas de dois pisos com o aparelho construtivo à vista, alternando a porta larga com a estreita, encimadas por duas janelas, por vezes incluindo vãos biselados ou moldura boleada. As escadas externas surgem pontualmente. Na R. da Corredoura e zona adjacente dominam as casas oitocentistas, mais elevadas com varandas corridas, recorrendo com mais frequência a cornija.

Acessos

EN226, Largo das Portas d'El Rei, Avenida Eng. José Frederico Ulrich

Protecção

Em vias de classificação / Incluído na Zona de Protecção do Castelo e Zona Especial de Protecção das Muralhas de Trancoso (v. PT020913170002) / PP - Plano de Pormenor (Salvaguarda do centro histórico de Trancoso), Portaria n.º 578/93, DR, 1.ª série-B, n.º 131 de 5 junho 1993

Enquadramento

Urbano. A cidade implanta-se a cerca de 870 metros de altitude num vasto planalto entre o rio Távora e as ribeiras da Teja e Massueime. Ocupa área considerável, delimitado pela cerca muralhada incluindo o recinto do Castelo (v. PT020913170002) orientado para a vertente mais escarpada. O crescimento extra-muros é extenso, mas permiti conservar parte da imagem murada da Vila, destacando-se em redor o Convento de Santo António (v. PT020913170026) e o Parque Municipal (v. PT020913180035), o Lg. da Feira, Fonte Nova (v. PT020913170027), várias capelas, Cruzeiro do Senhor da Boa Morte (v. PT020913170028) e necrópole de sepulturas escavadas na rocha (v. PT020913170012).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Não aplicável

Afectação

Não aplicável

Época Construção

Séc. 10 / 12 / 13 / 16

Arquitecto / Construtor / Autor

Não aplicável

Cronologia

Hipotética existência de castro, depois romanizado *2; 960 - citado entre os castelos de D. Chamôa; séc. 10 / 12 - alternância entre domínio cristão e mouro; 1148 - bula confirma castelo na posse do arcebispo de Braga; 1173 / 1185 - concessão do foral; provável (re)construção do castelo; 1217 - confirmação do foral; séc. 13, 2ª metade - vila começa a limitar a primeira cerca muralhada, cuja ampliação se iniciou talvez com D. Afonso III; 1273 - criação da feira anual; 1282 - casamento de D. Dinis e D. Isabel; 1297 - provável renovação do castelo e construção da nova cerca; 1306 - instituição da feira mensal; 1320 - existiam as paróquias de S. Miguel, e as de Santa Maria, São Pedro, Santiago e São João da Vila Nova, na nova cerca *3; 1361 / 1365 - existência de comunidade judaica *4; 1377 - Vila Nova Foz Coa obrigada a pagar anaduva para obras de fortificação, talvez renovação da alcáçova e conclusão da muralha; 1385 - cerco castelhano; 1391 - confirmação do foral e início da reparação das muralhas; 1441 - obras no castelo; séc. 15 - crescimento da judiaria; feira realiza-se extra-muros; 1510 - foral novo, provável edificação do pelourinho; 1536 - construção da torre junto à Porta do Carvalho; 1539 - início das obras do Convento de Santa Clara; séc. 16, 1ª metade - instituição da Misericórdia; 1590 / 1592 - construção do Convento de Santo António; 1612 - existência dos alpendres de mercado na Praça; construção da cadeia, por a antiga estar arruinada, por David Álvares; licença para a construção da nova Casa da Câmara, com açougue; 1698 - primeiras medidas para a limpeza das ruas; 1704 - reparações pontuais nas muralhas e aquartelamento das tropas do Marquês de Minas; 1728 - início da reconstrução da Igreja de São Pedro; 1747 - início da Igreja da Misericórdia; 1784 / 1788 - reconstrução da Igreja de Santa Maria; 1809 - chegada de Beresford; 1810 - instalação do hospital militar na Casa da Câmara; 1810 - saque e incêndio da vila; 1835 - reparação da Casa da Câmara; 1845 - ruína da Igreja de Santiago; 1857 - demolição da Igreja de São João; séc. 19, 2ª metade - generaliza-se adossamento à muralha de construções particulares *5; 1864 - início da ruína do Convento de Santa Clara; 1885 - câmara autoriza terraplanagem do recinto retirando-se a pedra até aos alicerces do convento *6; 1886 - demolição da primeira Casa da Câmara; criação do Parque Municipal no Campo da Vila; 1890 / 1903 - alargamento da Corredoura, obras dirigidas pelo Coronel de Engenharia Xavier da Cunha; 1902 - demolição das Portas de São João; 1916 / 1917 - construção dos actuais Paços do Concelho; 2021, 04 maio - Despacho do subdiretor-geral da DGPC a determinar a abertura do procedimento de classificação da Zona Histórica da Vila de Trancoso de âmbito nacional; 08 junho - publicação da abertura do procedimento de classificação da Zona Histórica da Vila de Trancoso, em Anúncio n.º 112/2021, DR, n.º 110.

Dados Técnicos

Não aplicável

Materiais

Não aplicável

Bibliografia

HENRIQUES, João Baptista, Corografia Lusitana e República Portuguesa, Lisboa, 1691 (BNL Ms. 38); SOLEDADE, Frei Fernando da, Historia Serafica Chronologica da Ordem de S. Francisco na Provincia de Portugal, Lisboa, 1709, tomos IV e V; COSTA, António Carvalho da, Corographia Portugueza, Lisboa, 1708; HERCULANO, Alexandre, Apontamentos de Viagem, (1853), Lisboa, 1986, pp. 136-137; LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, Lisboa, 1873; SIMIES, Augusto Filipe, Escriptos diversos, Coimbra, 1888; VITERBO, Sousa, Dicionário Histórico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portugueses ou ao serviço de Portugal, vol. I, Lisboa, 1899; CAMPOS, Norberto de, Monografia de Trancoso, in Almanach e Annuario de Trancoso, 1915, 1916 e 1917; MOREIRA, David Bruno Soares, O Foral de Trancoso, in Almanach e Annuario de Trancoso, 1931; Id., Terras de Trancoso, Porto, 1932; Id., Trancoso, in Altitude, Guarda, 1ª série, ano I, nº 5, 1941; ALMEIDA, João de, Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, Lisboa, 1945; Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa, s.d., vol. 32, pp. 461-481; CAMPOS, José Lopes de, Trancoso, Subsídios para uma Monografia do Concelho, Dissertação de Licenciatura, Coimbra, 1951; RODRIGUES, Ester de Jesus Pena, Trancoso no Séc. XVIII, Subsídios para uma Monografia, Dissertação de Licenciatura, Coimbra, 1972; TEIXEIRA, Irene Avilez, Trancoso, Terra de Sonho e Maravilha, Trancoso, 1982; RAU, Virgínia, Feiras Medievais Portuguesas, Subsídios para o seu Estudo, 2ª ed., Lisboa, 1983; TAVARES, Maria José Pimenta Ferro, As Comunidades Judaicas das Beiras durante a Idade Média, Altitude, Guarda, 2ª série, 1981, nº4; O Bandarra Almanaque - Anuário de Trancoso, Trancoso, 1988 e ss.; CORREIA, Joaquim Manuel Lopes, Trancoso (Notas para uma Monografia), 2ª ed., Trancoso, 1989; BARROCA, Mário, Do Castelo da Reconquista ao Castelo Românico (Séc. IX a XII), in Portugalia, Porto, nova série, vol. XI - XII, 1990 / 1991, pp. 89 - 135; Plano de Salvaguarda do Centro Histórico de Trancoso - Gabinete Técnico Local, Trancoso, 1991; FERREIRA, Maria do Céu Crespo, Subsídios para o Estudo do Habitat Fortificado em Portugal, in I Simpósio Peninsular sobre Fortificações Medievais (realizado em Trancoso), 1990 (no prelo); Id., Sondagem Arqueológica na Judiaria de Trancoso, (relatório policopiado), Trancoso, 1996; Id., Sondagem Arqueológica no Largo da Avenida, (relatório policopiado), Trancoso, 1998; GOMES, Rita Costa, Castelos da Raia - Beira, Lisboa, 1996; FIGUEIREDO, Jorge de, Trancoso. Dez Anos de Cultura (1986-1996), Trancoso, 1997.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; IPPAR; CMT; DGOTDU: Arquivo Histórico (Anteplano de Urbanização de Trancoso, Arq. Celestino Castro, 1951)

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; IPPAR

Documentação Administrativa

IPPAR; Arquivo Municipal de Trancoso; DGOTDU: Arquivo Histórico (Anteplano de Urbanização de Trancoso, Arq. Celestino Castro, 1951)

Intervenção Realizada

DGEMN: 1939 / 1970 - obras de restauro e consolidação no castelo e muralhas; 1950 / 1995 - restauro e trabalhos de conservação na Igreja de Nossa Senhora da Fresta; 1959 - obras de restauro na Capela de Santa Luzia; 1973 - vedação da necrópole. Câmara Municipal de Trancoso: 1961 - limpeza do Pelourinho; 1978 / 1997 - restauro e arranjo da envolvente na Capela de Santa Luzia; 1988 - início das obras de recuperação e adaptação do Convento de Santo António a centro cultural (os trabalhos encontram-se suspensos); 1991 - elaboração do Plano de Salvaguarda do Centro Histórico pelo Gabinete Técnico Local; 1996 - sondagem arqueológica na Judiaria, dirigida por Maria do Céu Crespo Ferreira; 1998 - sondagem arqueológica e arranjo urbanístico da Avenida, com projecto do arquitecto Rui Cardoso; 1995 / 1996 - reconstrução e remodelação da Casa dos Arcos ao Lg. do Pelourinho para adaptação a residência de estudantes; 1995 / 1998 - valorização da envolvente das muralhas, projecto do arquitecto António Menéres; remodelação da rede eléctrica; 1997 - Projecto do Urbanismo Comercial no âmbito do PROCOM.

Observações

*1 - Subsistem 3 poços públicos: da Roseira, do Mestre e da R. Chã. *2 - Origem do topónimo atribuída à fundação mítica do povoado em 730 a.c. por Tarracon rei da Etiópia e Egipto; deriva do português arcaico "troncoso", a partir do vocábulo latino "truncu", significando tronco. *3 - O topónimo São João da Vila Nova, sinal do crescimento urbano e edificação da cerca. Extra-muros existiam as igrejas de Santa Maria do Sepulcro, Santa Luzia, São Tomé e São Bartolomeu; 1732 - só existim as paróquias de Nossa Senhora da Fresta (Nossa Senhora do Sepulcro) e São João Extra. Hoje na área urbana restam Santa Maria de Guimarães e São Pedro. *4 - Existia a "judiaria apartada" na "Rua em que sempre viuerom, que he na metade da dicta villa." (ANTT, Chancelaria de D. Pedro I, Lº I, fl.106, publicado por CORREIA, 1982, p. 376). *5 - 1843: câmara exigiu abertura da porta de carro ou Portas Novas, por Alexandre de Melo Silva Sequeira Ferraz, contrapartida ao deferimento do pedido para murar o quintal entre Boeirinho e R. Chã. *6 - Não se conservam "in situ" quaisquer vestígios, sendo de anotar o aproveitar do portal na Capela do Cemitério. O conjunto conventual integrava torre tardo-gótica pertencente aos paços que o alcaide Gonçalo Vasques Coutinho (herói da Batalha de Trancoso de 1385) construira em 1395 à R. dos Mercadores (R. da Corredoura). A ruína do Convento que delimitava o O. da Praça, conheceu episódios descritos por Maria do Céu Crespo Ferreira (1998).

Autor e Data

Margarida Conceição 1998

Actualização

 
 
 
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