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Conjunto urbano Aglomerado urbano Cidade Vila medieval Vila fortificada Régia (D. Sancho I)
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Descrição
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A unidade do conjunto é conferida pelo perímetro muralhado de traçado irregular tendencialmente quadrangular a S. e oval a N., interrompido por quatro portas, três postigos e outras aberturas. Distinguem-se dois núcleos designados por Vila Velha e Vila Nova. O primeiro núcleo detém configuração perimetral muito irregular, apesar da forte tendência oval definida pela curvatura da R. dos Cavaleiros. Inclui a NE. o Castelo e no lado oposto, onde se erguia o templo matricial, o Lg. do Castelo marca a transição para a área urbana. Conjuga quarteirões irregulares de pequena dimensão com outros muito extensos, resultado da apropriação de espaços públicos. Tomando como referência a linha da primeira cerca muralhada, depois R. Direita (R. Cavaleiros) ligando as Portas do Carvalho (N.) e de São João (S.), observa-se que a área classificável como Vila Nova deriva da gradual expansão extra-muros, muito heterogénea e composta por diferentes unidades: as quatro paróquias cristãs e o bairro judeu. Se o primeiro núcleo e a R. Direita acusam os maiores desníveis topográficos (cerca de 10 metros), a Vila Nova apresenta uma base topográfica muito regular. A partir da R. Direita lê-se um anel de crescimento que agregou dois dos espaços mais significativos, organizados em função das Igrejas de Santa Maria e de S. Pedro, com uma implantação semelhante, originando os respectivos adros, o Lg. de Santa Maria (com tília centenária) e a Praça do Pelourinho. Entre estas duas zonas ou paróquias rasga-se o eixo apartir das Portas do Prado (ligação ao Campo da Vila), a denominada Avenida (antes área ocupada pelo Convento das Freiras) e o troço da R. dos Cavaleiros que liga às Portas de São João (ligação às paróquias extra-muros, em especial a São João Extra). Este eixo fundamental é cruzado pela R. da Corredoura, uma segunda R. Direita que liga a Praça do Pelourinho às Portas d' El Rei (ligação ao Campo da Feira) e que separa a Vila Nova do Bairro Judeu. Este último, bem delimitado entre o terreiro formado pelo alargamento da R. Cavaleiros, junto à antiga Casa da Câmara, as Portas de São João, a cerca e a Corredoura, abrangem uma área extensa, onde as principais ligações confluem no Lg. da Roseira e respectivo poço *1. Apresenta quarteirões com dimensão e parcelamento mais homogéneos. O lado oposto da Corredoura (com área equivalente ao Bairro Judeu) corresponde à zona de influência das antigas paróquias de São João da Vila Nova e de Santiago, evidenciando consolidação mais recente e malha mais regular. Junto às Portas d'El Rei abre-se o antigo Terreiro de São João (igreja substituída pelos Paços do Concelho), enquanto na proximidade do Postigo do Boeirinho o espaço do antigo Lg. de Santiago é hoje ocupado por árvores de grande porte. A coesão entre as várias zonas é assegurada pela hierarquia viária, subordinada às quatro portas (orientadas aproximadamente segundo os pontos cardeais) em cujo cruzamento se organiza a Praça aberta quase no centro geométrico da área urbana, marcada pelo Pelourinho. Considerada de modo restrito, configura um espaço quadrangular, delimitado a E. pela Igreja de S. Pedro, a O. pela Avenida ampla, a N. pelos alpendres de mercado e a S. pela Misericórdia. Porém, valorizando uma leitura mais fluida, destaca-se à ilharga do templo a Casa dos Arcos e no lado oposto a Casa da Câmara e Cadeia, que serve de referência ao terreiro contíguo, vocacionado para as Portas de São João. Também na proximidade da Praça identifica-se o antigo Terreiro das Freiras (Lg. Eduardo Cabral), espaço trapezoidal, acoplado ao Lg. de Santa Maria e hoje unido à Avenida, onde se erguem algumas casas nobres, mas cuja forma, dimensão e função estão relacionadas com a vizinhança das Portas do Prado e com o desaparecido edifício conventual. O tecido construído apresenta diversidade tipológica, e grupo significativo de edifícios notáveis (Castelo, Igrejas, Solares). Predominam as casas rebocadas, com dois ou três pisos, mostrando composição regular com vãos de lintel recto e moldura lisa. Mais localizadas (primeiro núcleo urbano, bairro judeu) surgem as casas de dois pisos com o aparelho construtivo à vista, alternando a porta larga com a estreita, encimadas por duas janelas, por vezes incluindo vãos biselados ou moldura boleada. As escadas externas surgem pontualmente. Na R. da Corredoura e zona adjacente dominam as casas oitocentistas, mais elevadas com varandas corridas, recorrendo com mais frequência a cornija. |
Acessos
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EN226, Largo das Portas d'El Rei, Avenida Eng. José Frederico Ulrich |
Protecção
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Em vias de classificação / Incluído na Zona de Protecção do Castelo e Zona Especial de Protecção das Muralhas de Trancoso (v. PT020913170002) / PP - Plano de Pormenor (Salvaguarda do centro histórico de Trancoso), Portaria n.º 578/93, DR, 1.ª série-B, n.º 131 de 5 junho 1993 |
Enquadramento
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Urbano. A cidade implanta-se a cerca de 870 metros de altitude num vasto planalto entre o rio Távora e as ribeiras da Teja e Massueime. Ocupa área considerável, delimitado pela cerca muralhada incluindo o recinto do Castelo (v. PT020913170002) orientado para a vertente mais escarpada. O crescimento extra-muros é extenso, mas permiti conservar parte da imagem murada da Vila, destacando-se em redor o Convento de Santo António (v. PT020913170026) e o Parque Municipal (v. PT020913180035), o Lg. da Feira, Fonte Nova (v. PT020913170027), várias capelas, Cruzeiro do Senhor da Boa Morte (v. PT020913170028) e necrópole de sepulturas escavadas na rocha (v. PT020913170012). |
Descrição Complementar
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Utilização Inicial
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Não aplicável |
Utilização Actual
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Não aplicável |
Propriedade
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Não aplicável |
Afectação
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Não aplicável |
Época Construção
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Séc. 10 / 12 / 13 / 16 |
Arquitecto / Construtor / Autor
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Não aplicável |
Cronologia
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Hipotética existência de castro, depois romanizado *2; 960 - citado entre os castelos de D. Chamôa; séc. 10 / 12 - alternância entre domínio cristão e mouro; 1148 - bula confirma castelo na posse do arcebispo de Braga; 1173 / 1185 - concessão do foral; provável (re)construção do castelo; 1217 - confirmação do foral; séc. 13, 2ª metade - vila começa a limitar a primeira cerca muralhada, cuja ampliação se iniciou talvez com D. Afonso III; 1273 - criação da feira anual; 1282 - casamento de D. Dinis e D. Isabel; 1297 - provável renovação do castelo e construção da nova cerca; 1306 - instituição da feira mensal; 1320 - existiam as paróquias de S. Miguel, e as de Santa Maria, São Pedro, Santiago e São João da Vila Nova, na nova cerca *3; 1361 / 1365 - existência de comunidade judaica *4; 1377 - Vila Nova Foz Coa obrigada a pagar anaduva para obras de fortificação, talvez renovação da alcáçova e conclusão da muralha; 1385 - cerco castelhano; 1391 - confirmação do foral e início da reparação das muralhas; 1441 - obras no castelo; séc. 15 - crescimento da judiaria; feira realiza-se extra-muros; 1510 - foral novo, provável edificação do pelourinho; 1536 - construção da torre junto à Porta do Carvalho; 1539 - início das obras do Convento de Santa Clara; séc. 16, 1ª metade - instituição da Misericórdia; 1590 / 1592 - construção do Convento de Santo António; 1612 - existência dos alpendres de mercado na Praça; construção da cadeia, por a antiga estar arruinada, por David Álvares; licença para a construção da nova Casa da Câmara, com açougue; 1698 - primeiras medidas para a limpeza das ruas; 1704 - reparações pontuais nas muralhas e aquartelamento das tropas do Marquês de Minas; 1728 - início da reconstrução da Igreja de São Pedro; 1747 - início da Igreja da Misericórdia; 1784 / 1788 - reconstrução da Igreja de Santa Maria; 1809 - chegada de Beresford; 1810 - instalação do hospital militar na Casa da Câmara; 1810 - saque e incêndio da vila; 1835 - reparação da Casa da Câmara; 1845 - ruína da Igreja de Santiago; 1857 - demolição da Igreja de São João; séc. 19, 2ª metade - generaliza-se adossamento à muralha de construções particulares *5; 1864 - início da ruína do Convento de Santa Clara; 1885 - câmara autoriza terraplanagem do recinto retirando-se a pedra até aos alicerces do convento *6; 1886 - demolição da primeira Casa da Câmara; criação do Parque Municipal no Campo da Vila; 1890 / 1903 - alargamento da Corredoura, obras dirigidas pelo Coronel de Engenharia Xavier da Cunha; 1902 - demolição das Portas de São João; 1916 / 1917 - construção dos actuais Paços do Concelho; 2021, 04 maio - Despacho do subdiretor-geral da DGPC a determinar a abertura do procedimento de classificação da Zona Histórica da Vila de Trancoso de âmbito nacional; 08 junho - publicação da abertura do procedimento de classificação da Zona Histórica da Vila de Trancoso, em Anúncio n.º 112/2021, DR, n.º 110. |
Dados Técnicos
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Não aplicável |
Materiais
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Não aplicável |
Bibliografia
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HENRIQUES, João Baptista, Corografia Lusitana e República Portuguesa, Lisboa, 1691 (BNL Ms. 38); SOLEDADE, Frei Fernando da, Historia Serafica Chronologica da Ordem de S. Francisco na Provincia de Portugal, Lisboa, 1709, tomos IV e V; COSTA, António Carvalho da, Corographia Portugueza, Lisboa, 1708; HERCULANO, Alexandre, Apontamentos de Viagem, (1853), Lisboa, 1986, pp. 136-137; LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, Lisboa, 1873; SIMIES, Augusto Filipe, Escriptos diversos, Coimbra, 1888; VITERBO, Sousa, Dicionário Histórico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portugueses ou ao serviço de Portugal, vol. I, Lisboa, 1899; CAMPOS, Norberto de, Monografia de Trancoso, in Almanach e Annuario de Trancoso, 1915, 1916 e 1917; MOREIRA, David Bruno Soares, O Foral de Trancoso, in Almanach e Annuario de Trancoso, 1931; Id., Terras de Trancoso, Porto, 1932; Id., Trancoso, in Altitude, Guarda, 1ª série, ano I, nº 5, 1941; ALMEIDA, João de, Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, Lisboa, 1945; Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa, s.d., vol. 32, pp. 461-481; CAMPOS, José Lopes de, Trancoso, Subsídios para uma Monografia do Concelho, Dissertação de Licenciatura, Coimbra, 1951; RODRIGUES, Ester de Jesus Pena, Trancoso no Séc. XVIII, Subsídios para uma Monografia, Dissertação de Licenciatura, Coimbra, 1972; TEIXEIRA, Irene Avilez, Trancoso, Terra de Sonho e Maravilha, Trancoso, 1982; RAU, Virgínia, Feiras Medievais Portuguesas, Subsídios para o seu Estudo, 2ª ed., Lisboa, 1983; TAVARES, Maria José Pimenta Ferro, As Comunidades Judaicas das Beiras durante a Idade Média, Altitude, Guarda, 2ª série, 1981, nº4; O Bandarra Almanaque - Anuário de Trancoso, Trancoso, 1988 e ss.; CORREIA, Joaquim Manuel Lopes, Trancoso (Notas para uma Monografia), 2ª ed., Trancoso, 1989; BARROCA, Mário, Do Castelo da Reconquista ao Castelo Românico (Séc. IX a XII), in Portugalia, Porto, nova série, vol. XI - XII, 1990 / 1991, pp. 89 - 135; Plano de Salvaguarda do Centro Histórico de Trancoso - Gabinete Técnico Local, Trancoso, 1991; FERREIRA, Maria do Céu Crespo, Subsídios para o Estudo do Habitat Fortificado em Portugal, in I Simpósio Peninsular sobre Fortificações Medievais (realizado em Trancoso), 1990 (no prelo); Id., Sondagem Arqueológica na Judiaria de Trancoso, (relatório policopiado), Trancoso, 1996; Id., Sondagem Arqueológica no Largo da Avenida, (relatório policopiado), Trancoso, 1998; GOMES, Rita Costa, Castelos da Raia - Beira, Lisboa, 1996; FIGUEIREDO, Jorge de, Trancoso. Dez Anos de Cultura (1986-1996), Trancoso, 1997. |
Documentação Gráfica
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IHRU: DGEMN/DSID; IPPAR; CMT; DGOTDU: Arquivo Histórico (Anteplano de Urbanização de Trancoso, Arq. Celestino Castro, 1951) |
Documentação Fotográfica
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IHRU: DGEMN/DSID; IPPAR |
Documentação Administrativa
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IPPAR; Arquivo Municipal de Trancoso; DGOTDU: Arquivo Histórico (Anteplano de Urbanização de Trancoso, Arq. Celestino Castro, 1951) |
Intervenção Realizada
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DGEMN: 1939 / 1970 - obras de restauro e consolidação no castelo e muralhas; 1950 / 1995 - restauro e trabalhos de conservação na Igreja de Nossa Senhora da Fresta; 1959 - obras de restauro na Capela de Santa Luzia; 1973 - vedação da necrópole. Câmara Municipal de Trancoso: 1961 - limpeza do Pelourinho; 1978 / 1997 - restauro e arranjo da envolvente na Capela de Santa Luzia; 1988 - início das obras de recuperação e adaptação do Convento de Santo António a centro cultural (os trabalhos encontram-se suspensos); 1991 - elaboração do Plano de Salvaguarda do Centro Histórico pelo Gabinete Técnico Local; 1996 - sondagem arqueológica na Judiaria, dirigida por Maria do Céu Crespo Ferreira; 1998 - sondagem arqueológica e arranjo urbanístico da Avenida, com projecto do arquitecto Rui Cardoso; 1995 / 1996 - reconstrução e remodelação da Casa dos Arcos ao Lg. do Pelourinho para adaptação a residência de estudantes; 1995 / 1998 - valorização da envolvente das muralhas, projecto do arquitecto António Menéres; remodelação da rede eléctrica; 1997 - Projecto do Urbanismo Comercial no âmbito do PROCOM. |
Observações
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*1 - Subsistem 3 poços públicos: da Roseira, do Mestre e da R. Chã. *2 - Origem do topónimo atribuída à fundação mítica do povoado em 730 a.c. por Tarracon rei da Etiópia e Egipto; deriva do português arcaico "troncoso", a partir do vocábulo latino "truncu", significando tronco. *3 - O topónimo São João da Vila Nova, sinal do crescimento urbano e edificação da cerca. Extra-muros existiam as igrejas de Santa Maria do Sepulcro, Santa Luzia, São Tomé e São Bartolomeu; 1732 - só existim as paróquias de Nossa Senhora da Fresta (Nossa Senhora do Sepulcro) e São João Extra. Hoje na área urbana restam Santa Maria de Guimarães e São Pedro. *4 - Existia a "judiaria apartada" na "Rua em que sempre viuerom, que he na metade da dicta villa." (ANTT, Chancelaria de D. Pedro I, Lº I, fl.106, publicado por CORREIA, 1982, p. 376). *5 - 1843: câmara exigiu abertura da porta de carro ou Portas Novas, por Alexandre de Melo Silva Sequeira Ferraz, contrapartida ao deferimento do pedido para murar o quintal entre Boeirinho e R. Chã. *6 - Não se conservam "in situ" quaisquer vestígios, sendo de anotar o aproveitar do portal na Capela do Cemitério. O conjunto conventual integrava torre tardo-gótica pertencente aos paços que o alcaide Gonçalo Vasques Coutinho (herói da Batalha de Trancoso de 1385) construira em 1395 à R. dos Mercadores (R. da Corredoura). A ruína do Convento que delimitava o O. da Praça, conheceu episódios descritos por Maria do Céu Crespo Ferreira (1998). |
Autor e Data
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Margarida Conceição 1998 |
Actualização
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