Hotel Guadiana

IPA.00027707
Portugal, Faro, Vila Real de Santo António, Vila Real de Santo António
 
Arquitectura comercial e turística, eclética, Arte Nova. Hotel destacado em altura, rompendo o ritmo da urbe pombalina, apresentando fachada principal tripartida centralizada em corpo redondo no gaveto, que articula organicamente os laterais, um deles ligeiramente mais extenso pelo qual se faz o acesso principal (SILVA, 2010); o corpo de gaveto dispõe-se em quatro pisos e os laterais em três e sótão com águas-furtadas; o corpo sobre a Avenida da República, aberto ao rio e a Espanha, e o de gaveto são valorizados por uma, ainda que contida, riqueza decorativa e compositiva que paulatinamente se desvanece no corpo secundário para quase se apagar na fachada posterior. No corpo de gaveto salienta-se a sacada nobre, tripartida, com meias-colunas, emparelhadas ladeando o vão central. Os diferentes panos das fachadas são definidos por pilastras simulando silharia fendida (que no registos inferior adquirem maior robustez pela alternância de silhares); os registos são definidos por cornijas escassamente elaboradas, nas quais comungam as varandas ou varandins das sacadas do piso nobre e os peitoris de janelas; vãos de vário recorte, geminados, tripartidos ou simples; modilhões decorados com elementos clássicos de acantos, caneluras, entre-canas e palmetas que se repetem no topo das ombreiras da entrada principal, aqui destacados pela maior volumetria; tratamento semelhante é dado às trapeiras enquadradas por frontões em arcos redondos, volutados; marcando o eixo dos panos, trapeiras de maiores dimensões, enquadradas por pilastras, com tímpanos preenchidos por azulejos arte nova. A heterogeneidade de elementos decorativos e compositivos é sublinhada pelo desenho das caixilharias dos vãos, de desenho assumidamente geométrico; porta principal realçada por maior riqueza decorativa, com o desenho das caixilharias exibindo um maior dinamismo, com discreto monograma alusivo à categoria hoteleira (Grande Hotel). Este ecletismo consolida-se nos varandins onde se associam festões, espirais ovaladas e incipientes gregas evocativas da Art Deco. A articulação dos panos com corpos marcando os eixos , que não apenas o gaveto, destacados em altura pelas trapeiras incorporadas, munidas de frontões, é uma tipologia comum em Korrodi, como atestam, em Leiria, o Edifício na Rua Mouzinho de Albuquerque (v. PT021009120073), de 1920, e o Edifício Zúquete (v. PT021009120095), reconstruído sob projecto do arquitecto em 1914 e, em Lisboa, o Edifício na Rua Saraiva de Carvalho, nºs. 242 a 246 (v. PT031106350112), de 1910 / 1911, nos quais encontramos igualmente semelhantes elementos compositivos, como os losangos nas caixilharias das janelas do Edifício na Rua Mouzinho de Albuquerque, o tratamento de pilastras no Edifício Zúquete, ou ainda as chaves destacadas como elementos de ligação entre varandas e vãos e o desenho das vergas interligadas de janelas tripartidas, patentes, respectivamente, no Edifício da Antiga Garagem em Aveiro (v. PT020105060036) e na Quinta de São José em Marrazes, Leiria (v. PT021009140139). Hotel de luxo no contexto algarvio da época de construção, constitui elemento destacado da mole pombalina, com ela assumidamente rompendo, testemunho de uma época que assistia sem conflito às feridas decorentes do desenvolvimento local, aqui alicerçado na indústria conserveira.
Número IPA Antigo: PT050816020029
 
Registo visualizado 560 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Comercial e turístico  Unidade hoteleira  Hotel  

Descrição

Planta rectangular, quase quadrada, simples, com pátio rectangular ao centro e ângulo NE. em gaveto redondo, formando corpo destacado; massa disposta na vertical com cobertura diferenciada em telhado disposto em U, com o lado fechado a E., apresentando: 2 águas a E., com sete trapeiras na aba E. de diferentes tamanhos e uma trapeira na aba O, no ângulo NE; de 3 águas a N., com quatro trapeiras na aba N., uma maior que as restantes, três trapeiras na aba S., uma maior que as restantes, e no topo O. telhados de 2 águas nos ângulos; de 4 águas a S. com aba S. interrompida ao centro por saguão quadrado; em terraço a O. e no corpo de gaveto.

Acessos

Avenida da República, nº 91 - 96 (antiga Rua da Rainha) / Rua Frederico Ramirez (antiga Rua da Vitória) / Rua da Princesa, nº 66- 72

Protecção

Categoria: IM - Interesse Municipal, Aviso n.º 11104/2011, DR, 2.ª série, n.º 96, de 18 maio 2011 / Incluído no Núcleo histórico pombalino de Vila Real de Santo António (v. PT050816020003)

Enquadramento

Urbano, adossado, em destaque, formando gaveto, com fachada principal voltada ao rio.

Descrição Complementar

Segundo Raquel Henriques da Silva o hotel "é um anotável realização de um dos mais importantes arquitectos de 1900, a trabalhar em Portugal" (Silva, 2009).

Utilização Inicial

Comercial e turística: hotel

Utilização Actual

Serviços: banco / Comercial: loja / Devoluto

Propriedade

Privada

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Ernesto Korrodi

Cronologia

1871 - reside desde esta data no lote onde seria construído o Hotel Guadiana, Sebastian Ramirez, pai de Manuel Ramirez, promotor do edifício; 1919 - projecto de E. Korrodi para a sucursal do BNU - Banco Nacional Ultramarino de Vila Real de Santo António; 1921 - desenhos de projectos de E. Korrodi para o Hotel Guadiana, nos quais este surge intitulado como "Hotel de Turismo" *2;1926 - inauguração oficial do hotel, cuja construção foi promovida pelo industrial Manuel Ramirez, numa parcela do quarteirão 39 da planta de fundação da Vila e na qual existiria (segundo o testemunho de uma sobrinha de Manuel Ramirez, anotado em 1986 pelo Arq. Lopes da Costa), um edifício pombalino, idêntico ao existente no gaveto oposto (de dois registos e águas-furtadas), e que teria então sido demolido; 1927, 24 Julho - segundo notícia no jornal Correio do Sul, já se encontra em pleno funcionamento sendo o Restaurante Casino Peninsular de Monte Gordo, um seu sucursal; 1967 - sob o argumento de devolver à Praça Marquês de Pombal a sua unidade e a coerência originais, o Arq. Joaquim Cabeça Padrão, no seu Estudo de Prospecção e Defesa da Paisagem Urbana do Algarve, no âmbito da antiga Direcção Geral dos Serviços de Urbanização, defende a demolição do Hotel Guadiana e a reconstrução da sua fachada na Beira-Mar; 1986 - projecto de reactivação do hotel Guadiana, tendo sido realizada uma inspecção ao imóvel e sido elaborada pelo Arq. José Manuel Lopes da Costa uma Memória Descritiva e Justificativa; 1987 - obras de recuperação, por parte de entidade privada, visando a sua reabertura; 1992 - inauguração da nova unidade hoteleira; 2002 - 2007 - a gestão do hotel é cedida a uma empresa; 2007 - encerramento do Hotel devido a dificuldades financeiras dos herdeiros; 2007, Outubro pelo menos desde esta data o imóvel encontra-se à venda na Internet pela leiloeira Sotheby's International Realty; tendo sido posteriormente vendido por 1,1 milhões de euros, Carlos Agostinho, um dos herdeiros, contesta a aquisição acusando o advogado Luís Sommer Martha, de burla dado que este teria obtido procurações com falsos pretextos, vendido o imóvel por uma verba abaixo do seu real valor e dela se tendo apropriado; para financiar a operação, o proprietário teria hipotecado o imóvel ao BPN, como garantia de empréstimo bancário; 2009 - a autarquia prevê a posse coerciva e administrativa do hotel e a consequente abertura de concurso público para entrega da sua gestão a privados; 2009, Janeiro - a Polícia Judiciária detém o advogado Luís Sommer Martha sob a acusação de burla agravada, falsificação de documentos e branqueamento de capitais; no âmbito desse processo os herdeiros requerem a anulação da venda do imóvel; 2009, 01 setembro - a VRSA/SRU - Sociedade de Reabilitação Urbana, EM S.A adjudica a Lucas Amado & Associados - Sociedade de Advogados, R.L., Serviços de consultadoria jurídica no âmbito da expropriação do Hotel; 2009, 17 novembro - Proposta de classificação pela CM de Vila Real de Santo António; 2010, 24 fevereiro - Proposta de encerramento da classificação e eventual classificação como IIM - Imóvel de Interesse Municipal, pela DRCAlgarve; 2010, 07 abril - Despacho de encerramento da classificação pelo Diretor do IGESPAR, por não ter valor nacional; 2010, 06 julho - Deliberação camarária de abertura do procedimento de classificação; 2010, 21 outubro - nova Deliberação camarária de abertura do procedimento de classificação; 2010, 19 novembro - Aviso n.º 24097/2010, publicado no DR, 2.ª série, n.º 225, relativo à intenção de classificação por parte da autarquia; 2011, 05 abril - Deliberação camarária determinando a classificação.

Dados Técnicos

Paredes portantes

Materiais

Paredes: alvenaria de pedra, betão armado (escadas de serviço); pavimentos: soalho sobre estrutura de barrotes e tabiques, em madeira de Riga, sendo os tabiques revestidos a escaiola sobre reboco; coberturas: telha do tipo Marselha, folha de zinco nas trapeiras.

Bibliografia

CORREIA, António Horta, Sebastian Ramirez (1818 - 1900). Subsídio Documental para uma Biografia, Vila Real de Santo António, Câmara Municipal, 2008; COSTA, Lucília Verdelho, Ernesto Korrodi 1889 -1994. Arquitectura, Ensino e Restauro do Património, Lisboa, Estampa, 1997; FERNANDES, José Manuel, "Romantismo, historicismo, revivalismo na arquitectura algarvia" in O Algarve da Antiguidade aos Nossos Dias, org. Maria da Graça Maia Marques, Lisboa, Colibri, 1999; IDEM, Arquitectura no Algarve - dos Primórdios à Actualidade uma Leitura de Síntese, Lisboa, Afrontamento - CCDRA, 2005; SILVA, Raquel Henriques da, "Hotel Guadiana: da memória à refundição", Monumentos, nº 30, Lisboa, Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, Dezembro, 2009, pp. 98 - 105; IDEM, Vila Real de Santo António: uma única e grande casa entrevista a José Eduardo Horta, Monumentos, nº 30, Lisboa, Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, Dezembro, 2009, pp. 146 -149.

Documentação Gráfica

Turismo de Portugal: Projecto de um Hotel de Turismo Propriedade do Ex.mo Sr. Manoel Ramirez. Adaptação e Ampliação de um prédio existente; Espólio Pessoal de Ernesto Korrodi (propriedade do Arq. Célio Cantante); SRU/CMVRSA: José Manuel Lopes da Costa, Memória Descritiva e Justificativa, 20 Junho 1986.

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA

Documentação Administrativa

SRU/CMVRSA: José Manuel Lopes da Costa, Memória Descritiva e Justificativa, 20 Junho 1986; Arquivo Municipal de VRSA: Joaquim Cabeça Padrão, Prospecção, Preservação e Recuperação em Áreas Urbanas do Algarve, 1968, processo de classificação e gestão, Conservatória do Registo Predial de Vila Real de Santo António, n.º 361/19870429 e matriz urbana sob o artigo 5692.

Intervenção Realizada

Observações

*1 - Segundo o projecto não datado de E. Korrodi, no 2º andar possuía 21 quartos; *2 - Segundo Horta Correia (2008), secundado por Raquel Henriques da Silva (Monumentos, 2010), o projecto de construção de um grande hotel em Vila Real de Santo António liga-se à expectativa da deslocação e alojamento na vila de visitantes da Exposição Ibero-Americana de Sevilha de 1929; *3 - em entrevista publicada na Monumentos, nº 30, mirando a requalificação do conjunto pombalino e a sua candidatura à Unesco como Património Mundial, Horta Correia, retoma quanto já apontado pelo Arq. Joaquim Cabeça Padrão em 1967, defendendo a possibilidade de desmontagem e montagem do imóvel noutro local - a S. do Torreão S. (v. PT050816020015).

Autor e Data

Rosário Gordalina 2010

Actualização

 
 
 
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