Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Santar

IPA.00002571
Portugal, Viseu, Nelas, União das freguesias de Santar e Moreira
 
Igreja da Misericórdia maneirista, barroca, rococó e oitocentista. É de planta retangular composta por nave única e capela-mor, mais baixa e estreita, com torre sineira adossada à fachada lateral esquerda, sacristia, anexo e varanda alpendrada na oposta, e com casa do Despacho disposta na fachada posterior. Fachada principal terminada em empena, de friso e cornija, rasgada por três eixos de vãos: o central, influenciado pela tratadística de Vignola, composto por portal, de verga recta, encimado por janela de sacada, também rectilínea, ladeada por aletas volutadas e sobrepujada por frontão semicircular interrompido por brasão nacional, e os laterais compostos por janelas rectangulares jacentes, duas janelas rectangulares, sobrepujadas por nicho, concheado e com mísula para imaginária, encimados por frontão de volutas interrompido. Todos os vãos desta fachada possuem as molduras estriadas, o portal e as janelas com os ângulos salientes e quadrangulares, encimados por cornija, friso e nova cornija, sendo o friso das janelas côncavo; o brasão que interrompe a janela do eixo central é já barroco. A torre sineira apresenta as cornijas separadoras dos registos de diferente modinatura, o que poderá indicar diferentes épocas de construção; assim, é provável que o primeiro seja mais antigo, já que em 1678 / 1679 a documentação refere a construção do "torrião", mas os dois superiores datarão da reforma do séc. 19, ainda que se tenha feito a sua cobertura num revivalismo neo-barroco; os cabeções dos sinos poderão ser barrocos, devido aos seus recortes volutados. Fachada lateral esquerda com anexos incaracterísticos, resultantes de um reforma oitocentista / novecentista, e lateral direita de dois panos, tendo no primeiro amplo vão em asa de cesto encimado por varanda alpendrada, disposta em ângulo, com guarda em balaustrada de cantaria, onde assentam colunas toscanas que suportam arquitrave e alpendre; o segundo pano é rasgado irregularmente por vãos rectilíneos, no primeiro piso por duas portas e três janelas jacentes e, no segundo, por quatro janelas de sacada e guarda de ferro. A fachada lateral direita revela igualmente reformas, já que os panos possuem diferentes alturas, mas a sua fenestração, tendo em conta o desnível do terreno, é regular; a varanda alpendrada desenvolvida no segundo piso do ângulo SO., apesar de um pouco atarracada, acaba por conferir-lhe certa elegância; pela comparação com a Misericórdia de Mangualde, podemos concluir que o arco inferior em asa de cesto e actualmente entaipado, corresponderia a um vão, servindo de nártex à porta travessa, explicando-se assim o facto de, no seu interior, o pavimento ser em calhau rolado; interiormente, no entanto, a porta surge descentrada relativamente ao arco, para ficar confrontante à outra porta travessa, mostrando a dificuldade de resolução de certos aspectos, o que foi mais bem conseguido em Mangualde; a pia de água benta, depositada na varanda alpendrada, deveria surgir ladeando o interior da porta, tal como acontece nas outras e na Igreja de Mangualde. Interior com coberturas de madeira, na nave em masseira e na capela-mor em falsa abóbada de berço, com silhar de azulejos de estampilha de meados do séc. 19, de padrão fitomórfico, que, pela análise à quadrícula do tardoz, atribuíveis à Fábrica das Devesas, os quais utilizam um tipo de pasta branda, pouco comum nessa fábrica e mais relacionada com as fábricas de Lisboa, nomeadamente a de Sacavém. Nave com coro-alto, de madeira, púlpito de talha em branco revivalista neogótica, no lado da Epístola, que possui acesso por vão muito estreito e de ângulo, adaptando-se de forma deficiente à interligação dos corpos adossados, não se entendendo a razão de não ter sigo rasgado frontalmente, já que havia espaço para tal. Duas capelas laterais confrontantes, sendo o retábulo da Epístola em talha barroca joanina e o do Evangelho neoclássico, com efeito de camarim, efeito típico do séc. 17, mas que aqui surge numa reprodução bastante tardia. O da Epístola, é iconograficamente pouco comum, visto adicionar à tríade que compõe o Calvário (Cristo, Virgem e São João), dois santos e o Deus Pai. A figura de Cristo crucificado seria primitivamente mais pequena, visto a actual se sobrepor às figuras relevadas do painel fundeiro. Retábulos colaterais em talha rococó, com duplo remate, constituído por frontão e superiormente cornija, entre os quais surgem anjos de vulto, característica mais marcadamente do barroco joanino; prolongam-se superiormente, revestindo o arco triunfal. Capela-mor com duas tribunas laterais oitocentistas, de vão em asa de cesto e guarda de ferro, comunicando com a sala do Despacho, e retábulo-mor de estrutura maneirista, em nicho encimado por tabela, segundo os esquemas da tratadística de Vignola, com profundas remodelações oitocentistas, executadas possivelmente aquando da abertura das tribunas laterais, visíveis na tribuna central, que seria menos rasgada, como se depreende nos vestígios do entablamento que percorria a parte superior do corpo do retábulo, no frontão contracurvado e nas aletas recortadas e duplamente volutadas, distintas das usuais volutas, que apenas despontavam na zona inferior, que provocaram o aumento das dimensões da estrutura retabular, obrigando à colocação de madeiramento nas zonas visíveis da parede testeira. De momento é difícil definir a existência e localização exacta da tribuna dos mesários primitiva, visto a actual ser do séc. 19, no entanto, deve-se realçar que em Mangualde ela surge igualmente no lado da Epístola da capela-mor. A nave e capela-mor possuem vestígios de policromia, em marmoreados rosa, executados possivelmente do séc. 19. Quer as bandeiras reais, quer as da Paixão, apresentam variantes e cenas iconograficamente pouco comuns no âmbito das suas congéneres. Estruturalmente, a igreja influenciou profundamente a Igreja da Misericórdia de Mangualde, construída cerca de 100 anos depois (v. PT021806100005), sobretudo a nível da fachada principal e lateral direita. Junto à Igreja, no antigo cemitério, ergue-se cruzeiro, com imagem do Crucificado barroco, sob alpendre maneirista quadrangular, com cúpula piramidal.
Número IPA Antigo: PT021809040006
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja de Confraria / Irmandade  Misericórdia

Descrição

Planta poligonal, composta por nave única e capela-mor, mais baixa e estreita, tendo adossado à fachada lateral N. torre sineira quadrada, no alinhamento da fachada principal, e corpo rectangular, correspondente a uma capela lateral, anexo e farmácia, e à fachada lateral S. corpo também rectangular correspondente à varanda, anexos e sacristia; ambos se prolongam para a fachada posterior, onde se desenvolve a todo o comprimento do segundo piso a sala do despacho. Volumes articulados, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas e cúpula bolbosa na torre sineira. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com pilastras nos cunhais, as da igreja coroadas por pináculos, e terminadas em cornija, nas fachadas laterais encimadas por beiral. Fachada principal virada a O. e terminada em empena, de friso e cornija moldurada, coroada por cruz de cantaria sobre plinto, e com embasamento pintado de azul. Portal de verga recta, moldurada, encimado por pequena cornija e friso epigrafado entre duas mísulas, que sustentam janela de sacada, igualmente de verga recta moldurada, encimada por pequena cornija, friso e frontão semicircular interrompido por brasão nacional, envolto em paquife e coroado; a janela possui ainda guarda em ferro forjado rendilhado e é ladeada por aletas volutadas. Ladeiam o portal duas janelas rectangulares jacentes, encimadas por duas janelas rectangulares com moldura estriada, de ângulos salientes, sobrepujada por pequena cornija, friso e cornija, sobre a qual assente nicho, enquadrado por pilastras toscanas que sustentam friso e frontão de volutas interrompido por pinha; o nicho possui arco festonado, interior em cantaria coberto por abóbada concheada e mísula volutada ao centro. Torre sineira de três registos separados por cornija, o primeiro rasgado por janelo a N. e porta de verga recta a E., o segundo, o mais baixo, cego e o terceiro rasgado em cada uma das faces por sineira, de arco de volta perfeita sobre pilastras e com fecho saliente, albergando sinos; remate em cornija encimada por balaustrada, com plintos nos cunhais, coroados por fogaréus, e cúpula rematada por catavento. Fachada lateral N. com nave rasgada por porta de verga recta e janela longilínea de capialço; o corpo lateral possui um eixo de vãos descentrado, composto por porta de verga recta, janela de brincos rectos e óculo circular, rematado em empena sobrelevada; para O. abre-se pequeno nicho, em arco de volta perfeita, gradeado, e para E. duas portas de verga recta simples e, ao meio, janela rectangular gradeada. Fachada lateral S. com sucessão de corpos de dois pisos e formada por dois panos, separados por pilastra toscana; no primeiro pano, sensivelmente recuado em relação à frontaria, possui amplo vão em asa de cesto, sobre pilastras toscanas, entaipado por pano de muro rasgado por fresta, encimado por cornija moldurada, sobre a qual se desenvolve em ângulo varanda alpendrada, com guarda em balaustrada de cantaria, intercalada por acrotérios onde assentam colunas toscanas que suportam arquitrave e alpendre. O segundo pano, de diferentes alturas, é rasgado por duas portas de verga recta e três janelas rectangulares jacentes, gradeadas, num plano superior, e no segundo piso por quatro janelas de sacada, de verga recta e guarda de ferro, uma delas já sem guarda. Fachada posterior terminada em empena, rasgada, no primeiro piso, por três janelas rectangulares jacentes, no segundo, por quatro janelas longilíneas com avental rectangular de cantaria, interligando-se aos vãos inferiores; superiormente, ao centro abre-se óculo circular. INTERIOR com paramentos rebocados e pintados de branco, com silhar de azulejos monócromos azuis sobre fundo branco, de composição ornamental de padrão e cercadura fitomórfica. Nave com pavimento em lajes de cantaria e cobertura de madeira em masseira, possuindo coro-alto de madeira, assente em duas mísulas volutadas pintadas de branco, acedido por portas de verga recta de ambos os lados, com guarda de balaustres, também de madeira. Portal com verga interior em arco abatido, possuindo pia de água benta gomada do lado do Evangelho, tal como a porta travessa. No lado da Epístola rasga-se vão, de verga recta, comunicando a actual sala de arrumos, de pavimento em calhau rolado e cobertura em abóbada de berço abatida sobre cornija, e púlpito facetado de talha em branco, assente em mísula e guarda plena, decorada por três panos, marcados por contrafortes, decorados por arcos trilobados assentes em pilastras, encimados por motivos vegetalistas, sendo acedido por vão de verga recta sobre jambas biseladas, moldurado a cantaria e friso de madeira, interligado a espaldar também de madeira, marcado por arco trilobado, encimado por baldaquino, igualmente facetado e terminado em coruchéu rendilhado. No topo da nave, abrem-se duas capelas retabulares confrontantes, com arco de volta perfeita em cantaria, a do lado do Evangelho mais profunda, ambas dedicadas ao martírio de Cristo. Arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras toscanas, ladeado por dois retábulos colaterais, de talha policromada de branco e dourado, dedicados a Santa Eufémia (Evangelho) e Nossa Senhora da Piedade (Epístola), que se prolongam por fragmentos de frontão e acantos, revestindo o arco triunfal, sobre o qual surge o escudo nacional, com coroa, flanqueado por anjos de vulto. Capela-mor com paramentos laterais de dois registos, separados por friso, tendo, de cada lado, no primeiro, porta de ligação a anexo e sacristia e uma janela de capialço e, no segundo, tribuna de arco em asa de cesto, com pedra de fecho saliente, sobre pilastras toscanas e com guarda em ferro, a do lado do Evangelho para os elementos do sexo feminino e a do oposto para os Irmãos da Mesa. Sobre supedâneo de cantaria, retábulo-mor de talha dourada e policromada, de planta recta e três eixos definidos por colunas jónicas com o terço inferior espiralado, surgindo no central tribuna em arco abatido, com o fundo pintado a imitar o firmamento e cobertura de cinco panos em caixotões; os eixos laterais possuem mísula com imaginária, sendo encimados por entablamento sobre o qual corre friso de apainelados, sustentando tabela rectangular vertical, com representação pictórica da Mater Omnium, flanqueada por colunas jónicas e aletas volutadas, rematando em cornija e frontão contracurvado com reserva central, onde surgem as iniciais "I.M.I."; sobre as colunas surgem pináculos. Predela com as representações pictóricas de Santa Isabel, Santa Eufêmia, São Luís e Santa Catarina, identificadas com legenda. Parede testeira revestida a tabuado pintado de azul. Altar paralelepipédico com frontal adamascado, ladeado por portas de acesso à tribuna, decoradas em apainelados. Pavimento de lajes de granito e cobertura de madeira, em falsa abóbada de berço. Sacristia com paramentos igualmente rebocados e pintados de branco, com embasamento a azul, pavimento de lajes e cobertura de madeira plana, com travejamento à vista; num dos topos possui arcaz, encimado por oratório rectangular, com moldura de talha, sobreposta por colunas torsas sobre consolas, reaproveitando elementos de talha de uma estrutura primitiva; na parede oposta, interrompendo a jamba da porta de ligação ao corpo intermédio, surge lavabo, com espaldar rectangular simples, de uma bica, circular, encimada por reservatório semicircular e com bacia rectangular; o anexo, de pavimento em lajes de granito, possui escada de acesso ao púlpito e uma outra de ligação ao segundo piso, protegido por guarda de balaustres em madeira exótica, formando corpo intermédio de ligação à tribuna dos Mesários e à varanda alpendrada, com pavimento em lajes de granito e cobertura de madeira, sobre travejamento à vista. Pelos corpos adossados à fachada N. tem-se acesso à sala do Despacho, que comunica a ambas as tribunas, através de portas de verga recta, possuindo pavimento de madeira e tecto plano, de estuque.

Acessos

Largo da Misericórdia, Rua da Misericórdia

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 47 508, DG, 1.ª série, n.º 20 de 24 janeiro 1967

Enquadramento

Urbano. Ergue-se recuado em relação à principal via de circulação que atravessa a povoação, perpendicularmente ao Solar dos Condes de Santar (v. PT021809040017), que tem alto muro a circundar o jardim, desenvolvido fronteiro à fachada principal da igreja, intercalando-os estrada estreita. À fachada lateral direita e posterior adossa-se muro, alto na primeira e baixo na segunda, onde é encimado por gradeamento de ferro, delimitando o antigo cemitério, acedido por ambas as fachadas. No enfiamento do portal da fachada lateral esquerda, ergue-se ao fundo cruzeiro alpendrado. O alpendre, assente em soco, é de planta quadrada, com colunas toscanas sobre altos plintos, que suportam cornija em papo de rola, com pináculos piramidais rematados por bolas nos ângulos e cúpula piramidal; protege cruzeiro com base quadrangular, posta em losango, coluna toscana encimada por cruz, de braços rectos, com imagem do Crucificado, de pés sobrepostos e cabeça inclinada. Sobre o muro a S. e E., erguem-se dois cruzeiros, de braços quadrangulares, assentes em plintos trapezoidais, existindo um outro junto à fachada lateral direita, onde existem vestígios do antigo calvário, documentalmente comprovados. Em todo este espaço existem ainda algumas árvores de grande porte e canteiros de buxo. Junto à fachada lateral esquerda organiza-se jardim público, com espaço relvado, delimitado por caminhos empedrados a paralelepípedos, com pequenos canteiros e bancos de madeira; ao centro possui estátua da rainha D. Leonor assente em alto plinto. Na proximidade, ergue-se o Centro de Dia da Santa Casa da Misericórdia (v. PT021809040098).

Descrição Complementar

Sobre o pórtico principal inscrição epigráfica alusiva à edificação da igreja: "DOM LÔPO DA CUNHA: MANDOV FAZER: ESTA: MISERICORDIA: ANNO DE: 1637". Na pilastra exterior da nave, na fachada lateral esquerda, surge pedra de mármore com a inscrição "AO GRANDE BENFEITOR / JOAQUIM DOS SANTOS LIMA / NO SEU 123 ANIVERSÁRIO / NATALÍCIO / A SANTA CASA DA MISERI / CÓRDIA DE SANTAR / PRESTA-LHE A DEVIDA / HOMENAGEM / DUMA ETERNA GRATIDÃO / 12-12-1969". Na varanda alpendrada, surge uma outra placa com a inscrição: "À BENEMÉRITA D. MARIA DA LUZ, COIMBRA. A MISERICÓRDIA RECONHECIDA". O supedâneo da capela-mor, com degraus de acesso dispostos lateralmente, possui ao centro dois silhares sobrepostos de ângulos arredondados. A capela lateral do Evangelho é profunda, formando camarim com entrada de luz lateral e frontal; possui retábulo de talha policromada de branco e dourado, de planta recta e um eixo, delimitado por colunas de fuste liso e capitel coríntio, assentes em plintos paralelepipédicos, com nicho contracurvado, protegido por portadas envidraçadas e ático em frontão interrompido e espaldar curvo decorado com resplendor envolto por coroa de louros. Altar em forma de urna, envidraçada. O retábulo do lado da Epístola é de talha dourada e policromada de branco, de planta recta e corpo côncavo, de um eixo, constituído por painel central onde surgem representadas em relevo as figuras da Virgem e São João Evangelista enquadrando a imagem de vulto do Crucificado, formando um calvário, e, ainda em relevo, as de São Miguel e São Lourenço. O painel é enquadrado por duas pilastras com fuste decorado por acantos, dois quarteirões com anjos e aves, e duas colunas torsas com espira fitomórfica, assentes em consolas. Ático em forma de tímpano semicircular, tendo ao centro a figura do Deus Pai e da pomba do Espírito Santo, envoltos por motivos fitomórficos e enrolamentos, surgindo falsa pedra de fecho encimada por coroa fechada. Altar em forma de urna decorada por acantos. Os retábulos colaterais são semelhantes, de talha policromada de branco e dourado, de planta recta e um eixo, formado por colunas de fuste liso, com terço inferior marcado por concheados e capitéis coríntios, e pilastras com fuste ornado de acantos, assentes em plintos galbados, decorados por motivos fitomórficos; nicho contracurvado, com moldura dupla decorada com concheados e acantos, sob o qual surge sacrário embutido no banco. Ático em frontão interrompido com querubim no centro e remate em cornija contracurvada do tipo borromínico, encimado por anjos de vulto que flanqueiam resplendor com coração inflamado, por seu turno, encimados por cornija que marca o arranque do revestimento do arco triunfal. Altares em forma de urna, decorados com cartela central, formada por enrolamentos e concheados. Na tabela do retábulo-mor é representada a Mater Omnium, em que a Virgem surge coroada, de mãos postas, sobre o crescente lunar, com o manto aberto, seguro por dois anjos, protegendo os vários grupos sociais: à direita o rei e a rainha, coroados, e outros membros da nobreza, e à esquerda, o papa, também coroado, um bispo, um cardeal, um frade trino e outros membros do clero, possuindo aos pés a figura de um pedinte.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade / Comercial: loja

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

EMPREITEIRO: José Maria Pinto Portugal. PINTOR: João da Fonseca (1712); Manuel de Araújo Ponces (1675-1679. PINTOR de AZULEJO: Fábrica das Devesas (atr.).

Cronologia

1632 - Fundação da Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia, pelo donatário D. Lopo da Cunha, segundo filho de D. Pedro da Cunha, proprietário do Paço dos Cunhas (v. PT021809040010); 1635 - data do primeiro livro de Actas da Misericórdia de Santar; 1636 - data do primeiro Compromisso existente no Arquivo, manuscrito, assinado por D. Filipe III; 1637 - data da inscrição sobre o portal principal, assinalando que a Igreja de Misericórdia foi mandada construir por D. Lopo da Cunha; foi eregida, em terreno da sua quinta do Casal Bom, no extremo S. de Santar; o mesmo instituiu um legado perpétuo de 30 medidas de pão (30 alqueires), provenientes da Casa do Paço; dois terços deste eram destinados a pagar os serviços a um criado da instituição e o outro terço destinava-se aos pobres; em contrapartida, a Misericórdia estava obrigada a missas anuais por sufrágio; séc. 17, 2ª metade - execução do retábulo-mor; 1675 - 1679 - feitura das pinturas do retábulo-mor por Manuel de Araújo Ponces, de Viseu *1 (SOALHEIRO, 2000, p. 82); 1678 / 1679 - pagamento aos pedreiros que fizeram o "torrião", aos homens que arrojaram a terra para fora e que revolveram o telhado; 1712 - pintura de uma bandeira pelo mestre de Vilar Seco, João da Fonseca; 1724, 15 Dezembro - despacho do Cabido dando licença para se dizer missa nos altares que se fizeram de novo e consertaram, dos quais se mantém o retábulo lateral da Epístola; séc. 18, 2ª metade - execução dos retábulos colaterais e revestimento do arco triunfal a talha; 1779, 3 Março - pagamento de um selo de 500 réis de uma licença para se dizer missa nos altares dos Passos e das Almas; séc. 19 - extinção do legado de D. Lopo da Cunha à Misericórdia; documentada a posse de alguns prazos e uma importante actividade de crédito; 1ª metade - execução do retábulo lateral do Senhor dos Passos; colocação do silhar de azulejos na nave e capela-mor; 1864 / 1865 - pagamento de 334$925 pela obra de pedraria da torre, de 325$000 pela obra de carpintaria e de 3$2000 por uma seta para a torre; 1869 / 1870 - pagamento de 106$700 pela fundição de um sino e 6$540 pela condução e colocação do mesmo; obras nos muros do átrio do Calvário por 127$000 rs; limpeza das cruzes velhas, feitura de novas e reparação da cúpula por 15$695; 1880, 24 Outubro - arrematação da obra do lajedo e ladrilho da igreja e secretaria, tendo na altura sido lidas ao arrematante as condições de execução, pagamento e prazo, tendo aquele apresentado fiador; 1882, 5 Julho - sendo Provedor Duarte de Mello de Sousa, orçou-se em 400$000 rs o desaterro do largo da Misericórdia, sendo o responsável da obra José Maria Pinto Portugal; nesta altura, achando-se concluídos os trabalhos do caminho de ferro das Beiras, apareciam muitos empreiteiros a oferecerem-se para fazer a obra por um preço inferior ao orçamentado; 1885, 8 Dezembro - sendo Provedor o Dr. Joaquim Paes da Cunha, aprovou-se o orçamento para o ano 1885 / 1886; lançamento de 150$000 rs para a construção de um novo cemitério, visto que o então existente junto à Misericórdia estava em péssimas condições higiénicas, tornando por vezes impossível a permanência dentro do edifício devido às "exalações pútridas e mefísicas"; é referido que este subsídio tinha as vantagens de restituir o terreno à Misericórdia e tornaria excelente a casa da escola do sexo masculino, instalada numa dependência do edifício, com as janelas viradas ao cemitério, situação que já levara os inspectores a reclamar a sua transferência; 1888, 6 Agosto - continuação da obra de uma tribuna, "que aumenta e embeleza consideravelmente o templo"; 1889, 6 Setembro - sendo Provedor o Dr. José Caetano dos Reis, despende-se 180$000 para a obra das novas tribunas que se abriram na igreja, visto ela ser pequena para a grande afluência de fiéis; década de 80 - provável reforma e acrescentos no retábulo-mor; 1890, 4 Junho - delibera-se que uma das novas tribunas ficasse reservada para as senhoras e a outra para os Irmãos da Mesa; séc. 19 / 20 - feitura do púlpito; 1916, cerca - alvará para construção da farmácia no edifício anexo à igreja, actualmente arrendada a particulares; 1945, cerca - desactivação do cemitério junto à igreja; 1964 - o supedâneo da capela-mor tinha acesso por escada central, a tribuna era rematada com dossel de brocado, a nave tinha estrados de madeira laterais e junto às capelas e no retábulo colateral da Epístola encontrava-se a imagem de Cristo; 1969, 13 Dezembro - colocação de lápide no exterior da igreja homenageando o benfeitor Joaquim dos Santos Lima; 2002 - sendo Provedora a Dr. Lucília de Matos Paiva, a documentação da Misericórdia, em tempos desaparecida, foi devolvida à instituição; ao que parece, diversos livros haviam sido comprados por um alfarrabista de Coimbra, a quem o Dr. Manuel Reis, proprietário da Casa do Soito (v. PT021809040010) os acabou por comprar, sendo nesta data entregues pela Sociedade Agrícola da Casa do Soito.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Estrutura rebocada e pintada; pilastras, cornijas, molduras dos vãos, outros elementos estruturais, pias de água-benta e cruzeiros em cantaria de granito; pavimento da igreja, sacristia, primeiro piso dos anexos e da varanda alpendrada em lajes de granito e restantes pisos em madeira; janelas com vidro simples; grades de ferro; balaustrada do coro e anexo, púlpito, arcaz, portas e tectos de madeira; azulejos em pó de pedra e pintura por 3 estampilhas, com acabamentos pintados à mão; telas pintadas; retábulos de talha dourada e policroma; cobertura exteriores de telha.

Bibliografia

ALVES, Alexandre, Igrejas e Capelas Públicas e Particulares, Revista Beira Alta, vol. 24, nº 2, Viseu, 1965, p. 211 e 212; ALMEIDA, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1976; SOALHEIRO, João (Coord), Foz Côa, Inventário e Memória, Porto, 2000; CARVALHO, A. Polónio de, Santar - roteiro artístico, Nelas, Câmara Municipal de Nelas, 2001; PAIVA, José Pedro [Coordenação], Portugaliae Monumenta Misericordiarum, vol. 1, Lisboa, 2002; TOJAL, Alexandre Arménio, PINTO, Paulo Campos, Bandeiras das Misericórdias, Lisboa, 2002; SERRÃO, Vítor, A Arte da Pintura na Diocese de Lamego (séculos XVI-XVIII), in O Compassao da Terra - a arte enquanto caminho para Deus, vol. I, Lamego, Diocese de Lamego, 2006; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74900 [consultado em 28 dezembro 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC; Câmara Municipal de Nelas: GTL (os quais cederam cópia do levantamento à DSID)

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMC; Câmara Municipal de Nelas

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID; Santa Casa da Misericórdia de Santar

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1998 - pintura exterior e interior a tinta plástica; 2002 - arranjo da zona envolvente; Paroquiano: 2003, Agosto - pintura do interior da igreja com cal hidráulica; CMNelas / PROPRIETÁRIO: 2003 / 2004 - projecto de restauro e readaptação de algumas salas a espaço museológico e instalação de um bar no local do antigo cemitério; 2010 - pintura exterior e interior; substituição do travejamento da cobertura por traves em pinho de Riga e colocação de telhas novas; colocação de nova instalação electrica no interior e exterior da Igreja; restauro em Braga dos dois sinos existentes na torre sineira.

Observações

*1 - Manuel de Araújo Ponces (falecido em 1713), foi um pintor de origem fidalga, descendente da família dos Ponz da Catalunha, que exerceu a sua actividade em Viseu, ligado ao cabido da Sé, e são-lhe atribuídas as pinturas do retábulo da Capela de Nossa Senhora do Amparo, em Cedovim (v. PT010914030055); em 1664, recebeu um discípulo, Simão Rodrigues da Veiga.

Autor e Data

Madeira Portugal 1991 / Lina Marques 1996 / Paula Figueiredo e Paula Noé 2004

Actualização

Gonçalo Costa Alemão 2011
 
 
 
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