Quinta da Penha Verde / Quinta da Fonte de El-Rei

IPA.00022684
Portugal, Lisboa, Sintra, União das freguesias de Sintra (Santa Maria e São Miguel, São Martinho e São Pedro de Penaferrim)
 
Associada ao conceito de Villa Rustica e ao de retiro espiritual. Quinta de Recreio com funções essencialmente recreativas associada a uma habitação temporária e contendo jardim e mata. «O entendimento da arquitectura de villa do vice-rei deverá ser compreendido no topo formado pela montanha, nos suaves e bucólicos horizontes que se alargam a perder de vista, nas fontes correntes entre fragas, na própria simplicidade rústica da residência, reservando para a capela todo o seu saber. Como se, afinal, o conhecimento só tivesse sentido para revelar a Criação e gerar a Harmonia no Todo.» (SILVA e LUCKHURST, 1989). Respeitando através dos séculos a vontade de D. João de Castro, a quinta apresenta um carácter espiritual forte que se sobrepõem ao uso recreativo. Este carácter é mantido nas intervensões arquioetónicas que simultâneamente lhe conferem as qualidades espaciais e estéticas pioneiras da arte paisagística portuguesa. Características renascentistas patentes nos elementos arquitectónicos da quinta, nomeadamente a Capela de Nossa Senhora do Monte, ou as capelas do Alto de Santa Catarina, de forma circular. Caracteísticas maneiristas presentes no potão da entrada e em revestimentos de azulejo. A Natureza sobrepõe-se à arquitectura criando um locus amenus.
Número IPA Antigo: PT031111110143
 
Registo visualizado 637 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Residencial unifamiliar  Quinta    

Descrição

Prorpiedade limitada por muro, com ameias junto ao portão com brasão da família Castro em pedra (v. PT031111110023). PÁTIO fronteiro à casa, ajardinado com tanque central. MATA densamente arborizada com espécies de fruto não comestível acessível por porta seguida de três degraus que iniciam caminho estreito. Outros três degraus são ladeados por duas duas lápides com inscrição em sâncrito, língua primitiva da Índia. Caminho conduz à capela de Nossa Senhora do Monte, mandada construir por D. João de Castro. À cota mais elevada, de planta circular, encimada por cruz, tem anexo campanário de dimensões reduzidas. Nesta capela estão inseridas quatro lápides que, segundo Braamcamp freire, «são do tempo de D. João de Castro, por ele compostas e mandadas colocas no seu lugar». Em frente à capela, sepultura onde foi enterrado o coração de D. António Saldanha de Albuquerque de Castro e Ribafria, com as armas dos Castros e Saldanhas na lápide e lage com inscrição latina. Por trás da campa, forma-se miradouro junto a três arcos de volta perfeita e uma elevação de pedras toscas encimadas por cruz. Existem na quinta mais três capelas mandadas erguer por D. Francisco de Castro. A capela de São Pedro, localiza-se num terreiro de arborização muito densa e apresenta planta quadrangular e porta de ferro. Ao lado desta capela está colocada uma cruz em cima de um rochedo. A capela de São João Baptista situa-se noutro terreiro, de planta circular. perto da capela , lápide fixada em rocha, com inscrição da autoria de D. José Manuel da Câmara, filho de D. Manuel da Câmara, que foi Vice-rei da Índia. Segundo o Visconde de Jerumenha, existe uma gruta a nível inferior à capela de São João Baptista. À cota mais elevada da propriedade, o monte das alvíssaras ou de Santa Catarina com capela de planta circular dedicada a Santa Catarina do Monte Sinai com lápide por cima da porta. No terreiro desta capela, banco adossado a rochedo encimado por cruz e com lápide incrita. Na mata distribuem-se também três fontes dispostas em triângulo: A fonte dos Passarinhos, ou do corvo, constituída por um templete que funciona como casa de freco revestida a azulejos com a data de 1651, com tanque e bica simples, e bancos também revestidos a azulejo. Caminhando para a esquerda desta fonte, largo com fonte de Neptuno, tanque com escultura de Neptuno com o braço direito (com o qual segurava o tridente) partido, já com a superfície de corte desgastada. Em cota mais elevada e aproximadamente equidistante das outras fontes situa-se a fonte dos azulejos revestida com azulejos com representação de uma paisagem com animais.

Acessos

EN 375; Estrada Nova da Rainha

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 39 175, DG, 1.ª série, n.º 77 de 17 abril 1953 / Incluído na Área Protegida de Sintra - Cascais (v. PT031111050264)

Enquadramento

A quinta localiza-se no limite do Parque Natural de Sintra-Cascais, na encosta N. da Serra de Sintra (v. PT031111050264). Nesta encosta predominam os declives superiores a 15% verificando-se em Seteais suaves nas plataformas construídas, moderados e muito acentuados. A quinta apresenta exposições preferenciais a N. e O.. Esta vertente é rica em água, explorável através de minas, e que tem um movimento descente sendo recolhida pela ribeira de colares. A Serra de Sintra é constituída por um maciço eruptivo com abundância de granitos, sienitos, gabros e dioritos. localizando-se a Quinta de Seteais integralmente sobre o granito. O solo desta zona insere-se na família dos solos litólicos, húmicos, câmbicos, normais, de granito (Mng) que, em parte de fase delgada, apresenta afloramentos rochosos. O clima é caracterizado por temperaturas mais baixas e precipitação mais elevada que nas regiões circundantes devido à proximidade do oceano, ao relevo e à densa vegetação. A flora local é densa e diversificada com uma grande percentagem de exóticas introduzidas sobretudo no séc. 16 por D. João de Castro e no séc. 19 por D. Fernado II e Sir Francis Cook. Também a fauna se caracteriza por uma grande biodiversidade. Situada no centro histórico de Sintra (v. PT031111110081), é limitada a SE. pela Estrada Nova da Rainha, continuação da R. Barbosa do Bocage, que tem do mesmo lado a Quinta de Seteais, a Quinta da Alegria a que se segue a Villa Roma, a Quinta do Relógio (v. PT031111110078 ), e a Quinta dos Pisões e, do outro lado, a Quinta da Fonte dos Cedros (com ligação por ponte à Quinta da Penha Verde *1), a Quinta do Vale dos Anjos, a Quinta do Campo e a Quinta da Regaleira. Muito perto situa-se ainda a Quinta Velha e a Quinta do Biester. A Quinta da Penha Verde e outras propriedades locais funcionam como como ponto de atracção turística, actividade principal da zona. Perto do portão principal localiza.se uma fonte cujo nome, Chafariz de El-Rei, remete para a antiga designação da quinta e onde lápide refere data de construção, em 1780.

Descrição Complementar

"Eram as primeiras casas do Vice-Rei térreas, e no sitio onde hoje he a casa do caseiro; he igualmente da primeira fundação a Ermida de Nossa Senhora do Monte, a qual mandou fazer para sua sepultura". (VISCONDE DE JUROMENHA, 1828); TRADUÇÃO DAS INSCRIÇÕES segundo AZEVEDO, 1997: capela de Nossa Senhora do Monte - junto à cornija - «Construída no Reinado do divinno João III Pai da Pátria». Por cima da porta: «João de Castro, que consumiu durantre anos em duríssimas batalhas nas duas Mauritâneas, em prol da religião de Cristo, e que depois não só percorreu as praias do Golfo Arábico e todas as costas da Índia, mas ainda as consignou aos seus escritos, ao regressar à Pátria, são e salvo pela graça de Cristo, à Virgem Mãe dedicou este templo votivo. 1542». Do lado esquerdo da porta: «Ireis salvos feitos os votos. Ireis salvos. 1543». Do lado direito da porta: «Cumpridos os votos voltareis salvos. Voltareis salvos.». lage da sepultura de D. António Saldenha - «Guarda-se nesta pequena urna um coração sublime, capaz, maior do que o próprio mundo tal como o Monte Olímpo; coração consanguíneo, concorde e comparável ao de João, a quem a Índia submetida deu mil palmas; coração amante da virtude, devotado à Virgem Santíssima; coração no mais íntimo, piedoso, nobre forte, valente; não é em parte mas todo Saldenha quem jaz neste sepulcro; está todo no coração porque era todo coraçao. Faleceu no ano do Senhor 1723, no dia 12 de Agosto.». Terreiro junto à capela de São João Baptista - Espelho. As campinas retalhadas, serrado bosque no centro, mimosos vales por dentro, fora as serras penduradas, sempre as águas prateadas, contino verde a espessura, zefiro sempre em doçura, mil satiros silvanos, brandas ninfas seus enganos, são de cintra a formosura. 1800». Rochedo junto à capela de Sanata Catarina - «D. João de Castro, vice-rei da Índia, augusto, feliz, piedoso e invicto trinfador do Oriente, que por igual dominava e desprezava as riquezas, determinou que este monte, única recompensa que pediu ao Rei pela Ásia vencida, fosse consagrado ao estandarte da cruz vitoriosa. O Bispo D. Francisco de castro, seu neto, cumpriu o voto no ano de Cristo de 1641.» Por cima da por cima da porta da capela de Santa Catarina - «D. Álvaro de Castro, filho do grande D. João, vice-rei da Índias do Oriente, armado cavaleiro perto do Monte Sinai, sendo quem primeiro subordinou à roda de Santa Catarina o brasão da sua famíia, em grata memória desse facto deliberou construir esta capela. O bispo D. Francisco de Castro, seu filho, cumpriu esse voto no ano de Cristo de 1638.»

Utilização Inicial

Residencial: quinta

Utilização Actual

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: Francisco de Holanda (atr.); Miguel Arruda (atr.). ARQUITECTO PAISAGISTA: Gerald Lukhurst (1992).

Cronologia

Séc. 16, 1º quartel - doação da Quinta de El Rey por D. Manuel I a D. João de Castro, como recompensa pelos seus feitos gloriosos; D. João de Castro manda arrancar todas as árvores de fruto, deixando a vegetação crescer livremente, determinando que a quinta nunca fosse de produção, mas sim de recreio; 1542 - construção da capela da Senhora do Monte; 1543 - doação, por D. João III, do Monte das Alvíssaras, depois denominado Alto de Santa Catarina, para ampliação da quinta, como recompensa pelo comando da expedição contra o pirata Barba Ruiva, que atacava as costas do mediterrâneo; 1547 - D. João de Castro é nomeado Governador das Índias; 1548 - D. João de Castro é nomeado Vice-Rei das Índia, falecendo três semanas após a nomeação; herda a propriedade o seu filho D. Álvaro de Castro; 1638 / 1651 - D. Francisco de Castro, Inquisidor Geral e neto de D. João de Castro, realiza grandes melhoramentos na propriedade, que incluem a construção das capelas de São Pedro e São João Baptista, São Brás e da ermida de Santa Catarina (1638); 1641 - data inscrita no cruzeiro do adro da Capela de Santa Catarina; 1651 - construção da fonte dos Passarinhos ou do Corvo; 1681 - a quinta pertence a D. Mariana de Noronha e Castro; 1723, 12 Agosto - data da sepultura de D. António Saldanha de Albuquerque Castro Ribafria, fidalgo cavaleiro e Governador de Angola; 1780 - construção do Chafariz de El-Rei, junto à quinta; 1869 - o 3º Conde de Penamacor, António Maria de Saldanha Albuquerque Castro Ribafria Pereira (1841 - 1911) hipoteca a quinta por 4493$700, valor das jóias da Condessa de Penamacor; 1873, 27 Maio - a propriedade é arrendada a Sir Francis Cook, 1º visconde de Monserrate; 1913 - D. Álvaro de Saldanha e Castro, filho e herdeiro dos 3º condes de Penamacor, D. António Maria de Saldanha Castro e D. Francisca Calmon Nogueira do Vale da Gama, vende a propriedade ao 2º visconde de Monserrate, Frederick Lucas Cook; 1920 - morre Frederick Lucas Cook, herdando a propriedade o seu filho Herbert Francis Cook; 1940 - Francis Ferdinand Maurice Cook, filho de Herbert Cook, vende a propriedade à Sociedade da Quinta da Penha Verde, Lda., constituída pela família Rau; 1949, 28 Dezembro - Francis Cook vende a propriedade da Quinta dos Cedros, anexa à Penha Verde; 1953 - a quinta é classificada monumento nacional; 1991 - aquisição da propriedade por 2 firmas inglesas, cujo representante em Portugal era Paulo Lowndes Marques; 1992 - início da recuperação dos jardins, a cargo da empresa "O Jardim Inglês" e sob a coordenação do Arquitecto Paisagista Gerard Luckhurst; 1993 / 1994 - decorreram na casa da quinta obras não licenciadas; 1994 - embargo, pela Câmara Municipal de Sintra, das obras em curso.

Dados Técnicos

Materiais

Bibliografia

VISCONDE DE JERUMENHA, Cintra Pituresca, 1828; STOOP, Anne De, Quintas e Palácios nos Arredores de Lisboa, Porto, 1986; SILVA, José Cornélio da e LUCKHURST, Sintra A Paisagem e as suas Quintas, Inapa, 1989; BOLEO, José de Oliveira, D. João de Castro e a Quinta da Penha Verde, in Ecos de Sintra, Ano VIII, nº 324, 1942; CARITA, Hélder e CARDOSO, homem, Tratado da Grandeza dos Jardins em Portugal, s.l., 1990; Câmara Municipal de Sintra, Sintra Património da Humanidade, Sintra, 1996; AZEVEDO, José Alfredo da Costa, Obras de José Alfredo da Costa Azevedo - Recantos e Espaços, Vol. II, Sintra, 1997.

Documentação Gráfica

Quinta da Penha Verde, Lda.

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/Arquivo Pessoal de Ilídio Alves de Araújo (IAA)

Documentação Administrativa

Quinta da Penha Verde, Lda.

Intervenção Realizada

Observações

*1- a Quinta da Fonte dos Cedros pertencia à Quinta da Penha Verde, com a designação de Tapada da Quinta da Penha Verde estabelecendo-se a ligação entre as duas propriedades por ponte sobre a Rua Barbosa do Bocage.

Autor e Data

Pereira de Lima 2005

Actualização

 
 
 
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