Igreja do Senhor dos Mártires / Santuário de Santo Cristo dos Mártires

IPA.00002151
Portugal, Setúbal, Alcácer do Sal, União das freguesias de Alcácer do Sal (Santa Maria do Castelo e Santiago) e Santa Susana
 
Igreja fundada na Idade Média pela Ordem de Santiago, estando documentada já no séc. 13, transformada em panteão dos Mestres da Ordem e depois em santuário associado à ocorrência de milagres, tendo sido reformada no séc. 14 / 15, e novamente no séc. 16, 17 e 18, resultando numa planta poligonal composta por nave, precedida de alpendre, e capela-mor, com duas capelas laterais góticas dispostas à esquerda, e torre sineira e uma outra capela românica à direita. A construção teve início no séc. 13, pouco depois da Reconquista, num local onde existia uma importante necrópole desde a Idade do Ferro, devendo corresponder à atual capela lateral direita, denominada do Tesouro no séc. 16, com nave e capela-mor, interiormente cobertas de abóbada de aresta e de berço, respetivamente, com fachadas terminadas em cornija reta sobre mísulas lisas equidistantes, inicalmente com acesso direto ao exterior, e atualmente com frestas de dois lumes na nave, de construção posterior, e fresta na capela-mor. No interior, o arco triunfal, de volta perfeita biselado sobre duplas colunas de capitel vegetalista, é encimado por óculo, e a capela-mor tem arcossólios laterais de arco apontado. Pouco depois deve ter-se construído um templo de maiores dimensões, junto a esta capela, de que subsiste parte da parede da nave, do lado do Evangelho, onde se abre arcosólio em arco de volta perfeita biselado, com túmulo ornado por espadas na tampa. À igreja adossou-se, em 1333, a denominada capela dos Mestres, com planta octogonal, interiormente coberta por abóbada de nervuras e amplamente iluminada por altas frestas de dois lumes em arco apontado e espelho trilobado, com as fachadas contrafortadas e terminadas em friso denticulado, cornija e platibanda, protegendo o terraço superior. Este é acedido por escada de caracol, integrada num corpo facetado autónomo, de caráter militar, coberto por falso lanternim e cúpula facetada, e dele é possível dominar um troço importante do rio Sado e visualizar o castelo de Alcácer. Na primeira metade do séc. 15, construiram-se duas outras capelas laterais confrontantes, subsistindo apenas a do Evangelho, igualmente gótica, de planta poligonal e dois tramos, o segundo facetado, coberta por abóbada de arestas e iluminada por frestas de arco apontado. As fachadas contrafortadas terminam em friso de ziguezague e platibanda plena, tendo gárgulas zoomórficas sobre os contrafortes, e sendo acedida, a partir da nave, por arco apontado sobre quatro colunas, com capitéis vegetalistas destacados. A capela confrontante foi demolida no séc. 18, devido à abertura de porta travessa e à construção da torre sineira, que aproveitou elementos do antigo portal, lápide com estrela de David e uma outra, alusiva à construção da capela em 1402, com as armas de Santiago e inscrição, constituindo o primeiro exemplar português gravado em letra gótica minúscula. A igreja foi reformada em meados do séc. 16, tendo-se então construído um alpendre frontal com quatro arcos, sobre o qual se construiu um coro, conforme descritos nas visitações de 1560; no séc. 17, deve ter-se reformado o alpendre, feito o portal axial, de verga reta e cornija, entre os postigos, e colocou-se o silhar de azulejos de padrão. Esses azulejos foram recentemente removidos e recolocados a enquadrar o arco triunfal, completados com outros novos semelhantes. Na segunda metade da centúria de setecentos, reformou-se a capela-mor e fizeram-se os retábulos de talha: o retábulo-mor de corpo côncavo e um eixo, rococó e com linguagem simplificada do período pombalino, os laterais e os colaterais de corpo reto e um eixo tardo-barrocos e de linguagem uniforme. Os atuais retábulos laterais são os antigos colaterais, para aqui transferidos nas obras recentes, data em que se apearam as pilastras exteriores e se abriram os respetivos nichos, e se transferiram os laterais para local desconhecido. A imagem medieval de Nossa Senhora da Cinta, com símbolos da Ordem de Santiago, estava, no séc. 16, num nicho sob o alpendre, sendo transferida para o interior da igreja antes de 1718, altura em que deve ter sido pintada e estofada. Atualmente está no presbitério e ainda é objeto de devoção popular, sobretudo das mulheres grávidas. Contudo, a oferta de um Cristo cruxificado, em finais do séc. 15, levou ao aumento da devoção cristológica ao Senhor dos Mártires e determinou a própria alteração da invocação do templo.
Número IPA Antigo: PT041501010006
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja  

Descrição

IGREJA de planta poligonal composta por nave, precedida por alpendre quadrangular, e capela-mor, mais estreita e mais alta, tendo adossado à fachada esquerda duas capelas laterais e à direita torre sineira quadrangular e uma outra capela lateral. Volumes articulados, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na igreja e de três no alpendre, mais alto que a nave, terminadas em beirada simples, e em terraço revestido a cerâmica nas capelas laterais. Fachadas da igreja e da torre sineira rebocadas e pintadas de branco, e as das capelas laterais em alvenaria ou cantaria aparente. Fachada principal virada a O., com alpendre de cunhais apilastrados, a metade superior em falsas pilastras de alvenaria, reforçadas por gatos de ferro, com faixa pintada de azul e terminado em empena reta, com friso, também pintado de azul, e cornija de massa; é rasgado, em cada uma das faces, por arco de volta perfeita, sobre pilastras, e por janelas retilíneas, a virada a O. de varandim, com molduras simples e grades de ferro. Interiormente o alpendre apresenta pavimento cerâmico, integrando lápide tumular, cobertura em falsa abóbada de berço, de estuque, assente em colunas, flanqueadas por bancos, com assentos de cantaria. A nave é rasgada por portal de verga reta, encimado por friso e cornija, entre dois vãos retangulares, gradeados e com portadas de madeira. Na fachada lateral direita, a torre sineira, no alinhamento da nave, apresenta cunhais com pilastras de alvenaria e dois registos, separados por duplo friso de alvenaria, o superior pintado de azul, e cornija, abrindo-se no primeiro duas frestas desalinhadas a S. e no segundo, em cada uma das faces, sineira em arco de volta perfeita, sobre pilastras albergando sino. A torre é rematada em dupla cornija e friso de alvenaria, este pintado de azul, com fogaréus nos cunhais e com cobertura em coruchéu bolboso achatado, vazado por óculos, assente em estrutura piramidal com aletas relevadas, coroado por cata-vento em ferro. Na face virada a O. integra lápide inscrita, no ângulo SO. elementos do antigo portal de uma capela lateral, compostos por coluna de capitel fitomórfico e o arranque do arco, e na face virada a E. círculo com estrela de cinco pontas contendo ao centro florão. Na nave rasga-se porta travessa de verga reta encimada por janela retangular, gradeada, com molduras simples, e, na capela-mor, pequena fresta. A fachada posterior da capela-mor termina em empena, é rasgada por fresta e possui inferiormente maciço de alvenaria semicircular, prolongado ligeiramente na fachada lateral direita, onde é telhada. INTERIOR com as paredes rebocadas e caiadas de branco, exceto parte da nave do lado do Evangelho, que é em cantaria aparente, pavimento cerâmico e cobertura em falsa abóbada de berço, de madeira, pintada com frisos vermelhos, azuis e cartelas recortadas, ornadas de elementos fitomórficos e laçarias, assente em cornija. Coro-alto de madeira, pintado a marmoreados fingidos a rosa, azul e bege, sobre duas amplas mísulas laterais, com guarda em balaustrada, prolongado sobre o alpendre e para onde comunica por arco em asa de cesto, sobre pilastras; tem acesso a partir da torre sineira, por porta aberta recentemente no lado da Epístola. No sub-coro, o teto é pintado com vários frisos, um deles, vegetalista e possui guarda-vento de madeira, com pilastras nos ângulos, pintadas a marmoreados fingidos a rosa e verde, ornadas de motivos vegetalistas. Lateralmente tem, de cada lado, pia de água benta em mármore, de bacia hemisférica, a do lado da Epístola gomeada. No lado do Evangelho abre-se arcosólio, em arco de volta perfeita biselado, interiormente percorrido por cornija e albergando túmulo com arca lisa e tampa com volume em duas águas, decorado no lado esquerdo da zona da cabeceira por duas espadas, uma delas, maior. No lado da Epístola abre-se nicho de perfil curvo albergando imaginária e, a seguir à porta travessa, dispõem-se dois retábulos laterais, de estrutura semelhante, em talha policroma e dourada, de corpo reto e um eixo. O presbitério é acedido por três degraus centrais. Arco triunfal revestido a talha pintada a marmoreados fingidos a rosa, azul e bege, ornado de motivos vegetalistas, sobre pilastras com os mesmos motivos. A parede testeira da nave é revestida a azulejos de padrão policromo fitomórfico. Capela-mor pouco profunda coberta por falsa abóbada de berço, de estuque, albergando retábulo-mor em talha pintada a marmoreados fingidos a azul, verde, bege e dourado, de corpo côncavo e um eixo, definido por duas estípites exteriores, ornadas de motivos vegetalistas, sobre mísulas, e quatro colunas estriadas, de terço inferior marcado por anel, assentes em plintos paralelepipédicos e de capitéis coríntios. Ao centro abre-se tribuna, em arco de volta perfeita, com moldura de acantos, cartela recortada no fecho, encimada por motivos florais relevados, interiormente com o fundo pintado com a cidade de Jerusalém, e albergando imagem do Crucificado. A estrutura remata em espaldar adaptado ao perfil da cobertura, com fragmentos de frontão, encimados por dois anjos de vulto, volutados e possuindo baldaquino plano, de perfil recortado, inferiormente pintado a imitar brocado. Banco com apainelado contendo cartelas, volutados laterais e flores centrais. Na fachada direita, a primeira capela lateral designa-se por CAPELA DE MARIA DE RESENDE e tem planta poligonal de dois tramos, o primeiro retangular e o segundo facetado, com fachadas em alvenaria de pedra aparente, com contrafortes escalonados retangulares a marcar os tramos e ângulos, percorridas no terço inferior por cornija biselada e rematadas em platibanda plena com friso em ziguezague no topo, possuindo ainda gárgulas zoomórficas sobre os contrafortes. É rasgada em cada um dos panos das fachadas viradas a O. e a N. por fresta longilínea, em arco apontado com esbarro inferior sobre a cornija que percorre os panos, prolongando-a. O INTERIOR é acedido pelo lado do Evangelho da nave, por arco apontado, de duas arquivoltas, sobre colunas de capitéis vegetalistas, precedido por três degraus. Apresenta as paredes rebocadas e pintadas de branco, percorridas por cornija sob as frestas, pavimento cerâmico e cobertura em abóbada de arestas, sobre mísulas e com bocetes em florões e um em escudo. Na parede frontal tem, sobre soco de dois degraus, sarcófago de mármore, talvez de D. Diogo Pereira, composto por arca lisa e tampa de perfil contracurvo (2,58 comprimento x 1,40 altura x 0,92 largura). Sobre ele e entre as duas frestas, surge lápide retangular inscrita encimada por brasão de família, com elmo timbrado e paquife, envolvido por moldura. Junto ao arco de acesso, do lado do Evangelho, existe um outro sarcófago, mais pequeno (1,03 x 0,56 x 0,56), com arca lisa e tampa trapezoidal, com três águas. Segue-se a CAPELA DOS MESTRES OU DE SÃO BARTOLOMEU, de planta octogonal, com fachadas em cantaria aparente, percorridas no terço inferior por cornija biselada, com contrafortes retangulares escalonados nos ângulos, rematadas em friso denticulado com gárgulas facetadas no alinhamento dos contrafortes, cornija e platibanda plena. Cada um dos panos é rasgado por janela de arco apontado, de dois lumes e espelho trilobado. No ângulo entre a capela de Maria de Resende e a dos Mestres, existe corpo facetado, integrando escada de caracol de acesso ao terraço da capela, com cobertura piramidal de cantaria, sobrelevada relativamente à platibanda, e sob a qual se rasgam pequenos vãos retangulares. Acede-se ao INTERIOR por portal em arco apontado, biselado, e abatido na face interna, rasgado no lado do Evangelho do presbitério da nave. Apresenta as paredes em cantaria aparente, percorridas no terço inferior por cornija, com pavimento cerâmico e cobertura em abóbada de nervuras, sobre mísulas, com bocete em florão. Sobre o portal, a janela tem a metade inferior entaipada. No pano do lado do Evangelho rasga-se porta de verga reta, biselada, para as escadas de acesso ao terraço que, na zona inferior, estão cortadas pela passagem de comunicação à capela de Maria de Resende, atualmente entaipada. Em frente, ocupando parte de três faces do octógono dispõe-se arcaz, sobre degrau, encimado por sacrário tipo templete, com cobertura piramidal ornado de acantos e com custódia na porta. Ladeia o arcaz, do lado da Epístola, lavabo em mármore, preto e branco, com espaldar retangular contendo bica carranca, encimada por cornija reta e silhar ornado de volutas e elementos vegetalistas, coroado por cruz latina; frontalmente tem bacia retangular. Na fachada lateral direita a CAPELA DO TESOURO é composta por nave retangular e capela-mor quadrangular, mais baixa e estreita, com fachadas terminadas em cornija assente em mísulas equidistantes. A nave é rasgada, nas fachadas viradas a O. e a S., por fresta mainelada, em arco apontado e biselado, gradeada. Fachada posterior da nave terminada em empena e rasgada por óculo circular e a da capela-mor, terminada em empena reta rasgada por pequena fresta. INTERIOR acedido a partir da capela-mor, por vão em arco apontado, apresentando as paredes em cantaria aparente, pavimento cerâmico e cobertura em abóbada de aresta sobre mísulas, na nave, e abóbada de berço, na capela-mor. No lado do Evangelho, abre-se no topo da nave, junto ao vão de acesso, nicho em arco apontado. Arco triunfal apontado e biselado, sobre duplos colunelos com capitéis vegetalistas, pouco relevados. A capela-mor tem de cada lado, um arcosólio de arco apontado, biselado.

Acessos

Rua Bom Jesus dos Mártires

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 44 075, DG, 1.ª série, n.º 281 de 05 dezembro 1961 (Capela de São Bartolomeu), Decreto nº 28/82, DR, 1.ª série, n.º 47 de 26 fevereiro 1982 *1

Enquadramento

Rural, isolado, implantado a meia encosta, a O. da vila e do castelo de Alcácer do Sal (v. IPA.00003440), com o qual comunica visualmente a partir do terraço da capela dos Mestres e de onde se domina também um troço importante do curso do rio Sado. Insere-se em adro retangular, pavimentado a calçada à portuguesa e com placa arrelvada junto à fachada posterior, sendo vedado por muro, parcialmente percorrido no interior das faces N., O. e S. por bailéu, capeado a cantaria e com espaldar revestido a azulejos esponjados, em roxo manganés e friso azul e branco vegetalista; o adro tem acesso por dois portões laterais em ferro, na face E.. Em frente da igreja existe coreto, de planta facetada, e a S. casas de apoio aos peregrinos. A face E. do muro do adro é precedida por cortina de árvores e no terreiro que o antecede ergue-se cruzeiro, com plataforma de planta quadrangular, formada por quatro degraus, base tronco-piramidal e cruz de braços quadrangulares, lisos. Nas imediações, existe a Estação Arqueológica do Senhor dos Mártires (v. IPA.00004091).

Descrição Complementar

Na torre sineira, existe lápide de mármore, com 45,5 x 71, contendo as armas de Santiago seguras por dois leões rampantes, envolvidas por inscrição, em letra gótica minúscula: "era : de : mil : cccc : xxxx (=1402) : / anos / se acabou / esta capella". Os retábulos laterais (antigos retábulos colaterais) possuem estrutura semelhante, em talha pintada a marmoreados fingidos a verde, bege, rosa e azul e dourado, de planta reta e um eixo, definido por duas colunas coríntias, de terço inferior marcado, assentes em bases facetadas. A estrutura remata em cornija contracurva encimada por espaldar recortado, com volutas de acantos, e cartela central de concheados, rematado em cornija contracurva, sobreposta por elementos vegetalistas vazados. Ao centro abre-se nicho em arco contracurvo, interiormente em alvenaria pintada de branco e albergando imaginária. Banco com apainelado contendo motivo de concheados e acantos. Altar tipo urna, ornado por frisos enquadrando cruz central, flanqueado por elementos vegetalistas. Arco triunfal revestido a azulejos de padrão P-477, com barra B-35 e cercadura C-31. No pavimento da capela-mor existe lápide sepulcral, com a inscrição: "SA. DE FRACO. DO TELMO / DANDRA. DA. FIDA / LGO DA CAZA. DE / L REY NOSSO SOR / CAMAREIRO. E / GVARDA ROVPA / DO INFANTE. DOM / LVIS. E HERDEIROS". Na capela lateral denominada Maria de Resende, entre as duas frestas, existe lápide com inscrição, em 14 regras: "Aq: iaz: diego: pereira: comendador moor: da: hõrrada: horde da cava / laria: de s tiago: o qll foi criado: de peqno: delrrey: dõ: õ: de Portugal // e do algarue: e senhor: de cepta: e por: os muitos: serviços: q: lh fez: e siso: / e bõdade: q e ell: sentiu: o fez: cavalero: qudo: eviou: sua: filha: don / a biatriz. a casar a ingreterra: cõ: o conde: dãrdel: e foi: cõ: o cõde: / dõ afõso: de barcelos: filho: do: senhor: rrey: e: ihzliñ: e e: turqia: / na gerra: q: o emperador: cismudos: fazia: aos turcos: e dep / ois: q dela: veyo: fazeo: do: seu: cõselho: e deuo: ao ifant: dõ: jõ / seu: filho: por: governador: de sua: casa: oqall: lhe: deu: esta: co /meda. e fjnouse: e: jdade: de: 1: anos: postumeiro: dia: dagosto: / e: do nacimeto: de nosso: senhor: jh". Sobre a lápide surge brasão de família, com escudo nacional, disposto à valona, com as armas dos Pereiras, pertencendo, possivelmente, ao filho de Diogo Pereira, Diogo Pereira-o-Moço, documentado em 1444 como comendador de Arrábida e Samora Correia. Na capela existem várias estelas funerárias e outros elementos, que estiveram integrados nas fachadas do imóvel ou foram encontrados no adro. Na capela dos Mestres, existem duas lápides retangulares inscritas com letra gótica; a do pano do lado do Evangelho, com 60 cm x 27 cm, tem a inscrição: ": AQ(U)I IAZ : A OS(S)ADA : Q(UE) A / CHAROM : NOS : FUNDAMENTO / S : DESTA : CAPELA : e : O MAE / TRE : DOM : GARCIA : PeRIZ : POR LHIS : SATI(S)FAZER : MAN / DOU : QUE : A NON : TIREN : ENDE". A lápide sobre o arcaz, com 55,5 x 32 cm, tem a inscrição: "AD : LAUDEM : et : HONOREm : DEI : et : / BEATISSIME : MARIE : VIRGINIS : S / UE : MATRIS : MAGISTER : DONNus / GARCIA : PETRI : FECIT : ISTAM : / DOMUm : FUNDARI : et : EDIFICAVIT : IB(i) / ALTARE : BARTOLOMeO : APPoslo : et ELEGIT : / IBI : SePULTURAm : S(ib)i : et FratRI : s(U)O : MaGistRO : DONNO : / PETRO : SCAPCHO : TUNC : Era : Mª : CCCª : LXXI". Alguns silhares da escada de caracol são siglados com "mº". Na capela dos Mestres existe ainda armário dos Sírios, com a inscrição: "SIRI / DO S. / DOS MTES / DOS M / AROT.OS / DE SET /VBAL" e "ANNO / 1793". No adro do Santuário ergue-se em frente da igreja coreto, de planta centralizada, quadrangular com ângulos em chanfro, de volume simples, constituído pela base, com paramentos em alvenaria rebocada e pintada de branco. Possui soco saliente, remate em cornija e cunhais com pilastras almofadadas, de alvenaria; cada uma das faces menores é decorada com uma almofada retangular, disposta na vertical, e as faces maiores com almofadas retangulares sobrepostas, rasgadas ao centro por óculo circular, moldurado e gradeado. A face principal surge virada a O., onde é rasgada por porta de verga reta, moldurada, de acesso ao interior, ladeado por dois óculos semelhantes. A base tem guarda em ferro e, sobre as faces menores, em alvenaria rebocada e pintada, decorada com uma arpa, e pavimento em tijoleira. A S. do coreto existe poço, de boca circular, com guarda plena galbada, em cantaria, de topo reto, reforçado por gatos de ferro, e protegido por grade de ferro. Possui armação em ferro forjado, decorada com elementos volutados e cruz. Na face S. do adro e delimitando-o parcialmente, erguem-se duas casas de apoio aos peregrinos, adossadas, de planta retangular, volumes escalonados e coberturas em telhados de duas águas, rematadas em beirada simples. Apresentam as fachadas rebocadas e pintadas de branco, com faixa, cunhais e molduras dos vãos sublinhados a azul. A fachada principal surge virada a N., rasgada por portas de verga reta e terminada em cornija de massa, tendo sobre a cobertura três chaminés, retangulares, de cunhais igualmente sublinhados a azul. Sensivelmente a meio da fachada existe integrado no paramento silhar com os topos laterais decorados com motivos vegetalistas em embrechados. Fachada lateral esquerda rasgada por duas janelas de peitoril quadrangulares a a direita cega, ambas terminadas em empena. O cruzeiro do terreiro que precede o adro do Santuário tem a inscrição: "P. N. / AVE M / PELAS / ALMAS / 1723".

Utilização Inicial

Religiosa: igreja

Utilização Actual

Religiosa: santuário

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Évora)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 13 / 14 / 15 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ELETRICISTA: António de Jesus da Silva (1985-1986). FIRMAS: António da Costa Saraiva (1970, 1978-1983); Azularte - Azulejaria de Arte, Ldª (1984); Lourenço, Simões & Reis, Ldª (1986, 1988).

Cronologia

Séc. 13 - construção da igreja de Santa Maria dos Mártires *2; Afonso X (23-11-1221 - 04-04-1284) em Cantigas de Santa Maria, refere a igreja "Esta ygrej'alongada da vila já quant'está [...]"; 1275 - data da morte do mestre da Ordem de Santiago D. Paio Peres Correia, comendador de Alcácer e do convento do mesmo local, sendo sepultado no corpo principal da igreja "[...] amte o cruzeiro [...] em huua capella muito Rasa [...]", conforme referem as Visitações de 1512; 1320 - a igreja de Santa Maria dos Mártires rende 100 libras; 1333 - segundo inscrição na capela dos Mestres, D. Garcia Peres, 3º mestre da Ordem de Santiago, manda erguer a capela octogonal a N. da igreja, denominada dos Mestres, em louvor de Deus e da Virgem Maria, com um altar em honra de São Bartolomeu, elegendo-a como local de sua sepultura e de seu irmão D. Pero Escacho, seu antecessor no Mestrado da Ordem; durante a construção, sob os seus alicerces, descobre-se ossada de uma sepultura; 1402 - construção de uma capela na fachada lateral direita por Martim Gomes Leitão, durante o mestrado de D. Mem Rodrigues de Vasconcelos, e sobre parte da qual viria a ser construída a torre sineira; 1430, década - Maria de Resende, mulher de Diogo Pereira, comendador-mor da Ordem de Santiago entre 1422 e 1433, e regedor da Casa do Infante D. João, filho de D. João I, manda construir, após a morte do marido, uma capela para sua sepultura, adossada à igreja, no lado do Evangelho; a capela passa a denominar-se de Maria de Resende; 1466 - a igreja surge como paróquia e, apesar de não ter sido, funcionou quase sempre como tal, administrando todos os sacramentos e proporcionando culto e apoio espiritual aos fiéis; séc. 15, finais - o contador Estêvão Rodrigues e sua mulher Inês Eanes doam um crucifixo à capela; Inês Eanes deixa ainda em testamento a Catarina Fernandes, sua criada, um olival de Arrefoles para do "azeite delle se alumyar de comtyno a alampada damte o crucifixo"; a imagem de Cristo crucificado progressivamente passa a atrair cada vez mais romeiros que a ele vêm rezar e pagar promessas; 1513, 01 fevereiro - visitação de D. Jorge à igreja, sendo então capelão perpétuo João piz, clérigo de missa e do hábito; a igreja tem o corpo com dez varas e meia de comprido e seis varas de largo e ladrilhado de pedraria; sobre a porta principal tem "huu coro de tavoado com huua escada de pao por omde sobem a ele", "da parte do evangelho estaa huu moymento metido no meyo da parede omde dizem q jazem marteres", dois altares nas "ombreiras", o da parte do Evangelho com invocação de Santa Ana, de alvenaria, muito desbaratado, e o da Epístola de Santo André; nas paredes das ilhargas, tem algumas imagens "pymtadas E amte o cruzeiro jaz ho mestre dom payo piz correia mestre que foy desta ordem de samtiago, o qual jaz em huuma capella mtº rasa"; a capela-mor, com cinco varas de comprimento e quatro varas e um terço de largo, é ladrilhada e abobadada, tem altar de alvenaria, encimado por uma imagem de pau velha, de Nossa Senhora, e hum "Retavollo piqueno com nosso sñor e nas portas delle sam Joham e nossa sra"; nesse altar tem ainda uma imagem de Santo André e em frente do altar tem dois degraus de pedraria; à entrada da igreja, do lado do Evangelho, existe uma capela de cantaria, chamada de Maria de Resende, com seis varas de comprido e quatro varas e meia de largo, lajeada e com "hu altar daluenaria nela e amte ele quatro degraos de pedrarja, na qual estão dous moymemtos de pedra destemoz huu gramde de dom diogo pereira comendador moor que foy desta ordem e outro piqueno que se não sabe cujo he"; no mesmo lado do corpo da igreja tem porta de acesso à capela dos mestres, onde jazem quatro mestres da Ordem de Santigo, a qual tem seis varas de comprido e de largo, é de cantaria, lajeada e abobadada, com "huu alltar dalvenarja com huua pedra gramde em cima [...] duas vidraças grandes", dous letreiros de pedra e uma escada de caracol para o terraço existente sobre a abobeda; tem também portas novas; no lado da Epístola, em frente da capela de Maria de Resende, tem a capela de Martim Gomes Leitão, nesta data administrada por Álvaro de Castro, abobadada, com comprimento de "[...] varas e duas terças e de largo quatro varas"; tem um altar e "huu Retavolo pyntado muito bom de presépio"; segue-se a capela que serve de "tisouro", com portas de ferro, tendo de comprido seis varas e meia e de largo três varas e quarta; é toda abobadada e tem altar de uma pedra pequena; em frente da porta principal da igreja "estaa huu alpemdre em q estaa huu altar com a Imagem de nossa srã de pedra, q tem de comprido b varas e meya e de largo três varas e meya"; a igreja insere-se num adro espaçoso, cercado por muro, onde se ergue uma Capela de São Pedro, de construção antiga *3; 1513 - 1534, entre - forra-se o altar-mor de azulejos hispano-mouriscos; 1534 - visitador acha o altar-mor forrado de azulejos, que mandara colocar o "daiam do mtº nosso sñr e prior della", e o coro da igreja havia sido tirado, por ser velho e estar muito danificado, parecendo-lhe que a igreja ficara muito melhor; séc. 16, meados - feitura de alpendre frontal encimado por coro-alto, conforme descreverá a visitação de 1560; 1560 - visitador diz que a capela-mor tem abóbada de berço de alvenaria com um arco de pedraria no meio sobre que está edificada; do lado do Evangelho a capela dos Resendes está "mal tratada o tecto he de abóboda, chove muyto nela" e tem "hua sepultura de mármore de duas pedras muyto Riquas S. o assento debaixo hua peça e a cobertura de Riba outra, estaa em vaão sobre dous cantos"; tem um altar de alvenaria muito "desbaratado" sem fábrica nenhua, nem images nem retábulo nem outra coisa; no mesmo lado e "pegado cõ o cruzero estaa hu portal q vay pera a capela dos mestres"; do lado da Epístola, ou do sul, tem uma capelas dos "afonsecas estaa mujto danificada, tem necessidade de se repairar; saindo desta capela encostado no cruzeiro pera o corpo da igreja tem dois altares de alvenaria forrados de azulejos", um do lado norte e outro do lado sul; neste tem um "Retavolo de três payneys direytos no do meio o apostollo Santiago, e no outro sã pedro, e no outro snto andre. Tudo pintado a óleo, molduras e pilares e coroamentos bem dourados, o guarda poo pintado dazul cõ três Rosas douradas, este Retavollo deu bertolomeu frz prior q foy desta Igreja"; "da banda do sull hu portado de ponto, depedrarya, de pedra lios [...] contra o ponente hu portado oitavado de boa largura e altura [...] diante deste portado hu alpendre feito de novo quadrado, e nele hu altar dalvenarya e sobre elle hu vulto de pedra da envocação de nossa sñora da synta, tem este alpendre quatro arcos sobre elle hu coro"; da banda do sudueste existe outra capela, com abóbada de pedra, de berço, com o pavimento mal ladrilhado, tendo "hu alltar dalvenarja forrado de azulejos. Sobre elle hu Retavolo de frandes de portas cõ a Imagem de nossa sñora, são João Baptista roijs portas, a qual capela he de dom aluaro de castro [...] e hu crucifixo, cõ hua janela pera a banda do ponente e outra pera a banda do adro cõ Roijs portas, a qual capela he de dom aluaro de crasto [...]"; séc. 16, finais - com a justificação de que a capelinha de São Pedro e a festa de São Pedro não se poder celebrar tão solenemente como desejado, a confraria dos pescadores pede autorização para construir à custa dos confrades e de esmolas uma nova capela mais espaçosa "[...] no cabo da villa Junto domde se fazem as caravellas qe he da banda de setuuall"; séc. 17 - provável feitura do portal axial entre postigos; séc. 17, 2ª metade - colocação de silhar de azulejos policromos nas paredes da nave; 1718, cerca - segundo Frei Agostinho de Santa Maria, no templo de Santo Cristo dos Mártires, da Ordem de Santiago, existe no alpendre um nicho grande e fundo, do lado esquerdo, "antes de chegar à porta principal do mesmo templo", onde estava colocado "hua devota, & milagrosa Imagem da May de Deus, a q dão o titulo de N. Senhora da Cinta, pela razão de estar cingida com hua correa de couro"; a imagem é de pedra excelente, como mármore, de proporção natural, encarnada e, porque assente sobre um pedestal ou coluna, chamam de Nossa Senhora do Pilar; segundo o que diziam, antes de ser encarnada, a imagem ainda parecia mais formosa; o pilar tem nove palmos do altar para cima, fora o que está metido na parede do nicho, tem esculpido, à esquerda, a imagem de Santiago, com as mãos postas, olhando para a Senhora; a imagem não tem dia particular de festividade, mas festeja-se quando as pessoas particulares a ela concorrem por devoção com as suas esmolas; a devoção à imagem pela população de Alcácer é muito grande, principalmente pelas mulheres grávidas, as quais nas vésperas do seu parto lhe vão fazer as suas novenas "& para a obrigarem a que lhes dé feliz successo na occasião deles, a prende com ricas colonias, & fitas"; "Hoje se diz que a Senhora a mudárão para dentro da Igreja, aonde lhe fizeram huma Capella junto às portas della"; de acordo com relatos dos antigos, a imagem fora achada por uns pescadores no rio de Alcácer, junto à Fonte da Figueira, e que posta no altar-mor da igreja dos Mártires, é achado no dia seguinte no alpendre, sendo visto pelos devotos como escolha da Senhora para ser venerada em tal local; daí ter-se mandado fazer o nicho ou capela onde então se venera, colocada num altar, com capelinha abobadada e azulejada; supõe que houvesse pertencido aos antigos cristãos de Salácia tendo os infiéis lançado-a ao Sado; 1753 - a Igreja passa a denominar-se Senhor dos Mártires devido à instituição de uma Irmandade com essa invocação e ao progressivo desuso da veneração mariana a Nossa Senhora dos Mártires ou Santa Maria dos Mártires; séc. 18 - modificação da capela-mor, com feitura e colocação de novo retábulo-mor, bem como dos dois retábulos colaterais, postos de ângulo, e de dois laterais; substituição da velha imagem da Senhora por um Cristo crucificado; construção da torre sineira no local onde existia uma capela lateral, aproveitando parte dos seus materiais; 1723 - construção do cruzeiro do terreiro do Santuário com inscrição alusiva ao pedido de um Pai Nosso e uma Avé Maria pelas Almas; 1793 - data inscrita em armário do sírio dos Marítimos de Setúbal; 1869 - data no portão de acesso ao adro; 1874 - identificação da existência de necrópole proto-histórica; séc. 19, finais - época provável da construção de anexo na fachada lateral esquerda para acesso ao coro-alto; 1961, 05 dezembro - decreto n.º 44 075 classifica apenas a Capela de São Bartolomeu anexa à igreja do Senhor dos Mártires; 1966 - está instalado no Santuário o Instituto "Regnum Rei"; 1969 - sismo provoca estragos na capela; 1977 - as coberturas do templo estão em péssimas condições, chovendo em todo o complexo do Santuário; 1978 - descoberta de restos de uma ábside semicircular com vestígios de revestimento azulejar hispano-árabe e de pinturas murais; 28 julho - elaboração de proposta de classificação do conjunto da Igreja do Senhor dos Mártires; nesta data a igreja tem interiormente silhar de azulejos do séc. 17, o arco da capela de Maria de Resende está "muito bem conservado, devido a ter estado entaipado durante muitos anos", tendo no interior a fresta voltada a poente entaipada na sua quase totalidade pelo acesso ao coro; a capela de São Bartolomeu tem duas lápides, a relativa à descoberta da ossada durante a construção visível, e a relativa à construção da capela por Garcia Peres encoberta pelo arcaz, com pequena porta de acesso às escadas de caracol, para o terraço; refere-se a capela do séc. 13 ter em tempos recentes acesso para o exterior e sua capela-mor ter abóbada de berço e uma fresta entaipada; sob o coreto existe uma pequena "casa de fresco"; Despacho do Secretário de Estado da Cultura sobre o parecer da Comissão Organizadora do Instituto de Salvaguarda do Património Cultural e Natural, determina que a classificação da Capela de São Bartolomeu passa a abranger também o corpo da Igreja e a capela do séc. 13 e a de Maria Resende; 1982, 26 fevereiro - decreto n.º 28/82 esclarece que a classificação passa a abranger também o corpo da igreja do Senhor dos Mártires e as capelas do século 13 e de Maria Resende.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de pedra e tijolo rebocada e caiada ou em cantaria de calcário aparente; pilastras, molduras dos vãos e outros elementos em cantaria de calcário aparente; portas de madeira; grades de ferro; vidros simples; pavimento cerâmico; cobertura de cantaria, madeira ou estuque; retábulos, coro-alto e guarda vento em talha policroma e dourada; pias de água benta, túmulos e lavabo em mármore; cobertura de telha; betão armado e lajes pré-esforçadas na cobertura da igreja.

Bibliografia

BARROCA, Mário Jorge - Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422). Porto: Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação para a Ciência e a Tecnologia; Ministério da Ciência e da Tecnologia, 2000, tomo 2; CORREIA, Vergílio - "O "Senhor dos Mártires" de Alcácer". In Monumentos e Esculturas (Séculos III-XVI). 2ª edição. Lisboa: Livraria Ferin, 1924, pp. 137-158; GIL, Júlio, CALVET, Nuno - Nossa Senhora de Portugal. Santuários Marianos. Lisboa: Intermezzo, 2003; LOURO, Pe. Henrique da Silva - Freguesias e Capelas Curadas da Arquidiocese de Évora (Séculos XII a XX). Évora: Gráfica Eborense, 1974; MARIA, Fr. Agostinho de Santa - Santuario Mariano.... Lisboa: Oficina António Pedrozo Galram, 1718, tomo 6; PEREIRA, Maria Teresa Lopes - Alcácer do Sal na Idade Média. Dissertação de mestrado em História Medieval apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Lisboa: texto policopiado, 1998; SILVA, José Custódio Vieira da - "A Capela dos Mestres em Alcácer do Sal". In Estudos de Arte e História. Homenagem a Artur Nobre de Gusmão". Mafra: Vega, 1995, pp. 235-236; SILVA, José Custódio Vieira da - "Da Galilé à capela-mor: o percurso do espaço funerário na arquitetura gótica portuguesa". In fascínio do fim. Vigens pelo final da Idade Média. Lisboa: Livros Horizonte, 1997, pp. 45-59; SIMÕES, J. M. dos Santos - Azulejaria em Portugal no século XVII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997, tomo II; VASCONCELOS, António Maria Falcão Pestana de - Nobreza e Ordens Militares. Relações Sociais e de Poder. Séc. XIV a XVI. Dissertação de Doutoramento em História Medieval e do Renascimento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto: texto policopiado, 2008, vol. 2; Santuário do Senhor dos Mártires (http://www.cm-alcacerdosal.pt/PT/Concelho/Patrimonio/PatrimonioArquitectonico/Religioso/Paginas/SantuariodoSenhordosmartires.aspx), [consultado em 05-06-2014]; Senhor dos Mártires [Alcácer do Sal], (http://www.geocaching.com/geocache/GC11WKC_senhor-dos-martires-alcacer-do-sal), [consultado em 05-06-2014]; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74372 [consultado em 5 agosto 2016].

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DRML, DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DREMN, SIPA; Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DSARH

Intervenção Realizada

1966, 10 outubro - na sequência do pedido dirigido pelo Instituto "Regnum Rei" ao Director-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais solicitando a colaboração técnica e ajuda financeira para o restauro do Santuário, a Câmara Municipal reforça o pedido de apoio para as obras; o imóvel precisa de obras de restauro no telhado, que deixa entrar água, e limpeza da cal que encobre a pedra primitiva na capela dos túmulos dos cavaleiros da Ordem; 1968 - orçamento das obras de conservação e restauro, com levantamento da telha da cobertura, demolição da estrutura de madeira do telhado, demolição de tetos fasquiados e estucados, construção de esteira de telhado em lajes pré-fabricadas tipo "premolde", construção de cobertura de telhado, construção de cintas de travamento de betão armado e de estruturas de betão armado para suporte da esteira de pré-esforçado dos telhados; o orçamento tinha em vista a obtenção de uma comparticipação por parte do Minsitério das Obras Públicas, uma vez que as obras no imóvel, por não ser propriedade do Estado, competem à entidade proprietária; não tendo havido comparticipação, o Ministério das Obras Públicas despacha para ser prestada assistência técnica à obra, o que não se realiza por não terem sido efetuadas as obras; 1970 - realização de alguns trabalhos de reparação e consolidação por António da Costa Saraiva, nomeadamente na Capela de São Bartolomeu, classificada, com reparação das coberturas nessa capela e na de Maria de Resende, e substituição da tijoleira dos pavimentos; as obras são interrompidas por várias dificuldades, nomeadamente da desafetação do Fundo de Desemprego (única fonte de financiamento à intervenção) ao Ministério, 1973 - conclusão da construção do CM 1068 - lanço da EN 5 ao Santuário do Senhor dos Mártires e ramal de acesso ao castelo de Alcácer do Sal; 1977, 27 junho - Câmara solicita à DGEMN a verificação da situação em que se encontra a igreja e pede a concessão de verga para os trabalhos ou a sua execução; DGEMN responde que deverá ser a entidade propriatária a responsável pela promoção da reparação das coberturas da igreja, tentando obter uma comparticipação da Direção-Geral dos Serviços de Urbanização, por a igreja não se encontrar classificada, ao mesmo tempo que tentaria no próximo ano retomar o problema de restauro e valorização da Capela de São Bartolomeu, bem como outros elementos de interesse, não classificados, existentes na igreja; 1978 - início dos trabalhos de recuperação e valorização, adjudicadas a António da Costa Saraiva; 13 outubro - memória descritiva das obras de conservação na capela de São Bartolomeu refere que se encontram dessiminados no terreno circundade, capela e igreja, muitos elementos de cantaria que se julga ter pertenciado à fresta e ao troço da parede que foram demolidos para dar lugar à escada que foi reconstruída para fazer o acesso à capela-mor da igreja, pelo lado N., e que também já não existe; a abertura então construída está entaipada com alvenaria de tijolo; na obra pretendia-se a demolição de alvenarias que, num passado relativamente recente, encobriram parte de um contraforte do lado S., alvenarias que integravam cantarias trabalhadas, reconstituir a parede e a fresta; na cobertura da capela de São Bartolomeu e Maria de Resende, acabadas a pavimento de tijoleira, serão reconstituídos os algerozes, que quase já não existem, reparadas as gárgulas e ligação aos algerozes; arranjo dos pavimentos, também em tijoleira, com a construção de caixilharia; 1979 - obras de conservação e restauro por António da Costa Saraiva: remoção do lavabo de cantaria embebido na parede N., incluindo demontagem das cantarias que a ladeiam e procurando o aproveitamento total das peças para reassentamento; picagem de rebocos dos paramentos, pondo a descoberto as cantarias na fachada S. e torre, bem como as do interior; demolição da cobertura da nave, demolição do guarda-pó e estruturas de barrotes, consolidação das combotas da abóbada e fixação das tábuas soltas, construção de varedo no telhado, novo guarda-pó, construção do telhado, emboço e reboco em paredes exteriores; sondagens a nascente da capela-mor e novo entulhamento; apeamento da cobertura da construção anexa à capela-mor do lado E., demolição de pavimentos, lareiras e tabiques da divisória; demolição das construções de alvenaria a S. da capela-mor; escavação de terras sob o altar e substituição do pavimento; 19 abril - relatório sobre as obras em curso no Santuário referem a deslocação do arcaz da capela de São Bartolomeu para por a descoberto a lápide da fundação da capela, colocação provisória da Imagem do Senhor dos Mártires noutro local para permitir, sem interrupção do culto, as sondagens a levar a cabo na zona do altar-mor, demolição do anexo exterior ao coro, permitindo a reabertura da fresta da capela de Maria de Resende e o entaipamento das portas existentes na mesma capela, uma de ligação à escada de acesso ao coro e outra de ligação à capela de São Bartolomeu, recuperação de uma das casas do Santuário com vista ao alojamento do locatário da casa existente por detrás da capela do Tesouro, para demolição dessa, desafogando aquela capela, remoção de todos os elementos arquitetónicos e escultóricos expostos na capela de Maria de Resende, manutenção de todos os elementos existentes no adro do santuário, poço, coreto, bancadas, etc; informação do Instituto Dr. José de Figueiredo referente aos frescos aparecidos atrás da capela-mor na Igreja; 1980 - obras de reparação diversas, no exterior e interior, adjudicadas à Firma António da Costa Saraiva, com reparação do pavimento do logradouro, remoção da tijoleira antiga do lado N., para posterior reposição, conclusão da limpeza das cantarias interiores na capela Maria de Resende, junto da porta que comunica com a capela octogonal, que se prevê tapar, reconstruindo a alvenaria; demolição do maciço de alvenaria em que assenta a escada de acesso ao piso do corpo octogonal, tapamento de vãos que foram abertos para comunicar com aquela escada através da igreja, sob o coro, e revestimento das alvenarias; 1980 / 1981 / 1982 - obras de conservação pela firma António da Costa Saraiva, com conservação dos telhados dos anexos da igreja, capelas laterais do Evangelho, capela-mor e alpendre; demolição de construções menos antigas adossadas a N. do alpendre e que encobriam elementos primitivos; remoção do pavimento de um anexo da capela a S. da capela-mor, que fora demolido em 1979, e limpeza das pedras do paramento; beneficiação da casa ligada ao anexo demolido, mas pertencente ao conjunto; acabamento das bases do túmulo grande na capela de Maria de Resende, limpeza das paredes da capela de São Bartolomeu, remoção do reboco da abóbada da mesma, entaipamento do vão de acesso à passagem para a escada de caracol e reconstrução de duas janelas na capela de São Bartolomeu; limpeza de ervas nos terraços e algerozes dos telhados, demolição da cobertura da capela do séc. 13, execução de cintas de travamento no coroamento das paredes dessa capela, demolição da cobertura e corpo das escadas de acesso ao coro, remate dos telhados e beirados da nave e do coro onde se situava a escada; 1983 - obras de conservação e reparação pela Firma António da Costa Saraiva, com picagem de rebocos e lavagem das alvenarias, limpeza de toda a zona envolvente da igreja e capelas, limpeza dos telhados; 1984 - obras de recuperação com picagem de rebocos nas paredes da nave e lavagem de alvenarias, execução de emboço e reboco; instalação elétrica - 1.ª e 2.ª fase; obras de conservação nos silhares de azulejos da igreja, estando previsto o levantamento da sua totalidade, limpeza e recolocação, incluindo o restauro de 250 azulejos; fornecimento e assentamento de degraus de cantaria na passagem da nave para a capela lateral; obra adjudicada à firma Azularte - Azulejaria de Arte, Ldª; 1985 - beneficiação da instalação elétrica por António de Jesus da Silva; obras de valorização: apeamento dos retábulos laterais; abertura de nichos para montagem dos altares laterais; levantamento e reassentamento de degraus de cantaria na sua nova posição; picagem de paredes para por a descoberto o arcosólio e fornecimento de pedras para o completar; fornecimento e assentamento de azulejos cópias para completar o novo arranjo do arco triunfal; reconstrução do muro do pátio e montagem dos pilares do portão; fornecimento e assentamento de portas de madeira; demolição do anexo, incluindo cobertura e demolição da escada interior; abertura de vão para uma porta entre a torre e o coro; 1986 - beneficiação da instalação elétrica por António de Jesus da Silva; obras de recuperação da cobertura pela firma Lourenço, Simões & Reis, Ldª; 1988 - beneficiação e reparação do ramal de alimentação de energia pela firma Lourenço, Simões & Reis, Ldª; no decurso de obras de restauro são retirados dos respetivos lugares três altares de talha, um do lado do Evangelho, que encobria o túmulo de pedra, e os colaterais; subsistindo dúvidas quanto à colocação dos ditos altares numa das paredes laterais da nave ou a sua remoção (solução partilhada pelo Vigário Geral de Évora), solicita-se ao Prsidente do Instituto Português do Património Cultural uma reunião no local com a Comissão de Arte Sacra da Diocese de Évora; na sequência, o Vigário Geral da Arquidiocese sugere recolocar os dois retábulos mais pequenos na parede lateral da Epístola, sem as respetivas mesas de altar, ficando os outros na posse da Paróquia e recolhidas na Igreja de Santa Maria do Castelo; dado o estado lastimoso do teto, a Comissão de Arte Sacra é de parecer acudir-se primeiramente ao teto, continuando o restauro que já se fez no coro (TXT.00865876); ainda se prevê a substituição do teto da nave e coro, reposição de três altares, conclusão da instalação elétrica, caiação geral do interior e exterior, pinturas em portas e janelas e arranjo do adro; obras realizadas por Lourenço, Simões & Reis, Ldª; 1991 - obras de benificação de esgotos na casa da guarda anexa à igreja; 1994 - obras no muro de suporte do adro da igreja, então em estado de pré-ruína; 1996 - elaboração de projeto de reconstrução das casas anexas ao santuário pela DGEMN, para apoio dos peregrinos, de modo a Irmandade apresentar candidatura de financiamento de parte da obra.

Observações

*1 - DOF: Capela de São Bartolomeu, corpo da Igreja do Senhor dos Mártires e capelas do século XIII e de Maria Resende. *2 - Jorge Custódio apresenta como hipótese explicativa da denominação dos Mártires a ligação ao enterramento dos cruzados mortos durante o cerco e conquista de Alcácer em 1217, por analogia com o que ocorreu na conquista de Lisboa, em que um dos cemitérios então construídos deu origem à designação posterior de Igreja dos Mártires. *3 - A capela de São Pedro é descrita em 1513 como tendo "huu altar forrado dazulejos, e sobre ele duas Imagees, huua de sam pº e outra de sam paullo, e tem huus mamtees e huuas toalhas lavradaas e amte ho allar huuas grades de pao e he forrado dolivel e tem huas portas boos". Em frente da porta tinha alpendre sobre "três esteios", com cinco varas de comprido e três de largo. O visitador refere ainda que, segundo os antigos, a capela fora edificada por um João Anes, que lhe deixara uma vestimenta e um cálice, estando na época a cargo dos pescadores, os quais, cada domingo, mandavam dizer uma missa à sua custa e faziam mordomo cada mês, como faziam os pescadores em Setúbal a Santo Estêvão. Ainda que se desconheça a data da construção da capela, esta deve ser antiga porque em 1513 o cálice de prata deixado pelo instituidor já estava "velho e quebrado", tal como a vestimenta de linho e o missal, referindo-se que estavam todos fora de uso.

Autor e Data

Paula Noé 2014

Actualização

 
 
 
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