Colégio de São Francisco Xavier / Hospital da Marinha

IPA.00017551
Portugal, Lisboa, Lisboa, São Vicente
 
Arquitectura de saúde, neoclássica. Hospital de planta rectangular irregular, desenvolvido em torno de dois pátios, um rectangular e outro triangular, onde se implanta uma cisterna desactivada. A fachada principal apresenta corpo com tratamento simétrico, tendo a zona central saliente, de três pisos, o inferior com pequeno túnel em arco abatido, que permite o acesso ao interior, onde se dispõem dois vestíbulos que fazem a distribuição, através de escadaria e de amplos corredores laterais para as várias dependências; ambos possuem silhares de azulejo, os do vestíbulo do piso superior de produção neoclássica. Fachadas rasgadas uniformemente por janelas rectilíneas com molduras simples, as do corpo principal encimadas por cornijas, sobre respiradores ovais. No piso superior, surge capela, de planta longitudinal composta por nave e capela-mor mais estreita, com arco triunfal em arco abatido, tendo retábulo de talha policroma, tardo-barroca.
Número IPA Antigo: PT031106510823
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Educativo  Colégio religioso  Colégio religioso  Companhia de Jesus - Jesuítas

Descrição

Planta rectangular irregular, composta por vários corpos rectilíneos, adossados e articulados entre si, construídos em épocas distintas, conformando dois pátios interiores, um rectilíneo e outro triangular; coberturas diferenciadas em telhados de duas, quatro águas e em terraço sobre alguns corpos, pavimentados a cimento. Fachadas rebocadas e pintadas de amarelo, percorridas por embasamento de cantaria aparente, de calcário em aparelho isódomo, que se prolonga pelo primeiro piso, com cunhais apilastrados, firmados por pináculos, e rematadas por friso e cornija. Fachada principal virada a N., com seis panos definidos por pilastras toscanas, algumas da ordem colossal, de dois e três pisos, adaptando-se ao desnível do terreno, o terceiro separado por friso de cantaria, efectuando-se o acesso pelo piso intermédio, visto o primeiro se encontrar abaixo da cota da via pública. É rasgada regularmente por janelas de peitoril rectilíneas com molduras simples de cantaria e caixilharias de madeira; alguns panos, possuem, sob as janelas dos pisos superiores, os antigos respiradores, ovais e com molduras de cantaria. O primeiro pano do lado esquerdo tem três registos, os inferiores cegos e o superior com amplas janelas de alumínio; o terceiro é avançado, tendo, o piso inferior abaixo da cota da via pública principal, sendo marcado por um túnel, por onde passa uma segunda via; o túnel é coberto por abóbada de berço abatido, sustentada por oito pilastras toscanas. Num dos lados do túnel, o acesso às urgências e consultas externas do hospital, através de porta de verga recta com os ângulos superiores chanfrados e dupla moldura, flanqueado por duas janelas rectilíneas com molduras de cantaria e grades de ferro, pintadas de verde; no lado oposto, o módulo repete-se, dando acesso à farmácia, iluminada, na face E., por duas janelas semelhantes às anteriores. Sobre os arcos de acesso ao túnel, surgem, nas faces E. e O., duas janelas sobrepostas, as do piso intermédio rematadas por cornija. O segundo piso deste terceiro pano tem acesso por escadaria de seis degraus, protegidas por guardas metálicas e por portões do mesmo material, tudo pintado de verde; é rasgado por amplo portal de verga recta, sobrepujado por friso largo com inscrição e cornija, e ladeado por duas janelas de peitoril, também rematadas por cornija. O terceiro piso tem três janelas rectilíneas e é rematado por frontão triangular com as armas portuguesas no tímpano. Fachada lateral esquerda virada a E., dividida em três panos escalonados, o central ligeiramente proeminente, tendo, o do extremo esquerdo, cinco pisos, os dois superiores recuados, formando ângulo agudo, dando origem a pequeno terraço com guarda metálica tubular, pintada de vermelho; o piso inferior é cego, sendo os dois seguintes rasgados por sete janelas correspondentes, protegidas por caixilharia basculante; os dois superiores têm seis janelas rectilíneas com caixilharia de madeira, assentes sobre friso contínuo de cantaria. O pano central tem cinco pisos, rasgados por vãos rectilíneos com molduras de cantaria, correspondendo, no inferior, a porta central e duas janelas, no segundo a uma janela e, nos superiores, a duas janelas. O pano do extremo direito tem três pisos, os dois inferiores subdivididos em dois panos, o primeiro com porta rectilínea e duas janelas, o intermédio com cinco janelas com molduras comuns e, no superior, cinco janelas de três folhas com os caixilhos pintados de branco. Fachada lateral direita virada a O., parcialmente adossada, tendo, no extremo da casa residencial a que se adossa, um muro rasgado por portão rectilíneo, flanqueado por pilares de cantaria em aparelho rústico e protegido por portão metálico pintado de verde; no interior, forma-se um pequeno pátio com pavimento em cubos de granito, para onde abre o piso superior de um pavilhão anexo, rasgado regularmente por janelas rectilíneas, onde funciona a secção de Medicina Hiperbárica; no fundo do pátio, surge o acesso ao edifício principal. Fachada posterior formada por vários corpos escalonados, com quatro, cinco e seis pisos, adaptando-se ao desnível do terreno, rasgados regularmente por janelas rectilíneas, algumas de peitoril, as do piso superior abertas para sacada comum com guarda metálica; no terceiro piso, surge uma porta em arco de volta perfeita; os pisos superiores abrem para amplo terraço, pavimentado a cimento, de onde sai, sensivelmente ao centro, uma escada metálica. INTERIOR com acesso por dois vestíbulos, o do piso inferior de menores dimensões e com tecto plano, sendo a cobertura do superior composta por sanca curva e tecto plano, ambos pintados de cinza e com frisos de flores pintadas, ambos com pavimento em cantaria calcária. As paredes testeiras são marcadas por três arcos de volta perfeita, assentes em pilastras com os fustes almofadados, os laterais de acesso às escadas que ligam os vários pisos, com coberturas em abóbadas de aresta e paredes marcadas por silhares de azulejo decorativo, com florão central; os centrais servem de nicho, no piso superior, e de recinto da segurança, no inferior. O vestíbulo do piso superior possui quatro painéis de azulejo entre os vários vãos, dois de enchimento e com legendas e dois de grandes dimensões, com cenas figurativas todos policromos e com molduras recortadas, flanqueados por quarteirões encimados por vasos. Os painéis centrais, encimados por açafates, figuram as duas personagens ligadas à fundação e desenvolvimento do Hospital da Marinha, representando D. Rodrigo da Sousa Coutinho e Dr. Bernardo António Gomes. No piso inferior, surge amplo corredor de acesso à zona de análise, marcado por porta de verga recta, com moldura recortada de cantaria, encimada por espaldar recortado e cornija, de onde pendem pingentes, e à antiga farmácia, com tecto plano, tendo medalhão central, de perfil recortado, pintado com o escudo da Marinha Portuguesa, e pavimento de madeira, com as paredes percorridas por amplos armários, pintados em tons de cinza e azul. O piso intermédio liga, no lado direito, à zona de administração e ao bar, com duas dependências totalmente forradas de madeira e pavimento em ladrilho. No patamar superior da escadaria, painéis de azulejo policromo figurativo, com molduras recortadas, estípides laterais, encimadas por vasos, a representar episódios da história da Medicina, a azul e branco; no topo, surge a Capela, com acesso por arco de volta perfeita com moldura de madeira, de planta longitudinal composta por nave e capela-mor ligeiramente mais estreita, com as paredes e coberturas marcadas por apainelados de estuque. Arco triunfal em arco abatido, sendo protegido por teia de madeira pintada de branco e dourado, com decoração de drapeados, tendo, na parede testeira, falsas janelas em arco canopial, encimadas por óculos circulares, protegidos por vidro colorido, formando estrelas de oito pontas; estas centram retábulo-mor de talha pintada de branco e dourado. Para o lado direito, a sala da Biblioteca, com os respectivos anexos, e as salas da Junta, surgindo, no lado oposto, corredores com silhares de azulejo, que ligam aos quartos de internamento. Num dos pisos inferiores, o bar, tendo, ao centro, a antiga cisterna, rodeada por marcações de tinas no pavimento, em calcário No centro, o pátio, antigo claustro do Colégio, onde subsistem algumas pilastras da ordem colossal, sendo rodeado por corpos de cinco a seis pisos, rasgados uniformemente por janelas rectilíneas, algumas mantendo os óculos ovalados de arejamento. Na face S., surge escadaria para os vários pisos, marcada por arco de volta perfeita, ficando, no extremo oposto, arco semelhante de acesso à sala das máquinas, antecedido por espaço coberto por abobadilha de tijolo.

Acessos

Rua do Paraíso; Calçada do Cardeal; Praça Dr. Bernardino António Gomes; Beco do Hospital da Marinha

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, a meia encosta formando grande desnível, com a fachada lateral direita adossada a edifício residencial, estando as demais viradas a espaços públicos, a principal a amplo largo, no centro do qual surge uma escultura comemorativa de António Bernardino Gomes Filho, executado por Costa Mota Tio, inaugurada a 12 de Novembro de 1930. A partir deste, desenvolve-se, em regime bissemanal, a Feira da Ladra. Em frente, muro de suporte de terras, construído com silhares provenientes da antiga muralha, mandada demolir pela Câmara Municipal em 1870, no qual se integra uma fonte de espaldar e lápide alusiva à demolição e construção do muro, bem como algumas lápides antigas. A fachada lateral esquerda confina com rua bastante íngreme, pavimentada a cubos de granito e a posterior dá para pequeno beco formado por escadas, que ligam a zona de Santa Apolónia ao Campo de Santa Clara.

Descrição Complementar

No portal de acesso ao imóvel, inscrição em bronze: "HOSPITAL DA MARINHA". Retábulo da capela de talha pintada de branco e dourado, de planta recta e três eixos definidos por duas pilastras com fustes ornados por motivos fitomórficos e duas colunas coríntias, assentes sobre plintos paralelepipédicos e sustentando frontão interrompido, que enquadra o remate da zona central; o eixo central é rasgado por tribuna em arco de volta perfeita com moldura fitomórfica, surgindo, nos laterais, apainelados rectilíneos com motivos fitomórficos; remate em duplo espaldar recortado, o central assente sobre plintos galbados e sanefa com lambrequins, com decoração de acantos, folhas de louro e escudo central com os símbolos da Marinha, encimado por elementos fitomórficos dourados, sendo o superior ornado por enrolamentos, decoração pictórica e rematado por cornija contracurvada, de inspiração borromínica; altar paralelepipédico.

Utilização Inicial

Educativa: colégio religioso

Utilização Actual

Saúde: hospital

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Francisco Xavier Fabri (séc. 19). ESCULTOR: João José de Aguiar (1823). PINTURA de AZULEJO: Fábrica Viúva Lamego (séc. 20, década de 40). PINTURA de VITRAL: Ricardo Leoni (1931).

Cronologia

1677 - construção do Colégio de São Francisco Xavier pela Companhia de Jesus, por um legado de Jorge Fernandes de Villa Nova, que deixou 100 mil cruzados para o ensino de ler, escrever, latim e náutica; 1758 - 1759 - com a extinção da Companhia, o imóvel ficou desocupado, instalando-se no local um recolhimento feminino; 1796 - D. Rodrigo de Sousa Coutinho ordenou a criação de um Hospital da Marinha *1, instalado na Rua do Olival, junto ao Hospital Militar, tendo sido o primeiro director o físico-mor da Armada, Dr. Inácio Xavier da Silva; 1797 - perante a precariedade das instalações, o Hospital foi transferido para o Convento do Desterro; 6 Julho - D. Rodrigo de Sousa Coutinho oficiou a Diogo Inácio de Pina Manique, ordenando-lhe que instalasse o recolhimento noutro local; 7 Julho - a Real Junta da Fazenda da Marinha recebeu ordem para tomar posse do antigo Colégio de São Francisco Xavier; 27 Setembro - alvará a autorizar um pedido de empréstimo de 150 mil cruzados para a readaptação do imóvel, com a construção, no local, de um laboratório e um dispensário farmacêutico; o pagamento ficava garantido por 15 mil cruzados anuais, provenientes da renda da Alfândega; a obra foi efectuada conforme projecto de Francisco Xavier Fabri; D. Rodrigo de Sousa Coutinho desejava que o edifício fosse, simultaneamente, um laboratório químico e dispensário farmacêutico; 1798 - compra de um terreno anexo ao colégio, pertencente ao Conde de Resende, por 1:300$000; 1800, 12 Janeiro - as obras foram interrompidas, por se ter verificado que as verbas eram insuficientes; 21 Janeiro - D. Rodrigo de Sousa Coutinho fez uma exposição ao rei sobre a necessidade de continuar a construção do hospital; 22 Agosto - foi autorizada a retoma dos trabalhos; 1801, 2 Setembro - o pedido de empréstimo aumentou para 215 mil cruzados; 1806, 1 Novembro - instalação do Hospital no edifício; 1808 - documentação denomina o imóvel como Hospital do Desterro, Hospital da Galé, Hospital de Santa Clara; 1823 - feitura da estátua de D. João VI, por João José de Aguiar; 1861 - levantamento da planta do imóvel; 1870 - obras no edifício, que importaram em 1:332$283; 1871, 19 Abril - pondera-se o fecho do Hospital, devido à grande despesa que se fazia com a sua manutenção, sendo cedido ao Hospital de São José; 1883 - reforma do edifício; 1931 - execução de um vitral para um vestíbulo, pintado por Ricardo Leoni; 1940, 14 Agosto - inauguração da biblioteca e da capela; por esta data, foram executados os azulejos do segundo patamar da escadaria, efectuados pela Fábrica Viúva Lamego; 1954 - foi iniciada a construção de um anexo, tendo em vista a instalação de uma Escola de Enfermagem junto do Hospital, e instalação de diversos serviços auxiliares, laboratórios, farmácia e oficinas, pela Comissão Administrativa das Novas Instalações para a Marinha; 1956 - obras de ampliação do hospital, pela Comissão Administrativa das Novas Instalações para a Marinha, estando a conclusão prevista para 1957.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Estrutura em alvenaria de tijolo, betão e de calcário; cornijas, pilastras, modinaturas, escadas em cantaria de calcário; coberturas, pavimentos, portas, caixilharias, teias, retábulo e armários em madeira; janelas e armários com vidro simples, surgindo alguns vitrais; escadas e guardas metálicas; abobadilhas de tijolo; coberturas em telha de aba e canudo.

Bibliografia

Anais da Marinha, tomo IV, ano III, Lisboa, Abril 1941; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1954, Lisboa, 1955; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1956, Lisboa, 1957; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério nos anos de 1957 e 1958, 2º Volume, Lisboa, 1959; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério nos Anos de 1959, 2º Volume, Lisboa, 1960; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no Ano de 1961, 1º Vol., Lisboa, 1962; RIBEIRO, Raúl, Hospitais Antigos e Modernos, o Hospital da Marinha, Lisboa, 1960; MENEZES, José de Vasconcelos e, Hospital da Marinha, in Revista de Medicina Miltar, vol. XXVIII, Lisboa, 1980; Hospital da Marinha, in Anais do Clube Militar Naval, vol. CXIV, Lisboa, Abril - Junho 1984, pp. 331 - 365; SOUSA, Melo e, Hospital da Marinha - quase dois séculos de actividade, in Revista da Armada, n.º 241, ano XXI, Lisboa, Março 1992; FIGUEIREDO, Sónia Maria Loureiro da Cruz Figueiredo, O Hospital da Marinha [trabalho efectuado no unidade lectiva de Metodologia da História da Arte, na Faculdade de Letras de Lisboa], Lisboa, Julho 1992; SILVA, Raquel Henriques da, Lisboa Romântica, Urbanismo e Arquitectura, 1777-1874, [dissertação de doutoramento em História da Arte, à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa], Lisboa, 1997.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSARH

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DESA

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSARH

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1910 - início do restauro da capela; Comissão Administrativa das Novas Instalações para a Marinha: 1957 / 1958 - prosseguiu o fornecimento e montagem do apetrechamento da ampliação realizada em 1956; remodelação total dos quartos destinados a oficiais; 1959 - conclusão da construção e apetrechamento do grande anexo destinado à instalação dos Laboratórios, Escola de Enfermagem, e oficinas diversas; DGEMN: 1961 - Obras de conservação exterior executadas no hospital, pelos Serviços de Construção e de Conservação.

Observações

*1 - já em 1605, D. Filipe manifesta a preocupação de construir um hospital da marinha, numa carta dirigida ao Provedor da Misericórdia de Lisboa.

Autor e Data

Paula Figueiredo 2003

Actualização

 
 
 
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