Igreja Paroquial de Muxagata / Igreja de Santa Maria Madalena

IPA.00001351
Portugal, Guarda, Vila Nova de Foz Côa, Muxagata
 
Arquitectura religiosa, quinhentista, maneirista e barroca. Igreja paroquial de planta longitudinal, com nave única dividida em três tramos, separados por dois arcos diafragma de perfis apontados e marcados exteriormente pelos contrafortes de esbarro, e capela-mor mais estreita, com sacristia adossada ao lado S., apresentando um sistema construtivo semelhante ao da Igreja Matriz de Freixo de Numão (v. PT010914060022). Coberturas interiores diferenciadas, tendo, na nave, cobertura em forro de madeira com travejamento e, na capela-mor, com tecto setecentista de caixotões, pintados com temática hagiográfica, iluminada por janelas rectilíneas, em capialço, rasgadas durante o séc. 17. Fachada principal em empena com cornija saliente, truncada por campanário de três sineiras em arco de volta perfeita, rasgada por portal de volta perfeita, enquadrado por colunelos e encimado por friso saliente, rematado por pináculos nos ângulos. Fachadas laterais rasgadas por portas travessas, em arco de volta perfeita. Interior tem, no lado do Evangelho, pia baptismal e púlpito renascentista sextavado com guarda de cantaria. Arco triunfal de volta perfeita, assente em impostas salientes, flanqueado por retábulos de talha policroma. Retábulo-mor em talha dourada do estilo barroco nacional. Igreja quinhentista, conservando elementos arquitectónicos desse momento construtivo, como a nave única com três tramos definidos, exteriormente, pelos contrafortes e, interiormente, por arcos diafragma. Sofreu várias modificações, sendo as mais importantes as que se verificaram no século 16, visíveis na fachada principal, que conserva o pórtico classicista e é encimada por campanário de três sineiras, cuja cornija remata com uma laçaria manuelina, apresentando afinidades com a fachada da Igreja Matriz de Vila Nova de Foz Côa (v. PT010914170001). A cabeceira apresenta, na esquina direita e em plano elevado, um brasão de cantaria partido e terciado em faixa, inscrevendo seis escudetes. No interior, mantém o púlpito renascentista sextavado. As alterações do século 17 levaram ao desaparecimento das pinturas murais que cobriam o seu espaço interior e rasgaram janelas em capialço. A capela-mor apresenta decoração barroca setecentista, com tecto de caixotões pintados com decoração hagiográfica franciscana e retábulo-mor em talha dourada do estilo nacional, oriundo de uma casa franciscana da região. Este retábulo integra um par de tábuas quinhentistas, de proveniência desconhecida, representando uma "Adoração dos Magos", inspirada nas gravuras de Martin Schongauer ou de Schauffeir, e um "Baptismo de Cristo", baseado em gravura de Cornelis Cort.
Número IPA Antigo: PT010914100021
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Igreja de planta longitudinal composta por nave dividida em três tramos e capela-mor mais estreita, com sacristia adossada ao lado S., de volumes articulados e coberturas diferenciadas em telhados de duas águas nas nave e capela-mor, esta mais alta, e de uma água na sacristia, assentes directamente sobre o paramento mural. Fachadas laterais e posterior rebocadas e pintadas de branco, percorridas por embasamento de cimento, apresentando-se este escalonado nas laterais, sendo rematada em beiral. A fachada principal, voltada a O., é em cantaria de granito aparente, com aparelho isódomo e com as juntas preenchidas a cimento, rematada em empena alteada na zona central e truncada por campanário de três sineiras em arco de volta perfeita, rematado por cornija e friso rendilhado de granito; sobre a empena, do lado esquerdo, observa-se a guarda metálica do segundo lanço das escadas de acesso ao campanário. É rasgada por portal inscrito em arco de volta perfeita, compondo três arquivoltas, as interiores assentes em quatro colunelos sustentados por soco rectangular e com capitéis decorados com elementos geométricos; é enquadrado por duas colunas com capitéis jónicos, sustentadas por plintos paralelepipédicos, encimadas por cornija sobrepujada por pináculos nos ângulos. O portal é encimado por relógio metálico e, à esquerda daquele, surge a data "1956", pintada a preto. A fachada lateral esquerda, voltada a N., apresenta o corpo da nave com três panos divididos por dois contrafortes de esbarro, entre os quais se rasga a porta travessa em arco de volta perfeita com moldura em cantaria de granito; o primeiro pano integra o primeiro lanço das escadas de acesso ao campanário, com guarda metálica e o terceiro pano regista uma fresta em capialço com moldura de granito. No corpo da capela-mor, rasga-se uma fresta semelhante. A fachada lateral direita, voltada a S., tem igualmente três panos definidos por dois contrafortes de esbarro no corpo da nave, tendo o primeiro marcado por fresta idêntica às anteriores, o segundo rasgado por porta travessa em arco pleno e o terceiro marcado por fresta e pela escada de acesso à sacristia, com guarda metálica. A capela-mor é rasgada por fresta (que se encontra entaipada no interior), à qual se adossa o corpo da sacristia, mais baixo, sendo rasgado por fresta a S. e por porta de verga recta com moldura de granito, na face O.. Fachada posterior em empena cega, tendo no cunhal esquerdo, em plano elevado, uma pedra de armas partido e terciado em faixa, inscrevendo seis escudetes, talvez dos Melo; no lado esquerdo, o corpo da sacristia, em meia empena e rasgado por uma porta de verga recta, ladeada por uma janela do mesmo perfil, e por duas frestas capialçadas, situadas a nível superior. O INTERIOR é desnivelado, com acesso por patamar com cinco degraus centrais, com a nave dividida em três tramos separados por dois arcos diafragma de perfis apontados, com cobertura em forros de madeira individualizados a dois panos, com travejamento à vista. Paredes rebocadas e pintadas de branco, excepto a fundeira, em cantaria de granito aparente, com pavimento em tijoleira, com corredores central e transversal cimentados, cobertos com alcatifa vermelha. O primeiro tramo é marcado pelo patamar, separado da nave por teia metálica, sobre o qual assenta o guarda-vento de madeira com as portas envidraçadas, protegendo o portal axial. Do lado do Evangelho, pia baptismal em forma de cálice, decorada com gomos incisos e assente sobre base octogonal e, do lado oposto, pia de água benta assente sobre grossa base granítica. No segundo tramo, a nave é rasgada por duas portas travessas, ladeadas por pias de água benta, destacando-se a do lado da Epístola, composta de pia sobre pilar que a suporta. No lado oposto surge um confessionário de madeira junto à porta travessa. No terceiro tramo, do lado do Evangelho, púlpito em pedra, hexagonal, assente em plinto com o mesmo perfil, tendo bacia hemisférica e guarda plena decorada com óvulos relevados, tendo acesso através de escada em pedra, adossada e paralela à parede. No lado oposto surge um pequeno altar dedicado a Nossa Senhora de Fátima e aos Pastorinhos. Arco triunfal de volta perfeita, assente sobre impostas salientes e de arestas biseladas, ladeado por retábulos colaterais dedicados ao Santíssimo Nome de Jesus (Evangelho) e ao Sagrado Coração de Jesus (Epístola). A capela-mor está protegida por teia metálica, com pavimento lajeado coberto com alcatifa e cobertura em falsa abóbada de berço abatido, de madeira, seccionada em 18 caixotões (3 longitudinais e 6 transversais) enquadrados por talha dourada e pintados com temática hagiográfica franciscana, acompanhada de legendas. Sobre supedâneo com três degraus centrais, o retábulo-mor em talha dourada, de planta recta e três eixos, divididos por quatro colunas torsas, decoradas com pâmpanos e "putti", as exteriores assentes em plintos paralelepipédicos e as interiores em consolas, e por quatro pilastras com os fustes decorados por acantos, que se prolongam em duas arquivoltas torsasde volta perfeita, com cobertura em caixotões de talha e contendo de três degraus, tendo, na base, sacrário embutido, decorado com a árvore da vida; nos eixos laterais, duas mísulas com imaginária, enquadradas por painéis curvos, que delimitam duas tábuas pintadas, representando o "Baptismo de Cristo" (Evangelho) e a "Adoração dos Magos" (Epístola), que medem 112x54 cm.. Altar paralelepipédico, ladeado por duas falsas portas pintadas com anjos. No lado da Epístola, porta de acesso à sacristia, com pavimento em tijoleira e cobertura plana de madeira, tendo um lavabo simples, em granito, composto por torneira e pia com pingente boleado no remate inferior.

Acessos

Largo da Igreja

Protecção

Em estudo

Enquadramento

Urbano, isolado, implantado no centro da povoação, num largo de pendor inclinado, pavimentado com cubos de granito. Está rodeado por casas de habitação e, no largo, à esquerda, destaca-se a Capela de Santa Luzia (v. PT010914100141).

Descrição Complementar

O retábulo colateral do Evangelho é de talha dourada, de planta recta e um eixo enquadrado por duas colunas torsas, decoradas com pâmpanos e "putti", assentes em consolas; enquadram um painel pintado de azul com resplendor dourado, rematando em friso, cornija e, ao centro, empena formada por fragmento de talha, decorada por acantos e querubins; altar paralelepipédico em talha pintada a marmoreados fingidos. O do lado oposto é de talha policroma, de marmoreados fingidos e com os ornatos sublinhados a dourado, de planta recta e de três eixos definidos por quatro colunas corolíticas, assentes em plintos paralelepipédicos; os eixos formam painéis com fundo azul e dourado, o central, formando perfil curvo, enquadrando mísula com imaginária. Remata em friso de querubins e cornija, encimado por elemento de talha dourada, criando friso e volutas que enquadram um coração inflamado, encimado por cruz latina; Altar semelhante ao oposto.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Lamego)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1145 - Fernão Mendes de Bragança doou Longroiva à Ordem do Templo, em cujo território se situava a actual freguesia de Muxagata; 1311 - extinção da Ordem do Templo; 1319 - passa a integrar o território da Ordem de Cristo; 1320, 23 maio - bula do Papa João XXII concedendo a D. Dinis, por três anos, para subsídio de guerra contra os mouros, a décima de todas as rendas eclesiásticas do reino, sendo a igreja taxada com a elevada quantia de 300 libras, a que ainda se somaram 100 da respectiva comenda; pertence à Ordem de Cristo e integra o bispado de Lamego; séc. 16, início - aparece referida com o orago de Santa Maria Madalena; 1507, 2 Novembro - o visitador da Ordem de Cristo, D. João Pereira, constantando que a igreja tinha por orago Santa Maria Madalena, tendo por capelão Luís Anes, com carta do bispo de Lamego e pago pelo comendador; ordenou que fosse feito um cálice de prata, pelo menos com marco e meio, um arcaz na parede do Evangelho da capela-mor, que se elevasse a capela-mor um degrau; ordenava aos fregueses que fizessem um sino e um campanário de pedra, o que, a não ser cumprido, implicava o pagamento de multa que reverteria para as obras do convento de Tomar; na visitação, consta uma descrição da igreja *1; 1519, 20 Dezembro - Muxagata teve foral novo outorgado por D. Manuel; séc. 17, 2º quartel - a igreja sofreu profundas alterações, que levaram, gradualmente, ao desaparecimento das pinturas murais; séc. 18 - execução dos caixotões da capela-mor; 1733 - num tombo desta data regista-se o seguinte: "tem o altar mor com seu retablo dourado muyto antigo" (SOALHEIRO, 2000, p.55); 1758 - no Dicionário Geográfico, refere-se que se situava no meio da vila e que tinha dois altares colaterais, dedicados a Nossa Senhora do Rosário e ao Santíssimo Nome de Jesus; tinha três arcos com o da capela-mor; possuía duas Irmandades, a dos Santos Passos e a das Almas; séc. 18, final - segundo um livro de visitações, a igreja carecia de retábulo-mor, que devia ser levantado a título de padroado o Chantre de Lamego reitera a necessidade de retábulo novo; 1834 - aquisição de um retábulo-mor setecentista *2, provavelmente oriundo de uma casa franciscana da região, atendendo à presença dos bustos relevados de Santa Clara e São Francisco que encimam o camarim do trono; é possível que venham do Convento de São Francisco de Trancoso *2; 1836 - Muxagata foi anexada ao Concelho de Vila Nova de Foz Côa; séc. 20, 1.ª década - o espaldar do retábulo colateral do lado do Evangelho desapareceu num incêndio; 1956 - data existente na fachada principal, indiciando uma intervenção; séc. 20, último quartel - transferência do retábulo neogótico, dedicado a Nossa Senhora de Fátima, para a Capela de São Sebastião (v. PT010914100142); 1999- as tábuas quinhentistas que se incorporam no retábulo-mor integraram a Exposição "Percursos de Eternidade", realizada no Auditório da Junta de Freguesia de Vila Nova de Foz Côa, tendo sido restaurados nesta data; 2004, Julho - foi efectuada a encomenda de vitrais para as janelas.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Estrutura em cantaria de granito, rebocada e pintada; juntas argamassadas a cimento; contrafortes, escadas de acesso à sineira e à sacristia, molduras, brasão, cornijas, arco triunfal e arcos diafragma, pias baptismal e de água benta, púlpito e escadas de acesso ao mesmo, lavabo da sacristia, lajeado no pavimento da capela-mor em cantaria de granito; portas, retábulos (em talha), coberturas interiores (caixotões de madeira pintados na capela-mor), imaginária, confessionário móvel, guarda-vento, tábuas pintadas a óleo no retábulo-mor, em madeira; tela pintada; pavimento da nave e da sacristia em tijoleira; capela-mor e corredores da nave em alcatifa; janelas com vidro simples; relógio e caixilhos de algumas janelas em metal; guardas das escadas de acesso ao campanário e à sacristia, teia da capela-mor e da nave, porta de acesso ao campanário em ferro; algumas janelas em alumínio; embasamento e corredores da nave com cimento; coberturas exteriores e cumeeira em telha de aba e canudo.

Bibliografia

DIAS, Pedro, Visitações da Ordem de Cristo de 1507 a 1510 - aspectos artísticos, Coimbra, 1979; COIXÃO, António do Nascimento Sá e TRABULO, António Alberto Rodrigues, Por terras do concelho de Foz Côa - subsídios para a sua história estudo e inventário do seu património, 2.ª ed., Vila Nova de Foz Côa, 1999; Foz Côa Inventário e Memóra, [coord. de SOALHEIRO, João], Porto, 2000.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

DGARQ/TT: Dicionário Geográfico de Portugal (vol.25, m. 251, fl. 1877)

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 20, último quartel - colocação do guarda-vento, aplicação de pavimento cerâmico no interior; remodelação da sacristia; 1999- restauro das pinturas quinhentistas que integram o retábulo-mor; 2004, Junho - restauro e douramento dos castiçais do retábulo-mor e do ambão.

Observações

*1 - a capela-mor tinha um altar encostado à parede testeira, as paredes de pedra e barro, pintadas e com pavimento de lajeado e forro de madeira; tem um arco triunfal de pedraria, com pinturas representando o Calvário, flanqueado por dois altares com imagens pintadas nas paredes, sendo a nave pintada com cenas da Paixão; tem dois portais de pedraria e, sobre o portal principal, um campanário de alvenaria e um sino; num canto da igreja, a pia baptismal; refere a paramentaria e uma cruz de prata nova e um cálice do mesmo material (DIAS, pp. 21-23). *2 - para permitir a adaptação do retábulo ao edifício foi necessário efectuar alguns cortes, como manifestamente se vê nos extremos laterais do próprio retábulo e no encurtamento do tecto de caixotões; é possível que as tábuas setecentista, nele incorporadas, tenham vindo com o retábulo ou, como também é de considerar, situação que não está suficientemente esclarecida, do antigo retábulo da igreja paroquial de Muxagata; na sua aplicação, sofreram cortes visíveis na estrutura compositiva e foram acrescentados na zona inferior, onde se pintou uma faixa de acantos a fim de nivelar as peças nos seus novos panos ediculares.

Autor e Data

Cristina Simões 2004

Actualização

 
 
 
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