Passos da Via Sacra de Borba / Passos processionais de Borba

IPA.00011748
Portugal, Évora, Borba, Borba (Matriz)
 
Arquitectura religiosa, barroca. Conjunto de quatro Passos processionais de planta quadrada e perfil arquitectónico monumental que seguem o exemplo dos Passos de Évora (v. PT040705050084), edificados entre 1719 e 1721 e dos de Vila Viçosa (v. PT040714050030), Redondo e Estremoz, assumindo os de Borba uma maior monumentalidade e autonomia no espaço envolvente. Atribuíveis a José Francisco de Abreu, importante figura do barroco alentejano desta época na região, tendo efectuado a Igreja de Nossa Senhora da Lapa de Vila Viçosa (v PT040714030010) que apresenta uma composição no portal muito semelhantes. No interior pinturas murais do segundo terço do Séc. 18, com a utilização de elementos decorativos vegetalistas e com volutas, recorrendo à imitação dos azulejos e de tecidos. A monumentalidade das suas fachadas, semelhantes a pequenas igrejas, provavelmente nascidas do risco de uma das mais importantes figuras do barroco alentejano, por ter introduzido nesta região o barroco de influência italiana aprendido em Mafra; possível testemunho de como o Terramoto de 1755 foi encarado pelas populações não afectadas. A relação de afectividade que ainda hoje mantêm com a população borbense.
Número IPA Antigo: PT040703010013
 
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Registo

 
Conjunto arquitetónico  Estrutura  Religioso  Via Sacra    

Descrição

Conjunto constituído por 4 passos processionais de planta quadrada: o Passo do Alto da Praça, o Passo da R. da Aramenha, o Passo da R. de São Bartolomeu e o Passo da R. de Évora. PASSO DO ALTO DA PRAÇA adossado a S. ao edifício do antigo Consistório de apoio à procissão dos passos. O Passo tem cobertura em telhado de duas águas com telha de canudo, tendo à direita pequeno campanário. Acesso por cinco degraus em mármore e gradeamento em ferro em forma de lanças unidas em cima por uma cinta. Portal de verga recta, com volutas e motivos vegetalistas no intradorso e festão de frutos e flores na ombreira; de cada lado estípites oblíquas com capitéis de motivos vegetalistas; superiormente entablamento coroado por frontão curvo, tendo ao centro medalhão com os instrumentos da Paixão: o escudo com a coroa de espinhos e os três cravos ao centro, ladeado por lanças, tendo uma delas uma esponja na ponta; ladeando o frontão e no eixo das pilastras, dois anjos que seguram palmas, o conjunto é sobrepujado por cruz de mármore. O antigo Consistório apresenta fachada principal de três registos *2: inferiormente rasga-se portal de verga recta, moldura em mármore branco arredondada; no segundo registo janela de verga recta, moldura em mármore e um friso em argamassa prolongando o friso do Passo; no terceiro registo balaustrada em ferro, e duas janelas de verga abatida com molduras pintadas de amarelo torrado; no alçado S. porta em acrílico com moldura pintada de amarelo torrado; no terceiro registo janela quadrada de verga recta com moldura pintada da mesma cor. INTERIOR: Passo com abóbada de canhão totalmente decorada por pinturas murais com folhas de acanto enroladas tendo ao centro um medalhão oval com uma coluna, uma coroa de espinhos e outros instrumentos da Paixão; na parede fundeira altar com banco em mármore branco e corpo constituído por arco de volta perfeita, em mármore negro, emoldurando tela a óleo representando Jesus com a Cruz às costas; a moldura possui ao centro medalhão em mármore branco decorado com volutas e assenta em base de mármore branco rodeada de espelhos de mármore negro com círculos de mármore vermelho; o altar está encrustado num arco composto por pilastras, em mármore branco, com fuste decorado com elementos vegetalistas na parte superior; os capitéis e as bases são em mármore negro; a arquivolta, em volta perfeita, é em mármore branco com pedra de fecho em mármore negro; à direita do altar medalhão em mármore com inscrição. Restantes alçados decorados com pinturas murais dispostas em dois registos: o inferior a imitar mármore e o superior pintado a branco com grinaldas a verde; de cada lado uma janela de verga recta e portadas de ripado pintado de verde, que abriam para os interiores dos imóveis adossados ao Passo; do lado do Evangelho pintura mural simulando uma porta. Pavimento em mármore branco e negro, em xadrez, tendo ao centro sepultura em mármore branco. O Consistório possui coberturas de lajes de betão armado, paramentos em alvenaria caiada e pavimentos em tijoleira industrial. PASSO DA R. DA ARAMENHA com cobertura em telhado de quatro águas suplantado por um pináculo em forma de fuso e ladeado por fogaréus de urna de secção quadrada. Apresenta composição semelhante ao do Passo do Alto da Praça, com acesso por dois degraus em mármore, tendo, os inferiores, duas marcas de canteiro: uma cruz no lado esquerdo e um "D" invertido, no lado direito, igual ao que existe nas Portas de Estremoz do Castelo de Borba (v PT040703010005); nos degraus superiores, do lado esquerdo um jogo de covinhas marcadas no mármore. Frontão ladeado por círculos ovais e por mulheres que seguram instrumentos da Paixão: a da direita tem ainda uma verónica enquanto a da esquerda perdeu as mãos; nas ombreiras querubins com flores pendentes. INTERIOR: cobertura em abóbada cupulada decorada por pinturas murais figurando ao centro coração iluminado envolto em nuvens douradas e em cada pano arquitecturas fingidas de frontões curvos e medalhões concheados com os instrumentos da Paixão. Paredes decoradas por pinturas murais, figurando flores, esferas e molduras brancas sobre fundo cinzento. Altar composto por arco de volta perfeita com pilastras e arquivolta pintadas com grinaldas e fitas espiraladas douradas sobre fundo negro; tela, representado Cristo com a cruz às costas, emoldurada em talha dourada. Pavimento de mármore. PASSO DA R. DE SÃO BARTOLOMEU voltado a SE. com cobertura em coruchéu em forma de urna em alvenaria, caiada de branco e pintada de cinzento com elementos decorativos vegetalistas, suplantada por um capitel jónico coroado. Composição idêntica ao do Passo da R. da Aramenha, com excepção das figuras femininas (já sem as mãos e respectivos atributos) e da ombreira que representa um querubim com elementos vegetalistas. No alçado SO. soco em mármore, suplantado por outro pintado de cinzento; a um nível superior pequena frecha suplantada por janela de verga polilobada; superiormente vários frisos de diferentes tamanhos; remate em frontão conopial tendo ao centro medalhão em alvenaria caiada decorada com um cálice. Alçado NO. adossado, sobressaindo a sua parte superior com duas goteiras em mármore com decorações vegetalistas e um frontão abatido com um medalhão envolto em volutas tendo ao centro instrumentos da Paixão de Cristo; o frontão é ladeado por dois grandes fogaréus de secção triangular em alvenaria caiada. Alçado NE. adossado sobressai igualmente frontão conopial tendo ao centro medalhão com um martelo e um alicate. INTERIOR: cobertura em abóbada de aresta pintada de amarelo com dois anjos dourados e o Cristo Pantocrator. Paredes decoradas por pinturas murais dispostas em dois registos: o inferior a imitar mármore, o superior a branco; por baixo vestígios da pintura original a do registo superior simulando tecido vermelho adamascado e o inferior azulejos azuis e brancos de figura avulsa. Altar inscrito em arco de volta perfeita em mármore branco com capitéis e bases em mármore negro; moldura em mármore negro enquadrando pintura mural figurando Cristo com a Cruz às costas. Pavimento em mármore branco e negro. O PASSO DA R. MARQUÊS DE MARIALVA com cobertura em telhado de duas águas, em telha de canudo. Portal com a mesma composição dos anteriores, diferenciando-se as ombreiras com volutas decoradas de elementos vegetalistas; frontão com medalhão decorado por composição mais simples que os outros Passos: ao centro escudo rodeado de conchas e volutas, coroado por coroa de espinhos e três cravos; ladeiam o frontão dois anjinhos que elevam folhas de palma; por baixo do medalhão a inscrição 7150 *3. INTERIOR: cobertura em abóbada de canhão decorada por pinturas murais de volutas, gradeamentos e concheados em tons de branco, vermelho e verde. Paredes decoradas com pinturas murais inspiradas nos motivos decorativos do tecto; sob esta pintura encontra-se a pintura original que imita tecido de damasco vermelho. Sobre a empena da porta de entrada, a sigla I.I.D.. Altar composto por pilastras pintadas com flores estilizadas e capitel em mármore branco, com a arquivolta de volta perfeita; banco em mármore branco e corpo com moldura dourada com verga polilobada, tendo ao centro tela representando Cristo com a cruz às costas. Pavimento em mármore.

Acessos

Avenida do Povo / Praça Velha (antiga Avenida General Carmona) (Passo do Alto da Praça); Rua 13 de Janeiro e Rua Nunes da Silva (Passo da Rua da Aramenha); Rua do Terreiro das Servas e Rua de São Bartolomeu (Passo da Rua de São Bartolomeu); Rua Marquês de Marialva (Passo da Rua de Évora).

Protecção

Em vias de classificação / Parcialmente incluído na Zona de Proteção do Castelo de Borba (v. IPA.00004776) (Passo do Alto da Praça)

Enquadramento

Urbano, planície, flanqueado, na Zona Antiga da Vila de Borba. Passo do Alto da Praça em pleno centro da vila, rodeado de vários imóveis de perfil apalaçado, de dois pisos, dos quais se destacam o Palácio Silveira Menezes (v. IPA.00029533) e as Cavalariças Reais; a O. é flanqueado pela Casa Pereira Trindade (v. IPA.00025334), a E, a Torre da Prisão do Castelo de Borba (v. IPA.00004776), a N., separados do Passo pelo edifício da Caixa de Crédito Agrícola, os antigos Paços do Concelho. O Passo da R. da Aramenha tem a N. o Palácio dos Melos (v. IPA.00025335). O Passo da R. de São Bartolomeu situa-se em zona caracterizada pela existência de ricos palácios, destacando-se o Palácio Duarte Silva (v. IPA.00025336), a Casa Bustorff Silva (v. IPA.00001033), o Palácio Alvarez (v. IPA.00025337) e vários outros imóveis com dois pisos e molduras em mármore, onde, num deles, viveu o pintor borbense do século 18, José de Sousa de Carvalho; a N. as adegas da Sovibor e a Adega Cooperativa de Borba, onde se produz o famoso vinho da região. O Passo da R. de Évora é flanqueado a SO. pelo antigo Hospício dos Padres de Serra de Ossa (v. IPA.00017527), de dois pisos; nas imediações numerosos palácios de vinicultores, do Séc. 18, com dois pisos e telhados a duas águas, molduras em mármore e guardas de ferro, muitos deles preservando as suas adegas com talhas de barro.

Descrição Complementar

EPIGRAFIA: Passo do Alto da Praça: medalhão do lado da Epístola: ChRISTO / BAIVLANTI CRVCEM / ANT EDVARDVS FRANCO ET / D ELISABET FRANCA AD Sª VX / OR EIVS HANC AEDICOLA / CONSECRARVNT / NA DNI MDCCLV / MONVMENTVM SIBI / ET SVCESSORD LIGI / TIMIS.

Utilização Inicial

Religiosa: Via Sacra

Utilização Actual

Religiosa: Via Sacra

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Évora)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

José Francisco de Abreu (atr.)

Cronologia

1722 - fundação da Ermida de Nossa Senhora da Nazareth, para dar missa aos presos, no local onde está o Paço do Alto da Praça; 1750 - por ocasião da morte do rei D. João V, realiza-se em Borba uma procissão que passa nos locais onde actualmente estão os Passos; 1755 - O capitão António Duarte Franco toma o padroado do Passo do Alto da Praça; 1756 - o capitão António Duarte Franco refere no seu testamento que o Passo do Alto da Praça ainda não estava terminado devendo o seu filho, Manuel Duarte Franco, proceder à sua conclusão; 1760 - A viúva do capitão António Duarte Franco, D. Isabel Franca da Silva, deixa vários bens anexados à manutenção do Passo do Alto da Praça; 2001, 03 dezembro - Proposta de Classificaçã pela autarquia; 2002, 14 de fevereiro - informação favorável á classificação pelo IPPAR/DRÉvora; 2002, 18 de fevereiro - Despacho de abertura do processo de classificação pelo Vice-Presidente do IPPAR; 2003, 10 de março - o IPPAR/DRÉvora solicita elementos à CM de Borba para instrução do processo de ZEP; 2003, 7 de maio - Parecer do Conselho Consultivo do IPPAR propondo a classificação como IIP; 2006, 20 de setembro - a CM de Borba envia ao IPPAR/DRÉvora documentação relativa ao processo de ZEP; 2009, 23 outubro - caduca o processo de classificação conforme o Artigo n.º 78 do Decreto-Lei n.º 309/2009, DR, 1.ª série, n.º 206, alterado pelo Decreto-Lei n.º 265/2012, DR, 1.ª série, n.º 251 de 28 dezembro 2012, que faz caducar os procedimentos que não se encontrem em fase de consulta pública; 2009, 10 dezembro - Proposta da DRCAlentejo para a ZEP dos imóveis classificados e em vias de classificação da Vila de Borba; 2010, 11 fevereiro - devolvida a proposta para a ZEP à DRCAlentejo com despacho do Director do IGESPAR para aplicação do Decreto-Lei n.º 309/2009, de 23-10-2009; 2010, 12 de novembro - nova proposta de ZEP pela DRCAlentejo; 2011, 23 de fevereiro - Parecer favorável à ZEP pela SPAA do Conselho Nacional de Cultura; 2014, 03 janeiro - Proposta da DRCAlenteho para a abertura de novo procedimento de classificação; 2013, 13 janeiro - Parecer favorável à classificação pela diretora-geral da DGPC; 2014, 28 janeiro - Despacho do Secretário de Estado da Cultura a aprovar a abertura de novo procedimento de classificação; 2014, 08 abril - publicado no DR, 2.ª série, n.º 69, o Anúncio n.º 84/2014 relativo à abertura de novo procedimento de classificação.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Mármore de Borba e Vila Viçosa, alvenaria de pedra, cal e areia, telha de canudo, madeira, talha dourada, pintura a óleo sobre tela, tinta plástica.

Bibliografia

ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal, Vol. 9, Lisboa, 1978; GOMES, Paulo Varela, A Cultura Arquitectónica e Artística em Portugal no século XVIII, Lisboa, 1988; BORBA, Gabinete Técnico Local da Câmara Municipal de, Plano de Pormenor de Salvaguarda da Zona Antiga de Borba, texto policopiado Vol. 1, tomo 1, Borba, 2002; BORBA, Gabinete Técnico Local da Câmara Municipal de; Borba, interpretações do centro histórico, Lisboa, 2004, no prelo.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN / DSID; Arquivo da Câmara Municipal de Borba; Arquivo das Paróquias de Borba

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN / DSID; Arquivo da Câmara Municipal de Borba; Arquivo das Paróquias de Borba

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN / DSID; IAN/TT: Chancelaria da Ordem de Avis, Livro 24, fl. 321; ADE: Fundo proveniente da Câmara Municipal de Borba, testamento de António Duarte Franco cota ACMBRB/A/01/Cx 92/ pç 752; Cartórios Notariais de Borba, Livro 120, fl. 109; Livro 121, fl. 2; 59 a 59v; Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Borba: Livro de Actas de 1721 a 1725, fl. 48 e Livro de Actas de 1752 a 1766, fls. 3 a 4

Intervenção Realizada

Paróquias de Borba: 2002 - pinturas do exterior do Paço da R. de São Bartolomeu

Observações

*1 - abrange ainda a freguesia de São Bartolomeu; *2 - o imóvel possuía apenas dois pisos quando foi construído, pois o seu friso acompanha de igual forma o friso do Passo; *3 - que poderá ser o cronograma 1750.

Autor e Data

João Simões e Patrícia Monteiro 2003

Actualização

 
 
 
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