Capela de Nossa Senhora da Orada

IPA.00011677
Portugal, Castelo Branco, Castelo Branco, São Vicente da Beira
 
Capela provavelmente fundada e construída na Idade Média, de que não subsistem quaisquer vestígios estruturais, mantendo-se alguns elementos do séc. 16, nomeadamente a pia de água benta e alguma imaginária. O atual templo denota a sua reconstrução setecentista, bem como as obras dos séculos 19 e 20, que alteraram a envolvência, deslocaram a fonte primitiva, situada em frente à capela, bem como os antigos balneários, e edificaram os elementos necessários para as romarias que ocorrem em maio. É de planta retangular simples, com nave, capela-mor, a que se adossam a sacristia e anexos, apenas visíveis no interior, com coberturas interiores diferenciadas em masseira e em falsa abóbada de berço de madeira. Encontra-se iluminada unilateralmente, pelas janelas rasgadas na fachada lateral direita. Fachada principal construída, provavelmente no séc. 19, rematada em empena e com os vãos rasgados em três eixos, compostos por portal de perfil abatido e por janelão e postigos com perfis curvos. Esta está protegida por alpendre construído no séc. 20, incaracterístico. Fachada lateral esquerda com porta travessa. Interior com coro-alto de madeira, com acesso por escadas interiores, com púlpito no lado do Evangelho. Arco triunfal sobre pilastras, ladeado por retábulos de talha dourada do barroco inicial, do denominado barroco nacional, o mesmo estilo que apresenta o retábulo-mor, de maiores dimensões e ostentando as armas franciscanas, remetendo para a sua origem, proveniente do demolido Mosteiro de São Francisco de São Vicente da Beira, pertencente à Província de Portugal e fundado no séc. 16. A capela-mor tem tribuna, talvez o local onde o município de São Vicente da Beira tinha assento durante as festividades, como administrador do templo. De destacar, a pia de água benta, com decoração quinhentista, manuelina, ostentando as armas dos Costa e com profusa decoração cordiforme.
Número IPA Antigo: PT020502220105
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta retangular composta por nave, antecedida por alpendre, capela-mor, com sacristia e anexo adossados ao lado esquerdo, apenas marcados interiormente, de volumes articulados e escalonados com coberturas diferenciadas em telhado de duas águas no templo e em três no alpendre, rematadas em beiradas simples. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, a principal flanqueada por cunhais apilastrados e rematada em friso e cornija. Todas as fenestrações estão protegidas por grades de ferro. Fachada principal voltada a ocidente, rematada em empena com cruz latina no vértice, rasgada por portal em arco abatido e verga saliente, encimada e ladeada por janelas com os extremos curvos. O portal e postigos estão protegidos por alpendre elevado, com acesso por três degraus e fechado por muretes, onde assentam quatro pilares com arestas parcialmente biseladas. O alpendre tem cobertura de madeira. A fachada lateral esquerda tem duas portas de verga reta, uma delas a travessa e a outra de acesso ao anexom, e uma janela em capialço. No lado direito, sobre a cobertura, sineira de volta perfeita. A fachada lateral direita tem duas janelas retilíneas, uma no corpo da nave e outro no da capela-mor. Fachada posterior rematada em empena, rasgada por janela retilínea, encimada por painel de azulejos. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco, com coberturas de madeira pintada de azul, em masseira na nave e em falsa abóbada de berço abatido na capela-mor, esta com tirante metálico; pavimento da nave em soalho com corredor central em lajeado de granito. Coro-alto de madeira pintada de azul, com guarda de balaústres, assente em duas colunas assentes em dois altos plintos paralelepipédicos; tem acesso por escadas em cantaria e madeira, no lado do Evangelho. A ladear o portal axial, pia de água benta em calcário, embutida no muro, de perfil lobulado e pontuada por decoração cordiforme e estriada, sobre mísula e de bordo côncavo, ostentando as armas com paquife dos Costa e caracteres góticos. No lado do Evangelho, púlpito quadrangular com bacia de cantaria assente em pilar estriado e com guarda plena de madeira; tem acesso por escadas em cantaria, no lado direito. Arco triunfal de volta perfeita assente em pilastras toscanas e pedra de fecho saliente e decorada, estando ladeado por duas capelas retabulares. A capela-mor tem, no lado do Evangelho, um pequeno espaço lateral, com amplo vão poligonal e moldura pintada de azul, encimado por tribuna em arco em asa de cesto, com perfil convexo e guarda torneada, pintada de azul. Mesa de altar de madeira, composta por base piramidal e troncocónica e tampo simples. Sobre supedâneo e ocupando toda a parede testeira, surge o retábulo-mor, de talha dourada, de corpo côncavo e um eixo definido por quatro colunas torsas decoradas por gavinhas e fénices, assentes em consolas, e por quatro pilastras decoradas por acantos, assentes em plintos paralelepipédicos ornados de folhagem, que se prolongam em quatro arquivoltas, duas torsas, unidas no sentido do raio por aduelas e fecho com as armas franciscanas. Ao centro, tribuna de volta perfeita e interior em abóbada de caixotões, com o interior apainelado, contendo trono expositivo. A estrutura é sustentada por alvenaria, pintada de branco e amarelo.

Acessos

São Vicente da Beira, Estrada de Nossa Senhora da Orada. WGS84 (graus decimais): lat.: 40,061320; long.: -7,559201

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Florestal, isolado, em plena Serra da Gardunha, em zona de forte declive, onde foi estabelecida uma plataforma para a capela e parte do terreiro do templo. Tem acesso por uma via pavimentada a calçada, formando uma alameda com dois sentidos e separador central, pontuado por árvores de grande porte e candeeiros de iluminação pública. O recinto é amplo, pontuado por casas de apoio, fontes e cruzes. A capela situa-se em zona elevada relativamente à alameda, com acesso à esquerda de um pequeno largo, que assinalar o local santo através de um cruzeiro em cantaria de granito, composto por plataforma de três degraus, de onde evolui uma coluna com capitel, que ostenta as armas dos Costa e cruz de Cristo, sobre o qual se ergue uma pequena cruz latina. Existe uma via ascendente de acesso ao templo, com amplo canteiro central, com flores, arbustos e árvores. A capela é rodeada por um estreito corredor pavimentado a calçada. No lado direito da capela, corre uma pequena linha de água, gerada por uma nascente a meia-encosta, que alimenta uma fonte situada junto à fachada posterior, onde aparece uma zona de piqueniques. A fonte está encimada por azulejos azuis e branco, a representar a Virgem com a inscrição: "NOSSA SENHORA DA ORADA / VOSSA ÁGUA TEM VIRTUDE: / COM ELA TANTOS DOENTES / RECUPERAM A SAÚDE!". No recinto, um silhar com a inscrição: "INAUGURAÇÃO / Electrificação do recinto e recuperação da Capela / Por sua Ex(celenci)a o S(enho)r Presidente da / Câmara Municipal de Castelo Branco / JOAQUIM MORÃO / 25/045/2003 / Obras só possíveis devido / ao seu grande empenho."

Descrição Complementar

Na base do POSTIGO DIREITO da fachada principal, a inscrição: "ESMOLAS". PAINEL DE AZULEJOS da fachada posterior policromos, envolvidos por moldura de volta perfeita, em cantaria de granito, representando a Senhora da Orada, no seu andor, com a inscrição: "Nossa Senhora da Orada / S(ão) VICENTE DA BEIRA / Senhora da Orada de meigo sorrir / chama os pastores que eles hão de vir. / Hão de vir rogando clemência e perdão / voltarão louvando o teu coração / Francisco Vitória 06 / 04 / 2011". A PIA DE ÁGUA BENTA tem as armas dos Costa "DE vermelho, com seis costas de prata, postas 2, 2 e 2, firmadas nos flancos". Os RETÁBULOS COLATERAIS são semelhantes e ambos em mau estado de conservação, de talha dourada, de corpo côncavo e um eixo definido por duas colunas torsas decoradas por gavinhas e fénices, assentes em consolas, e por duas pilastras decoradas por acantos, assentes em plintos paralelepipédicos ornados de folhagem, que se prolongam em duas arquivoltas, uma torsa, unidas no sentido do raio por aduelas. Ao centro, nicho de volta perfeita, mantendo pequenas mísulas de madeira. A estrutura é sustentada por altar paralelepipédico em alvenaria pintada de branco.

Utilização Inicial

Religiosa: ermida

Utilização Actual

Religiosa: capela

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese da Guarda - Arciprestado de Alpedrinha)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 14 - provável construção da capela primitiva *1; séc. 14 - séc. 15 - feitura de um alabastro a representar a Flagelação de Cristo; séc. 15 - séc. 16 - execução da imagem de Nossa Senhora da Graça ou das Graças, em pedra de Ançã, segundo a tradição, oferecida por D. Nuno Álvares Pereira; séc. 16 - feitura da pia de água benta; colocação do cruzeiro no terreiro com as armas da família Costa; 1592 - numa visitação, é recomendado que o ermitão guarde os costumes antigos, não acompanhando; séc. 18 - colocação de um Crucificado sobre o arco triunfal; provável execução da imagem de Santo Anselmo e de Nossa Senhora da Orada, em roca; feitura dos retábulos de talha para o Mosteiro de São Francisco, da Província de Portugal; 1711 - Frei Agostinho de Santa Maria refere a capela situada numa zona aprazível envolvida por soutos e ladeada por duas ribeiras; em frente ao portal, surge uma fonte de boas águas; a imagem é de vestidos e com braços de engonços, com meio corpo de madeira, acomodado em roca; a capela é grande, com capela-mor e altares colaterais, estes com as imagens de Santa Ana e de Nossa Senhora da Graça com Santo Anselmo; a capela-mor é de cantaria, forrada a madeira e, em cima do arco triunfal, surge a imagem do Crucificado com 4,5 palmos, num nicho forrado a azulejo, com dossel pintado e envolvido por cortinas de seda; o pavimento da capela é em soalho; a ermida é da Câmara de São Vicente da Beira, que paga o seu arranjo e apresenta o ermitão; tem algumas fazendas que permite pagar a fábrica e ornatos da casa; a ermida terá nascido de uma lenda em que uma donzela foi mandada para esta área pelo pai, como castigo por ter engravidado; a Senhora apareceu-lhe e disse que ela carregava uma cobra e que era necessário atraí-la com um copo de leite quente, o que aconteceu; em agradecimento, o pai terá construído a capela; uma segunda lenda, fala de um marido enciumado que, pela traição da esposa, a desterra para aquele lugar, confortando-a a Senhora e dizendo-lhe que ela não tinha um bebé, mas um réptil; 1758, 04 abril - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco, José Pegado de Sequeira, a capela surge referida, situada a norte da povoação, no caminho para a estrada da Beira, na Serra da Gardunha; a capela tem, na capela-mor, um retábulo de talha, antigo, com a imagem do orago; sobre o arco, um nicho revestido a azulejo com a imagem do Crucificado; está ladeado por retábulos antigos, o do Evangelho com a imagem de Nossa Senhora do Socorro, surgindo, no lado oposto, a imagem de Nossa Senhora da Graça, em pedra pintada, a imagem de Santo Anselmo, estofada e dourada, e, ao centro, um finíssimo alabastro com a representação do Ecce Homo, encimado por São João Batista degolado; séc. 19 - com a extinção do Mosteiro da Ordem Terceira de São Francisco, entretanto desaparecido, os retábulos da igreja são transferidos para esta capela, dando origem a obras de reconstrução da mesma *1; 1887 - data no cruzeiro junto à capela, que indicia, talvez, o final das obras de reconstrução; séc. 20, 1.ª metade - construção dos balneários no lado direito da capela; 1910, 05 outubro - com a implantação da República, as fazendas da capela são vendidas pela Câmara Municipal à família Cunha; 1911, 10 julho - a capela-mor tem altar e dois altares laterais, púlpito e sineta; 1930 - ampliação da capela; séc. 20, meados - remoção de uma cantaria com a cruz de Cristo da casa do ermitão; 1952 - construção do muro de suporte do terreiro da capela; séc. 20, década 60 - construção de parques de estacionamento; 1971, março - numa visita da Direção Regional do Centro ao local, o imóvel foi avaliado, achando-se que não reunião condições para ser classificado; 1980 - a propriedade é vendida a Joaquim Teodoro dos Santos e a José Francisco Matias, que dividiram a propriedade pelos dois; o muro de suporte do terreiro é destruído para alargamento da zona envolvente; séc. 20, década 90 - alcatroada a estrada de acesso à capela e arranjo da zona envolvente, pela Câmara Municipal; terreiro calcetado e ajardinado; mesas de madeira na margem esquerda da ribeira; 1995, 01 agosto - proposta de abertura do processo de classificação pela DRCoimbra; 17 agosto - Despacho de abertura do processo de classificação pelo presidente do IPPAR; 2003 - obras de melhoramento no recinto da capela, com a construção de um parque de merendas; 2009, 23 outubro - caduca o processo de classificação conforme o Artigo n.º 78 do Decreto-Lei n.º 309/2009, DR, 1.ª série, n.º 206, publicado nesta data.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria rebocada e pintada e cantaria de granito e xisto; cruzes, sineira, cunhais, frisos, cornijas, colunas do coro-alto, escadas, bacia do púlpito, alpendre e corredor da nave em cantaria de granito; coberturas, portas, guarda do coro-alto e do púlpito, pavimentos e mobiliário de madeira; painéis de azulejo tradicional; grades das janelas em ferro forjado; cobertura em telha cerâmica.

Bibliografia

Armorial Lusitano. Lisboa: Editorial Enciclopédia, Lda., 1961; BRITO, Maria Inácia Palma de (coord.) - São Vicente da Beira. São Vicente da Beira: Centro de Estudo e Defesa do Património Cultural e Natural da Gardunha, 2001; , [consultado em 16 de abril 2018]; MARIA, Agostinho de Santa (Frei) - Santuário Mariano… Lisboa: Officina de Antonio Pedrozo Galram, 1711, tomo III.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, SIPA; Diocese da Guarda: Departamento do Património Cultural

Documentação Administrativa

DGPC: PT DGEMN:DSID-001/005-002-0464/4; DGLAB/TT: Memórias Paroquiais, vol. 39, n.º 153, fls. 923 a 958, Arquivo do Ministério das Finanças, Inventário da Extinção do Convento de São Francisco de São Vicente da Beira, cx. 2250 [não consultado], Província de Portugal, Administração dos Conventos Femininos, mçs. 19 e 20 [não consultado]

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 2005 - obras na capela e zona envolvente, com a revisão de pinturas e rebocos, coberturas, portas e pavimentos.

Observações

*1 - a Ordem Terceira de São Francisco tinha uma casa de religiosas, pertencente à Província de Portugal e fundada por Teodósia Vaz, natural da vila, empregando todos os seus bens e que obteve licença de D. Catarina para a construção do pequeno mosteiro, sendo a sua primeira madre com o nome de Teodósia da Paixão; faleceria em 06 de setembro de 1577, sendo sepultada junto ao altar-mor; Ana Correia, uma senhora de Castelo Branco, manda colocar, sobre a sepultura, uma lápide com o epitáfio; este edifício é ainda mencionado nas Memórias Paroquiais de 1758 e tem processo de inventário na data da Extinção das Ordens Religiosas, em 1834, mas não restam quaisquer vestígios do mesmo.

Autor e Data

Paula Figueiredo 2019 (no âmbito da parceria DGPC / Diocese da Guarda)

Actualização

 
 
 
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