Cine-Teatro São Pedro

IPA.00011320
Portugal, Santarém, Abrantes, União das freguesias de Abrantes (São Vicente e São João) e Alferrarede
 
Arquitectura cultural e recreativa, modernista. Cine-teatro de planta rectangular, desenvolvida segundo o eixo N.-S, com corpo de camarins e salão de festas adossado à caixa de palco e parte da plateia (O.). Volumetria horizontal, com aproveitamento de desnível do terreno. Coberturas mistas. Expressão modernista na articulação das massas cúbicas; rigoroso funcionalismo do espaço interno, transparecendo no tratamento das fachadas; jogos de luz nas duas fachadas (luz directa na fachada principal, indirecta na fachada lateral, sublinhando o embasamento em cimento); ao funcionalismo do projecto de arquitectura associa-se um elaborado projecto de decoração de interiores, ainda visível nos revestimentos do pavimento do átrio e do foyer do 1º balcão, nos revestimentos das fachadas com placas cerâmicas negras conjugadas com as janelas de vários lumes generosamente rasgadas. O Cine-Teatro São Pedro insere-se no grupo de auditórios de planta rectangular, de cena contraposta, com uma sala para cerca de 500 lugares, distribuídos por plateia, 1º e 2 balcões, e tendo um palco de configuração rectangular, com pendente, e dotado de subpalco. Dispõe de fosso de orquestra, cabina de projecção e salão de festas. O projecto do arqº Jervis d'Athouguia, datado de 1947, uma das suas primeiras obras, foi por ele assumido como uma obra realizada dentro dos "sãos princípios da arquitectura", tirando partido da "expressão arquitectónica própria do sistema de construção adoptado", num espírito de "grande simplicidade e verdade arquitectónicas" (ATHOUGUIA, 1947); o primeiro projecto para o Cine-Teatro, entretanto abandonado, do arqº Amílcar Pinto, estava ainda muito próximo da linguagem oficial do regime, de cariz historicista.
Número IPA Antigo: PT031401130074
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Cultural e recreativo  Casa de espetáculos  Cine-teatro  

Descrição

Planta longitudinal, composta por dois rectângulos desiguais adossados. Volumes prismáticos, escalonados, com coberturas em terraço e telhado, escondidas pelo remate murário. Fachada principal virada a N., desenvolvida em três pisos, com o térreo demarcado pelo capeamento em cantaria sublinhado por juntas fendidas, correspondendo ao vestíbulo; acima deste embasamento uma superfície murária lisa articula-se com dois corpos fenestrados salientes e escalonados, de diferentes dimensões: um corpo central correspondente aos foyers do 1º e 2º balcões, sobre o qual se lê " TEATRO S. PEDRO ", intercalando-se os dois registos de janelas com um revestimento em placas cerâmicas negras; um corpo mais estreito, à direita, correspondente à escada de acesso ao 2º balcão; na superfície murária lisa, à esquerda do corpo central, ressaltam três calhas em betão, inicialmente destinadas a iluminação; no embasamento do corpo central rasgam-se as três portas de acesso ao átrio, no corpo da escada a respectiva porta protegida por pala em betão e no embasamento, à esquerda da porta, um painel para publicidade. A fachada lateral E. é percorrida pelo mesmo embasamento de junta fendida, adaptado ao forte declive do terreno; a superfície murária articula-se em cinco panos, delimitados verticalmente por molduras salientes: o 1º e o 5º panos, mais elevados e de remate liso, correspondendo, respectivamente, ao ártrio lateral e foyers do 1º e 2º balcões e à caixa do palco; os três panos intermédios, rematados por cornija saliente, escondendo a sala do público; o 1º pano intercala a ampla fenestração com placas cerâmicas negras, rasgando-se no embasamento a porta de dois vãos de acesso ao átrio lateral; os três panos seguintes mostram um fundo rebocado e pintado a branco, decorado por junta fendida em quadrícula, a que se adossam três esculturas de vulto, alegóricas; no embasamento do último pano rasga-se a porta de serviço ao palco, sendo a superfície murária sublinhada por molduras salientes paralelas. A fachada posterior, virada a S., é composta por dois corpos de alturas diferentes: um 1º correspondente à caixa do palco, articulado com o último pano da fachada E. e igualmente sublinhado por molduras paralelas; e um 2º corpo mais baixo onde se situam os camarins e a antiga sala da gerência. Na fachada lateral O., correspondente ao foyer térreo e ao "salão de festas", repete-se o embasamento adaptado ao declive do terreno, destacando-se um corpo saliente amplamente fenestrado, com porta antecedida por escada de acesso ao foyer; o paramento liso, à direita deste corpo, é vazado por pequenas janelas no 1º piso e por frestas no 2º piso. INTERIOR: a distribuição dos espaços funcionais - públicos e técnicos - , encontra-se organizada do seguinte modo: no corpo principal sucedem-se os espaços de estar e apoio (foyers, bilheteira, instalações sanitárias e circulações verticais), o espaço cénico (o auditório) e o espaço técnico e de cena (a caixa de palco); o corpo adossado à fachada lateral O. ficou reservado para os espaços de apoio à cena (camarins), além de incluir o salão de festas (1º piso) e um foyer ao nível da plateia. Ultrapassada a entrada principal, abre-se o foyer térreo (9, 30 m x 6, 90 m), acedendo-se à plateia por vão rasgado na parede fronteira e ao 1º balcão pela escada de três lances situada junto ao paramento esquerdo. Sob o vão da escada, o pequeno átrio da entrada secundária, aberta na fachada lateral E., e respectivo corredor de acesso directo à plateia, por porta também secundária. No lado oposto, localizam-se as instalações sanitárias para deficientes, a bilheteira - com atendimento ao público para o interior -, e o vão de escada de acesso ao 2º balcão, com saída directa para a rua , precedido de vestíbulo, elemento a originar o volume saliente (a O.) da fachada principal. Os foyer do 1º (9, 40m x 7, 60m) e 2º (9,40m x 7,60m) balcões sobrepõem-se ao térreo e beneficiam da iluminação natural garantida pelo envidraçado do pano central saliente da fachada principal. De destacar, no foyer do 1º balcão, o pavimento original, em madeira de cores contrastantes, criando uma quadrícula de fitas entrelaçadas. A plateia dispõe de outro foyer, a O., espaço de planta rectangular, dotado de instalações sanitárias e com acessos à zona dos camarins (escada de um lance) e salão de festas (escada de três lanços). Espaço cénico: AUDITÓRIO - sala de planta rectangular, constituída por dois espaços independentes ligados pela boca de cena rectangular, com fosso de orquestra e contando com uma lotação de 561 lugares distribuídos por plateia (350), balcão de primeira ordem (139) e e balcão de segunda ordem (72). Plateia com pendente, de coxias longitudinais laterais e central, e coxias transversais de fundo, de boca e a terços, com cadeiras fixas, em tecido azul; pavimento de madeira e paredes de estuque pintadas de cor cinzenta acima do lambril revestido a tecido azul; tecto de estuque, de cor branca. A guarda do balcões é de alvenaria de tijolo. A sala dispõe de climatização (ventilação e aquecimento). Espaços técnicos e de cena: PALCO - com largura de 15 m e profundidade de 7 m, para uma área de cena de 9 m x 6 m, dispondo de coxias laterais e de fundo, pendente de 2,5 %, paredes pretas (brancas a partir da varanda), soalho de madeira disposto paralelamente à boca de cena e acesso de carga directo à rua através do subpalco. Dispõe de subpalco de estrutura fixa em madeira. A caixa de palco apresenta teia de perfis metálicos e gradil de ferro, duas ordens de varandas laterais e de fundo em madeira. A regie de direcção de cena, a regie de som e a regie de luz partilham o mesmo espaço, localizado ao fundo do balcão de primeira ordem. A cabina de projecção situa-se num espaço independente, ao fundo da sala, no 1º balcão. O auditório inclui no seu equipamento uma cabina de tradução simultânea, que funciona nas regies.

Acessos

Largo de São João; Rua de Santo António

Protecção

Incluído na Zona Especial de Proteção da Igreja de São Vicente (v. PT031401130002 )

Enquadramento

Urbano, meia-encosta, isolado. Implantado na malha urbana da povoação, deita a fachada principal para um largo nas imediações do adro da Igreja de São Vicente. A fachada lateral, paralela à R. de Santo António, acompanha o forte declive da encosta. A fachada lateral O. é antecedida por logradouro, a fachada posterior deita para o pátio do prédio vizinho.

Descrição Complementar

MECÂNICA DE CENA: sistema de suspensão - 6 varas manuais simples de ferro, 1 vara contrapesada de ferro e 1 vara motorizada de ferro, com sistema de comando de botoneiras; ILUMINAÇÃO CÉNICA: dimmers - 2 circuitos analógicos; sistema de comando - órgão de luzes digital; equipamento de apoio à iluminação - calhas electrificadas; equipamento de iluminação - 28 projectores; SONORIZAÇÃO CÉNICA: 10 microfones, colunas de som, equipamento de gravação/reprodução e mesa de mistura de som permitindo a realização de conferências, a reprodução de suportespara espectáculos diversos, o reforço acústico para espectáculos de teatro e espectáculos de música e espectáculos de música amplificada. AUDIOVISUAIS: cinema - sistema de projecção de 35 mm, som Sorround, ecrã de cinema rígido, montado numa vara; projecção video, com ecrãs próprios. COMUNICAÇÕES CÉNICAS: sistemas de chamada de artistas, monição vídeo, walkie-talkies e telefones. EQUIPAMENTO CÉNICO: Cortina de boca de abrir para os lados, em veludo azul, com mecanismo de abertura motorizado; cena preta em flanela composta por pernas, bambolinas e fundo; ciclorama em PVC de cor branca.

Utilização Inicial

Cultural e recreativa: cine-teatro

Utilização Actual

Cultural e recreativa: cine-teatro

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Contrato de cedência, por 19 anos, à Câmara Municipal de Abrantes

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Ruy Jervis d`Athouguia (1947).

Cronologia

1946 - realização de um primeiro projecto para o Cine-Teatro, da autoria do arquitecto Amílcar Pinto, cujas fundações chegaram a ser realizadas; a encomenda partiu de um grupo de cidadãos, que entretanto se constituiu em empresa comercial - "Iniciativas de Abrantes, Lda"; a Igreja da São Pedro, edificada em 1708, é demolida, para no seu terreno vir a ser construído o projectado cine-teatro; 1947 - data do segundo projecto do risco do arquitecto Ruy Jervis d'Athouguia, condicionado pela implantação do primitivo edifício; 1949, 19 Fevereiro - inauguração do cine-teatro com a representação da comédia de Júlio Dantas, " Outono em Flor ", pela Companhia do Teatro Nacional Dona Maria, Amélia Rey Colaço / Robles Monteiro; 2000 - contrato de cedência entre a firma proprietária e a Câmara Municipal de Abrantes, dando-se início às obras de remodelação financiados no âmbito do Programa Operacional da Cultura (POC): esta intervenção é levada a cabo pelo Gabinete dos Centros Históricos da Câmara Municipal de Abrantes, sendo responsáveis pela obra os arquitectos Pedro Costa e Sara Morgado; 2001, 05 julho - inauguração do teatro com a presença do Presidente da República, Jorge Sampaio; 2004, 15 janeiro - proposta de classificação da CMAbrantes; 20 outubro - Despacho de abertura do processo de classificação pelo presidente do IPPAR; 2005, 08 julho - proposta da DRLisboa para a classificação como Imóvel de Interesse Público; 2006, 30 março - devolução do processo à DRLisboa para definição de uma Zona Especial de Protecção; 2010, 29 dezembro - Proposta da DRCVTejo para a revogação do despacho de abertura, por não ter valor nacional, e o envio à Câmara Municipal de Abrantes para ponderação da classificação como de Imóvel de Interesse Municipal; 2009, 23 outubro - procedimento caducado nos termos do artigo 78.º do Decreto-Lei n.º 309/2009.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes

Materiais

Betão armado, alvenaria de tijolo, blocos de fibrocimento, cantaria bojardada, tinta plástica de cor beje (exterior), placas cerâmicas negras, ferro, vidro, mármore polido e marmorite (interior), madeira exótica (pavimentos), tecido de cor azul (lambris)

Bibliografia

CAMPOS, Eduardo, Toponímia Abrantina, Abrantes, 1989; d'ATHOUGUIA, Ruy Jervis, Memória Descritiva do Porcesso de Licenciamento do Cine-Teatro de S. Pedro, Câmara Municipal de Abrantes, 23 de Janeiro de 1947; Diário de Notícias, 19 de Fevereiro de 1949; O Século, 19 de Fevereiro de 1949; MORGADO, Sara, Cine-Teatro S. Pedro - Introdução ao projecto de candidatura ao fundo de apoio do Ministério da Cultura, Abrantes, 2000.

Documentação Gráfica

CMAbrantes

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; MC: IPAE; CMAbrantes

Documentação Administrativa

CMAbrantes; IGESPAR

Intervenção Realizada

CMAbrantes: 2000 / 2001 - obras de recuperação e conservação.

Observações

Autor e Data

Filomena Bandeira / Cidália Dionísio 2002

Actualização

 
 
 
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