Palácio Barahona / Palacete José Maria Ramalho

IPA.00010974
Portugal, Évora, Évora, União das freguesias de Évora (São Mamede, Sé, São Pedro e Santo Antão)
 
Palacete revivalista e oitocentista, de planta em U irregular, com uma das alas mais prolongada. Fachadas rebocadas e pintadas, e elementos definidores em cantaria de mármore, dispostas em dois pisos, divididos por friso de cantaria e remate em balaustrada sobre cornija e banda lombarda; fenestração regular, maioritariamente de volta perfeita, sendo simples e de peitoril no primeiro piso e no segundo de varandim, com moldura acentuada por ornamento de folhagem gorda, que parte de uma pedra de fecho simulada, acompanhando a curvatura do vão, sobre esta desenha-se friso, que acompanha o desenho dos vãos, sugerindo uma duplicação das arquivoltas que remete para a arquitectura medieval. A fachada principal organiza-se em três panos, com o central destacado, emoldurado por pilastras, rasgando-se no primeiro piso, revestido a cantaria, três portais a pleno centro; no segundo piso dispõe-se varanda de cantaria, com guarda de ferro assente em modilhões. O palacete é estruturalmente depurado, apresentando um tratamento simétrico e harmónico nas fachadas; a nota revivalista é dada pela introdução de elementos ornamentais historicista, como a introdução de uma banda lombarda, com a sua sucessão de arcos trilobados, os vãos polilobados que se rasgam no andar em ático, o remate florido dos pingadouros, ou a sugestão de duplicação de arquivolta no remate dos vãos do piso nobre. O compromisso entre uma estrutura associada a uma linguagem clássica e o apelo historicista, com citações neo-medievais e neo-manuelinas, é característico da época e vinha-se impondo em alguns palacetes urbanos em Lisboa, por exemplo o Palacete de António Anjos no Príncipe Real (PT 031106460740). O interior é organizado em torno de pátio central, sendo as entradas axiais; comunicação interna mediante escadaria imponente, iluminada por três janelas voltadas para o pátio, e circulação secundária colocada paralelamente aos corredores. As salas principais dispõem-se ao longo de uma das alas, destinada originalmente à habitação dos proprietários; os salões de maiores dimensões e de carácter mais público voltam-se à fachada principal, estando a ala S. destinada a hóspedes frequentes; as salas são profusamente decoradas, com estuques e pinturas, de gosto oitocentista, cujas referências iconográficas se prendem com as vivências do proprietário Francisco Barahona, responsável pela decoração dos interiores; a habitação dos criados remete-se para o andar em ático, não visível da fachada principal. O palacete representa uma situação excepcional no panorama da arquitectura eborense oitocentista, que primou pela adaptação de edifícios e não pela construção ex nihilo. A situação torna-se ainda mais notável uma vez que o encomendador chamou um arquitecto de Lisboa, para fazer um edifício novo em estilo actualizado. A introdução de apontamentos neo-medievais e neo-manuelinos na decoração das fachadas assume em Évora características particulares pela facilidade da citação, visto persistirem na cidade um número considerável de edifícios notáveis da época, e a adopção de tais elementos se inserir na faceta da mentalidade romântica que se traduz numa nova preocupação com as questões patrimoniais; esta vocação torna-se ainda mais evidente neste palacete pela introdução de um portal rocóco retirado do antigo convento de Santa Maria do Espinheiro de Évora na fachada voltada ao jardim. Parte dos alçados S. e E. estão incrustados na antiga muralha da cidade, precisamente do ponto de onde arranca o baluarte do Príncipe, ocupando o palacete assim uma posição de grande destaque para quem chega à cidade e o observa impondo-se sobre a muralha, ladeando uma das principais portas da cidade - a porta do Rossio de São Braz. O palacete dispunha no fundo do jardim de espaços destinados à lavoura, como cocheiras, cavalariças, picadeiros, celeiros, albergarias, oficinas de ferreiro e dispensa. No interior possui ainda cisterna e um sistema de circulação de correio entre pisos. Muitas das referências iconográficas na decoração dos interiores prendem-se com as vivências do proprietário Francisco Barahona, responsável pela decoração dos interiores: caduceus, referência à actividade profissional de Barahona; elementos agrícolas, profusão de ornamentos vegetalistas e florais, ligados à actividade fundiária desenvolvida; referência ás artes e letras, sinal do espírito coleccionista e mecenático que animava Barahona *6. O palacete marca um ponto importante na evolução da obra do arquitecto Giuseppe Cinatti, no que toca à adopção de uma nova estética construtiva, contrastando com a sobriedade e classicismo dos seus palácios Lisboetas, como o de Bessone (v. PT031106200279) e Iglésias (v. PT031106200471).
Número IPA Antigo: PT040705210149
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palacete  

Descrição

Palácio de planta em U, irregular, disposta no sentido O. - E., com ala N. mais prolongada, formando pátio quadrangular fechado. Cobertura diferenciada em telhados de quatro águas, nas alas N. e S., de duas águas na ala O. dispondo de mirante quadrangular na ala N., de alvenaria; o mirante é rematado por banda lombarda e cornija e pilastras nos cunhais, rasgado por uma janela de peitoril de volta perfeita em cada pano, com cobertura em coruchéu sobrepujada por cata-vento, e duas chaminés de secção quadrangular em alvenaria rematadas por banda lombarda e cornija. Fachadas rebocadas e pintadas de verde-claro, delimitadas por cunhais, dispostas em dois registos definidos por friso, com embasamento e remate em banda lombarda envolvente, sobreposta de cornija e balaustrada cujos acrotérios recebem cartelas decorativas com motivos vegetalistas. Embasamento, friso, elementos de remate e cunhais de mármore. Nas alas O. e parte da N., acresce uma cave e um andar esconso não visíveis a partir da fachada principal. Fenestração regular, de volta perfeita, com molduras de cantaria de mármore, com janelas simples de peitoril no primeiro registo e no segundo de varandim, com guarda em ferro forjado, onde a partir da simulação da pedra de fecho se estende uma folhagem gorda acompanhando a curvatura da janela, sobre a qual se define novo friso acentuando o recorte e sugerindo uma duplicação de arquivoltas. Fachada principal a O., de três panos, o central destacado, ladeado por pilastras cujos capiteis interrompem a cornija; o primeiro registo, forrado a placagem de cantaria, é rasgado por uma sequência de três pórticos recortados a pleno centro, com portas de madeira e bandeira vazada em ferro forjado, emoldurados por pilastras de capitel rectangular, de onde arranca arco de volta perfeita, com arquivolta dupla; no segundo registo três janelas axiais, guarnecidas por sacada comum de cantaria, com gradeamento em ferro forjado, assente em sete modilhões, entre os quais se dispõem cartelas com motivos vegetalistas; panos laterais simétricos, com três vãos correspondentes por registo. Fachada lateral N. rasgada em cada registo por dez janelas, axiais; ao nível do embasamento, respiradouros rectangulares, com gradeamento em ferro forjado; sobre a metade E. da fachada, ergue-se, acima da linha da cornija, andar em ático, rasgado por quatro vãos de peitoril de volta perfeita e moldura simples de cantaria; no extremo E. adossa-se, tranversal, portão em ferro forjado, emoldurado por pilastras de cantaria de mármore esquadriados, rematadas por jarras sobre pináculo triangular. Fachada lateral S. rasgada no primeiro registo por seis janelas, sendo as quatro centrais geminadas e de altura desigual; no segundo registo repete-se o mesmo esquema mas com os vãos centrais de igual altura, guarnecidos por sacada comum de cantaria, com guarda de ferro forjado, suportada por cinco modilhões simples, sendo a cornija de remate dos vãos centrais corrida e recta e não curva como nas restantes fachadas; a fachada S. articula-se com jardim de planta rectangular, fechado por gradeamento de ferro forjado com pilaretes de cantaria de granito, apresentando no ângulo NE. guarita em granito, cupulada, pertencente ao antigo Baluarte do Príncipe. Na central da fachada posterior arcaria de mármore branco lançada em três arcos de volta perfeita, de arquivolta dupla, assentes em pilares de capitel dórico; no segundo registo três janelas de varandim; acima da linha da cornija dispõe-se friso e andar em ático, rasgado por três óculos quadrilobados; esta ala abre para pequeno jardim, pavimentado por calçada portuguesa, com lago circular, com gárgula *1 ao centro; é delimitado por muro baixo sobrepujado por gradeamento alto em ferro forjado, dispondo, do lado esquerdo, de pequeno portão, acessível por escadas, que dá ligação a passadiço, pavimentado por calçada portuguesa, que contorna toda a fachada posterior e liga aos jardins E. e S.. A face interna da ala S. apresenta três portas rectas de acesso a cave, cujas molduras interrompem o embasamento e três vãos correspondentes entre primeiro e segundo registos, sendo a janela no extremo E. do registo superior cega. A face E. desta ala apresenta dois vãos correspondentes entre registos. A face interna da ala N. divide-se em dois panos, o primeiro é simétrico ao da ala oposta, o segundo, ligeiramente recuado apresenta uma sucessão de quatro vãos correspondentes entre registos, e, sobre a linha da cornija e por detrás da balaustrada, andar em ático rasgado por três vãos de volta perfeita com moldura simples de cantaria. Na cobertura destacam-se os volumes do mirante e chaminés. A face E. da ala N. apresenta cinco vãos correspondentes entre andares, correspondendo o vão axial do primeiro registo a pórtico *2 amplamente decorado, de acesso ao jardim, através de passadiço sobre arco, com gradeamento em ferro forjado que se prolonga para ambos os lados da fachada, uma vez que esta ala está alteada devido ao declive do terreno, formando nesta área zona vazada, com acesso por escadaria colocada do lado direito; esta fachada articula-se com jardim de planta rectangular, delimitado por gradeamento corrido em ferro forjado, com pilaretes em cantaria de granito, sobre o muro do antigo baluarte. INTERIOR: distribuído em dois pisos, a que acresce cave e andar esconso. No piso térreo, átrio coberto de comunicação entes as alas N. e S.; este articula-se em dois espaços, um a O. com cobertura em abóbada de berço em arco abatido decorada por rosetas de estuque branco e pavimento em calçada portuguesa formando losangos, com a inscrição "A PÁTRIA"; alçados de alvenaria rebocada e pintada de rosa, animados por molduras de estuque branco e embasamento em mármore; o outro a E. definido pela dupla arcaria, formando corredor coberto por abóbada decorada por estuque branco com motivos vegetalistas e fitomórficos, e pavimento em mármore branco e negro formando losangos; o acesso ao interior das alas faz-se a partir de duas portas colocadas, cada, nos alçados S. e N. da arcaria; abrem para escadaria, idêntica em ambas as alas, com degraus em mármore e paredes em escaiola. A ala N. organiza-se através da articulação da escadaria principal, voltada para o pátio, das escadarias secundárias dispostas paralelamente à face interna desta ala, e de amplo corredor de circulação que atravessa praticamente toda a ala. As salas principais distribuem-se paralelamente ao corredor, abrindo para a rua, comunicantes entre si, pautando-se pela riqueza e variedade da decoração particularmente dos tectos pintados e/ou com ornamentação em estuque, com motivos vegetalistas, fitmórficos e alegóricos. A cozinha localiza-se no extremo SE. No piso superior mantém-se a mesma articulação de espaços de circulação e salas intercomunicantes, dispostas de ambos os lados do corredor axial; neste piso destaque para grande salão, voltado para a fachada principal, que ocupa toda a extensão da mesma. Através das escadarias secundárias acede-se ao piso esconso, dividido em pequenas salas, que por sua vez dá acesso, através de escada estreita, ao pequeno mirante quadrangular, com alçados rasgados por janelas de peito de volta perfeita, orientadas para os quatro pontos cardiais. A ala S. do edifício, mais modesta e de menores dimensões, destinava-se originalmente a albergar hóspedes frequentes, daí a sua entrada independente, comunicando directamente com o piso superior apenas através de escadaria secundária colocada a NE. da ala. A pavimentação faz-se maioritariamente por tábua corrida de madeira, exceptuando zonas de circulação preferencialmente com pavimento de mármore. As portas interiores são na sua maioria de verga recta e de madeira lacada a branco, assim como portadas e caixilhos internos das janelas.

Acessos

Rua da República; Rua do Eborim

Protecção

Incluído no Centro Histórico da cidade de Évora (v. PT040705050070)

Enquadramento

Urbano, isolado, intramuros. Implantado em parte do antigo baluarte do Príncipe (v. PT040705210040), em zona alteada e de algum declive. Fachada principal, a O., voltada para a R. da República e para a antiga Porta de São Braz, fronteira ao Jardim Público (v. PT040705210180). A fachada lateral esquerda, voltada a N., abre também para a via pública e é ladeada pelo edifício do Mercado. Fachada lateral direita e alas posteriores delimitadas por muro da antiga muralha e pelo baluarte, sobre o qual corre gradeamento vazado, em ferro forjado, intercalado por pilastras em granito, acompanhando as fachadas e jardins da casa, que abrem para o Rossio de São Braz.

Descrição Complementar

PORTAL da fachada E. da ala N., rococó em mármore branco de Estremoz, de perfil polilobado, com dupla moldura interrompida por acantos, assentando em pilares com base ornada por motivos fitomórficos, e com cartela no fecho; a estrutura é sublinhada por pilastras de inspiração coríntia, com fustes e plintos paralelipipédicos decorados com acantos. Destas arranca espaldar de perfil contracurvado, ornado por acantos e enrolamentos, que enquadram painel onde se inscreve óculo polilobado e pedra de armas. INTERIOR: Escadaria principal de três lanços rectos, em mármore, iluminada, ao nível do piso superior pelas três janelas voltadas para o pátio; com acesso por vestíbulo definido por arco assente em mísula e intradorso com decoração em estuque branco com motivos vegetalistas; pavimento em mármore branco e negro formando losangos, nos alçados pinturas murais representando a casa do Cordovil, a Igreja de São Francisco e a Ermida de São Braz e grande tela ao nível do lanço superior de escadas; decoração do tecto em estuque branco, com medalhão central com folhas de acanto e frisos com rosetas e sanca com molduras ornadas por sequências relevadas de maçarocas em estuque destacados sobre reboco pintado de bege. Corredores longitudinais, com paredes em escaiola em tons de amarelo, azul, cobertura em abóbada de berço com rosetas de estuque de onde pendem candeeiros, no primeiro piso o pavimento é de mármore em branco e preto formando losangos, e no segundo de vigamento de madeira. As salas mais nobres do palácio concentram-se na ala N., em ambos os pisos; no primeiro piso, a sala no ângulo NO. (sala 1), apresenta planta em L *3, pavimento em mármore branco e negro formando losangos e tábua corrida; a decoração do tecto, em estuque relevado branco, apresenta dois registos, com apainelados e medalhões com motivos vegetalistas. Para E. segue-se sala de planta rectangular (sala 2), com paredes revestidas a papel de parede em tons de castanho, e tecto com decoração em estuque branco com medalhão central ornado por motivos vegetalistas em baixo relevo, rodeado por grinalda, sanca com molduras e ornamento vegetalista nos ângulos. Depois sala de planta rectangular (sala 3), de maiores dimensões, com lambrim de azulejo polícromo azul e amarelo, e tecto com decoração em estuque branco em dois registos paralelos longitudinalmente, separados por viga de alvenaria; no primeiro registo medalhão central ornado por motivos vegetalistas e sanca emoldurada, percorrida por entrançados vegetalistas e com roseta encimada por coração florido nos ângulos; no segundo registo apainelados, ornados por motivos vegetalistas estilizados em baixo-relevo e na sanca entrançados vegetalistas estilizados, também em baixo-relevo. Segue-se, no ângulo NE., sala de planta quadrangular (sala 4) com pavimento em parquet, paredes forradas a tecido estampado em tons de dourado e verde seco, e cornija de madeira; sobre as duas portas de acesso ao corredor inscrevem-se molduras ornamentais vazadas; a decoração do tecto em estuque, em tons pastel de bege e rosa, combina motivos em médio e baixo-relevo, dispondo ao centro de medalhão circular com motivos vegetalistas e frutos, envolvido por losango com enrolamentos de parras, sendo rematado por friso com o mesmo motivo; na sanca emoldurada, rematada superiormente por grinalda de frutos e sobre grinalda semelhante em marcenaria no remate do muro; alternam molduras preenchidas por parras, com cartelas ornadas por taças com frutos. No segundo piso as principais salas voltam-se para a fachada lateral esquerda; de O. para E.: sala de planta quadrangular (sala 5), cuja decoração de tecto combina o estuque branco com a pintura ornamental em verde e rosa, num composição centrada por medalhão florido em estuque, envolvido por enrolamentos estilizados de folhagem a verde sobre rosa e branco, e emoldurada a toda a volta por friso ornado por espigas; na sanca repetem-se os motivos vegetalistas em molduras, alternando motivo a verde sobre fundo rosa, com motivo a rosa sobre fundo verde; no remate da parede dois frisos paralelos enquadram rosetas. Segue-se sala de planta rectangular (sala 6) com lareira em mármore e decoração do tecto em estuque branco relevado, com medalhão central circular, emoldurado, com ornamento composto por folhagem gorda e maçarocas; apresenta ampla sanca, apainelada, recebendo nos ângulos ornamento composto por fruteira repleta de frutos, envolvida em enrolamentos vegetalistas, e nos eixos medalhões ovalados onde um caduceu é envolvido por dois vasos com frutos. Passa-se para pequena sala de planta rectangular (sala 7), com pintura decorativa nas paredes e tectos, onde primam os rosas, azuis, amarelos e verdes, numa composição centrada por ornamento em estuque relevado branco, envolto por moldura ornamentada de motivos vegetalistas, que se alastram ao friso de remate e à sanca, com destaque para as quatro molduras dispostas nos eixos, que recebem medalhões com pintura de temas naturalistas *4; no remate superior da parede dispõe-se larga grinalda colorida, cujos tons se repercutem no friso que corre sobre o rodapé. Segue pequena sala de planta rectangular (sala 8), cuja decoração de tecto se organiza em apainelados, centrados por medalhão central com folhagem em médio relevo e envolto por motivos vegetalistas em baixo relevo formando losango; na sanca repetem-se os motivos em baixo relevo enquadrados por molduras, intercalados por rosetas emolduradas nos eixos. No ângulo NE., sala de maiores dimensões, de planta quadrangular (sala 9), amplamente decorada com pintura em tons de azul e branco simulando estuque, em enrolamentos ornamentais de folhagem e elementos fitomórficos, intercalados com apainelados preenchidos por uma sucessão de pequenas rosetas; o remate do tecto é pontuado por camafeus pintados, cuja pedra central alterna entre o verde-esmeralda e o vermelho-rubi. A S. pequena sala de planta quadrada (sala 10) com tecto decorado com pintura em tons de castanho e amarelo, destacando-se os medalhões nos eixos, com figuras femininas, envoltas em grinalda florida, representando as estações do ano. SALÃO PRINCIPAL: amplo salão rectangular, ocupando toda a ala voltada a O. do palácio; o espaço encontra-se tripartido *5, com decoração distinta, ainda que harmoniosa entre si; na primeira secção do salão as portas e janelas apresentam pilastras compósitas ladeando as molduras dos vãos e sobre a verga, frontispício centralizado por busto feminino alegórico; nas portas voltadas a E., à maneira de bandeira, moldura boleada e ornada, recebendo ao centro medalhão ovalado em estuque, com busto feminino pintado, rematado por laçada, e ladeado por anjos, segurando grinalda de rosas; tecto em estuque, em tons de branco e dourado, organizado em apainelados, ornados com reticulado, preenchido por rosetas, com grande medalhão ovalado ao centro, com molduras ornadas por motivos vegetalistas e florais, e interior preenchido por pontilhado; nos eixos N. e S. dispõe-se medalhões circulares de molduras semelhantes, recebendo ao centro ramo floral pintado; a sanca, ricamente decorada, apresenta reticulado preenchido por rosetas, interrompido nos ângulos e nos eixos por medalhões pintados, com molduras douradas, com ornamentos de grande efeito; os medalhões nos ângulos recebem pintura aparentemente naturalista, mas de notória carga simbólica, com referência às artes plásticas, ciência, medicina, agricultura, indústria e actividade marítima; nos eixos os medalhões recebem putti alegóricos, com referência aos quatro elementos. A segunda secção do salão apresenta o tecto decorado com pintura imitando estuque, numa composição organizada em apainelados emoldurados, preenchidos por ornamentos vegetalistas e florais, e enrolamentos de acantos, e rematada por friso repleto de enrolamentos vegetalistas de onde pendem cachos de uvas. Na terceira secção do salão a decoração do tecto organiza-se em, apainelados polilobados, combinado o baixo-relevo de motivos fitomórficos e vegetalistas, com o médio-relevo de gordas grinaldas florais, medalhões e ornamentos repletos de folhagem gorda; destaca-se a representação de seis anjos empunhando elementos alegóricos, inseridos em molduras realçadas por grinalda. JARDINS: O palácio dispõe de três espaços ajardinados de diferentes dimensões e características. O primeiro corresponde ao pequeno espaço ajardinado para o qual se abre a entrada principal marcado pela presença de um lago circular forrado a azulejo e com gárgula ao centro; junto ao muro que delimita este espaço dispõe-se canteiros, ladeando fonte em pedra rústica. Aberto para a fachada lateral direita, dispõe-se espaço ajardinado trapezoidal, alteado face à via pública, que no seu muro delimitador inclui guarita do antigo baluarte e inclui algumas árvores de porte considerável. O jardim de maiores dimensões volta-se para a fachada E. da ala N. do palácio, apresentando planta quadrangular, formando caminhos por entre canteiros; dispõe de árvores de grande porte, pequeno lago circular, e banquinhos de alvenaria forrados a azulejo.

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Serviços: seguradora

Propriedade

Privada: pessoa colectiva

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Giuseppe Cinatti (1850 - 1860); PINTOR: Alberto Carneiro (1900, década de); ESTUCADOR: Domingos Meira (1892) (atr.)

Cronologia

Séc. 16 / 17 - provável data de construção de casa nobre urbana preexistente no local do palacete; Séc 19, 1ª metade. - obras de ampliação e melhoramento na casa nobre; 1850, década de - aquisição, por José Maria Ramalho (1830 - 1884), da casa primitiva, então propriedade dos descendentes do sargento-mor António José Fernandes, avô da sua futura mulher; projecto para o palacete a edificar no mesmo local pelo Arq. Giuseppe Cinatti e demolição da casa existente; 1856, Maio - negociações de José Maria Ramalho com a Câmara Municipal de Évora com vista ao alargamento da sua propriedade junto da Porta do Rossio de São Braz para aí edificar a sua residência; 1859 - resposta favorável a José Maria Ramalho na questão do alargamento da sua propriedade; 1859, Outubro - Contrato entre José Maria Ramalho e a Câmara Municipal de Évora tendo em vista a concessão de uma maior quantidade de água do Aqueduto da Água de Prata para conclusão da obra da sua residência e devida irrigação de seus jardins com água corrente; 1863, 30 Julho - contrato de aforeamento entre José Maria Ramalho e o governo municipal, permitindo ao primeiro o usufruto de uma parcela do baldio do Rossio de São Braz; 1864 - casamento de José Maria Ramalho com Inácia Angélica Fernandes, neta de António José Fernandes; 1867 - o palacete encontrava-se em fase de acabamentos; referência da existência de um quiosque cobrindo o espaço ajardinado para o qual abre a fachada principal; 1860, finais década de 60 - inserção de porta, proveniente do extinto convento de Santa Maria do Espinheiro, estabelecendo a ligação ao jardim; 1884, 22 Janeiro - morre José Maria Ramalho, estando em construção um edifício destinado a adega, lagar de azeite e celeiros na antiga cerca do extinto convento de São Francisco; 1887, 16 Maio - Inácia Angélica Fernandes casa em segundas núpcias com Francisco Eduardo de Barahona Fragoso (1843 - 1905), continuando a residir no palacete e prosseguindo a mesma orientação fundiária do primeiro marido; campanha decorativa interior; 1889, 19 - 22 Maio - entre estas datas a família real, nomeadamente D. Luís, D. Maria Pia, o príncipe real D. Carlos e o Infante D. Afonso, fica hospedada no palacete; 1889, 23 - 25 Maio - entre estas datas o palacete é franqueado ao público por deferência de seus proprietários, expondo-se ampla colecção de pintura e escultura contemporânea; 1889, 24 Junho - D. Carlos e D. Amélia hospedam-se no palacete em nova visita a Évora por altura da feira de São João; 1892 - feitura dos estuques atribuídos a Domingos Meira, na 2ª campanha de obras no palácio, contemporânea da campanha decorativa então em curso no Teatro Garcia de Resende (v. PT040705210071) também atribuída a Meira; 1902 - António Carneiro pinta um volumoso painel a óleo sobre tela, representando a Reconquista de Évora aos espanhóis pelo conde de Vila Flor em 1663, destinado ao vestíbulo do palacete; 1905 - morre Francisco Eduardo Barahona; séc. 20, inícios - com a morte de D. Inácia Angélica o palacete é herdado por seu irmão Miguel José de Matos Fernandes, sendo as principais obras de arte da colecção particular dos proprietários doada em testamento à Biblioteca Pública de Évora; 1960, década de - o palacete é propriedade da companhia de seguros A Pátria, 2008, 23 outubro - Proposta de encerramento da classificação pela DRCAlentejo; 2008, 04 novembro - Despacho de encerramento da classificação pelo Diretor do IGESPAR.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante

Materiais

Estrutura de alvenaria mista, rebocada e pintada; mármore no embasamento, pilares, pilastras, colunas, molduras, pavimentos, degraus, balaustrada, frisos, cornijas, bandas; calçada portuguesa; estuque pintado e relevado em decoração de tectos e intradorso de arcos; ferro forjado; alumínio em portadas exteriores; madeira em pavimento e portas; madeira lacada em portas, janelas e portadas interiores; azulejo; vitral.

Bibliografia

SILVA, D. Bruno da, À posteridade Esboços Biographicos dos Excellentíssimos Esposos Francisco Eduardo de Barahona Fragoso e D, Ignácia Angélica Fernandes de Barahona, Typographia Castro Irmão, Lisboa, 1891; MANOEL, Caetano da Câmara, Atravez da Cidade de Évora ou Apontamentos sobre a Cidade de Évora e seus monumentos, Évora, edições Minerva Comercial Lda., 1935 (6ª ed); ESPANCA, Túlio, Cadernos de História e Arte Eborense, vol XVI, Miscelânea histórico-artística (5ª série), Évora, edições Nazareth, 1953; IDEM, Inventário Artístico de Portugal - Concelho de Évora, Lisboa, Academia Nacional de Belas Artes, 1966; FONSECA, Hélder A. Teixeira, Economia e atitudes económicas no Alentejo oitocentista, (texto policopiado, tese de doutoramento em História Económica e Social Contemporânea - Universidade de Évora), 1992, vol. 2; LEAL, Joana da Cunha, Giuseppe Cinatti (1808 - 1879), Percurso e Obra (texto policopiado, dissertação de mestrado, Universidade Nova de Lisboa), 1996.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Arquivo Distrital de Évora: Livros das Actas da Câmara Municipal de Évora, nº. 66 a 73, 1854 - 1872

Intervenção Realizada

Observações

*1 - a gárgula de grandes dimensões, em mármore da região, foi retirada do convento de Santa Maria do Espinheiro; *2 - Pórtico rocóco em mármore branco da região, pertencente à portaria, situada no alpendre quinhentista por onde se fazia também o acesso à igreja do antigo Convento de Santa Maria do Espinheiro de Évora; *3 - É provável que originalmente esta sala correspondesse a duas salas distintas, hipótese apoiada pela diferença de pavimento e de registos da decoração do tecto; *4 - Trata-se de pintura de paisagem, onde a representação humana é votada a um plano secundário ou mesmo inexistente e os elementos arquitectónicos se mesclam na paisagem mas em que os céus e o elemento água ganham enorme destaque; o medalhão figura paisagem nocturna de um largo leito de rio, outro com um ribeiro sobre o qual se ergue uma ponte medieva, uma paisagem marítima ao entardecer e uma fonte de um palácio dominado uma vegetação luxuriante; *5 - esta situação pode indicar que originalmente este grande salão não estaria em open-space, mas sim dividido em três salas comunicantes e abertas entre si; hipótese reforçada por uma descrição de época que se refere aos salões principais do palacete da seguinte forma: "São dignos d'atenção n'ele pela sua beleza e riqueza: o salão de baile com seus belos estuques e pinturas; seu candelabro monstro e seus grandes candelabros de cobre dourado; o salão de recepção com seus candelabros de sévres, e bacia do Japão; salão de Belas - Artes com quadros, desenhos e esculturas de autores nacionais" (MANOEL, 1935); *6 Barahona reuniu uma notável colecção de pintura e escultura nacional contemporânea, como nos relatam diferentes autores e jornais da época; Túlio Espanca informa que Barahona reunira uma notável colecção de objectos de arte contemporânea de pintura, nomeadamente do Grupo de Leão, de escultura e ourivesaria, sendo célebre a Baixela Barahona desenhada em 1894 por Columbano. D. Bruno da Silva afirma o seguinte: "Já lhe adornam as salas quadros dos melhores pintores modernos; estátuas: "Puberdade" de Simões de Almeida; "Bernardino Ribeiro" de Alberto Nunes; colecção de bustos em mármore de poetas de prosadores contemporâneos. (...) Moveis novos de preciosas madeiras; restaurações de obras antigas; trabalhos perfeitos em prata e ouro". Caetano da Câmara Manuel refere candelabros de Sévres, uma bacia japonesa; aguarelas da rainha D. Amélia, aguarelas de Casa-Nova; quadros de Bordalo e de Ramalho, estátuas em mármore branco representando o Pudor, a Juventude, Bernardino Ribeiro; bustos em mármore representando Antero de Quental, Teixeira de Aragão, oliveira Martinas, busto em bronze de Rodrigo da Fonseca Magalhães da autoria de Manuel Bento de Sousaa colecção foi deixada, por decisão testamentária, à Biblioteca Pública de Évora.

Autor e Data

Inês Pais 2006

Actualização

 
 
 
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